O dia 30 de novembro de 2009 marcou o fim da participação de Erik Buell na Harley-Davidson Co. , foram momentos difíceis para ele, eu me recordo de sua fisionomia no vídeo, onde ele anunciava que a Buell estava encerrando suas atividades. Aquele momento criou um tremendo murmurinho no mercado e aterrorizou alguns proprietários de motocicletas Buell, naquela época eu acompanhava a euforia dos membros do grupo Buell BR, pessoas aficcionadas e fãs da marca, vi a decepção no rosto de alguns deles com a novidade.
No pronunciamento Erik disse “Este é um momento de grande emoção para mim, já que a decisão foi tomada e nós não produziremos mais as motocicletas Buell”.
Acompanhei o despencar dos preços, motocicletas que valiam 28 mil reais, depois de algumas semanas estavam sendo vendidas por 18 mil reais, alguns proprietários resistiam bravamente montados sobre suas XB12X Ulysses e XB12R Firebolt, entre outros modelos da marca.
Erik deve ter sofrido muito com tudo isso, afinal de contas, quem esperava por essa situação? Em 1998 Erik Buell incorporou-se a Harley-Davidson e foi mantido na Buell como chairman e diretor técnico.
Sua fábrica foi instalada na cidade de East Troy, em Wisconsin, EUA. Na unidade, eram produzidas cerca de 10 mil motos por ano, além de peças, acessórios e roupas especiais.
Erik tinha vocação para inovar, seus modelos eram construídos em torno de uma filosofia, a Trilogia de Tecnologia. O conceito consistia em três regras para a fabricação das motos: rigidez de quadro, centralização de massa e baixo peso. A visão de Buell era construir um chassi rígido para reduzir a flexibilidade da motocicleta e aumentar sua estabilidade, especialmente em pisos irregulares.
Outra premissa era limitar ao mínimo possível o peso de todos os componentes não sustentados por molas. Isso permite que os pneus mantenham contato constante com o piso. Alguém já parou para observar a técnica de construção da balança da Ulysses? Quem já se deparou com essa peça, ficou surpreso com a técnica usada para diminuir o peso.
A menor massa não suspensa também resulta em maior agilidade, assegura tração o tempo todo, o que se traduz em desempenho, estabilidade e segurança.
A Buell também mereceu destaque pelas soluções inovadoras, como o freio ZTL (Zero Torsion Load), sistema no qual o disco de freio é fixado na parte de fora da roda dianteira, no aro, e não no cubo central. Essa solução impede que o ato de frear torça o disco e, com isso, a frenagem é mais segura. O resultado dessa inovação tecnológica é a redução de três quilos na dianteira da moto.
A motocicleta era direcionada para o público jovem, com idade entre 25 e 35 anos e implacou rápido quando chegou ao Brasil, tanto que no Dealer Summer Meeting de 2006, o próprio Erik Buell teve uma reunião com os representantes da marca no Brasil, para entender porque o desenvolvimento das vendas cresceu de uma forma tão exponencial no nosso mercado, nem ele estava acreditando nos resultados obtidos.
Em outras palavras, a Buell deveria estar bem dentro da Harley-Davidson Co., foram produzidas nesta parceria cerca de 135.000 motos e Erik ganhou diversos prêmios por suas inovações tecnológicas, como tanque de combustível embutido no quadro, centralização de massas e freios perimetrais. Em 2009 a Buell 1125R , primeira moto da marca com refrigeração líquida, faturou o título do AMA Pro Sportbike que criado em 1976, é uma das melhores categorias do campeonato norte americano de motovelocidade.
Mas não foi isso que aconteceu, durante a divulgação dos resultados financeiros obtidos pela marca no terceiro trimestre de 2009, Erik Buell anunciou o fim da produção das motocicletas Buell. A marca registrou uma queda de 21% nas vendas em todo o mundo, na comparação com o mesmo período de 2008 e os prejuízos e falta de capital fizeram com que a HD revisse algumas decisões, a fim de equilibrar as contas e tentar salvar o que era lucrativo na empresa.
O CEO da Harley-Davidson Co. naquele momento era Keith Wandell, e ele declarou em um discurso preparado, “O fato é que temos de concentrar nossos esforços e o nosso investimento na marca Harley-Davidson, acreditamos que a marca é sustentável e nos dará um retorno significativo, brevemente voltaremos a crescer”. O que não foi dito foi que Buell tinha perdido tudo, até mesmo os direitos sobre o nome da motocicleta Buell.
Mas pelo que parece o Sr. Erik Buell é um guerreiro, ele assimilou o golpe e rapidamente lançou a EBR, Erik Buell Racing em East Troy, Milwaukee, com a intenção de se tornar uma respeitável fabricante de motocicletas, com produção em linha de montagem, fornecedores internacionais e engenharia e montagem nos Estados Unidos. Naquele momento Erik declarou, “Somos um país com muita diversidade, os americanos têm uma linha ampla de pensamento e por natureza uma atitude pioneira. A EBR vai manter-se concentrada na invenção e na propriedade intelectual, vamos fazer coisas radicais, que o resto do mundo não está fazendo. É assim que vamos trazer um pouco do sabor americano para a indústria de motocicletas esportivas. “
Foi então que em 2010, após cumprir o contrato com a Harley, onde estava previsto que ele não poderia construir outra moto de rua durante um ano, sobre a marca Erik Buell Racing, ele começa a trabalhar na 1190RS, que foi o primeiro modelo street da marca desde então.
A máquina desenvolvida era mais rápida, mais leve e ainda mais potente que a 1125, ultimo lançamento da Buell na época em que a marca, ainda estava afiliada da Harley-Davidson.
No início de 2011 a EBR lançou a 1190RS Carbon Edition, uma motocicleta com muita tecnologia mas com um preço muito salgado, por se tratar ainda de uma produção artesanal, com lançamento limitado.
A 1190RS ganhou vários elogios, melhor superbike em 2011, aclamada como uma “dreambike” por revistas especializadas e analisada pelo piloto Aaron Frank que comentou ” A motocicleta é extremamente rápida e combina tudo o que ele sempre esperava de uma superbike americana”. Não é para menos, afinal, a motocicleta é construida sob um motor de 175 hp a 11500 rpm, V-Twin DOHC, rodas de magnésio, refrigerada por dois radiadores e carenagens em fibra de carbono.
Depois de tudo isso, Erik Buell destaca sua meta, ele espera que até o final deste ano, a EBR esteja com uma produção de 900 motocicletas e seu preço de mercado se posicione na faixa de US $ 10.000 a $ 20.000. Além disso, ele espera bons resultados da motocicleta, quando no início de março a EBR estará participando do Superbike Championship, a motocicleta pode chegar a 213 mp/h, aproximadamente 343 km/h Buell diz, radiante. Se confirmarmos os testes durante as corridas, isso fará com que a 1190RS seja o veículo mais rápido em duas rodas fabricados em os EUA.
Eu sinceramente desejo que ele se supere, que consiga os fundos que precisa para executar seus planos e que tenha muito sucesso, eu aprendi a respeitar esse sujeito, que não se deixou abater com tudo o que a vida lhe trouxe, e que apesar de muitos não acreditarem em seus sonhos, ele não desistiu, ergueu a cabeça e está tentando com todas as suas forças colocar a sua motocicleta no lugar que ele um dia sonhou.
Equipe Bros & Bikers.
* Ricardo Alex Biscarchini é da equipe da Bros & Bikers, uma empresa especializada em manutenção de Harley-Davidson e motocicletas de grande porte e posta no blog Bros & Bikers matérias sobre motociclismo, Harley-Davidson, assuntos gerais na coluna 360º e dicas técnicas.
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