Creio que todo motociclista tem uma paixão comum pela liberdade. Uma afinidade que os une, os diferencia e os liberta da monotonia imposta pelo cotidiano, ao proporcionar o prazer de pairar sobre as estradas, integrando a sinfonia do vento, sob a percussão dos motores de suas máquinas.
Cada curva, cada paisagem ou cada novo horizonte que se descortina numa boa estrada, proporciona prazer e emoção, reforçando a certeza de que é muito bom estar sempre indo, sozinho ou em boa companhia, sendo a chegada uma mera consequência.
A paixão pela sensação de liberdade os subtrai da acomodação e da rotina e os impele para a aventura com destino próximo ou distante, quando se mostram uns aos outros como realmente são; nus de cargos e fortunas, sabendo que têm apenas os companheiros, em suas motocicletas, ao lado, com quem podem contar, nos momentos mais críticos.
Nas longas jornadas, quando surgem as crises e dificuldades, é que se descobrem, realmente, quem já são os homens e quem ainda são os meninos, pois é na adversidade que o ser humano se mostra realmente como ele é. A experiência de superação conjunta dos embates emocionais e das agruras de que podem se revestir as longas viagens, como nas highways da vida, tende a forjar elos de forte coesão ou repulsão. Normalmente, cria laços de amizade que perduram por toda uma vida. Em última instância, essa é a principal simbiose humana que consolida e fundamenta a identidade comum a qualquer tribo.
Assim, quando descobrimos que viajar de moto faz parte da nossa personalidade, não foi por acaso que evoluímos para uma determinada motocicleta, cuja escolha não tem a intenção centrada, exclusivamente, em conforto e segurança. Porque somos do tipo de pessoa que gosta de correr com o vento sob as tempestades, aceitando riscos e desafios. Dessa mesma forma, escolhemos, também, pertencer a uma tribo cuja atitude traduz a identidade, o estilo de vida e a filosofia daqueles que, além de tudo, preferem contemplar e integrar a paisagem, admirando os raios de sol explodirem em suas viseiras, ouvindo o ronco gutural do motor em harmonia com a música do vento, sentindo os pingos da chuva colidirem contra seus corpos, percebendo o céu em movimento sobre suas cabeças e vendo o asfalto zunindo sob os seus pés.
Em suma, somente sobre o selim de uma motocicleta, na longa estrada, se fecharmos nossos olhos por breves segundos e deixarmos fluir a nossa mente, teremos a nítida sensação de que as nossas grandes asas estão totalmente abertas e pairamos livres e soberanos por sobre estradas e montes, na companhia de águias ou condores, contemplando horizontes de terras sem fim.
Artur Albuquerque é autor do livro “Ushuaia – Viajar de Moto para El Fin del Mundo”, onde ele narra a viagem que fez na companhia de outros seis motociclistas até Ushuaia a cidade mais austral do planeta. O grupo, que percorreu cerca de 15.000 km de estradas do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile durante 33 dias, partiu do Rio de Janeiro e no livro Artur descreve a concepção e realização de um sonho, materializado nessa fantástica viagem. Para comprar o livro, envie um e-mail para o autor: artur_albuquerque@hotmail.com
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