Texto sobre garupa de moto

Tributo aos anjos da garupa

Durante um desses fins de semana, partimos do Rio de Janeiro para realizar uma viagem de moto para o interior das terras encantadoras de Minas Gerais, no rumo de Paraguaçu, abandonando a BR-101 para subir a serra, a oeste do Pico das Agulhas Negras.

A sucessão de curvas ascendentes e descendentes da BR-354 assusta muita gente, porque tem grau de dificuldade infinitamente superior a famosa Tail of The Dragon, nas Smoking Moutains dos EUA. Além de maior número de curvas de diferentes níveis de complexidade, a boa pista é em mão dupla e para aumentar a adrenalina dos motociclistas, os construtores espalharam depressões no meio de algumas curvas fechadas, que fazem as motos empinarem como touros brabos, querendo sair pela tangente da estrada. E para apimentar a pilotagem, ainda é preciso muita atenção ao ultrapassar os rastejantes caminhões, pois os veículos que vêm em mão contrária não contam com acostamento para perdoar uma má ultrapassagem.

Quanto ao detalhe da beleza, fica por conta do céu azul e da verde mata densa, que envolve toda a estrada, criando túneis de sombra e luz, de efeito espetacular.

Esse é o cenário que faz muitos motociclistas iniciantes tremerem, e as protagonistas desse episódio eram as meninas de diversas idades, que protegiam, como anjos, a retaguarda dos motociclistas, seus companheiros, suas paixões. Meninas sim, porque sentar na garupa de uma moto para voar a mais de 120 por hora ou deitar nas curvas com as pedaleiras arrancando labaredas do chão, só pode ser coisa de menina, e muito apaixonada, que submete a própria vida à habilidade do seu amor, às vezas engolindo o medo por não poder fazer nada, mas sempre impávidas, apenas pelo prazer de ver os olhos do amado brilharem de satisfação.

Nessa viagem de ida, em uma ascendente muito sinuosa, durante uma ultrapassagem de caminhão mal avaliada, se o carro que vinha em sentido contrário não se jogasse para o vão imprevisto na lateral da estrada, permitindo uma das motos avançar, toda alegria e prazer da viagem jazeriam esparramados no chão, transformando em profunda tristeza geral toda aquela felicidade. Mas, graças à Deus, a reação do motorista foi solidária. Quando paramos no posto para abastecer, a menina da garupa não transparecia nada, como se nada tivesse acontecido. Mas o silêncio daqueles que sentiram o coração apertado ao testemunharem o episódio deve servir de alerta a todos nós, viajeros, exortando-nos a não permitir que a vaidade e o orgulho sejam maiores do que as nossas limitações, principalmente quando estivermos transportando na garupa o nosso maior tesouro, que é o anjo que tem o poder de iluminar nossas vidas, mesmo nos momentos de escuridão.

Assim, é bom lembrar que a avaliação ruim ou a decisão intempestiva é o que causa maior dano, independentemente, do gradiente de velocidade.

A essas inigualáveis mulheres, nossos anjos da guarda, que no banco do carona, como na vida, nos afagam, consolam, aconselham, repreendem, sugerem mais prudência e nos demonstram todo o seu amor e confiança, colocando suas vidas em nossas mãos; o nosso reconhecimento pela incomparável coragem, o nosso profundo respeito, toda a nossa admiração e perene gratidão.


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