Viagem de moto pelo Norte da América do Sul

2º dia – De Planaltina a Palmas

Depois de um lanche escasso no hotel, preparei a bagagem na moto, conferi óleo e água do radiador, lubrifiquei a corrente e saí por volta das 7h30 em direção a Palmas no Tocantins. Como não tinha abastecido quando cheguei no dia anterior, passei em um posto de gasolina próximo e completei o tanque.

Em poucos minutos estava na estrada em direção ao noroeste.

A temperatura estava agradável e havia poucos veículos da estrada. Ventava forte, a ponto de deslocar a moto do traçado que fazia.

Ao passar pela placa que marcava a divisa entre o Distrito Federal e o estado de Goiás, parei para uma foto. Armei o tripé, coloquei a câmera no timer e corri para aparecer na foto. Neste instante uma rajada de vento forte levantou a câmera e ela caiu com a lente voltada para o chão. Quebrou o filtro UV e amassou a rosca onde o filtro era enroscado. Tentei tirar o que sobrou do filtro e não consegui. Um pedaço do vidro da lente ainda permanecia no lugar e marcava as fotos com uma sombra.

Guardei tudo e segui viagem chateado.

A paisagem na região é marcada pela cultura extensiva de milho, soja e outros grãos, que pareciam estar na entressafra. Eram quilômetros e quilômetros de plantações ou palha seca que ocupavam ambos os lados da estrada.

Gradativamente fui ganhando altitude. A paisagem foi mudando dos campos cultivados em topografia plano para extensas áreas com árvores pequenas e secas e montanhas. Passei por uma placa que informava que estava entrando na Chapada dos Veadeiros. Parei para uma foto perto da placa. O pedaço de vidro do filtro ainda estava lá incomodando. Peguei no meu conjunto de ferramentas um pequeno alicate, forcei o anel do filtro e ele saiu. Aparentemente sem danificar a lente, exceto um pequeno amassado na ponta. A câmera funcionava normalmente. Marcas da estrada.

Passei pelo ponto culminante da estrada até o momento, a 1.576 metros de altitude, na Serra do Pouso Alto. Mais uma parada para fotos.

Resolvi seguir a dica do meu amigo Maumau, de Araguaína e montei um roteiro diferente do que os mapas on-line recomendam e me dei bem. A estrada estava excelente, com pouco movimento e belas paisagens. Mas o vento forte me acompanhou quase o tempo todo que percorri as extensas áreas abertas de Goiás. Lembrei da Patagônia, guardadas as devidas proporções. Cheguei a andar com a moto tombada em alguns trechos.

A estrada estava excelente até chegar à divisa com Tocantins. Na cidade de Arraias, o GPS direcionou para as ruas que estavam em condições lastimáveis.

Melhorou um pouco quando peguei estrada, mas não chegava perto das estradas de Goiás que tinha passado antes. Mas não tinha buracos, apenas aqueles remendos mal feitos que apareciam de tempos em tempos.

Em determinado momento o asfalto acabou e começava uma estrada de terra. Parei para refletir, conferi no mapa do GPS, que mostrava que aquele era o caminho a seguir. Resolvi voltar até uma pequena vila que eu tinha passado 5 km antes para me informar. No posto de gasolina o frentista me orientou que, antes da estrada de terra, havia uma estrada à direita que eu deveria pegar. Voltei e ela não constava no GPS e era a estrada certa, que estava em excelentes condições até chegar à cidade de Natividade. Dalí em diante foi terrível. Tinha trecho que o asfalto original tinha sumido e no luigar havia apenas remendos. A moto pulava como cabrito. Era difícil ultrapassar os caminhões, porque eles tentavam desviar dos buracos e acabavam invadindo a outra pista, fazendo com que a viagem se tornasse mais perigosa.

Em determinado momento eu comecei a ver algo passando voando sobre a estrada. Não sabia se eram pássaros pequenos ou insetos grandes com vôo desengonçado. De repente apareceram centenas, talvez milhares deles que invadiram o céu sobre a pista. Uma parte voava baixo e começaram a se chocar contra a moto. Um acertou minha bota. Abaixei para me esconder atrás do parabrisa enquanto tentava reduzir a velocidade, mas um deles acertou com força meu braço, sujando tudo de verde. Era uma nuvem de gafanhotos.

Depois desse encontro inusitado, segui viagem até Palmas, tendo percorrido 847,2 km no dia. Hospedei-me em um bom hotel próximo ao centro da cidade, que negociei por um  preço justo. Depois do banho, fui a um restaurante próximo que serve carne e comi um prato com picanha, arroz, tropeiro, mandioca cozida e vinagrete, acompanhado por duas garrafinhas de cerveja.


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