27º dia – de Manaus a Porto Velho (Estrada Fantasma)

Combinei com o Genghis nos encontrarmos no porto da Ceasa para pegar a balsa das 7h e atravessar os rios Negro e Solimões para iniciar a travessia da BR-319, conhecida como rodovia Fantasma. Ele me acompanharia pelos primeiros 100 quilômetros da estrada, conhecida como uma das mais difíceis do Brasil.

Saí da casa do Joelmir às 6h, passei em um posto de gasolina próximo, onde completei o tanque e segui o GPS até o porto, onde cheguei cerca de 15 minutos antes da partida. Paguei o bilhete de transporte da moto e coloquei-a na balsa. Pouco depois o Genghis chegou e também estacionou sua moto na balsa.

A travessia durou cerca de 1h20 e foi tranquila. É nesse lugar que os rios Negro e Solimões se encontram, com as águas escuras de um e barrentas do outro correndo lado a lado por muitos quilômetros sem se misturar.

Uma névoa cobria os rios e as margens dos rios, dificultando o registro de fotos das embarcações que navegavam pelos rios.

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Depois de desembarcarmos, seguimos pela BR-319 por cerca de 100 km até a cidade de Carero. A estrada tem algumas irregularidades e buracos que exigem atenção, mas não tivemos dificuldades para transcorrê-la. Em Carero, paramos no último posto antes do início da estrada de terra. O próximo estaria há 500 km de distância. Precisava levar gasolina extra. Por indicação do frentista, fui até uma loja próxima onde comprei dois galões de 5 litros cada. A quantidade era acima do que eu precisava, mas achei melhor me precaver de algum aumento inesperado do consumo da moto.

Depois de amarrar os galões e fazer um lanche, Despedi do amigo e peguei estrada pouco depois das 10h. O asfalto acabou 85 km depois. Alguns trechos de asfalto apareceram depois disso, mas achei que eram piores do que se fossem somente de terra. Depois de alguns quilômetros o asfalto sumiu, aparecendo apenas na forma de pedras.

O piso alternava entre cascalho compactado com um pouco de areia, argila compactada ou pedaços de asfalto triturado. Estava na maior parte em muito boas condiçoes para trafegar, o que me permitiu seguir numa velocidade de cerca de 50 km/h, que fui aumentando gradativamente, na medida em que pegava confiança. Por um bom tempo eu mantive a aceleração entre 60 e 80 km/h.

De tempos em tempos eu cruzava com algum caminhão que vinha em sentido contrário que levantavam muita poeira. Com a trepidação, os galões não ficaram amarrados sobre o banco e ficaram pendurados. Aproveitei e coloquei parte da gasolina no tanque.

Viagem de moto Rodovia Fantasma

O calor úmido era intenso e me desgastava muito. Apesar de estar atravessando a floresta Amazônica, o sol a pino fazia poucas sombras ao longo da estrada e era difícil encontrar um lugar para parar para descansar, beber água e comer alguma coisa. Tive que parar às pressas em determinado momento porque meu coração começou a bater mais rápido que o normal. Depois de baixar a temperatura do corpo, prossegui viagem.

Próximo ao km 250 eu cheguei à vila Igapó-açu. Parei no início da descida para a balsa, mas ela estava do outro lado do rio. Perguntei em uma lanchonete ao lado como fazia para atravessar e me falaram que era só buzinar que viriam me buscar. Buzinei e poucos segundos depois ligaram os motores e atravessaram o rio. Coloquei a moto sobre a embarcação e paguei os R$ 5,00 da travessia, que foi feita sem problemas.

Alguns quilômetros depois o céu começou a fechar à frente. Comecei a temer que a chuva caísse e dificultasse minha viagem. Os pneus para asfalto não ajudariam muito em um piso de barro. Não tardou e a chuva caiu forte, acompanhada de raios e trovões. Lembrei dos relatos de que a argila molhada era o terror de quem viajava pela BR-319. E eu atravessava naquele momento um piso de argila. Foi só a água da chuva bater no chão e a moto começou a escorregar para todos os lados, como se eu passasse sobre sabão. Lentamente e com os dois pés abaixados até o solo, segui por cerca de 500 metros até encontrar um trecho coberto por pedaços de asfalto triturado, que deu estabilidade para os pneus e eu consegui aumentar a velocidade. Poucos quilômetros depois eu saí debaixo da nuvem de chuva e o piso ficou seco, mas ela continuava seguindo na mesma direção que eu ia. Mantive uma velocidade suficiente para ficar à frente da nuvem e ver a chuva caindo na estrada pelo retrovisor.

Viagem de moto Rodovia Fantasma - BR-319

Por volta das 17h eu passava em frente ao bar do Gaúcho. O Genghis tinha me falado que era o último local razoável de hospedagem antes de vila Realidade, cerca de 120 km à frente. Eu conseguia manter a moto numa velocidade acima de 80 km/h e pensei em presseguir viagem, mas resolvi ficar.

O lugar, muito simples, era feito de madeira com quartos que tinham apenas uma cama. Banheiro coletivo muito sujo.

Pedi uma cerveja (da que tinha) e um prato com carne cozida como petisco e fiquei acompanhando o início da apuração das eleições. Pouco depois chegaram alguns caminhoneiros, que falaram que mais à frente tinha chovido muito forte e vários carros e caminhões estavam atolados. Decisão certa ficar.

Um dos motoristas trouxe um grande tambaqui, um peixe da região amazônica e começou a assar em uma churrasqueira que estava no local. Me chamaram para comer com eles usando colheres. Em retribuição, paguei duas latas de cerveja para o amigo.

Viagem de moto Rodovia Fantasma - BR-319

Já estava quase indo dormir quando chegou um casal em uma BMW 1150. Eram os espanhóis Manoel e Ana, que iam em direção a Manaus e estavam cobertos de barro. Disseram que ficaram mais de 4 horas parados no local do atoleiro que os caminhoneiros tinham falado. A argila travou a roda dianteira da moto e eles só conseguiram prosseguir depois que tiraram o para-lamas.

Conversamos muito sobre nossas viagens. Eles vinham da Argentina, onde desembarcaram a moto vindo da Europa e planejavam chegar ao Equador, passando pela Venezuela e Colômbia. Acabaram desistindo do plano. Tentariam uma rota alternativa. Passei o contato do Genghis para quando chegassem a Manaus, sugerindo que ele poderia ajudá-los na definição da rota e da logística que precisariam a partir de Manaus.

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