Rumo ao Alaska

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Rumo ao Alaska: sim, a aventura continuou. Era junho, sexta-feira, e minha viagem de volta a Toronto, por avião, se iniciaria no dia seguinte, logo à 1h25min da madrugada do sábado. Dureza! Esse vôo foi escolhido por ser bem mais barato, mas além do horário ingrato,
tinha escala em Bogotá de 9 horas (!), pra só depois seguir ao Canadá, onde a V-Strom aguardava há quase dez meses para finalmente seguir ao tão sonhado Alaska.

Naquela sexta-feira despedi da casa em Sorocaba/SP, o porto seguro, despedi da cachorrinha Nina, tirei foto com a família, e seguimos todos para o Aeroporto de Guarulhos, a partir de onde os horizontes começariam novamente a se expandir. Uma grande ansiedade. Normal. Chegamos até muito cedo e aproveitei pra embalar a bagagem com aquele filme verde, especialmente para proteger a chave do bauleto (da moto), que ia junto na própria fechadura. É que a minha mala era, na verdade, o próprio top case da V-Strom, que teria que ser despachado, pois na vinda de Toronto veio como mala de mão, mas não coube em nenhum bagageiro da aeronave, só mesmo num assento vazio. De última hora imaginei que poderiam querer abri-lo na alfândega, e, não havendo chave, iriam quebrá-lo e aí estaria complicada a viagem. Planejamento tem dessas coisas. Minha mente, sem que eu quisesse, nunca parava de tentar prever como tudo iria acontecer. A solução foi deixar a chave na mala, mas embrulhar tudo no dito filme verde, pra não perder, nem quebrar ou entortar dentro do avião. Levei a chave reserva comigo, e mais uma mochila com o que era essencial, inclusive GPS (sim, desta vez não resisti). Assim, um possível extravio na escala na Colômbia não seria tão fatal. O tempo da viagem ao extremo norte do continente era exato e bastante apertado, não permitindo o luxo de esperar encontrarem a mala. As roupas eu poderia comprar no caminho… Enfim, tudo isso atormenta a mente de um viajante. Instintivamente pensamos sempre no pior, para que não fiquemos refém de algum infortúnio. E é nessa hora, aliás, que tendemos a levar de tudo um pouco. A bagagem fica enorme, impossível para a moto. A cabeça pode se encher de temores. Ora, por que não aliviarmos o peso da mochila, o peso das preocupações, pra termos uma caminhada mais suave? Não é assim que deveria ser nossa própria existência?

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Mas naquele dia tudo estava indo muito bem. Beijos e abraços apertados na esposa e filhas, de sete e dezessete anos, que sabíamos seriam os últimos em talvez quase dois meses até um programadíssimo, mas naturalmente incerto reencontro. Foi uma despedida emocionada. É como se diz por aí: Dizer adeus também pode ser um ato de coragem.

Esperei pelo check-in no silencioso saguão do aeroporto, pois toda gente estava com sono ou dormindo. Eu repassava mentalmente, de forma repetida, as falas na imigração do Canadá. Durante todos os meses de espera essas idéias vinham à minha mente, como mais uma preocupação. Eu tinha comprado essa passagem em janeiro de 2013, ou seja, bem antes, e cismava que a polícia na imigração não iria simpatizar muito com minha escala na Colômbia. Por que Colômbia? Para economizar? Não tem dinheiro para ficar no Canadá? Esteve na Colômbia também no ano passado? Está viajando de moto? Mas tem passagem aérea de volta? Eu ficava ensaiando tudo isso, em inglês, o que pra mim não é coisa fácil. Aberto o check-in, para lá me dirigi com o peso dessas ruminações, e de cara o funcionário da companhia aérea perguntou se eu tinha o bilhete de volta. Parece que meus temores eram fundados. Mas não é que eu tinha mesmo? Nem quis discutir. Eu tinha um bilhete de Chicago a São Paulo, com escala onde (?), em Toronto (bingo!), que comprei em fevereiro quando resolvi que voltaria de avião de lá, enviando a moto também por avião. Mil dólares não reembolsáveis que teriam sido inteiramente desperdiçados se não fosse por essa pergunta do funcionário da Avianca. Isto porque eu não voltei de avião. Ainda bem. Mas quando esses caras perguntam é porque você não conseguirá embarcar a menos que satisfaça as exigências da própria companhia de aviação, que muitas vezes, hoje em dia, estão mais rigorosas que a própria autoridade de imigração nos países. Assim tinha sido na etapa anterior, de Bogotá para Panamá City, em que a Copa Airlines me obrigou a comprar um bilhete de volta para o mesmo trecho, mesmo eu argumentando e podendo provar que estava de moto para seguir viagem. Demorei vários meses para obter o reembolso e não foi fácil. Só que no Panamá ninguém me perguntou se eu tinha um bilhete de saída do país, muito embora, é verdade, tenham me questionado se a costura na brochura do passaporte era original ou se eu mesmo tinha feito …. Vai entender.

Assim também sucederia na volta do Alaska, do Panamá para a Colômbia. De novo essa conversa de bilhete de volta e tivemos eu e meu querido amigo Bida, que eu tinha tido o prazer de conhecer por acaso lá mesmo na Air Cargo Pack, de comprar bilhetes ida e volta, infelizmente desta vez not refundable. Bradei em mau espanhol junto a indolentes mocinhas no guichê da Copa Airlines em Bogotá, mas sem qualquer chance de sucesso. Novamente ninguém na imigração colombiana se interessou sobre o fato de termos ou não passagem de saída do país, mas a Copa pôs sua própria exigência e nos vendeu a solução ali mesmo no balcão. Revoltante, mas nada sério.

Nesse dia da partida, quando decolei de volta ao Canadá, ou melhor, a Bogotá primeiramente, senti um certo alívio, pois agora tudo estava sobre a mesa. Já estava acontecendo. Não precisaria mais ter que imaginar tudo. Era viver, tivesse sucesso ou não, mas apenas viver o que tinha sonhado.

As nove horas de espera no Aeroporto El Nuevo Dorado passaram rapidamente. Fiquei lendo as cópias xerox selecionadas de guias de viagem que tinha separado de acordo com o roteiro traçado. Uma boa forma de levar informação, principalmente quando não se quer carregar um iphone ou computador, já que levar guias de viagem de doze países pesaria enormemente na moto. E para mim é muito importante ter essas informações. Para além dos mapas e da questão da orientação no espaço, ter uma noção da história do lugar, da cultura, aspectos geográficos e saber os pontos de interesse para o turismo, são essenciais. Observando através das paredes enormes envidraçadas do novo e belo terminal em Bogotá, via o centro de la ciudad e o Cerro de Monserrate, um lugar lindíssimo que tanto tinha me emocionado no ano anterior.

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Horas depois, perto de aterrissar em Toronto, Aeroporto de Lester Pearson, a senhora colombiana ao meu lado, que tinha cidadania canadense e que levava empanadas para seus parentes, acabou sem querer me tranqüilizando quanto à imigração. É que ela não falava inglês, mesmo vivendo há anos por lá, e sequer sabia escrever em espanhol. Eu preenchi para ela o formulário da aduana. Bem, talvez passar pela imigração não fosse ser tão difícil assim. E não foi mesmo. Para onde vai? A Toronto, visitar meu irmão. Quantos dias? Trinta – que era o tempo compatível com meu bilhete de Chicago. OK, Welcome! Thanks, sir. Lá fora meu irmão aguardava. Anote-se: não houve nenhuma pergunta sobre o bilhete de volta. Muitos dias depois eu não teria a mesma sorte ao passar de moto na fronteira entre o Canadá, em Vancouver, e os Estados Unidos da América.

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