Armenia – Bogota – 18º dia

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Armenia – Bogota (Parcial = 330 Km / Total = 9.080 Km)

Realmente, aconteceu como o segurança da lotérica tinha suspeitado. À noite, o Edinho me enviou um e-mail informando que seguiram diretamente para Cali e me esperaram na entrada de Cali como eu os esperei na entrada de Popayan, e por isso, nos desencontramos. Eu tinha comentado sobre os doces colombianos apenas com o Robertinho. E para o Edinho, que estava no momento puxando o trem, Popayan era apenas uma das muitas referências de navegação, e por isso passou por fora.

Respondi a mensagem, combinando que nos reencontraríamos em Bogota. A fim de dirimir possíveis dúvidas e afastar qualquer preocupação dos amigos que estão nos acompanhando pelo Blog e pelo FB, a nossa convivência está solidária, agradável e divertida. Não há qualquer ponto de atrito na nossa coexistência, amizade e união. O que pode estar causando algum estranhamento são as nossas esporádicas separações, que na verdade são consequência do que combinamos, antecipadamente, que foi ou está sendo respeitado com alguma flexibilidade, a fim de facilitar para o Edinho.

Primeiro, o Projeto da viagem definia dois parâmetros essenciais:

1. As Motos seriam Touring de ano 2009 em diante, em virtude da melhor autonomia (tanque maior), maior segurança (freios ABS), semelhança de desempenho (Consumo) e simplicidade logística (mesmas necessidades e ferramentas);

2. O Perfil de Deslocamento (Velocidade de Cruzeiro = 120 km/h / Abastecimento a cada 250 km).

Assim, ao ser aceito na Expedição – apenas devido a amizade e a intimidade familiar – ficou subentendido que a Evolution 1997 do Edinho não iria alterar qualquer coisa e nem mesmo impor outro perfil de deslocamento da expedição. Mesmo assim, adotamos vários procedimentos para adequarmos as incompatibilidades entre as máquinas, que são totalmente diferentes; mas, sem sacrificar o prazer e a liberdade de cada um. Na pior hipótese, se alguém resolver abandonar a expedição ou seguir sozinho por qualquer motivo, ninguém ficará zangado, porque ninguém depende de ninguém.

Quando falamos pela primeira vez em viajarmos juntos, a primeira hipótese para o Robertinho era ir ao Alasca sozinho e a minha também. Assim, se ainda estamos seguindo juntos é apenas porque estamos nos sentido muito bem. No nosso grupo, ninguém é obrigado a nada. Por exemplo: hoje soube que o Edinho vai para o Rio, desistindo de ir até o Alasca, devido a saudade e aos problemas recorrentes da moto (plenamente previsíveis).

Eu e o Robertinho ficamos satisfeitos com a sábia desistência do Edinho, porque a brincadeira – não foi necessidade – de participar da expedição com uma Evolution 1997, no extremo Alasca, poderia ter uma consequência sacrificante para o grupo muito pior; e além disso, eu desde o início soube sobre a possibilidade de o Robertinho ter que voltar repentinamente para o Rio e eu ter que seguir sozinho. Se isso acontecer, ficarei muito triste pelo motivo da volta e pela desistência compulsória do sonho do novo amigo, porque para o Robertinho, a viagem de moto ao Alasca é coisa séria e muito importante, tanto para ele quanto para mim também.

Por outro lado, quero enfatizar, também, que a finalidade do diário de bordo é registrar tudo o que vem acontecendo conosco, a fim de que a nossa experiência possa ser útil para outros que irão fazer esta ou outra viagem de moto, além de servir de subsídio para o meu novo livro, e não há a intenção de superexpor ou ignorar nada e nem ninguém. Principalmente, o Edinho tem sido um excelente companheiro, extremamente colaborativo e piloto seguro, cuja alegria, conhecimento e iniciativa farão falta ao nosso grupo; apenas escolheu a moto errada para a longa viagem.

Assim, toda essa explicação é uma deferência especial aos nossos amigos, a fim de que seja apagada toda e qualquer má impressão sobre a nossa interação e convivência.

Então, depois de um sono de pedra, às 06:00h já estava acordado. Enquanto preparava a única mala de bagagem (as coisa de uso diário, pois o resto fica nas bolsas da Electra) para amarrar no banco traseiro, me ocorria que estar com os amigos na estrada era excelente; mas, fazer sozinho essa perna até Bogota, sem dúvida, será sensacional.

Depois de me cederem a única refeição da manhã – um copinho de café colombiano – agradeci a amabilidade daquelas pessoas gentis, incorporei à minha Harley, dei a partida e a resposta rápida do TwinCan encheu de turbulência o ar do pequeno sagão e, como sempre, encheu de segurança e certeza de chegar – em qualquer lugar – o meu coração.

Me sentindo forte e bem disposto, com a mente aberta e o espírito nas nuvens, acelerei em direção ao norte. Céu nublado e estradas excelentes me levaram até a próxima serra. Em uma boa estrada, bela paisagem, temperatura amena, sempre me vem a mente um sentimento de gratidão: Meu Deus! Pilotando essa máquina, como me sinto bem.

Em Calarca, iniciei a subida de 50 km de maravilhosa serra, que culmina em El Alto La Linea. Curvas de todo tipo, alta e baixa complexidade, se sucediam com as belas paisagens da natureza, além dos fantasmas assustadores dos grandes caminhões. Em toda cordilheira, eles são os reis das estradas e tudo lhes é permitindo, não existindo limites nem de mão e contra-mão.

Liguei o CD da moto, acionei a filmadora e dropei nas curvas. Curvas e mais curvas impressionantes, mesmo em baixa velocidade. Não obstante os constantes sustos pregados pelos grandes caminhões com as suas duas descargas para o alto – semelhantes ao do filme Encurralado – meu coração era só gratidão a Deus pela suprema felicidade. Nesses momentos de êxtase, em que me sinto ilimitado, penso logo na minha Paixão e meus olhos se enchem de lágrimas. Como eu gostaria de compartilhar tudo isso que estou sentindo e curtindo com ela, a minha amada companheira de vida e de estrada, pois ela também adora viajar de motocicleta.

Aumento a velocidade para secar o rosto e o som para aliviar o pensamento, e mais uma curva e uma ultrapassagem de precisão. Deito na curva e surge mais uma magnífica paisagem. Medo e perigo? Nem pensar. Posso pilotar com técnica obscura; mas com segurança e responsabilidade. Quando sigo por uma bela estrada, é como seu estivesse voando, acima das nuvens e invulnerável às armadilhas do mal. E gosto de pensar que aprendi a pilotar com os Espíritos Alados das Águias e dos Falcões e sempre que surge uma armadilha e estou em perigo, Eles vêm me ajudar.

Acaba a divagação do meu lado índio, assim como acaba a serra e chego a Caramarca, uma cidadezinha com uma praça interessante e um povo cordial. Precisava escrever e parei a moto à beira da estrada, em frente a um bar com várias cadeiras e mesas na calçada.

Conversei com uns homens que estavam na mesa e acabei me sentando com eles, enquanto outras pessoas tiravam fotos da Harley. Eram os senhores Adolfo, Mariano, Jairo, Edisson e Paulo. Tomei um café com eles e conversamos sobre a beleza natural e a vida na Colombia.

Relaxado, me despedi dos novos amigos, subi na Harley e rumei para Bogota. Estradas boas e com poucos carros.

Chegando à capital da Colombia, o trânsito no centro da cidade estava infernal. No meio da avenida em que eu estava, havia um caminhão tanque (agua) em pane, cruzando as 4 pistas, e somente dava para um carro passar por vez. Havia muitas obras públicas, construções de terminais nas grandes avenidas e em meio a esse inferno, um motociclista se ofereceu para me levar até a Avenida 26 (El Dourado), onde me deixou no rumo do aeroporto internacional.

Cheguei às 13:00h em Bogota e no Aeroporto Internacional, às 15:00h. Depois de ir para lá e para cá, quase sem gasolina – porque a moto deve ser entregue com o tanque vazio – consegui chegar ao Terminal de Carga (aeroporto antigo) e procurava a Puerta 2 (Acesso 2), onde fica a empresa Air Cargo Pack; e por acaso entrei na Puerta 1. Quando estava fazendo o retorno para sair, em uma esquina, quase bati com a moto do Edinho e o Roberto vinha logo atrás. Se tivéssemos combinado, não teria dado tanto certo.

Chegamos a Air Cargo Pack quase às 16:00h e fomos muito bem recebidos pelo proprietário, John Agudelo (ggeneral@aircargopack.com) e seu filho Jonh Jr (jdavila@aircargopack.com) que iniciaram imediatamente os processos de tramitação aduaneira e preparação das motos para embarque. Se tivéssemos chegado mais cedo, as motos teriam embarcado hoje mesmo para o Panamá.

Enquanto esperávamos uma carona para o hotel, o Edinho comentou que iríamos juntos para o Panamá e em seguida, embarcaria para o Rio de Janeiro, prevendo reencontrar-nos apenas em Sturgis.

O Roberto me disse que na estrada tem se mantido atrás do Edinho para dar cobertura a ele e que na vinda para Bogota, pararam duas vezes no acostamento, porque a moto do Edinho estava travando o freio traseiro durante a descida da serra.

Enquanto o Edinho resolvia o que iria fazer da vida, avisamos para ele que estávamos indo para o hotel. O funcionário que nos levou iria voltar para buscá-lo. Como à noite o Edinho não apareceu, supomos que ele conseguiu antecipar o seu embarque para o Rio de Janeiro.

Grande Edinho! Mate a saudade e sossegue o seu coração. Suerte! Hermano.

PHD Artur Albuquerque
Fonte: http://phdalaska.hwbrasil.com/site/ e http://www.phd-br.com.br/


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