Viagem de moto pela Serra do Rio do Rastro

Viagem à Serra do Rio do Rastro

Sonho de muitos motociclistas, esse também era o meu e de um grupo de amigos. E foi de uma reunião entre nós que nasceu a ideia… Uma viagem de moto até a Serra do Rio do Rastro. Porque não ir?

Era final do ano de 2019 quando decidimos encarar a aventura de cortar quatro estados com nossas motocicletas e conhecer as maravilhas desse lugar que já se tornou um símbolo do motociclismo no Brasil.

Começamos então o planejamento, estudando a melhor época do ano, melhor trajeto, opções de hospedagem e todos os detalhes que uma longa viagem demanda. Definimos por realizar a viagem em setembro, por ser um mês mais seco e já se afastando do rigoroso inverno que atinge a região sul do Brasil.

Contudo, já no início de 2020 fomos surpreendidos pela pandemia mundial do novo coronavírus. Aguardamos ao longo de todo o ano, na esperança que a situação melhorasse até a data pretendida, porém a pandemia se arrastou e só aumentou seu impacto ao longo do ano. Foi preciso adiar nosso sonho.

2021 começou e com ele veio a vacinação e a renovação da esperança de que tempos melhores estariam próximos.

Voltamos então aos planejamentos, recalculamos tudo, definimos o melhor trajeto, estudamos a região para aproveitar ao máximo todas as opções que o percurso poderia nos proporcionar, acompanhamos com alegria a redução e o controle da pandemia, e definimos novamente o mês de setembro como a melhor época.

E setembro chegou. O entusiasmo e a expectativa eram grandes. Fizemos as últimas reuniões, acertamos os detalhes, combinamos a data, local e o horário da partida, revisamos nossas motocicletas e no dia 08, às 7 horas da manhã, estávamos reunidos no posto Primavera na saída de Bom Despacho (MG) para a foto oficial e largada rumo ao Sul do Brasil.

Éramos um grupo de cinco pessoas em quatro motocicletas, sendo um casal e três motociclistas solo, três Honda CB 500X e uma Honda NC 750X.

Partimos no horário marcado, às sete horas da manhã de Bom Despacho. Seguimos pela BR-262 até o entroncamento com a BR-494, a qual acessamos, passando por Divinópolis e seguindo até a cidade de Oliveira, já na BR-381 (Fernão Dias), onde depois de rodarmos 153 quilômetros, fizemos nossa primeira parada para tomar um café na tradicional lanchonete Curral de Minas. Muito frio nessa primeira etapa do percurso.

Saímos do Curral de Minas e seguimos pela BR-381 sentido São Paulo. Rodovia em ótimo estado, muito bem cuidada, pista dupla e com pedágios com preços razoáveis. Seguimos direto até a Cidade de Três Corações, onde fizemos nossa segunda parada, dessa vez para abastecimento, após rodarmos 300 km. Motocicletas abastecidas, seguimos nossa rota rumo à capital paulista, que seria nosso primeiro destino da viagem. O tempo agora começava a esquentar e o sol prometia muito calor para o período da tarde.

Seguindo viagem pela Fernão Dias, prosseguimos até a cidade de Pouso Alegre, onde paramos para o almoço. Restaurante Graal Bela Vista, qualidade muito boa, apesar dos tradicionais preços um pouco elevados. Já havíamos rodado 380 km e o calor que na parte da manhã era uma promessa agora se tornara uma realidade. Faltavam ainda 225 km para nosso primeiro destino, o Hotel Ibis Tamboré na cidade de Barueri, Grande São Paulo.

Pegamos novamente a BR-381, cruzamos nossa primeira divisa de estado entre Minas Gerais e São Paulo e seguimos por ela até a cidade de Mairiporã. Pouco antes de deixar a Fernão Dias, pegamos um trânsito pesado de caminhões que ocupavam as duas faixas, o que fez com que o calor que já castigava se tornasse quase insuportável.

Conforme o trajeto pré-definido, optamos por deixar a Fernão Dias e entrar à direita para dentro de Mairiporã seguindo por vias urbanas até acessar o Rodoanel de São Paulo, já na zona oeste, evitando assim o trânsito da marginal Tietê. Foi uma boa escolha, porém o trânsito urbano passando por Mairiporã e Caieiras não ajudou muito em relação ao calor, devido à baixa velocidade desenvolvida.

Vencido esse trecho urbano, acessamos o Rodoanel e começava aí um dos maiores desafios da viagem. Primeira vez de todos nós em São Paulo, pilotando nossas motocicletas nessa grande metrópole, um erro de acesso, uma saída errada poderia gerar um grande prejuízo de tempo e de desgaste. Mas nesse momento vimos a importância de um bom planejamento e estudo de trajeto. Tudo correu conforme o planejado e chegamos em segurança ao nosso destino. Por volta das 17 horas estávamos estacionando à porta do Hotel Íbis. Escolhemos esse hotel pela facilidade de acesso, fica praticamente ao lado do Rodoanel e por estar localizado ao lado de um shopping, facilitou a nossa alimentação. Terminava então o primeiro dia de viagem.

Café da manhã tomado, motocicletas abastecidas, ânimo renovado e estávamos prontos para pegar estrada e dar início ao segundo dia de viagem. Saímos do Rodoanel de São Paulo e acessamos a rodovia BR-116, Régis Bittencourt, que nos levaria direto ao sul do Brasil.

O tempo, que no dia anterior era de sol forte, agora se tornara nublado e com grande promessa de chuva. Seguimos pela Régis, rodovia de pista dupla, passando por belas paisagens, regiões de serras e muitos túneis. Já próximo à nossa primeira parada, a chuva que ameaçava cair finalmente cumpriu sua promessa. Seguimos sob chuva até o Graal Ouro Verde, próximo à cidade de Registro (SP), onde fizemos a primeira parada do dia para um café e para nos prepararmos melhor para a chuva que ainda teríamos que enfrentar por muitos quilômetros.

Após o café, a chuva deu uma trégua. Aproveitamos então para sairmos rumo ao estado do Paraná. A trégua não durou muito. Bastou pegarmos a rodovia, rodarmos alguns quilômetros e a chuva recomeçou, mais forte dessa vez. Atravessamos nossa segunda divisa de Estado, entre São Paulo e paraná, seguindo por 140 km até o posto Estrela da Serra, no município de Campina Grande do Sul (PR), onde paramos para almoçar.

Aproveitando que a chuva deu um tempo, decidimos abandonar a rodovia Régis Bittencourt um pouco antes de Curitiba e saímos à esquerda, pegando a rodovia PR-410 rumo a Morretes, a conhecida Estrada da Graciosa. Este trajeto estava no planejamento, mas quase decidimos por não fazer devido à chuva, por se tratar de um trecho de calçamento que estaria bastante escorregadio e perigoso. Portanto, com a estiagem, felizmente foi possível percorrer a estrada. Foi o primeiro destino turístico da viagem. E valeu a pena. Trata-se de uma estrada com pouco movimento que segue serpenteando pela serra rumo ao litoral, atravessando um trecho incrivelmente preservado de Mata Atlântica.

Após Morretes, pegamos a BR-277 até Paranaguá, e então a PR-508 até a cidade de Matinhos, já no litoral paranaense. Foi necessário fazermos uma bela travessia de ferry boat atravessando a baía de Guaratuba até a cidade de Guaratuba. Seguimos então pela PR-412 até cruzarmos nossa terceira divisa de estados entre Paraná e Santa Catarina e e alcançarmos a BR-101. Este trajeto via Estrada da Graciosa e Guaratuba levou cerca de uma hora a mais do que levaríamos caso seguíssemos direto pela Régis Bittencourt até Curitiba e acessado lá a BR-101. Porém, foi muito bem compensado pelas paisagens apreciadas.

De volta ao trajeto principal, seguimos pela BR-101, passando por Joinville e Barra Velha, chegando então, já à noite, ao nosso segundo destino, a cidade portuária de Itajaí. Após algumas pesquisas, escolhemos um hotel simples, mas com bom preço próximo ao porto e finalizamos então o segundo dia de viagem.

Amanheceu o terceiro dia, energias renovadas, tomamos o café da manhã, carregamos nossas motocicletas e partimos rumo ao destino final da nossa aventura, a cidade de Urubici no meio das serras catarinenses e uma das cidades mais frias do Brasil. Deixamos o hotel, abastecemos as motos e pegamos novamente a BR-101 rumo a Florianópolis. Já na chegada da capital catarinense, o primeiro obstáculo do dia, um longo trecho de engarrafamento que, mesmo de moto, foi difícil e demorado para vencer. As motos equipadas com bauletos laterais tinham certas dificuldades em trafegar pelo corredor. Vencido esse trecho chegamos a Florianópolis e pegamos a saída à direita para a rodovia BR-282 até a cidade de Bom Retiro e logo após a SC-110 que nos levaria até Urubici.

Próximo a Urubici, nos deparamos com uma serra com subidas e descidas e uma sequência de curvas de tirar o fôlego.

Chegamos ao portal da cidade. Aquela sensação de missão cumprida, ou quase. Chegamos ao nosso destino principal, mas faltavam ainda os passeios pelas belezas locais. Partimos então em busca de alguma hospedagem e, após algumas pesquisas, decidimos ficar em uma casa de temporada que nos acomodou muito bem. Almoçamos em um restaurante próximo, fizemos cerca de meia hora de descanso e saímos em direção ao nosso primeiro passeio local.

O primeiro destino turístico da região foi o Morro da Igreja. Um local elevado, cujo cume se encontra a 1822 metros de altitude, sendo o segundo ponto mais alto do estado de Santa Catarina e um dos quatro mais altos da região Sul do Brasil. Neste local já foram medidas oficialmente temperaturas de até -14°C. Ao chegarmos, deparamo-nos com uma temperatura bem fria, muito vento e uma vista deslumbrante. Em meio às montanhas é possível visualizar um conhecido atrativo local, a Pedra Furada, um monumento natural, uma curiosa e bela formação rochosa com um buraco no meio.

Retornamos então a Urubici. A temperatura despencando, a neblina caindo sobre a cidade junto com o anoitecer. Após um tempo de descanso, decidimos terminar a noite com um happy hour no Bar Rota 370, um bar incrível com um ambiente todo preparado para atender aos turistas e ao público motociclista.

Acordamos cedo no quarto dia de viagem. O planejado era sair bem cedo para aproveitar ao máximo o dia. O primeiro destino: Serra do Corvo Branco. Mas bastou abrirmos as janelas da casa para percebermos que teríamos que adiar um pouco nossa saída. Além do forte frio de 5°C que fazia, não havia visibilidade alguma, a cidade estava tomada por uma densa neblina e isso dificultaria muito a pilotagem. Aguardamos por melhores condições, tomamos nosso café da manhã e assim que a neblina diminuiu partimos.

O pavimento asfáltico da SC-370 logo termina e dá lugar a uma estrada de terra cascalhada bem conservada. Cerca de 5 quilômetros após, chegamos à parte alta da Serra do Corvo Branco. Na chegada, a vista já é impactante. Logo no início o cartão postal da Serra, a fenda de 90 metros de altura, a maior aberta em rocha no Brasil. Muitos turistas no local, muitos motociclistas. A neblina que aos poucos se desfazia promovia um espetáculo a mais no local. Após uma longa sessão de fotos, era hora de decidir descer ou não o desafiador trecho de acentuado e sinuoso declive. O Desafio era maior devido ao fato de que a estrada intercalava trechos com pavimentação asfáltica precária e trechos de cascalho sem pavimento algum. Após uma criteriosa análise, uma vez que nossas motos não são propícias para o off road, decidimos por encarar o desafio. E valeu a pena. A vista já nas primeiras curvas é incrível, a paisagem lá em baixo, as formações rochosas… um espetáculo.

Vencida a metade do desafio era hora de encarar a segunda parte: subir a serra. Depois da experiência adquirida na descida, a subida foi mais tranquila.

Retornamos então para Urubici para o almoço e logo após seguirmos para o principal objetivo da viagem: conhecer a famosa Serra do Rio do Rastro.

Após o almoço e um merecido descanso, partimos rumo ao município de Bom Jardim da Serra, onde fica o mirante da Serra do Rio do Rastro, a 83 quilômetros de distância de Urubici. Era preciso chegar cedo, antes do entardecer, pois nesse horário é comum que a serra seja coberta por neblina. Chegamos por volta das 14 horas, estacionamos nossas motocicletas e nos dirigimos ao mirante para apreciar a espetacular vista do local. Nesse local a altitude é de 1460 metros, o que proporciona, além de uma linda vista das montanhas em volta, uma vista parcial da incrível rodovia SC-390 e suas desafiadoras curvas (a Serra do Rio do Rastro). Tiramos algumas fotos no local e, sem demorar muito, temendo a mudança do tempo, pegamos nossos veículos e partimos para percorrer essa que é considerada a mais espetacular estrada do Brasil e uma das mais impressionantes do mundo.

É indescritível a emoção de pilotar nessa estrada. É preciso estar lá e viver a aventura. Ao chegarmos na parte baixa descansamos por um breve período e retomamos para a estrada, agora subindo a Serra do Rio do Rio do Rastro. Não havia tempo a perder, pois a visibilidade ia reduzindo cada vez mais devido ao nevoeiro que aumentava. Ao chegarmos de volta no mirante, por volta das 16h30, já não era mais possível visualizar a estrada. Tudo que se via era neblina.

Retornamos a Urubici e começamos os preparativos para iniciar nossa viagem de regresso.

Quinto dia, 8h da manhã, era hora de começar a acelerar, dessa vez rumo à casa, mas ainda com alguns lugares para conhecer. Após o café, deixamos Urubici e seguimos de volta sentido Florianópolis. Passamos pela capital catarinense e chegamos por volta das 12h na bela cidade de Balneário Camboriú. Logo após nos hospedarmos, era hora de nos livrarmos das pesadas roupas de proteção e acessórios de pilotagem, vestirmos algo mais leve e partir para aproveitar um pouco das belas praias locais. Passamos a tarde toda na areia e no mar e assim finalizamos o quinto dia de viagem.

Sexto dia, acordamos de manhã e como a rota planejada para o dia era de apenas 225 km até Curitiba, decidimos aproveitar mais um pouco as maravilhas de Balneário Camboriú. Visitamos outras praias, fizemos o passeio de teleférico que nos proporcionou uma linda vista do mar, almoçamos e fomos para a estrada.

Chegamos a Curitiba no final da tarde e paramos para conhecer o famoso Jardim Botânico de Curitiba. Ao sair para procurar um hotel, uma surpresa… primeiro problema da viagem, notei que um dos retentores da suspensão dianteira havia estourado e o óleo da suspensão estava vazando. Como já era início de noite, optamos por procurar um hotel e deixar o problema mecânico para resolver no dia seguinte. Durante a noite fizemos alguns contatos com moto clubes amigos e nos foi indicada a oficina do Cléber, integrante dos Dragões Brasil Moto Clube, que se colocou imediatamente à disposição para nos apoiar no dia seguinte. Era a irmandade motociclística acontecendo de fato.

Sétimo e penúltimo dia de viagem começando, pelo menos conforme o plano. A princípio o programado era partirmos cedo rumo ao estado de São Paulo, dessa vez pela rodovia BR-476 o “Rastro da Serpente” e seguirmos até a cidade de Campinas (SP). Porém, precisávamos resolver primeiro a pane mecânica de minha moto. Dirigimo-nos então até a oficina do Cléber que ficava na garagem da sua casa e fomos muito bem recebidos por ele e toda sua família. A manutenção acabou levando mais tempo que imaginamos e atrasou muito nossa saída de Curitiba.

Já eram 11 horas da manhã quando estávamos deixando a capital paranaense e o tempo ameaçava chuva. Ainda assim seguimos no propósito de conhecer as famosas curvas do Rastro da Serpente. São mais de 1.200 curvas em um trecho de aproximadamente 250 km. Nem bem começamos a percorrê-lo e fomos apanhados pela chuva. O trecho sinuoso é um espetáculo para todos aqueles que amam motocicletas e curvas, porém a chuva nos obrigava a ter mais cautela na pilotagem e a reduzir a velocidade.

Chegamos à divisa dos estados do Paraná com São Paulo e, após uma pausa para o almoço na cidade de Adrianópolis (PR), retornamos à estrada para concluirmos o trecho do Rastro da Serpente.

A chuva, que nos acompanhou durante toda a manhã, agora aumentara e, juntamente com o tempo parado na oficina em Curitiba, atrasou mais ainda nossa viagem. Não conseguimos chegar a Campinas. Paramos para dormir no final do Rastro da Serpente, na cidade de Capão Bonito (SP). Estávamos ainda a 760 km de casa.

Oitavo dia de viagem. Após uma longa conversa na noite anterior, decidimos por fazer o trecho restante em dois dias, aumentando em um dia a viagem. Saímos de Capão Bonito às 08h30 e seguimos pelas excelentes rodovias paulistas. Passamos por Piracicaba e Limeira, onde pegamos a Rodovia Anhanguera e seguimos até Pirassununga, onde paramos para almoçar. Seguimos depois por Casa Branca e Mococa, ainda no estado de São Paulo, e às 15h estávamos cruzando nossa última divisa de estado entre São Paulo e Minas Gerais. O fato de estarmos de volta ao nosso estado gerou um novo ânimo no grupo, que acabou decidindo abandonar a ideia de aumentar um dia de viagem e seguir direto até Bom Despacho. E assim fizemos.

Quando anoiteceu, estávamos já passando pela cidade de Formiga. Faltavam ainda cerca de 120 km, porém já era um trecho próximo e conhecido de todos nós que percorremos sem problemas.

Chegamos a Bom Despacho por volta das 22h com uma sensação indescritível de dever cumprido. Deixamos para trás as pesquisas, fotos e vídeos da internet e fomos lá ver ao vivo aquele lugar que todo motociclista deveria conhecer um dia.

Fomos e conhecemos a Serra do Rio do Rastro.

  • Motociclistas:
  • Wesley Antônio Rodrigues – Honda CB500X
  • Edson Marcos de Melo – Honda NC750X
  • Gilmar dos Santos – Honda CB500X
  • Ronaldo Sidney Cardoso e Nelma Cardoso – Honda CB500X

Distância percorrida: 3.485 km


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