Serras de Santa Catarina

Data marcada, eu e meu amigo Fábio Mangolini tiramos uma semana de outubro para visitar a Serra do Rio do Rastro. Fica em Santa Catarina e liga a cidade de Lauro Muller a Bom Jardim da Serra.

A estrada de serra é conhecida por estar entre as 20 mais bonitas do mundo. Para o motociclista brasileiro, uma estrada fundamental no turismo em duas rodas.

Serra do Rastro da Serpente

Partimos de Itú evitando a saída congestionada de São Paulo, mas com segundas intenções, pois iríamos conhecer também outras estradas de serra muito conhecidas.

O primeiro destino foi Capão Bonito. Visitamos o Porthal Rastro da Serpente um bar temático para motociclistas na cidade. Fomos recebidos pelo Sr. Artur, que gentilmente abriu o local para conhecermos. Fica aberto de sexta a domingo e ainda era segunda-feira. Lá conquistamos nosso patch com o símbolo da Serra do Rastro da Serpente.

Partimos dali em direção a Curitiba e fizemos mais de 800 curvas em uma estrada recém reformada percorrendo quase 500 km. Definitivamente, uma estrada em que se gasta as laterais do pneu pelas seguidas e intensas curvas proporcionadas. Não demonstra um grande visual pela ausência de mirantes naturais, mas é ótima para quem curte curvas. A paisagem é diversificada e passamos por várias cidades sem grandes transtornos.

No município de Apiaí, almoçamos no restaurante Tuks, boa dica do posto de turismo local. Depois do almoço, a alegria de estar inclinando a moto vai sendo trocada por um teste de resistência física, pois é uma viagem demorada. Fizemos em 5 horas no total, assim como nos disseram em Capão Bonito. O encanto só estava começando, quero dizer, a viajem.

Urubici

Chegamos a Curitiba e nos abrigamos no hotel, pois a chuva estava para começar. A ideia era passar pela serra da Graciosa, mas como havia muita chuva na região, seguimos no dia seguinte, sem pressa, direto para a cidade de Urubici, cidade próxima a Bom Jardim da Serra.

Fizemos, neste segundo dia, a rodovia BR-101. Apesar do nevoeiro e trechos de chuva, fizemos com tranquilidade até Palhoça – SC (logo depois de Florianópolis). Ali desviamos para a Rodovia 282, que nos levou quase até Urubici.

Algumas pausas para fotos e a mudança de paisagens se fazia convidativa. Em uma destas saidinhas da estrada para fotos, tive um pequeno acidente com a nova moto, escorreguei em uma descida de cascalho e lá se foi meu manete e pisca. Felizmente foi mais susto do que dano.

Seguimos para almoçar na estrada antes de Urubici em um posto de estrada chamado Janaina II. Não posso deixar de registrar que o lanche estava ótimo e a hospitalidade do estado já começava. Me ajudaram com suprimentos para remendar o pisca e seguir viagem mais tranquilo.

Chegamos a Urubici ainda de dia e achamos um hotel com calefação para ficar na avenida principal da cidade, o Urubici Park Hotel. Urubici tem apenas um semáforo e com temporizador! A cidade possui casinhas bem cuidadas, todas com florzinhas e grama bem aparada. O capricho dos moradores é também evidenciado na população rural, que usa muito as casas de madeira pintadas com cores cintilantes e janelas de borda escura da mesma cor da casa. Tudo em um visual bucólico, junto com as características araucárias presente em todas as direções. Estradas bem sinalizadas e certo “déja vu” europeu. As motos pareciam ser os únicos veículos na cidade. Era apenas uma impressão porque até trator rodava por ali. A sensação de liberdade que as duas rodas nos davam fazia mais sentido naquela cidade.

Conhecemos no mesmo dia a igreja mais proeminente da cidade pela arquitetura majestosa e vitrais retratando a sua origem templária. Meu colega Fábio conseguiu comprar outra capa de chuva porquea sua havia sido avariada na viagem e obtivemos informações turísticas por todos os lados. A começar pelo hotel, que deixava ligado na internet câmeras ao vivo de pontos turísticos. A cidade é pequena, mas atende bem o turismo local pelo suporte e pelas opções de passeios.

Serra do Corvo Branco

Logo cedo, iniciamos pela Serra do Corvo Branco. Ou pelo menos fomos ao seu auge, na garganta que fica no cume da estrada de terra. Um lugar asfaltado, onde a montanha de pedra foi aberta para passar uma estrada. Segundo informações do pessoal do hotel, ela foi iniciada na mão, com talhadeira. A formação rochosa de 160 milhões de anos esta sobre o aquífero Guarani. Além da altitude do local, a garganta tem mais de 90 metros de altura e canaliza um vento intenso. Tivemos muito cuidado com as capas de câmera e qualquer outro objeto leve, pois ali o vento leva mesmo. Como a montanha de rocha foi partida ao meio para passar a estrada, um lado dela brota água constantemente que puxa do reservatório, antes guardado pelo isolamento de água da pedra basalto.

Como primeiro passeio de Urubici foi emocionante. A sensação na chegada é contagiante, junto ao vento forte é de tirar o fôlego em todos os sentidos. A estrada segue até o litoral em trechos de terra e muitos passam por ali de carro. É o caminho mais curto até a cidade de Tubarão. Quem nos cercava eram bovinos curiosos que subiram para nos vigiar ou bisbilhotar. A serra é chamada de Corvo Branco por conta do urubu rei de plumagem branca erroneamente chamado de corvo.

Morro da Igreja

Saindo do Corvo Branco seguimos para o Morro da igreja. Uma hora antes, visualizamos as câmeras ao vivo pela internet e havia bom tempo. Subimos os 1000 metros e nos deparamos com a situação de nevoeiro intenso com dificuldade de enxergar as motos na pista. Como nos foi avisado, tudo muda muito rápido pela altitude. Coloquei a capa porque me senti dentro da nuvem de chuva. O vento é tão intenso que até as motos estacionadas balançavam ao ponto de dar medo de tombar. Não conseguimos ver a pedra furada, nem o visual daquela altitude. Nem mesmo as torres do SINDACTA da Aeronáutica se avistava, mesmo tão próximos da área militar da Aeronáutica. A antena lá colocada foi especial para o local, pois a primeira saiu voando, a segunda muito bem chumbada entortou e até que buscaram tecnologia francesa para algo que não abaulasse com o vento. Fiquei na curiosidade de ver a tal antena. A nossa aventura foi sem visual, mas com emoção pelas rajadas de vento daquela altitude e a sensação ambígua de paraíso perigoso.

Serra do Rio do Rastro

Voltamos a Urubici e, antes de irmos a outros passeios, reparamos pela câmera da internet a Serra do Rio do rastro com tempo limpo. Adiantamos nosso cronograma e partimos para Bom Jardim da Serra. Aliás, uma viagem de 60 km muito proveitosa. No caminho, visitamos o mirante da cidade de Urubici, as inscrições rupestres que ficam a beira da estrada e ainda a Cascata do Avencal. Uma imagem paradisíaca, estilo ilha da fantasia. Foi um deleite em duas rodas. Paisagens, céu azul e pasto verde. Tudo nos pareceu muito bonito e preparado para nossa chegada. Em Bom Jardim da Serra, fomos direto para o Mirante do Rio do Rastro.

Na chegada a Bom Jardim, bem próximo ao mirante, é possível avistar as hélices dos geradores de energia eólica. São alguns imensos “ventiladores” que giram com a ajuda do vento e participam da paisagem como se fossem elegantes moinhos modernos.

O Mirante da Serra do Rio do Rastro tem uma estrutura própria. Lojas e lanchonete, inclusive adega de vinhos produzidos naquela altitude, 1450 metros. Ao chegar, fomos recebidos por outros motociclistas e trocamos informações de rotas. O visual é mais do que se espera das fotografias, podendo acompanhar o trânsito de caminhões e carros pela serra, que não é pouco. A cada curva de 180 graus, a prioridade deve ser dada aos veículos de maior comprimento, pois ele invade a outra pista. As confusões de carros desavisados atrapalhando as curvas de caminhões, é possível ouvir as buzinas e roncos lá de cima.

A Serra tem esse nome pois um rio passa por baixo da estrada e, descendo, podem ser vistas pequenas cascatas acompanhando a encosta e em alguns trechos, a água invade a pista, brotando das emendas da metade do asfalto.

A estrada tem longo trecho que fica iluminado à noite. E a sua utilização é grande, pois o asfalto é bom, só é uma estrada estreita.

Pudemos observar de um lado, a vista maravilhosa e deslumbrante do verde da mata e outra cachoeira do outro lado da serra. O início da descida é o mais impressionante pelas curvas e o declive. Por isso, fizeram alguns mirantes para apreciação do visual. Em algumas curvas, as rochas têm marcas de caminhões que raspam a carroceria, pois é impressionante a maneira como conseguem passar juntos pela pista de dupla mão. A necessidade de manobra pode acontecer. Para motos, a única preocupação seria a água e o nevoeiro, quando ocorre. Lugar bonito e interessante. Além de ser turístico é muito útil para a região, ligando a montanha ao litoral.

Descemos e subimos a serra, paramos na lanchonete do mirante e esperamos a noitinha. Às 20 horas, descemos novamente para entender aquela estrada tão famosa e a sua iluminação noturna. Posso dizer que é fácil. A dificuldade é encontra-la com nevoeiro. Coisa que parece ser normal para a região. Perigosa mesmo é quando ela congela na época do frio intenso. Isto, claro, deve ser evitado, mesmo de quatro rodas.

O tempo ajudou muito e tivemos visibilidade o dia todo em Bom Jardim. Seguimos de noite pelo Rio do Rastro, quase que fugindo de uma tempestade que se aproximava. Ventos fortes novamente tentavam nos impressionar naquele passeio noturno, que seria nosso adeus à Serra. Descemos até Lauro Muller e a tempestade se aproximava, levantando poeira. Só conseguimos hotel melhor em Orleans. Chegamos junto com as trovoadas, mas secos.

Laguna

No quarto dia, seguimos com destino aos golfinhos da cidade de Laguna. Logo na ponta da praia de água parada. Chegamos com chuva fraca, mas não nos impediu de ver a pesca da tainha junto com os golfinhos. Paramos as motos em frente e os pescadores jogavam redes aonde os chamados botos beliscavam a refeição. Uma visão de gaivotas e pescadores se orientando pelos botos na pesca da tainha. Avistávamos o farol que é um ponto turístico, indo de balsa e ao mesmo tempo avistávamos a mansidão dos botos. Coincidentemente, encontramos com o pessoal que organiza o Laguna Motofest conhecendo o local da festa de motos do ano que vem. Será no estacionamento em frente à água parada onde estávamos. Até alguns cães nos recepcionaram. Exímios caçadores de siri, como vimos no local. Estes mesmos cães que brincavam por ali com siris e gaivotas , perseguiam os carros também. E como uma última saudação ao ir embora, nos deixaram passar com as motos, sentados sem perseguição de rodas. Um lugar que nos impressionou pela facilidade de participar da natureza. Seguimos viagem até Garopaba pois o dia passava.

Garopaba

Em Garopaba, fomos até a Praia do Rosa, muito conhecida. Restaurantes e gente bonita. Estivemos um tempo no mirante do restaurante para ver Baleias que vêm para a região para usar de maternidade, mas o ideal é saber em que praias elas foram vistas naquele dia. É possível ter esta informação pelas redes sociais, para chegar cedo e procura-las.

No mesmo dia, chegamos a Pomerode. Ali experimentamos a cerveja produzida na região, aproveitando o visual Germânico. Na manhã seguinte, seguimos para São Bento do Sul. Uma cidadezinha de altitude e muitos mirantes. Prejudicados pelo nevoeiro, pode ser necessário o bom tempo para curtir mais. Ali procurávamos a Serra Dona Francisca. Conhecemos um restaurante de fogão a lenha típico e charmoso e depois seguimos pela serra. Descemos com chuva, mas gostamos muito das suas curvas e do visual do mirante. A vegetação é intensa. A dica para quem quer conhecer sem alterar muito a sua rota é subir a serra até o mirante e descer. Indo para o Sul pela 101, antes de Joinville é possível ver as placas de indicação.

Caverna do Diabo

Partimos dali para São Paulo com destino à caverna do Diabo. Dormimos em Jacupiranga, mas não tenho boas referências. A estrada para a cidade de Eldorado é cheia de buracos, não achamos nenhum hotel bom na região e a comida também não nos impressionou. Sentimos a diferença (ou a saudade) de Santa Catarina. Visitamos a caverna do Diabo, que é muito bem controlada pela visitação assistida por guias. A entrada custa R$20,00 e só aceitam dinheiro. A caverna esta toda iluminada por dentro e com construções de escadarias para facilitar o caminho. É imensa !

Voltamos a São Paulo pela temida Serra do cafezal e, mesmo congestionada, nossas motos foram úteis em contornar a situação.

Recomendo o passeio a Urubici, planejando ou não. É agradável pela atenção do catarinense ao turista e as belas paisagens que estimulam o motociclista a gostar cada vez mais das estradas !

Marcelo Migliano é autor do blog Sportster na Estrada, onde publica os relatos das viagens que faz com sua moto.

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