Viagem de moto até o Nordeste

Após ler aqui no site Viagem de Moto o relato do Sergio A. sobre sua viagem de Borda da Mata a Natal, fiquei inspirado e comecei a estudar um trajeto semelhante para as férias de 2013. O roteiro que fiz consistia em Partir de minha cidade, Juiz de Fora – MG e finalizar em Natal – RN e, no retorno, passar pela cidade de Guarapari – ES, localidade que visitamos nas férias de 2012. Seria nossa primeira viagem de longa distancia.

Foram quinze dias de viagem, totalizando 5000 km rodados entre ida e volta, utilizando uma Moto Honda CB 300R, várias rodovias percorridas, cidades visitadas, pousadas e hotéis, culinárias diversas nos self service de estrada, alguma chuva e muito sol.

No intuito de servir de apoio para outros irmãos estradeiros, resolvi relatar a experiência maravilhosa que eu e minha esposa vivemos durante esses quinze dias da nossa versão de “Viagem ao Nordeste”.

Iniciamos nossa viagem no dia 03/09/2013, saindo de Juiz de Fora – MG às 7 horas da manhã, com destino a Teófilo Otoni, que seria o lugar do nosso primeiro pernoite, baseado na maior quilometragem percorrida por mim, que foi de 500 km, na viagem até Guarapari, nas férias passadas.

Seguimos então pela BR-267, uma rodovia apertada e sem muitas opções de ultrapassagens, até a cidade de Leopoldina-MG, onde pegamos a BR-116 (Rio-Bahia). Com maiores condições de fluxo rápido, seguimos direto até o destino do dia. Chegamos, como previsto, no final da tarde, buscando um hotel próximo à estrada, a fim de evitar gasto de tempo com deslocamento. Conseguimos um bem próximo da rodoviária, um hotel simples e com um café da manhã mais simples ainda, café com leite e pão com manteiga, porém o preço agradou bastante, R$ 60,00 o pernoite para o casal. Como era de esperar, exaustos, tomamos um bom banho e antes das vinte horas já dormíamos.

No dia seguinte, 04/09/2013, às cinco horas da manhã, já estávamos de pé. Colocamos a Moto na estrada antes das sete horas e, desta vez, com destino a Arraial D’Ajuda – Bahia.

Saindo da BR-116, pegamos a BR-418 sentido Nanuque e depois, em território Baiano, encontramos a BR-101, passando por Teixeira de Freitas e Itamaraju, chegando ao município de Eunápolis, onde efetuei a troca do óleo, ajustes e lubrificação da corrente. Neste ponto, trocamos para a BR-367, rodovia federal que liga Eunápolis a Porto Seguro. Seguimos em direção a Arraial. Foram sessenta quilômetros até o destino, sendo os trinta primeiros tranquilos, porém o restante do percurso em via bastante esburacada, requerendo atenção redobrada e pouca velocidade.

No final da tarde chegamos à cidade, onde recebemos as boas vindas do companheiro Ricardo, presidente do AMEBRS (Apoio ao motociclista estradeiro), que gentilmente nos guiou até o Mox Hostel, que procurávamos, por sugestão do Sergio, ótima dica por sinal, pois além de ser barato, o local é muito bom, central, o atendimento foi nota 10 em todos os aspectos.

Ficamos encantados com a beleza da localidade, o comércio bem diversificado e atendendo a todos os gostos, o povo simples e acolhedor e uma culinária exuberante. Como nosso principal objetivo era chegar a Natal devido às saudades da filha e do neto que por lá residem, não disponibilizamos maior tempo nesta localidade, porém já a temos em nosso próximo roteiro.

O terceiro dia de nossa viagem, 05/09/2013, começou com forte chuva, fato que adiou nossa partida. Retornamos os 60 km até Eunápolis pela BR-367 e de lá seguimos pela BR-101 até passar por Ubaitaba, onde entramos em um lugarejo chamado Travessia, que dá acesso à BA-001, rodovia radial do estado da Bahia, que percorre o litoral do estado, ao sul da capital, Salvador. A rodovia é formada por trechos não conectados, com interrupções, principalmente nos estuários dos rios que desaguam no Oceano Atlântico. A extremidade norte da rodovia localiza-se na Ilha de Itaparica, na Baía de Todos-os-Santos, que tem como destino final o Ferry Boat (Balsa que atravessa a Bahia de todos os santos).

Em princípio concluiríamos o dia de viagem em Nazaré, porém tivemos que pernoitar em Camamú, pois além do atraso pela chuva, ainda ficamos detidos na estrada, próximo a Camacan, devido a uma manifestação de protesto pelo assassinato de um índio Pataxó, por fazendeiros locais. Depois de quase uma hora, fomos liberados pela Força Nacional de Segurança, que desobstruiu a passagem, e claro, a Moto pôde ser a primeira a romper o bloqueio, graças à diplomacia de minha esposa junto aos policiais.

Esta rota atravessa uma reserva de mata atlântica maravilhosa, onde pode ser observada muita natureza. Camamú, antiga cidade colonial, conserva vários vestígios arquiteturais de um rico passado. Atualmente é o centro administrativo e comercial da região e porto de embarque para se explorar as ilhas e praias da Baia de Camamú.

Lançada em nosso roteiro devido o avançar das horas (Não piloto à noite em BR), ali encontramos a melhor hospedagem de nossa viagem de ida, uma pousada simples, barata, ligada ao primeiro posto de gasolina no percurso de entrada ao lado do Estádio local, onde nos foi oferecido um quarto amplo, arejado, com ar condicionado, frigobar, internet e uma deliciosa cama king size, um café da manhã delicioso e com muita fartura, inclusive o cuscuz branco baiano e muita fruta nativa. À noite, pudemos degustar na praça um ótimo Acarajé (sem pimenta).

O quarto dia, 06/09/2013, foi marcado por muita ansiedade, pois nele, em Natal, era comemorado o aniversário de nossa filha, fato que aguçava ainda mais a expectativa da chegada ao destino.

Embora tenha chovido bastante à noite, o dia surgiu belíssimo.

Partimos de Camamú com destino ao ferry Boat em Itaparica, onde pegamos a Balsa e realizamos a travessia da Baia de Todos os Santos até Salvador. No percurso, passamos dentro de Valença, onde tivemos insistentes convites para sermos guiados para o acesso ao “morro de São Paulo”, local de belas praias, agua cristalina e natureza exuberante, o que demonstra a riqueza deste roteiro.

Dentro da Balsa, ao buscarmos informações sobre como proceder após o desembarque para acessarmos a via verde, fomos conduzidos ao capitão da embarcação, que gentilmente nos deu boas dicas, fato este que demonstra o calor humano do povo baiano.

Ao atravessar a Baia, fomos recepcionados por muita chuva, fato que não nos deixou aproveitar da hospitalidade da Capital, sendo assim, seguimos pela Estrada do coco / Linha Verde.

No município de Estância, entramos sentido Aracajú e passamos pela ponte Gilberto Amado, com quase 2 km de extensão, considerada como a maior ponte sobre rios da região, ligando a Bahia ao Sergipe. Porém, por sugestão de uma amizade que fizemos no caminho, optamos por pernoitar na praia de Atalaia – SE. Daí passamos também pela ponte Jornalista Joel Silveira, que facilita a ida ao litoral sul.

Chegamos à orla já escurecendo e, ao pedirmos informações sobre estadia a um ciclista, fomos muito bem atendidos e até guiados a uma pousada simples, porém confortável e com uma recepção feita por pessoas carinhosas. Como complemento, nos foi oferecido um exótico café da manhã, moldado nas tradições locais, que mais parecia um almoço. Nele, tivemos o contato com o cuscuz nordestino, que é com farinha amarela e queijo coalho, frango com quiabo, batata doce e ovos mexidos.

Quinto dia, feriado de sete de setembro. Aguardamos um pouco a abertura de um borracheiro que pudesse fazer uns ajustes na corrente da Moto, que devido ao excesso de quebra molas por toda a região, começou a mostrar certo desgaste, fato que não era de se estranhar, visto que ainda era a original de fábrica. Fui alertado que já estava na última regulagem e que deveria substitui-la ao chegar a Natal-RN.

Seguimos de Atalaia, SE em direção a Olinda, PE. O dia amanheceu chuvoso, mas logo clareou e, após o café da manhã reforçado que tivemos na pousada, com direito até aos ovos mexidos, seguimos sentido Maceió, tendo como pista a BR-101, que dentro de Alagoas, por estar em fase de duplicação e apresentando diversos desvios, tornou-se um pouco indigesta. Porém, logo que atingimos Pernambuco, já com as obras acabadas devido a um trabalho de duplicação feito pelo exército brasileiro, parecia mais um tapete, ótima estrada.

Passamos por lugares interessantes, como São Miguel dos Campos, União dos Palmares e no período da tarde, já em Pernambuco, Palmares, Jaboatão dos Guararapes, Penedo, onde deságua o Rio São Francisco e Recife, passando pela famosa “Porto de Galinhas”.

Para chegar a Olinda, contamos mais uma vez com a impecável cordialidade dos taxistas locais. Um deles, por coincidência com passageiro até esta cidade, nos guiou indicando até o local onde acharíamos uma boa pousada. Depois de uma breve pesquisa, fomos encaminhados ao “Canto dos Artistas”, bem no centro de Olinda, onde a Proprietária Ângela, nos acolheu com muito carinho.

Tivemos sorte, pois chegamos no dia do MIMO (mostra internacional de música de Olinda), com show do Gilberto Gil em pauta. Adoramos a cidade, mas como nosso objetivo estava bem próximo de ser atingido, partimos logo cedo no dia seguinte em direção a Natal.

08/09/2013, nosso sexto dia de viagem. Como tínhamos menos de 300 km para rodar até Parnamirim, onde reside nossa filha, curtimos bastante o percurso e fomos presenteados por paisagens lindíssimas e uma natureza maravilhosa.

Chegamos ao endereço após o almoço e tanto levamos quanto recebemos muita alegria na chegada. Aproveitamos bastante da hospitalidade e além de praias e passeios, aproveitei para fazer uma revisão na moto, quando foi necessária uma substituição da relação. Estava com a original de fábrica já há dois anos. O serviço ficou de ótima qualidade e a máquina ficou revigorada e muito macia e, ao final do dia, a moto foi entregue em nosso local de hospedagem na caminhonete da Motociclo.

Como o caminho de volta era longo e ainda queríamos visitar outros locais, partimos na quarta feira cedo, tendo como objetivo a ser atingido, Guarapari, no Espírito Santo.

Iniciamos nosso retorno no dia 11/09/2013, nono dia e, como caminho de volta, escolhemos a BR-101, visto que nos levaria até o destino escolhido. Como ela nasce naquela localidade, pegamos os quilômetros iniciais desta BR.

Procurei acelerar um pouco mais no retorno e utilizei paradas sempre às margens da rodovia. Assim, encerramos este dia em Teotônio Vilela, em Alagoas, depois de 600 km rodados. A cidade é pequena, porém hospitaleira. Ficamos na pousada Belo entardecer, com diária para casal a R$ 50.

À noite encontrei um bom churrasquinho na praça para substituir o jantar. Esta é uma das melhores partes da viagem, perceba que em apenas um dia percorremos quatro estados, passando por capitais como João Pessoa, Recife e Maceió, paisagens riquíssimas, em cada parada para lanche, abastecimento e almoço, culturas, sotaques e hábitos culinários diferentes.

O décimo dia de nossa viagem, 12/09/2013 teve início sob o forte e ao som dos roncos dos motores das máquinas dos caminhoneiros, que também compartilhavam da hospedagem e logo cedo estávamos na estrada.

Logo, o estado de Alagoas ficou para traz e já passávamos por Aracaju no Sergipe.

Rapidamente atingimos os limites do estado da Bahia, passando por cidades como Alagoinhas, Feira de Santana, Cruz das Almas, que seria um possível ponto de parada, mas como o asfalto ajudou e a viagem rendeu, continuamos em frente e elegemos Gandu, para o pernoite. Por sinal, ótima escolha, pois embora de aspecto interiorano, a cidade possui um padrão de vida de capital, possuindo até mesmo um shopping com ótimas âncoras. Somente os hotéis eram deficientes em garagem, o que no caso de motos é fundamental. Porém, surgiu o improviso e a gerencia de um deles prontamente providenciou um espaço em uma lanchonete ao lado para que moto ficasse guardada até o dia seguinte.

Boa surpresa foi o café da manhã que oferecia muita fartura e alimentação forte.

No décimo primeiro dia (13/09/2013), estávamos bastante adiantados com relação ao nosso planejamento inicial, pois havíamos acumulado quilometragens excedentes nos dias anteriores. Sendo assim, a previsão inicial que era pernoitar em Teixeira de Freitas, passou a ser Pedro Canário, já no Espírito Santo.

Passamos pelas cidades de Itabuna e Eunápolis e sentimos saudades quando cruzamos a BR de acesso ao Arraial D’Ajuda, nossa segunda parada na jornada.

O décimo segundo dia (14/09/2013), devido à proximidade do objetivo que era Guarapari, transcorreu em um clima misto de descontração e ansiedade pela chegada, visto que ali o objetivo seria tão somente descansar e aproveitar do litoral maravilhoso do lugar.

Passamos por cidades capixabas como São Mateus, Linhares, e Serra, onde desviamos para Cariacica, para não passarmos por Vitória, onde o transito seria mais intenso, segundo recomendações dos motoristas locais.

Chegamos na cidade destino por volta das treze horas e, após uma pesquisa de hospedagens, escolhemos o Hotel do Osmar, o que representou uma excelente escolha, tanto no preço, localização (beira mar) e no atendimento dispensado por todos os funcionários e donos, sem contar o ótimo café da manhã oferecido.

Permanecemos ali até o dia 17/09/2013 e só não ficamos mais porque os recursos financeiros já atingiam limites.

Partimos no dia 17/09/2013, décimo quinto dia, em direção a Juiz de Fora, final de nossa viagem. Pegamos as BR-101, 116 e 267, até finalmente atingirmos o perímetro urbano de nossa cidade.

Cansados, porém já com saudades desta viagem maravilhosa e já fazemos planos para as férias de 2014, refazermos o roteiro, porém com maior seletividade e dispensando maior tempo aos pontos que mais agradaram.


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