Acabo de adquirir uma Yamaha FZ6 S, azul, ano 2009, com apenas 14 mil kms rodados. Estou realizando um sonho, minha primeira moto de quatro cilindros, depois de muitas alegrias com uma RD 350 LC 88, uma Tenereé 600 – 89, e também com outras motos Honda e Suzuki, mas estas não contam. Talvez somente a CB 500 2002 tenha deixado saudade.
Pois é, encontrei minha moto no Mercado Livre, e pelas fotos era exatamente o que eu queria. Linda, impecável, baixa quilometragem, tudo certo.
Depois de alguns contatos com o vendedor Marcos, (que hoje já posso chamar de amigo, cabra gente fina), entramos em acordo e fechamos o negócio.
Agora era dar um sinal e esperar o melhor dia pra ir pra Teresina, no Piauí, pra buscar a azulona. Tinha que achar uma solução pra equação: Trabalho x custo da passagem x voo com horário viável.
Depois de muita pesquisa, achei um voo da Azul que me colocava em Teresina às 14h40, de uma terça-feira, horário que dava perfeitamente pra resolver cartório e banco no mesmo dia, e voltar com ela rodando no dia seguinte.
E assim foi.
Embarquei com uma mochila, uma sacola levando a roupa de cordura e o capacete. Seria uma viagem e tanto, já que nas conversas que tive com alguns amigos que já conheciam o trecho, ouvi várias estórias. A mais impressionante, dava conta de que a região, denominada “polígono da maconha”, formada por Picos, Afrânio, Serra Talhada, etc., era uma “terra de ninguém”. Contavam que aviões pousam na rodovia pra carregar e escoar a produção da droga, plantada livremente na região. Se você der o azar de passar na hora, já era! São armados e perigosos! Pode não parecer, mas isso me deixou preocupado.
O Marcão foi me pegar no aeroporto, me fazendo a primeira das muitas gentilezas que ele ainda me faria nessa viagem. Ele não tinha a obrigação de nada, era só vender a moto e pronto, mas como já eu disse, o cara é do bem.
Fomos direto pra sua casa pra ver a moto. Eu já tinha dado um pequeno sinal pra garantir o negócio, e tínhamos firmado um contrato de compra e venda. Ao chegar, ela era o que ele tinha dito e muito mais. Nenhum arranhão, linda, impecável, pneus e relação zero, na capa, brilhando, zerada! Dei uma voltinha e já era! Negócio fechado.
Vamos para o cartório, porque já são 15h15, e o tempo é nosso inimigo. Senão não dá tempo.
A segunda gentileza vem agora:
– Vamos de moto? Você vai com ela que eu vou com a XT (ele tem uma 660 zero km). O cara sabe o que é bom.
Peguei o capacete, e o resto da bagagem ficou no carro dele, e fomos para o cartório transferir a moto. Depois da burocracia, duas quadras a pé já estávamos no banco, e tudo resolvido.
Pedi pra me guiar até uma Yamaha, porque pro meu gosto tinha que tirar uma folguinha incômoda no acelerador, baixar um pouco os manetes de freio e embreagem, e os pedais de freio e câmbio. Ajustes pessoais.
Ao chegar lá, já percebi que tinha uma moto diferente, A galera toda da concessionária apareceu pra ver a nave no elevador.
Tudo regulado, nível do óleo conferido, (o Marcos estava com a NF da troca com filtro (original Yamaha), havia 15 dias), pequena regulagem na relação e ela ficou no ponto.
Já eram quase 5 da tarde, e o termômetro estava em 37 graus. (Você não leu errado não, é isso mesmo!) Caraca eu estava derretendo, e preocupado em como seria puxar os 1140 km no dia seguinte nesse forno micro-ondas ligado.
Voltamos até a casa do Marcão e peguei a tralha que havia ficado por lá. Marcamos uma pizza pra logo mais e um rolê pra eu dar uma espiada em Teresina.
Daí foi: Hotel, C3 na relação (não encontrei o C4), e, CADÊ O CHUVEIRO?
Dei um tempo pra tentar baixar a adrenalina me deitando um pouco, afinal tinha acordado às 5h30 da manhã e dormido muito pouco, pra pegar o voo de Salvador até ali com escala em Recife. Tinha que me preparar pro dia seguinte, mas quem disse que eu conseguia dormir?
Lá pelas 8 da noite, parei de bancar o “natural, eu tenho uma FZ6 lá embaixo só minha e eu aqui deitado vendo TV”, e me arrumei pro rolezinho. É abastecer e encontrar o Marcão.
Bem mais fresco agora: 32 graus! Porra onde apaga esse fogão?
Depois de um rolezinho, fomos pra pizza e voltei pro hotel. Já eram umas 11 da noite, com mais uma amizade que a moto me deu. Na chegada ao hotel encontrei uma equipe da Yamaha, hospedada no mesmo andar que eu. Eles estavam montando um stand pra um evento de moto que iria acontecer no próximo final de semana na cidade. Pena que não posso ficar pra esperar.
Tentei dormir um pouco. Arrumei tudo pra não ter trabalho na hora de sair, tomei mais um banho e cama. Yoga, tai chi chuan, vou precisar de muita meditação pra conseguir desligar da mega viagem que me aguarda amanhã cedo!
Não teve jeito. Um sono leve a noite toda e as 4h30 eu não aguentei mais. Levantei e depois de um banho rápido pra acordar de vez, vesti a cordura e desci com toda a tralha pra preparar a moto pra zarpar. Só pensava na estrada.
Improvisei um desjejum com os “tódinhos” do frigobar e vamos que vamos. Quem pensa em comer numa hora dessas! Bora rodar! E muito!
Amarrei a mochila, liguei o localizador de satélite que iria enviar minha posição de meia em meia hora pra minha mulher e meus Brothers do Zoombi em Salvador, e pé na estrada. Ansioso? Não, que é isso!
Saí as 5h20 e tentei ir aos poucos me adaptando a tudo. A roupa, a posição de dirigir, a mochila, a moto, o capacete, os mosquitos que já começavam a carimbar a viseira, mas nada me prendia tanto quanto a estrada que eu não conhecia.
O calor tinha dado uma folga e quando saí o termômetro da moto marcou 26 graus. Muito quente, mas bem menos do que os 37 do dia anterior. E todo mundo dizia que a cidade de Picos, minha primeira escala, é ainda mais quente que Teresina. Então bora chegar bem cedinho pra não cozinhar os pneus.
Poucos quilômetros e o primeiro problema. O para-lama traseiro estava sem alguns dos seus prendedores, e toda vez que a suspensão dava curso, ele enganchava no chassi e fazia um “twist” com o pneu “engolindo” o lado oposto ao que enganchava. Parei umas duas vezes até descobrir que podia soltá-lo com a mão sem ter que parar a moto. À essa hora, já a uns 10 km de Teresina, ninguém vai resolver isso. O jeito é seguir viagem sempre ligado, e lá em Picos procurar uma concessionária pra ver o que é possível fazer.
E a estrada é boa, a BR 316, e o total até Picos é de 314 km. Representa um quarto da viagem e tenho que me acostumar com a moto e aprender suas reações. Na primeira meia hora “pego leve” e mantenho uma média pouco acima de cem. Primeiro porque ainda estou no Lusco-Fusco, e segundo porque não conheço a estrada. Como moro na Bahia, ficamos espertos pra encontrar um buraco do nada, uma pista sem sinalização, uma obra mal sinalizada, enfim, aquela roleta russa que é viajar pelas estradas da Bahia.
Qual não é a minha surpresa ao perceber que se tratava de uma ótima estrada. Pista simples, mão dupla, ok, mas muito bem sinalizada, faixas o tempo todo, bom acostamento, certo movimento principalmente de caminhões, e o nascer do sol foi um espetáculo. O céu é azul impecável, nenhuma nuvem, mas muito vento, e às vezes meio lateral, o que é pior. Nada demais.
Aos poucos fui percebendo o excelente negócio que fiz. A moto é zero! Nenhuma vibração, o guidão nunca “chima”, mesmo quando apertei o ritmo, e a bolha, meu amigo, a bolha faz toda a diferença. Lembrei das várias conversas que tive com a galera do Zoombi sobre viajar sem bolha, e da dificuldade que o Marquinhos tinha tido na viagem pra Petrolina, poucos dias antes com sua XJ. É uma luta pra segurar a cabeça, e o capacete parece que quer sair do pescoço.
Pois foi exatamente por ficar uma tarde com a moto do Marquinhos que acabei decidindo de vez pela FZ6 S e não a N ou a XJ.
Quando cruza um caminhão, basta uma leve abaixadazinha pra entrar no túnel da bolha e o impacto do vento é muito menor. Nem tem como comparar!
Fora isso, ela é muito confortável. Moto de pista, mas muito macia, adora asfalto, e adora andar acima dos 140 km/h. É a zona de conforto dela!
Defini meu cruzeiro em 150 km/h, porque também fiquei impressionado como ela pára rápido. Além de muita compressão no motor, os freios são uma estupidez! Era fácil perder 100 km/h, tirando a mão e uma beliscadinha nos freios, sem nenhum susto ou mau comportamento. Ela mantém a trajetória, não oscila pra lado nenhum, é equilibrada no último grau!
Fantástica, enfim!
Mesmo com o problema do para-lamas, e com um abastecimento, entrei na cidade de Picos às 08h20 em ponto. Caramba média de mais de 100 km/h, e mesmo assim ela fez mais de 19 km/l. Além de tudo é econômica!
A CBzinha (500) da Honda 2002 e carburada fazia 18! Tá bom demais!
Uma vez em Picos, bora procurar uma Yamaha. Preciso resolver o problema desse para-lamas.
Achei fácil a concessionária que fica bem no centro da cidade, e lá encontrei o Sr. Wilson. Um coroa gente muito fina, com muita experiência. Falei do meu problema pra ele, e ele só falou: vai comer um lanche, deixa isso aqui comigo.
Senti firmeza! Sai pra caminhar um pouco e achar uma padaria pra enfim tomar um café da manhã, mas a cabeça não saia da moto. Pensar que ela estava sozinha, mesmo numa concessionária autorizada, mas na mão de um cara que poderia não ter essa vivência toda poderia azedar minha viagem. Resolvi relaxar um pouco e acreditar no sr. Wilson. E o problema não era simples, já que o ilhós de plástico de afixação do para-lama na balança rasgou no primeiro puxão que o chassis deu. Precisa criar alguma solução.
Voltei depois de meia hora, e o sorrisão no rosto do Wilsom dava boas notícias! O Problema estava resolvido. Ele fabricou um “L”, e prendeu o “pé” do L na balança e com um rebite prendeu o para-lamas na outra perna. Descobriu que faltava um batente no lado oposto ao do chassis “comedor de para-lamas”, ali no pé do amortecedor, que tinha a função de impedir que o para-lamas “caísse numa depressão da balança naquele ponto e assim levantasse. Colocou um batente da Lander no lugar, e ficou perfeito. “- Quero ver levantar agora” – disse todo satisfeito com a solução inventiva que ele encontrou.
Me cobrou R$ 9,00 pelo rebite, que me fizeram ter muito remorso por ter duvidado da capacidade dele lá na padaria, e como não poderia almoçar com ele, deixei pago o almoço dele. Me ajudou demais! Valeu Wilson – Concessionária Yamaha – Picos – Piauí.
Verificado o nível do óleo, relação lubrificada, não há mais o que esperar. Me equipei e “FUI!
Saí da Yamaha as 09h45, mas tinha que encher o tanque. Parei num posto a 1 km da do trevo para Petrolina, a tal estrada da história do avião. Seriam 200 km até Afrânio – PE no trecho mais, digamos, suspeito. Paus na estrada que te obrigam a parar, pneus pegando fogo, ouvi de tudo. Não tem jeito, tenho que ir por aí, seja o que Deus quiser.
Levando um papo com um cara que tinha cara de dono do posto, ele me tranquilizou. Sim a estrada é perigosa, mas à noite. De dia pode ir tranquilo. – “Passei por ela na semana passada e tá um tapete. Pode ir tranquilo, mas cuidado com os animais pela pista!” me advertiu.
Não menos tenso, subi na moto e pau. Cheguei rápido ao trevo da BR 407, a tal!
Parti, e o primeiro perigo que surgiu eram as muitas motos de baixa cilindrada na pista. Era o que tinha encontrado de mais perigoso até então, já que é impossível prever o que se passa na cabeça de um cara trajando bermuda de surfista, camisa regata, chinelo de dedo, capacete na testa, e uma cinquentinha coreana sem placa debaixo das pernas, com as vezes três passoas e uma TV de plasma à bordo! Vale tudo! Andar no meio da pista, no acostamento da contramão, cruzar a pista do nada, uma festa. Mas tudo bem longe de mim, graças a Deus, e é claro, procurei me manter afastado e deu tudo certo.
É totalmente diferente de tudo que eu já tinha visto. É um deserto, nem cerca de fazenda você vê. Uma caatinga sem fim, com muito urubu, carcaça de bicho morto pela estrada, e muito bode passeando. É difícil entender do que vivem as pessoas que moram em Acauã, Paulistana, Arizona (olha o nome!) , etc., e como conseguem viver ali, tão distante de qualquer coisa. E essa temperatura o ano todo e pouquíssima água. Dá pra entender o quanto o interior desse país ainda é pobre e carente de tudo. Povo que só tem assistência em época de eleições e que são verdadeiras massas de manobra, na esperança de melhorar suas regiões. Como diz um amigo meu, aquilo ali não é de Deus não! Por isso que o povo vai se embora.
Depois dá uma olhadinha aí no google pra você ver o tamanho da reta que não acaba mais. Aumentei um pouquinho o trem de viagem pra 160 km/h, mas preocupado em não forçar muito a moto, pois já começava a fazer muito calor de novo, e precisava equalizar o consumo, já que os postos eram uma incógnita, e posto bom então, loteria! Pelo menos o vento amenizava a sensação térmica e a boca seca eu resolvia com a mochilinha de bicicleta que levei com água fresca. Dava pra me manter hidratado sem ter que ficar parando toda hora.
Era tanta reta, que fiz o primeiro Top Speed. Vamos ver como ela se comporta, mesmo com esse vento muito forte na cara. Na primeira tentativa batemos os 224 km/h. Embora abaixo dos relatos que havia lido, achei muito bom pra uma moto “mal acostumada”, urbana, e há muito tempo sem viajar. E com aquele ventão na cara então, estava muito bom. Mas como eu disse antes, pra quê forçar a barra? Manter a média é o ideal, e em menos de 2 horas já estava em Afrânio – PE, e às 12h25, parei pra abastecer em Petrolina, já na divisa da Bahia, 678 km e 7 horas depois de sair de Teresina. A média está ótima, já que tive tantas paradas e quase uma hora em Picos pra resolver o para-lama. Fora ele, até aqui tudo perfeito.
Tinha até feito planos de chegar a Petrolina – PE e procurar uma pousadinha, tomar um banho, dormir uma horinha, mas eu estava tão ligado, e tão inteiro, que nem parar pra tirar fotos direito eu parei. Em cima da ponte do velho Chico não tem jeito, é de lei, mas nem desliguei a moto.
Bora que eu quero chegar a Feira de Santana ainda de dia, e ainda faltava mais de 400 km. No tempo da média que fiz até aqui dá tranquilo, mas o cansaço agora é um inimigo.
Cruzei a divida de PE e BA, e ficou muito claro que tinha chegado na Bahia. Acabou a mamata de estradas filé, com asfalto perfeito, acostamento limpo e sinalizado, placas o tempo todo. Agora era hora daquela terra alí do lado do asfalto pra você parar se precisar, e obra pra caramba na estrada pra remendar uma porcaria de asfalto que já está derretendo.
Até Senhor do Bonfim o visual é muito bacana. Muitas montanhas com um calcário branco perto do topo, que até chegam a lembrar montanhas nevadas da Europa. Decidi parar pra esticar um pouco as costas, descansar a bunda e comer alguma coisa. Escolhi um posto grande, e lá, nada de celular, internet e nenhum tipo de comunicação. Um orelhão velho e sem funcionar deixava claro que se eu estivesse precisando de ajuda iria ter que mandar sinais de fumaça pra ser localizado.
Antes um pouco de Jaguarari o primeiro e único acidente na rodovia. Um cara estava sendo retirado de um New Fiesta Branco, que parecia ter sido atropelado por um trem! Fiquei imaginando o que o cara teria feito pra acabar com o carro daquele jeito!
Não tinha uma parte do carro que não estivesse amassada, e o capô do motor e a saia do para- choque dianteiros estavam no acostamento do meu lado da pista, e ele vinha em sentido contrário ao meu! Depois que vi que ele estava bem, e que os danos eram um problema do seguro, (tomara que ele tenha um). Fiquei aliviado por não estar passando na hora. Sabe-se lá quanto de espaço ele precisou pra dar o show dele né?
Perguntei se precisavam de ajuda, e o cara que estava socorrendo me pediu pra avisar no posto da Polícia de Bonfim.
Ok, então “vambóra”!
Demorei pra chegar até lá, estava longe!
Avisei ao policial e segui viagem.
Antes um pouco de chegar a Capim Grosso, fui ultrapassado pela primeira vez. Uma viatura da PM, dois caras numa S10 cabine dupla, com o giroflex acesso, que eu tenha aferido, andavam o que tinham pra dar na S10, e eu cheguei a ficar junto deles numa reta a 180 km/h.
Como vi que o cara tava com pressa, eu já tava bem cansado, e tudo que eu queria era alguém pra sinalizar curvas e quebra-molas pra mim, tinha encontrado o “coelho” perfeito. Agora eu viajava escoltado, com batedores!!!
Chagamos em Tanquinho de Feira, a 40 km de Feira de Santana às 17h50, eu estava exausto, e a moto sem uma gota de gasolina.
Precisa descansar e abastecer. O tempo tinha mudado, e o céu já estava carregado de nuvens e o aumento de umidade já era sensível. Foi só eu entrar no restaurante do posto, já abastecido de gasolina, que o cacau caiu! Chuva! Pô logo agora???
Fui pro telefone avisar a minha mulher e falar com os amigos que estavam ajudando muito no plano da viagem, e descobri que Salvador estava debaixo d´água!
Uma tempestade já tinha caído deixando ruas alagadas, e a previsão era de muita água ainda.
No WhatsUpp os amigos do Zoombi eram unânimes: – cara durma em Feira, não venha pra cá senão tu vai tomar é muita chuva!
Cansado, no escuro, garoando, e com esse incentivo, resolvi, 1007 km depois de ter saído de Teresina, com uma viagem tão perfeita e agradável, que não iria insistir e dar sorte para o azar.
Depois de comer alguma coisa, paguei a conta e levantei com o capacete na mão. A garçonete, que já estava conversando comigo desde que cheguei, curiosa sobre a viagem, me perguntou o que eu queria. Lhe disse que precisava lavar a viseira do capacete, porque os mosquitos haviam tomado conta dela.
Ela rapidamente tomou o capacete da minha mão e falou: – pode deixar que eu lavo!
Foi pra uma pia na cozinha e enfiou meu capacete com bluetooth integrado embaixo d´água e começou a esfregar a viseira com as mãos.
Antes mesmo que eu pudesse reclamar, passou a mão numa bucha dessas de cozinha e eu só tive tempo de gritar: – com o lado verde não!!!
– Eu sei, pode deixar! Risca né? Eu sei o que tô fazendo, vai ficar como novo!
Enxugou, e me devolveu. Testei o bluetooth, e vi que ainda estava funcionando. Subi na moto e tentava resolver se iria pra Feira de Santana por mais 40 km, ou se procurava uma pousadinha pra ficar por ali mesmo.
Eu estava resistente a ficar ali, por causa da garagem e da segurança minha e da moto. Um forasteiro como eu tinha muitos objetos de desejo pra um espertinho, e enquanto me decidia, antes de deixar o posto, passou um Corolla desses novos. Pensei: um ótimo coelho. Vou atrás, e bora pra feira.
Com menos de cinco minutos começou uma garoa fininha e incessante, e eu descobri, da pior maneira possível, que se você precisa fazer alguma coisa que vá diretamente com a sua segurança, jamais deixe pra outra pessoa fazer. A viseira tava engordurada de um jeito, com aquela porra daquela bucha de panela, que dava até pra sentir o cheiro do que tinha sido servido no almoço!
Eu estava cego!
Não enxergava nada, e quando batia um farol na direção contrária, era uma explosão de branco na minha cara que até o Corolla sumia!
Diminui a velocidade e perdi o Corolla. Passei a não enxergar nada, no breu e na garoa. Abria a viseira e a chuva começava a molhar os óculos, e só piorava!
Andei uns dez km em cima da faixa que separava a pista do acostamento até encontrar um posto e como problema pouco é bobagem, a entrada do posto parecia um off road.
Entrei, lavei o capacete de novo, dessa vez sem a maldita esponjinha de panela, e consegui chegar a Feira são e salvo.
Fica a lição, de ter viajado 1007 km até ali, e numa bobagem, poderia ter colocado tudo a perder. Todos os quilômetros percorridos são espaço suficiente pra um acidente, e detonar a gente e a moto. Mesmo na porta de casa é preciso ficar esperto. Um escorregão já era. De nada adiantou planejamento, uma moto excelente, experiência de pilotagem, nada. Não dá pra relaxar um só minuto.
Cheguei em casa na manhã seguinte debaixo de sol, seco, totalmente descansado e feliz da vida com minha moto nova e a sensação gostosa de mais uma viagem realizada.
Agora é curtir muito a moto e pensar na próxima viagem, provavelmente Ushuaia – Argentina, mas isso só em 2016.
Valeu galera!
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