Viagem de moto pelo Nordeste do Brasil

De Lorena (SP) a Fortaleza (CE) de moto

Viagem de moto pelo Nordeste do Brasil

Comecei a planejar a viagem em 09 de fevereiro de 2010. Inicialmente, a data escolhida para a saída seria 10/05/2010, retornando dia 25/10/2010. Escolhi maio por ser um mês que normalmente chove pouco, com uma temperatura amena.
Pretendia fazer dessa viagem a união de 2 prazeres: passear de moto pelo Brasil e curtir as férias em praias maravilhosas que eu ainda não conhecia.

Até então minha moto era uma CG 150, e foi nela que planejei fazer a viagem. O roteiro era ida e volta de Lorena-SP a Porto Seguro-BA.

Menos de 1 mês antes da viagem, todos os planos mudaram. Ao invés de sair de férias, acabei deixando o emprego e aceitando uma proposta de trabalho em Fortaleza-CE e nesse meio tempo, também tive a oportunidade de trocar a moto, adquirindo uma Kawasaki Ninja 250 0km.

Não tendo mais as férias programadas e com o proposto emprego longe de casa, a viagem de férias passou a ser plano de mudanças e em um curto espaço de tempo, reprogramei o passeio, traçando um novo rumo de ida sem volta: Lorena-SP a Fortaleza-CE em 8 dias.

Pela nova programação, o objetivo era sair de Lorena dia 30 de maio, mas uma enorme tragédia me impediu de viajar. Um dia antes da viagem, eu perdi Maria Júlia, minha filhinha de apenas 5 meses de idade. Cheguei a pensar em desistir da viagem e do novo emprego. Mas após alguns dias, com as condições emocionais um pouco menos abaladas, acabei decidindo que a viagem e a nova vida no Nordeste me fariam bem diante dos fatos. Efetivamente parti no dia 6 de junho de Lorena-SP, chegando em Fortaleza-CE no dia 13.

Como não venho sendo um motociclista muito assíduo, resolvi planejar minha rota com uma média diária de 550 km, levando assim 7 dias para chegar ao meu destino. Precisei reservar 1 dia da viagem para ficar em Salvador, para levar a Ninja na revisão dos 3000 km. Também optei por evitar ao máximo passar por dentro de cidades grandes evitando trânsito e as grandes marginais, acho isso estressante demais, e como o objetivo é passear, não me importei de traçar uma rota com algumas dezenas de quilômetros a mais, a fim de evitar o trânsito urbano. Sendo assim tracei a rota optando sempre viajar o mais próximo da costa, fazendo da viagem um passeio fantástico.

A Parte mais difícil do planejamento, foi na hora de contar aos amigos e familiares sobre o passeio… Quem não tem espirito de motociclista, enxerga apenas perigo e dificuldades, e o maior desafio é convencer estas pessoas.

Portanto, para garantir que tudo daria certo, estabeleci um cronograma durante o planejamento e vi todos os detalhes possíveis e imagináveis da viagem e com soluções para todas as possibilidades remotas, talvez não tenha convencido, mas certamente consegui responder de forma positiva às contradições impostas….

Praticamente tive 3 meses para planejar a viagem, sendo que nas últimas semanas acabei redefinindo o destino… Um tempo muito curto que exigiu bastante esforço.

A Moto da viagem

O primeiro grande desafio foi adaptar de forma segura e não muito incomoda a bagagem na Ninja 250. O planejamento inicial era com a CG, muito mais fácil para adaptar a bagagem. O estilo esportivo da Ninja não vem preparado para receber bagageiros ou mesmo alforges. A tralha toda composta por roupas, utensílios, itens de emergência para a moto, colchão inflável, barraca, netbook, e ainda algumas peças de roupa destinadas ao novo emprego em Fortaleza, acabou se resumindo em 2 alforges e mais uma bolsa de viagem lotada.

No fim, com um pouco de trabalho, foi possível fixar toda a bagagem, comprometendo o banco do passageiro, tornando a acomodação do piloto pouco flexível, mas não suficientemente incomoda para atrapalhar durante viagem.

Sai de SP com apenas 1200 km rodados na Ninja, dos quais segui as recomendações do fabricante e rodei em baixa rotação. Efetivamente fui testar a moto pra valer durante a viagem. No geral a Ninjinha se comportou muito bem. Apesar de ser uma moto de baixa cilindrada, sua concepção esportiva não decepciona nas ultrapassagens e desempenho. Os 2 cilindros fazem a diferença em relação às demais motos de 250/300cc do mercado. A média de consumo foi 23 km/l.

Os maiores inconvenientes da moto foram :

  • Remover e recolocar a bagagem… Bastante trabalhoso pela falta de ganchos e bagageiro. Não posso reclamar, pois essa moto não é projetada para esse fim.
  • Uso dos espelhos retrovisores… A moto, pela concepção esportiva, tem os retrovisores fixados na carenagem, porem a posição de pilotagem da ninja 250 é mais ereta do que em uma super-esportiva de maior cilindrada, devido a mesa de apoio elevar um pouco a posição do guidão, o piloto não deita sobre o tanque. Isso faz com que a visibilidade dos espelhos fique muito reduzida, sem uma posição ideal de ajuste, necessitando uma movimentação dos braços para desbloquear a área de visão dos espelhos. Enfim, nada muito critico – apenas uma questão de costume. 

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Um diferencial interessante foi a adaptação do GPS. Feito em casa, um conversor removível de 12v para 5v com saída USB, o adaptador se encaixou perfeitamente por dentro da bolha da Ninja, na qual foi fixado o suporte do GPS. Dessa forma consegui manter o GPS recebendo carga da moto, podendo utiliza-lo durante toda a viagem, sem preocupações com duração da bateria. Nessa adaptação, o que deu mais trabalho foi passar o cabo da bateria até a bolha.

Dificuldades e Desafios

Estradas

Ouvi muito a respeito de viajar sozinho: Perigo com assaltos, estradas mal sinalizadas, motoristas imprudentes, etc. Por ser minha primeira viagem e por questões de segurança, optei por viajar apenas durante o dia. Em momento algum sequer desconfiei da possibilidade de um assalto e também não enfrentei problemas com motoristas, a viagem foi tranquila e sem surpresas.

Por outro lado, as condições das estradas foram difíceis. A BR 101, estrada pela qual trafeguei a maior parte da viagem, está passando por processo de duplicação nos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Toda melhoria durante seu processo de execução acaba trazendo transtornos, o que foi o caso da BR 101. Por estes estados, em diversas partes da reforma, operadores usavam placas de Pare e Siga, chegando a interromper uma das vias por mais de 20 minutos, causando um atraso não esperado. Nos trechos em obras a sinalização era precária e principalmente em Alagoas por diversas vezes os trechos se alternavam em pista de sentido único e sentido duplo, porem, sem faixas na pista, ou com faixa em cor errada, confundindo o piloto/motorista sobre o sentido de tráfego naquela área.

Percebi que não fui muito feliz em escolher alguns trechos do trajeto, como por exemplo a rodovia BA-001, que liga Camamu a Itaparica, onde se pega o ferry boat para Salvador. A estrada é de fato muito bonita, porem depois de uns 35 ou 40 km, comecei a achar absurdo o número de lombadas pelo qual eu já tinha passado. Foi quando eu resolvi por curiosidade começar a contar as lombadas. Passei por mais 103 lombadas, num trecho de 160km. Acredito que se tivesse contado todas desde o começo, teria dado em média uma lombada por km.

Os caminhoneiros são os verdadeiros donos das estradas – Essa foi uma dica que peguei no site do Leko (site que me inspirou a fazer esta viagem). Realmente, para obter informações sobre as estradas, melhores trajetos, etc. Não tem Google Maps ou GPS que defina melhor do que os caminhoneiros. Estes sim são os verdadeiros ´GPS´s das estradas. Com várias dicas destes caras, poupei alguns km e optei por rodovias melhores e mais bonitas durante o trajeto.

Hospedagem

Um planejamento que não deu muito certo foi o de acampar. Levei barraca, colchão inflável, lençol, etc. Enfim um kit básico para acampamento, pois tinha como objetivo acampar todos os dias da viagem.

Primeiramente, não consegui chegar exatamente nas cidades planejadas: por alguma alteração de rota inesperada; por falta ou sobra de tempo. Dessa forma, alguns dias acabei me hospedando em pequenas cidades desprovidas de campings, o que me forçou a encontrar alguma pousada. Eu gosto muito de acampar, porém, em uma viagem longa de moto, não foi possível levar todos os apetrechos desejados para acampamento.

Ventilador, travesseiro e cobertor foram os principais itens que fizeram falta. (Em uma única noite de Camping não conseguia dormir de tanto calor às 22h, e depois acordei as 3h de tanto frio.) A falta destes itens causou bastante impacto, transformando a boa experiência de acampar em algo desconfortável.

Fora isso, outra dificuldade, nessa viagem – a maior delas, foi o tempo para levantar acampamento e recolher acampamento – Todo o processo para montar e desmontar de um dia para o outro é trabalhoso e desperdiça muito tempo. Por isso, acabei acampando apenas uma única noite das 7 planejadas. As demais noites fiquei em pousadas, que além da praticidade, custam somente 5 ou 10 reais a mais do que ficar no camping.

GPS

Inicialmente eu achei que era fundamental levar o GPS. Ele ajuda… Mas bater um papo com um caminhoneiro em um posto de gasolina, você obtém informação bem mais útil do que o GPS.

Em muitos trechos do trajeto, principalmente em estradas menos conhecidas ou cidades pequenas, o GPS se perde completamente, apontando você como ´fora de rota´. Ele também indica alguns trajetos errados ou sem muito sentido. Em alguns trechos ele também faz cálculo de rota com muito erro. Um caso foi saindo do PA sentido a Fortaleza, no último dia do trajeto. Sem internet, conferindo a minha planilha, o trajeto seria de 550km. Calculei a rota pelo GPS e, foram sugeridas 2 rotas, uma de quase 800 km (caminho mais curto ou mais rápido) – e outra de mais de 900km (caminho mais fácil). Achando que fiz meus cálculos errados, sai nesse dia às 5h pretendendo viajar o dia inteiro, esperando por 800 km de estrada. Logo no inicio do trajeto, as placas apontavam que para Fortaleza, a distância era a mesma que eu tinha na planilha, bem menos do que informado pelo GPS.

Um fato engraçado que aconteceu, alias o único incidente que eu tive na viagem, foi com o GPS. Em um determinado momento, pouco depois da divisa entre RJ e ES, após a parada em um posto, rodei cerca de 10 km e quando olho no painel : Cadê o GPS ??? Eu o perdi durante esse trecho de 10km e não me dei conta. Apesar de te-lo fixado com amarras de borracha no berço, me esqueci que o berço era encaixado na base. Esse encaixe gastou com a trepidação e o GPS se foi. Olhei pela moto e não encontrei nada, resolvi voltar os 10 km na esperança de encontra-lo destruído pela estrada. Ao chegar no posto de gasolina, sem sucesso na procura, parei a moto, e olhando com mais calma, encontrei o GPS por dentro da moto, no fundo da carenagem, sobre um buraco grande que existe na base da carenagem. Por sorte o GPS é um pouco mais largo do que buraco, e não foi para o chão! 

Recuperado sem danos, bastou um pouco de super bonder para fixar a base no berço. Problema resolvido. Segui o resto da viagem sem problemas.

A Viagem 

Depois de todo planejamento, compras, preparativos, chegou o grande dia de partir. Era para ter saído as 6h, porém, alguns imprevistos adiaram a partida para as 11 horas.

Apesar de ter saído tarde, rodando praticamente na BR-116 e BR-393, cheguei em Pirapetinga-MG, um trajeto de pouco mais de 550km, passando pelos estados do RJ e MG. Sem muitas fotos, sem muitas paisagens, apenas com a ansiedade de começar a viajar a beira-mar o quanto antes.

No segundo dia de viagem, sai de Pirapetinga por volta das 7h30 da manhã, percebi que precisava acordar mais cedo, pois estava perdendo muito tempo para recolocar a bagagem na moto. Passeando bastante e rodando distância mais modesta (400 km apenas), finalmente cheguei perto do mar, passando por Vitória e Vila Velha. Neste dia resolvi parar de rodar um pouco mais cedo (por volta das 17h) para poder acampar. Me instalei nas redondezas de Aracruz-ES em um belíssimo camping beira-mar.

Terceiro dia de viagem, de Aracruz até Itabela na Bahia, cidadezinha próxima a Porto Seguro. Apesar de ter acordado mais cedo, sai mais tarde, por volta das 8 horas. Levantar acampamento dá muito trabalho, perdendo mais de 2 horas para estar definitivamente pronto para partir.

Nesse trajeto viajei pela ES-010 e outras rotas pequenas mais próximas do litoral, passando um pouco também pela BR-101. Neste dia foram pouco mais de 500 km de estrada.

O Quarto Dia foi de Itabela até Salvador. Como fiz algumas mudanças na rota durante o trajeto, a distância até Salvador ficou maior, e eu precisava chegar neste dia em Salvador, pois no dia seguinte pela manhã a ninja tinha que ir para revisão. Foi o dia que mais rodei, aproximadamente 700km de viagem, passando pela BA-001 e conhecendo várias cidadezinhas e vilarejos da Bahia. Optei por fazer a travessia pelo ferry boat Itaparica – Salvador. Esse trajeto poupou mais de 100 km de estrada.

Quinto Dia: A Ninja precisava ir para a revisão, pois já estava com 3100 km rodados. Conforme programado, levei ela pela manhã na Kawasaki Motosol onde recebi um atendimento fantástico. Às 13 horas a moto já estava revisada e com a bagagem no lugar, pronta para rodar novamente. Como eu estava com o cronograma em dia, e prevendo perder o dia todo com a revisão, rodei um curtíssimo trajeto de 80 km, chegando na Mata de São João e fiquei hospedado em uma das belíssimas pousadas da Praia do Forte, tirando o resto do dia para descanso e aproveitando para conhecer o projeto Tamar.

Com o cronograma adiantado, no sexto dia saí da Praia do Forte por volta das 10 horas da manhã, rodando pouco mais de 400km. Este foi o dia da chuva. Por vários trechos da estrada rodei sob chuva forte, o que me fez diminuir a distância percorrida, apenas 400 km, chegando em Propriá-SE, uma cidadezinha que fica bem na divisa de Sergipe com Alagoas. Alí, na beira da 101, me hospedei na Pousada e Churrascaria do Gaúcho – que fica bem na divisa dos estados, onde aproveitei um belo rodízio antes de ir dormir.

No sétimo dia, já sem chuva, rodando perto dos 600 km, cheguei em Mamanguape-PB, onde me hospedei perto da estrada, pronto para enfrentar o último dia de viagem e chegar em Fortaleza.

Oitavo e último dia: devido a uma imprecisão do GPS, estava esperando rodar perto de 800 km, e por isso saí bem cedo de Mamanguape, às 5 horas da manhã. Porém, o trajeto era bem mais curto, o que me permitiu chegar em Fortaleza após o almoço. Às 14 horas eu já estava com toda bagagem descarregada no Hotel, e aproveitando o resto da tarde em um quiosque na beira do mar !


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