De Belo Horizonte aos Lençóis Maranhenses de moto

Desde criança eu tenho um grande fascínio por motos e viagens. Mas somente aos 30 anos de idade eu tive a oportunidade de comprar a minha primeiro moto. E como o sonho de percorrer o brasil era grande, após um bom planejamento, parti para minha primeira viagem de moto saindo de Belo Horizonte com um destino em mente: chegar aos grandes Lençóis Maranhenses.

Chapada Diamantina

Como era minha primeira viagem de moto, ou seja, não tinha experiência nenhuma, apenas muita vontade de viajar, aproveitei que dois amigos, Arthur Colini e Daniel Peroni ( XT 600 e XT 660 R ), estavam indo para a Chapada Diamantina e fui com eles. Seguimos para Montes Claros, Guanani, Brumado, Barra da Estiva e chegamos na Chapada pela cidade de Mucugê. Foi uma grata surpresa, a cidade e muita simpática e acolhedora. Contratamos um guia e visitamos varias cachoeiras e também formamos um grupo com um casal de paulistas para fazer um trekking de 3 dias no Vale do Paty, experiência única. Caminhamos muito de dia com paisagens maravilhosas e dormimos na casa de nativos, aonde fomos recebidos com grande entusiasmo e uma comida simples mais muito saborosa.

Visitamos também a cachoeira do Buracão, uma das mais bonitas da viagem, a cachoeira da fumaça no Vale do Capão e conhecemos também a cidade de Lençóis, o Escorrega, Pratinha, a Morro do Pai Inácio e varias grutas deslumbrantes. Por fim ficamos 10 dias na chapada e meus amigos seguiram viagem para o sul da Bahia. Agora sim, começava a grande jornada rumo aos Lençóis Maranhenses .

Salvador

Após despedir dos meus amigos, agora estava sozinho, eu, a minha moto ( Vick ), meu mascote de viagem, o Bemio ( uma abelha ) e Deus. Tomei coragem e segui para Salvador,  a 400 km da Chapada Diamantina, passando por fazendas e retas sem fim. Cheguei a Salvador e fiquei na casa de um amigo, o Denílson. Aproveitei para conhecer os pontos turísticos de Salvador, o Pelourinho, Elevador Lacerda, os circuitos do carnaval, o Mercado, Porto e visitei a Ilha de Itaparica.

Segui viagem rumo ao norte. Peguei um dos trechos mais bonitos na linha verde, uma estrada cênica, segundo o Guia 4 Rodas, de Salvador até Indiaroba. Visitei a praia do Forte, o Projeto Tamar, passei pela Costa do Sauípe e, seguindo informações de pessoas locais, saí da BR-101 para evitar o pesado tráfego de caminhões. Optei por passar por estrada alternativa, que foi mais uma grata surpresa. Passei pela estrada que leva a Mangue Seco, avistando lindas praias desertas e milhares de coqueiros e atravessei para o estado de Sergipe em uma balsa.

Aracaju

Após esperar a balsa e atravessar da Bahia para Sergipe, peguei a estrada que leva para a praia principal de Aracaju e conheci a famosa passarela do Caranguejo, uma avenida beira mar, com vários bares e restaurante que serve, entre outros frutos do mar, o famoso Caranguejo. Aproveitei para conhecer o Cânions do Xingó, no interior do Estado, em um tour organizado por uma agência de turismo, um passeio muito interessante, onde o guia vai explicando um pouco da historia local e passa em locais onde Lampião e Maria Bonita viveram no meio do sertão, uma região muito pobre e seca, com bastante Cactos. Por fim, peguei um barco, já no Rio São Francisco, com o qual visitamos os Cânions do Xingó, com parada para banho.

Maceió

Seguindo mais uma vez informações de pessoas locais, segui para a Cidade de Penedo, para evitar a BR-101, e peguei outra balsa do Estado de Sergipe para Alagoas, já começando a viagem no litoral, por estradas maravilhosas com praias e visuais paradisíacos. Fiquei alguns dias em Maceió visitando umas das praias mais bonitas da viagem, Praia do Gunga, Praia do Francês, Barra de São Miguel… Segui para o norte e passei uma noite Maragogi para fazer o passeio pelas famosas piscinas naturais, com direito a mergulho. Depois segui viagem para Recife

Pernambuco

Após visitar Maragogi segui para outra praia maravilhosa, Porto de Galinhas, mas antes, neste trecho, peguei muitos caminhões grandes na estrada, o temido treminhão. São caminhões que transportam cana de açúcar para usinas e tem três vagões enormes e lotados de cana de açúcar que ficam voando palha para todos as direções, muito difícil de ultrapassar e mesmo quando passavam em sentido contrario a moto balançava muito, tamanha a força do vento. Enfim, cheguei em Porto de Galinhas, aproveitei as praias e segui para Praia de Gaibu, depois Recife, Praia de Boa Viagem e fiquei alguns dias em Olinda, curtindo o carnaval de rua e suas lindas casas coloridas, bons restaurantes e pessoas muito animadas .

Paraíba

Em João Pessoa fiquei hospedado na casa de uma amiga, foi muito bom, pois visitei muitos pontos turísticos da cidade de carro, fui no famoso pôr do sol da Praia do Jacaré, onde todo fim de tarde um músico local, chega em seu barco tocando Bolero de Ravel com seu saxofone, muito emocionante, mas muito cheio de turistas também. Visitei o Pontal do Seixas o ponto mais oriental do Brasil, visitei a Praia de Cabedelo aonde começa a BR-230, a famosa Transamazônica. Neste trecho da viagem foi muito legal estar hospedado em casa de amigos. Tive que fazer um favor para uma amiga, ela tinha passado em um concurso publico em Petrolina, PE, divisa com Juazeiro, BA, e eu fui intimado para levar minha amiga e sua filha com um carro que ela tinha acabado de comprar. Então me prontifiquei ser o motorista, deixando minha moto descansado um pouco e segui para Caruaru, conhecendo a maior feira de artesanato do Brasil e também a cidade do maior forró do mundo, passei por Serra Talhada e Cabrobó, chegando em Petrolina.

Achei a cidade muito interessante, visitei as praias do Rio São Francisco, a cidade é dividida por uma ponte onde de um lado fica Pernambuco e do outro a Bahia e existe uma grande rixa entre as duas cidades, visitei o Bododrómo, um local rodeado de restaurantes  finos onde a especialidade é a carne de bode. Experimentei e achei muito gostoso e tem várias maneiras de servirem o bode: churrasco, buchada, sopa, pastel, caldo, etc.

Rio Grande do Norte

Novamente na estrada, agora rumo a Natal, visitei a Praia da Pipa, o único local onde fui parado pela polícia durante todo a viagem, só existe uma estrada que leva ao vilarejo, então estava tendo Blitz para procurar drogas, porque estava tendo festa. Visitei esse fantástico local, fiz uma caminhada para a Praia dos Golfinhos, sempre observando a cartilha das marés, para não ficar ilhado na praia, quando ela sobe. Observei as lindas falésias e segui viagem para Natal. Fiquei hospedado em um hostel temático, um castelo perto da Praia do Morro do Careca, onde conheci a Raquel uma londrina que futuramente iria ser minha companheira de viagem durante alguns dias. Visitei o maior cajueiro do mundo, fiz o passeio de bugre para Genipabu e segui viagem para Mossoró na BR-304 sentido fortaleza .

Ceará

Chegando no estado do Ceará visitei a Praia de Canoa Quebrada, um local muito interessante, varias pousadas, muitos estrangeiros são donos de restaurantes e pousadas, muitos italianos. O local tem várias bares e um bar de hippie muito legal na orla da praia onde estava acontecendo um festival de reggae. Senti em um filme de Bob Marley na Jamaica, sensação de liberdade. Encontrei com a Raquel novamente, não achamos hotéis ou pousadas na cidade e estava muito cara a hospedagem, então resolvemos acampar, usando pela primeira vez a minha barraca, ficamos em um camping muito legal de frente para a praia e um clima de relax total, foi muito bom conhecer a Raquel, pois estava viajando sozinho já tinha uns 30 dias. Raquel foi minha companheira de Fortaleza ate Jericoacoara .

Em Fortaleza, fiquei hospedado na casa de amigos, Nelson e Rosvitta, gostei muito da cidade que tem ruas fáceis de transitar.

Passei um dia no Beach Park com minha amiga gringa e resolvemos a logística da viagem ate Jericoacoara. Resolvi deixar varias coisas na casa do meu amigo e mandei algumas coisas como roupa e barraca até Jijoca de ônibus, para deixar a moto mais leve, já que de fortaleza ate Jericoacoara eu estaria viajando com a Raquel. Foi uma das partes mais legais da viagem, coisas que so uma viagem de moto sozinho poderia proporcionar, eu nunca imaginaria conhecer a Raquel, uma inglesa e ela fazer companhia em um dos trechos mais bonitos da viagem. Outra estrada cênica de fortaleza ate Jijoca de Jericoacoara. Até a Raquel pilotou a moto em um dos trechos desertos e com paisagens lindas. Chegamos em Jericoacoara após contratar um guia que nos levou ate o vilarejo nos guiando com sua DT 180, para não ficarmos perdidos nas dunas e atoleiros que existem até Jericoacoara. Eu recomendo para quem estiver sozinho contratar um guia e este trecho é muito pesado, muita areia fofa, a moto caiu varias vezes, cheguei muito cansado mas feliz por chegar de moto ate Jeri . Aproveitamos ao máximo aquele lugar. Conhecemos as lagoas, fiz aula de windsurfe, o que acabou machucando meus joelhos, pois é muito difícil e Jeri é uns dos melhores lugares do mundo para pratica de windsurfe. Enfim, eu cai várias vezes e tentava novamente, acabei ficando com a carne viva nos joelhos.

Piauí

Despedidas a parte, pois Raquel iria passar o carnaval em Olinda, eu continuei a minha trajetória rumo ao Maranhão, mas primeiro passei no Piauí, Mais uma grata surpresa, conheci o Delta do Parnaíba em um passeio de barco particular. Já que não tinha muitos turistas na cidade para formar um grupo, fiz o passeio sozinho e o guia particular parando para nadar e tirar fotos até chegar no Delta. O encontro com o o Oceano e o rio se misturando, uma experiência que marcou nesta viagem, total sensação de liberdade e um sentimento de como somos pequenos diante de tamanha obra da natureza e de como nosso país e maravilhoso e com tantos atrativos que eu nem imaginava que existiam.

Maranhão e Lençóis Maranhenses

Segui viagem rumo à cidade de Tutoia, passei por uma ponte em cima do Rio Parnaíba, de um lado o Piauí e do outro lado o Maranhão. Seguindo informações de uma amigo de Fortaleza que já tinha feito várias viagens pela região, deixei a moto em Tutoia e segui para Barreirinhas, a cidade base para quem vai conhecer os Lençóis Maranhenses, pois não seria aconselhável seguir de moto por aquele trecho, ainda mais sozinho, devido a dificuldade do trajeto e a região ser bem inóspita. Eu não queria acabar minha viagem atolado, perdido ou correr o risco de quebrar a moto tão perto do meu destino final. Enfim, aproveitei uma Hillux 4×4 que estava terminando o Tour com um grupo de turistas e estava voltando vazio para barreirinhas, então fui com esse motorista que era uma figura, tinha ido de moto da Bahia para o Maranhão arrumou emprego e ficou, hoje trabalha de guia turístico na região e foi me explicando sobre os Pequenos Lençóis, sobre a praia de Atins e Caburé. Passamos por uns dos piores trechos da viagem, mas o visual daquelas dunas de areia sem fim era impressionante e como era difícil o trajeto. Ainda bem que ouvi o conselho do meu amigo, deixei a moto em um hotel em Tutoia e fiz esse trecho de carro 4×4.

Chegando a Barreirinhas, fui para o hotel e já no mesmo dia fui visitar os Lençóis Maranhenses com um grupo que estava saindo para ver o pôr do sol nos Lençóis. Foi um sensação de satisfação muito grande e dever cumprido. Vi tudo aquilo e dei graças a Deus por ser brasileiro e morar em um pais tão belo.

Volta para Casa

Voltei para Tutoia em uma jardineira, aquelas Toyotas que são as lotações do interior do Maranhão, sacolejando de um lado para outro, muito cansativo esse trecho de barreirinhas até Tutoia. Peguei a moto no outro dia de manhã e voltei 750 km ate Fortaleza para a casa dos meus amigos. Fiquei mais uma semana em Fortaleza descansando e procurando um cegonheiro para mandar a moto de volta para Belo Horizonte. Consegui o caminhão, comprei a passagem de avião e voltei para casa realizado e já pensando na próxima aventura.

Alexandre Guimarães, o Xandão, tem um blog, Xandão na Estrada.


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