Projeto Mucho Gusto

Em mais um diário de viagem pelas “rutas” da América do sul, agora com minha esposa Bárbara, razão do Projeto “Mucho gusto” – 2008, ao noroeste argentino, que será apresentada a meus amigos.

Em 20 dias pensamos recorrer os ~ 5200 km, entre Garuva / SC (onde moro atualmente) e Salta na Argentina,
testando e confirmando as qualidades de nossa nova princesa, a Lander 250cc. Esperamos curtir uma ótima viagem.

Comecei a viagem antes, pois fui de Garuva para Floripa dia 01/9 e fiquei curtindo nossa família até dia 06/9, quando iniciamos nossa empreitada.

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” Ser poeta ou escrevente
Faz-me um recordador
De momentos vividos,
De pessoas conhecidas –
Que ocuparão seus lugares
Nos entremeios de minha mente –
Para que as saudades que terei,
Dessas pessoas recordarei ;
E, aqui no meu pensamento,
As trago para perto de mim
A qualquer tempo,
A todo momento ” . P.B.

Dia 06/9 – Florianópolis – Ozório

Com as bagagens organizadas no dia anterior, listas das mesmas prontas, saímos cedinho, já com chuva. Devidamente vestidos, tocamos para a ponte de saída de Floripa, não sem antes passar na Sol e Moto e comprar polainas pra Bárbara. Por causa da duplicação da BR-101, encontramos vários transtornos na estrada; paciência e atenção são palavras de ordem. Devido à tensão neste trecho, cansamos, mas sobrevivemos.

Paramos em Osório / RS e ficamos no Hotel Bragé, bem quentinho. Vamos descansar para amanhã. Rodamos apenas 386 km; aumentou o consumo da moto – ela tá carregada. Há muito vento. Mas, estou feliz.

* A “copilota” está assimilando a convivência plena com a natureza, da qual somos parte. É chuva, é vento, é frio. Se passarmos de Porto Alegre, não perco mais a parceira (risos) …

Dia 07/9 – Ozório – Rosário do Sul

O dia amanheceu nublado e frio. Ventava muito, o que nos deu trabalho para controlar a moto, que andava “de lado” na “free way”. Tocamos para Eldorado do Sul, pagando pedágio na saída da BR-290 (R$ 1,50). Em Eldorado do Sul, outro pedágio (agora R$ 3,00). Em outros dois pedágios, fomos liberados ( ?!! ).

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Na estrada o pau comia solto. Passamos por tradicionalistas a cavalo, comemorando o 7 de setembro. Paramos em São Sepé para almoçar e abastecer. Dali fomos para Rosário do Sul, onde nos hospedamos no Hotel Areias Brancas, chique para nós. Com café da manhã completíssimo: R$ 65,00 para o casal. E a Lander na garagem, bem protegida. Já deveríamos estar em Uruguaiana, conforme os planos, mas, não temos pressa e estamos aproveitando tudo.

Banhos quentinhos, internet de graça, lanches reforçados, petiscos. Uma caminhada pelo centro, que estava cheio de cavaleiros, com seus cavalos em meio aos carros e pessoas… Voltamos ao hotel para um sono reparador.

Dia 08/9 – Rosário do Sul – Uruguaiana

Dia limpo, com sol e frio. Um bom café, sucos, doces, tortas, etc. Bagagens montadas, passagem no posto de serviços e estrada. Os 240 km até Uruguaiana passaram tranquilos e antes das 12 horas estávamos lá. No Palace Hotel, fomos bem recebidos por D. Enilda e sua irmã Santa. A caixa de Garuva já estava no hotel. Organizamos as bagagens, outra vez.

Viagem de moto pela Argentina - Salta

Antes de entrar no hotel, tive que deixar minha “marca de gaudério” (um fiasco), quando fui “à lona” e levei comigo minha motinho querida… Um pequeno erro de cálculo na entrada da rampa improvisada – que D. Enilda já tem para motos – um belo tombo parado. Aí nos aquietamos; a Bárbara chorava pela motinho e eu ria, pois isso para mim era algo comum. Nas três viagens que fiz ao noroeste argentino, a moto caiu sozinha, ou pela ação dos ventos, ou por estar mal posicionada; desta vez foi por “mancada” mesmo…

Circulamos pela noite e comemos sandubas com vinho argentino. À tarde, havíamos circulado pelo centro, fomos à Unimed pra ver meu problema na pálpebra, que viajou e voltou pra acabar no Brasil. Nem tomei o remédio que o médico receitou pra poder beber os vinhos argentinos.

Separamos a caixa de “regalos” em duas; uma para Pampa del Infierno e outra para Salta. Aí começou uma aventura dentro da viagem…

Dia 09/9 – Uruguaiana – Empedrado

Amanheceu e fomos para a Aduana com o motoboy Rodrigo, que levava as caixas – para ali embarcarmos por transportadora, para os destinos. Quiseram revistar as caixas, abriram e ficaram surpresos como e porque fiz tudo aquilo. Ganharam balas de Garuva, agradeceram (e nós também) e nos desejaram boa viagem, depois de colocar novas fitas nas caixas. O Rodrigo “correu”, quando viu que a coisa demoraria. Deixei a Bárbara na aduana e saí com as caixas para embarcá-las.

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Vai ali – não dá, vai acolá – não pode – vai adiante e encontro um motoboy de Passo de los Libres, que me ajudou a encontrar quem se dispusesse a levar as caixas. Paguei 50 pesos e, quando chegasse às localidades, retiraria. Voltei à aduana e a Bárbara estava um pouco assustada com minha demora.

Seguimos e, em Mercedes, paramos para almoçar: milanesa, “empanadas”, etc. Em San Roque, paramos para ver conhecidos , no “Puesto de Servícios”.

À tardinha, chegamos em Empedrado e ficamos no Hotel Rosário, do Senhor Luciano. Depois, fomos ao Supermercado e compramos alimentos e vinho. Na “Lan house”, enviamos notícias para a família e amigos. Passamos uma boa noite.

Dia 10/9 – Empedrado – Pampa del Infierno

Às 7h15min saímos de Empedrado e rumamos para Corrientes, onde paramos para tomar café e abastecer a moto. A capital é agitada ao amanhecer, o trânsito, tipo noroeste (maluco). Comemos “media lunas”, alfajor e café com leite. Adiante, passamos pela poderosa ponte Gen. Belgrano, que é muito bonita e alta.

Tocamos firme e a Lander correspondeu. Chegamos a Pampa del Infierno às 12 horas, fomos almoçar e procurar meus amigos. O primeiro que vi foi o Condor; passou com sua motoneta e saí atrás. Abraçamos-nos com aquela camaradagem já conhecida; ele nos indicou e foi junto até o Hotel Crakóvia, onde ficamos acomodados enquanto ele foi almoçar.

Depois, procurei meu amigo Walter e combinamos uma confraternização para a noite. Conforme combinado, chegamos e fomos logo apresentados àqueles que não conhecíamos: D. Tereza (mãe do Walter), sua namorada Maria – que é aborígene – e sua irmã Maria Tereza, que mora em Resisténcia e está a passeio em Pampa. As mulheres barbarizaram na cozinha, fizeram empanadas e bebemos cervejas de litro.

O Mário Tati soube que eu estava na cidade e foi lá dar um alô pra gente. Levou seu filho Bruno, trocamos “regalitos” e recordamos minhas outras estadas com eles. Eles ficam admirados que sempre os procuro quando passo por ali.

E assim, passou mais um dia. Eu estava muito feliz por rever meus amigos. Depois das despedidas e combinações para a volta, rumamos para o hotel.

Dia 11/9 – Pampa del Infierno – Salta

Viagem de moto pela Argentina - Salta

Passamos uma boa noite no Hotel Crakóvia, do senhor Carlos. Cedo, nos preparamos e depois fomos para a casa do Walter nos despedirmos com um mate doce, que ele havia nos convidado. Conversamos, “mateamos” e, por fim, o tchau lamentoso, a “estrañeza” que já estava no ar… Beijos, abraços e seguimos para o “puesto de servícios” para abastecer a moto e calibrar pneus.

Cabo enrolado, cidades conhecidas ficando para trás, Salta cada km mais perto.

Após Pampa, no famoso trecho esburacado ( ~70 km ) entre Pampa de los Guanacos e El Caburé, uma bela novidade: estão refazendo a “ruta”, o que nos fez desviar por uma picada lateral, onde não passávamos de 20 km/h, por mais de 10 km. Mas, breve, estará uma bela rodovia.

Depois, em Machagay, quando paramos para abastecer, conhecemos uma fábrica de móveis de algarrobo, famosos daquela região. Conheci a árvore daquela espécie e tive muita simpatia por seu porte e a cor verde clara, diferente de quase todas da vegetação.

Seguindo, encontramos um velho caminhão torrado, ainda em chamas. Paramos e fotografamos o que sobrou do velho guerreiro.

Além do vento, neste trecho tivemos a companhia de bandos de pássaros (dignos de um filme de Hitchcocok) que atravessavam a pista em nuvens – de um lado para outro – desviando-se uns dos outros, em voos acrobáticos. Uma pombinha bateu em meu ombro e depois, de raspão no capacete da Bárbara, indo parar não sei onde… Pilotei a moto por muitos km somente com a mão no acelerador, já que a esquerda usava como escudo para a viseira. Não queria levar uma passarada “nos zóios”.

Outros animais – de outros portes – exigiam extra cuidado, pois eles não voam e gostam de ficar deitadinhos no asfalto, ou à beira da estrada. São ovelhas, cabras, burricos, cavalos, bovinos… Por causa desses animais, tivemos que andar bem devagar.

Pudemos observar cenas inéditas para nós. Vimos um cãozinho, numa relação cão x cabras x estrada x veículos, de cinema. Ele, o cão, é como uma pessoa e um guardião das cabras arrisca a vida para que nenhuma fique no asfalto quando vem algum veículo. Esconde o rebanho no mato cerrado, quando alguém (como nós) chega muito perto. E se agita, late e vai às canelas das cabrinhas fujonas, tudo rapidinho e só…

Adiante, encontramos um policial, com sua filha, empurrando um scooter, com pneu traseiro furado. Sem pensar, ofereci meu tyre pando e orientei que andasse logo, para o efeito ser bom. Nós seguimos frente.

Paramos em El Quebrachal para comer e rever meu amigo Fernando, dono do Comedor Ruta 16. Entreguei fotos de 2004 e tiramos outras. Ele nos deu a dica de que a RN-16 estava muito “picada” no trecho até Salta (~240 km). Então, nos indicou a RP-30, em direção à Las Lajitas. Ali, para a esquerda, numa volta paralela, saindo em Lumbreras. Ótima estrada, com tobogãs bem gostosos e visuais bem agrestes. Pontes, rios. Só uns 30 km mais distante. Mas, o pior, sem postos de serviços no caminho, até a saída. Fiquei preocupado e até parei numa barreira de pedágio (que moto não paga), para tentar comprar “nafta”. Os “gendarmes”, atenciosos, disseram que faltavam só 10 km para o “puesto”. Assim, devagarinho, tocamos a motinha e logo ali estava a salvação.

Viagem de moto pela Argentina - Salta

Finalzinho de tarde, loucos para baixar as bagagens. Neste posto, encontramos um argentino que estava indo de bicicleta para… o México!! Já conheceu o Brasil de norte a sul. Outros, de caminhonete, uruguaios, iam para Machu Picchu – Peru. !! Êta “viajeros” de plantão!!

Na estrada, uns 60 km de Salta, encontramos peregrinos que iam para a festa de Nuestra Señora del Milagro, que reúne mais de 400 mil pessoas de toda a Argentina e exterior. É a maior festa do noroeste argentino. Salta está dominada. Montaram barraquinhas em todo o Parque San Martín, no centro; banheiros químicos, polícias em todo o lugar, gente como formigueiro em alvoroço. A D. Olga – que aluga quartos em sua casa – quis tacar a faca em nós. Ainda bem que eu já conhecia o Hostal Terra Oculta em frente e, com mais mordomias, nos instalamos por 65 pesos, com internet, cozinha, café, açúcar, tudo por conta, grátis. É um ambiente multicultural, harmonioso e com muitas pessoas bonitas e agradáveis.

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Acomodados, moto na garagem, fomos comprar comidas, pão, queijo, vinho, doces e folhas de coca para chupar. Depois deste movimentado dia e beeeeem alimentados, fomos descansar e, praticamente, desmaiamos.

Sigo pilhado por causa do pouco tempo que temos por aqui. Meio “bodeado”, escrevo parte do diário, pra não esquecer nada.

Dia 12/9 – Salta

Hoje, sem a moto, fomos circular para comprar outras comidas e a Bárbara conhecer as belezas de “La Linda”. Só que tá difícil circular e ficamos nas periferias. Almoçamos no Barbas, que faz “asados” na hora: costelas, “ensalada”, “pan” e “vino” Domingos Hermanos, “blanco”, perfumado… Ouvimos música folclórica ao vivo, fotografamos o grupo, comprei um CD e, por fim, trocamos e-mail. Depois, troteamos mais um pouco e voltamos pra hospedagem. Minha Preta está “azuada” de tantas novidades. Fomos descansar.

Pudemos comprovar a resistência da cama de algarrobo. Nem treme!! À noitinha, liguei pra meu amigo Daniel Senzano, que nos intimou a ir à sua casa. Fomos e confraternizamos até às 24 horas. Amanhã (hoje) vamos fazer um rango juntos.

* Ah, as duas caixas de presentes vieram parar em Salta. Prejuízo para meus queridos de Pampa, sorte pra meus queridos de Salta. ! Boa noite!

Dia 13/ 9 – Salta

Acordamos às 7 horas, mas a Bárbara não estava bem dormida. Fomos ao café no Mercado Público e logo voltamos ao Terra Oculta, pra ela seguir seu sono. Saí para a rua, visitei lojas e, na hora combinada, fui à casa do Daniel. Ele e Emília me receberam para comer guizo, com cerveja Salta, de litro. Tudo uma delícia. Conversamos, o Daniel gravou CDs de folclore pra mim; deixei “regalos” do Brasil e, mais tarde, voltei à hospedagem, com um pouco de guizo pra ela provar. Minha Pretinha levantou de vez e retomou o pique.

Viagem de moto pela Argentina - Salta

Contatei com outro amigo, o David Pilco que, à tarde, veio nos visitar com sua esposa Vanesa e a filhota Araceli. De moto. Conversamos, atualizamos nossas vidas, presenteamos “regalitos” para eles. Calçados para Araceli e roupas para eles. Fico muito feliz com tudo isso, nada é sacrifício para mim, pois meus amigos seguem as mesmas pessoas, queridas, amáveis, que me cativaram em 2003, quando os conheci. E mais contente ainda fico, pois suas vidas estão melhoradas, no sentido material mesmo, com perspectivas de vidas dignas para eles e seus filhos.

Na “habitación” (quarto) mesmo, comemos o que tínhamos, mais sucos e vinhos. Queijo, salaminhos, alfajores, pães, biscoitos, doces – uma festa! Às 23 horas eles se foram e ficou combinado um “asado” na casa deles. Tudo bem hoje. E fomos dormir.

Dia 14/9 – Salta

Seguindo no diário de coisa boas, confraternizando, revendo amigos, pessoas boas, amáveis, que nos fazem até chorar, tão solícitos e gentis têm sido conosco. Cedo, começamos nossas andanças; café no Mercado, depois à lavanderia deixar roupas, circular pelo centro, pegar roupas na lavanderia e rumar, agora com moto, pra casa do David Pilco. Comeremos um churrasco feito por ele, ao estilo “salteño”. Compramos os ingredientes na “carniceria”, que tava lotada. O David não acreditou, pois liberei a Lander pra ele e fui à sua carona. Comemos costelas, “chorizos” e outras coisas. Conversamos bastante sobre nossas diferenças, rimos um monte, mascamos folhas de coca, trocamos presentes e receitas de comidas, trocamos altas energias.

Depois, fomos conhecer a nova casa do David. Eles em quatro na moto!! Nesta casa eu ganhei um quarto, que estará sempre fechado, esperando minha visita. Araceli tem cinco anos, mas é muito esperta. Já cursa o jardim de infância, estuda inglês e nada. Os bichos fazem parte da família. Gato, cachorro, todos na volta, parecendo entender nossas alegrias.

Mas o dia não tinha acabado ainda. Fomos para casa e guardamos a moto. Saímos a pé, agora pra casa do Daniel, conversar um pouco sobre sua ida à Floripa no verão. Ele é artesão. Comprei “artesanias” dele, ganhei outras e a Bárbara ganhou um anel de prata, com uma pedra chamada Rodocrosita, que, por sinal, é rosa. Ele faz lindos trabalhos em alpaca e prata, com motivos pré colombianos. Era tarde, estávamos cansados e nos despedimos. A cama de algarrobo quedou-se tranquila, pois nos dormimos total…

Dia 15/9 – Salta

Cedo, usei a internet para enviar e saber notícias dos parentes e amigos. Após o café, na cozinha multicultural, fomos ao cerro San Bernardo. Lá é lindo, tudo limpinho, arborizado, com cachoeiras artificiais, passeios no meio das árvores e a vista panorâmica de Salta, onde se pode olhar – por um peso – numa luneta. Na subida ao Cerro, que é lindamente asfaltado, um buldogue invocado correu atrás de nós e tive que enrolar o cabo pra fugir do bicho, que logo cansou, pois é uma subida bem íngreme.

Logo que estacionamos, a Bárbara queria saber onde era o banheiro. Não perdi tempo e tirei um sarro dela, pois acho que se borrou toda por causa do cachorro. Fomos comprar comida no Supermercado e mais tarde visitamos o Parque San Martín, onde compramos “regalos” para os parentes e amigos.

Viagem de moto pela Argentina - Salta

As “artesanias saltenhas” são lindas, pena que na moto não dá pra carregar nada grande ou de volume. A multidão é grande, ainda restam os turistas do último dia da festa. Tirei algumas fotos de curiosidades, comemos sorvetes e, mais tarde, no “hostal”, recebemos a visita de nosso amigo David e sua turma, que estavam em quatro numa YBR 125.! Uma loucura!

A cidade ferve de gente. Depois acompanhamos nossos amigos até o estacionamento para pegar sua moto. No caminho, algumas fotos pra mostrar que mundo incrível é este, onde até a polícia anda sem casco e as famílias lotam as motinhos, com até cinco passageiros… E, nós, cometemos um grave pecado: tiramos a manhã pra andar sem capacete. Tava muito calor e até que foi legal!

Voltamos para o Terra Oculta às 23 horas e sigo escrevendo lembranças para o diário. Bebo vinho e “coqueo” (masco folhas de coca), minha pretinha dorme e aproveito pra tirar foto dela, ao lado de uma garrafa de vinho vazia. Amanhã teremos mais um dia cheio.

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Dia 16/9 – Salta

Neste “martes” (terça) era o dia para visitarmos as coisas do centro de Salta, já que nos dias da festa era quase impossível circular. De máquina em punho fomos à Plaza 9 de Júlio, coração da cidade e visitamos o Centro cultural América – obra linda de engenharia, com altos pés direitos, decorados com muitos afrescos, dos anos 1800 e tanto… Depois, na Catedral, entramos na missa para fotografar imagens de N. Sra. del Milagro. Após, outra visita, agora para meu amigo Gustavo, que tem um negócio de artesanatos. Dali, saímos para conhecer o Mercado artesanal, de ônibus. Lá, nas imediações do mercado, almoçamos “empanadas saltenhas”, com cerveja e “gaseosa” de litro. O dono, Sr. Tapia, já morou no Brasil e a conversa se alongou… Tiramos fotos com sua família, nos despedimos e fomos para o Mercado. Lá os preços são mais caros, pois muitos europeus visitam e eles aproveitam que os caras tem dinheiro.

A volta foi diferente: estávamos na parada do ônibus com mais quatro pessoas. Vinha um remis (táxi) e o motorista com o dedo pra fora e pra cima, informando o valor. A Bárbara não entendeu e eu expliquei que isso é comum, táxi comunitário. Cada um dizia onde ficava. Deixou-nos no centro, perto do “hostal”. Mal chegamos, fomos para o centro passear e tirar fotos. Nesta altura, já estávamos cansados e voltamos pra casa pra dormir.

Dia 17/9 – Salta

Depois de sairmos do desmaio da noite anterior, acordamos inteiros novamente e nos organizamos para outras atividades, ainda em Salta, capital. Separamo-nos para agilizarmos nossas coisas. É que caminho rápido e a Bárbara quer ver as coisas mais devagar. Fui rever conhecidos, as lojas de motos e levei CDs do Brasil para o Daniel ouvir e gravar. Ele gostou e no mesmo instante instalou um CD e começou a dançar. Dali já sai para me encontrar com a Bárbara, pois tínhamos que almoçar. Fomos à Sarita, um restaurante simples, mas com boas comidas e bons preços. A fartura era tanta, que pedimos só para um, que dava para dois. E a comilança não parava. No Mercado Público, um café e “papa con queso”. E à noite, fomos comer “empanadas” com a família do David. A motinho descansando. Circulamos pela noite de Salta e depois voltamos ao “hostal”.

Dia 18/9 – Salta

Viagem de moto pela Argentina - Salta

Outro dia bonito, que começa fresquinho e logo depois o sol deixa o dia do jeito que o povo gosta. Depois do café, fomos ao bairro La Caldera, uns trinta km do centro, para passarmos a tarde no Camping Quitilipi. É todo arborizado, com muitas churrasqueiras e bem sombreado por eucaliptos e árvores da região. Nos fundos, passa o Rio Vaqueros, que estava bem rasinho, com o leito todo empedrado. Dentro do camping há um olho d’água, uma nascente que forma um arroio e é tomado de agrião, que se perde de vista. Aproveitamos e comemos nossos sandubas, mais cerveja e “refri”, queijo de cabra e biscoitões.

À tardinha, voltamos para casa, banho tomado, rua outra vez. Nossos amigos não davam folga (que maravilha!!) e o Daniel nos chamou para comer pizzas feitas por ele. Desta vez conhecemos o Santino, que estava na casa dos avós e tinha vindo para nos conhecer. Vimos mapas do Brasil por causa da viagem deles a Floripa. Logo nos fomos, pois amanhã eles trabalham. E assim, passamos mais um “hermoso” dia.

Dia 19/9 – Salta

Mais um dia de início de vida… Estamos curtindo nossas cabeças, numa cumplicidade gostosa. A Pretinha já assumiu sua condição de “copilota”. Sobe e desce da moto com desenvoltura e me ajuda até que eu desça também. Quando nos cansamos de nossas caminhadas – às vezes – ficamos nervosinhos um com o outro, mas logo passa. Certamente estamos nos curtindo. Fomos ao Mercado negociar um presente que ganhamos, pois era muito grande e pesado, além de frágil pra carregarmos. Então, nos separamos, pra cada um cuidar de seus interesses. Eu, atrás de revistas de moto, dicionários e lojas de moto. A Bárbara, vendo bijuterias e artesanatos. Mas, temos de comer, né ? Então, fomos ao café e depois pra rua outra vez. Até que chega a noitinha e começamos a sentir as pernadas do dia Banhos tomados, atualização de conversas, notas para o diário, vinho, coca, alfajor, sono…

Dia 20/9 – Salta

Dia da manutenção da Princesa para o retorno. Limpeza com querosene da caixa e do filtro do ar, troca de óleo do motor, verificação da corrente e tudo OK. A pé, fomos nos despedir do Daniel e deixamos o rádio com ele. Conversamos um pouco e nos despedimos. Chamamos o David, pois iríamos deixar outras coisas com ele. E passamos o dia amorcegados, eu já triste, pois Salta é meu segundo lar.

Dia 21/9 – Salta – Pampa del infierno

E chegou o dia da partida, o retorno à nossa terra. Despedidas do staff do Terra Oculta, do David Pilco e de Salta. Saímos às 9 horas, após abastecer a moto. Deixamos nosso café para mais adiante. Até a saída (RN 9) são 44 km. Abastecemos novamente, pois iríamos pelo mesmo caminho, via Las Lajitas, onde não há combustível. Em Lumbreras fomos parados pelos gendarmes, que só estavam curiosos e fizeram perguntas às quais já estamos acostumados: de onde vem, pra onde vão, etc. Acelerei decidido e depois de vários tobogãs e curvas deliciosas, em Las Lajitas paramos para o café. Ali já tem um posto e abastecemos outra vez.

Em El Quebrachal, somente um refri e um tchau pra nossos amigos do Comedor Ruta 16. Em frente, pois queríamos chegar cedo em Pampa del Infierno.

Algumas paradas para fotos, abastecimento em Monte Quemado e Pampa de los Guanacos e logo depois Pampa e seu polvo, que se avista de longe. Hotel Kracóvia e descanso. Encomendei pizza, cerveja e refri. Tínhamos alguns doces para sobremesa. Não procuraremos os amigos, pois estamos regulando “la plata”. Sairemos amanhã cedo, pois queremos chegar a Uruguaiana antes de escurecer.

Dia 22/9 – Pampa del infierno – Uruguaiana

O dia clareou cedo. Bagagens organizadas, posto de serviços e estrada. Tempo nublado, o que pra nós é especial.

Deixamos Pampa anonimamente, como chegamos ontem. Só fiquei um pouco triste, pois não vi todos os amigos daqui. Tudo normal, “copilota” ligada, motinha bem. Fomos parando pra abastecer e comer algo. Em Empedrado, um peixe surubi à milanesa. Abastecidos, um descanso rápido e mais estrada.

Aí pintou San Roque. O Augusto não estava. Abastecemos a Lander e seguimos nosso caminho. O vento persiste. Tudo bem conosco e o cabo enrolado. Em Mercedes, o posto de serviços é na cidade, não na estrada, tem-se que entrar. A tarde caindo e o Brasil logo ali. Aceleramos firme e chegamos à Paso de los Libres, último abastecimento em tierras argentinas, com nafta boa. Chegamos à Aduana, entregamos as tarjetas de turista e fomos liberados. Cruzamos na ponta dos dedos – como em todas as chegadas – a Ponte da Amizade e comemoramos nossa chegada. Agora é só Brasil!!
Fomos para o Palace Hotel .

Dia 23/9 – Uruguaiana

Como tivemos um bom desempenho nestes dois dias, nos demos um descanso merecido e, à noite, fomos comer comida brasileira: feijão, bife, arroz, batatas fritas. Mais uma caminhada pelo centro e fotos na praça. Volta ao Palace, organização das bagagens e descanso.

Dia 24/9 – Uruguaiana – São Sepé

Acordamos cedo, café, estrada. Às 10 horas nos enveredamos pelas remendadas rodovias brasileiras. Aí vale a experiência, pois se aprende a observar as condições do piso; manchas, brilhos, pássaros aglomerados na pista – aí tem, ou buracos ou lombadas. Nossa tocada é decidida e a Lander fiel. Nossas brigas são contra o vento, que empurra a moto, que fica meio de lado. Minha “copilota” está ligada e – por sinais ou toques – vai fazendo suas observações da estrada, do trânsito, da paisagem. Até miragem ela viu (risos). E neste ritmo, chegamos à São Sepé, às 16h30min e nos hospedamos numa aconchegante cabana à beira da BR-290. Noite bem dormida, mas a cama não era de algarrobo, muito fraca…

Dia 25/9 – São Sepé – Porto Alegre

Partimos cedinho. Fomos para Viamão, grande Porto Alegre, onde moram os irmãos da Bárbara e combinamos passar lá, antes de seguir pra casa. Chegamos e fomos brindados com um belo almoço. Colocamos os assuntos em dia, contamos nossas aventuras, distribuímos “regalitos” de Salta e tomamos chimarrão. À noite, meu cunhado Zé fez um churrasco e não resistimos. Aí o sono pegou.

Dia 26/9 – Porto Alegre

Manhã ensolarada. Fui à padaria e esperei a turma acordar. Mais tarde, fomos à casa do cunhado, gêmeo do Zé, o Luís. Lá estava meu primo Paulo Ricardo. Com essa turma reunida, é só alegria. Mais confraternizações, chimarrão e café. Rimos um monte.

Dia 27/9 – Porto Alegre – Florianópolis

Dia de ir pra casa. Despedidas da parentada, aperto no coração e promessas de nos vermos com mais frequência.

Até Araranguá, o tempo foi bom. Ali começou a chuva. A estrada está perigosa, ainda tem muitas obras. Somos vacinados, tocamos no nosso ritmo, sempre longe dos possíveis enroscos entre veículos grandes. Na região de Palhoça é um pouco mais perigoso e exige atenção e paciência. E chuva no lombo! Aí – no horizonte – em meio à névoa, avistam-se prédios brancos; é Floripa! Na ponta dos dedos, passamos as pontes, os túneis, a Lagoa da Conceição, chegando à nossa Barrinha querida e nossa casinha. Cinco da tarde. “Copilota” sã e salva em casa. A viagem não acabou ainda pra mim. Mais 230 km até Garuva. Aí sim, poderei dizer que cumpri mais um Projeto com sucesso total. Até aqui, ao menos, 100 % de felicidades!!

Dia 28/9 – Florianópolis – Garuva

Curtimos com nossos filhos e bichos; fiz um churrasco, mas não bebi nada com álcool. À tarde os guris foram surfar e aproveitei que a moto já estava encilhada, para pegar a estrada mais uma vez. Despedidas, novos planos.

Na estrada, tudo bem. Com menos peso, a motinha foi econômica e fez 28 km/l. Uma chuva em Tijucas fez-me vestir a roupa de chuva, que não tirei mais. Ainda vieram duas nuvens choronas pela frente, pra batizar de vez esta nossa maravilhosa viagem. Em Garuva, fui ao Hotel pegar minha chave com o Luciano, que a guardara para mim.

No velocímetro, os números que não mentem: 5.215 km rodados em 20 dias. Saldo da viagem: recordações de lindos momentos vividos, intercâmbios humanos impagáveis, culturais e gastronômicos. Aprendizados de convivências, de paciência. Capacidade de superação (Bárbara) e boa vontade. Minha “copilota” merece os cumprimentos (que já dei) pela excelente participação neste Projeto que – exatamente – foi em sua homenagem. Em casa, nova revisão na moto, limpeza das tralhas da viagem, zumbidos, visões, paisagens, vozes…

Agora é preparar o espírito e o coração para um sofrimento conhecido: das saudades da estrada e dos amigos . Até a próxima viagem.

E, neste moto contínuo seguem nossas vidas, buscando amigos, confraternizando, despedindo, chegando, partindo, lamentando, sonhando e crendo que o ser humano ainda vale a pena…

Paulinho Bocanegra


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