Escapada Andina

Uma aventura de nove amigos nas Cordilheiras dos Andes rodando mais de 1.800 km com rípio, frio, clima de deserto e muita diversão.

Day 1 – Santiago/CH – Barreal/AR – 395km

Acordamos antes das 5h. Tudo escuro, frio de 9 graus mas em nosso grupo a adrenalina era tanta que ninguém percebeu. Às 5h45, como foi programado, as vans chegaram ao Mito Hotel e nos levaram até a sede da Samt.

Lá estavam as 9 BMW’s que seriam nossas companheiras pelos próximos 5 dias. Conhecemos Jonh Wells, australiano, 46 anos, sócio da agência SAMT e nosso “guia” da aventura. As motos foram distribuídas e fiquei com um BMW GS 1200 das mais novas, com 20 mil km rodados. Ajustamos a bagagem no carro de apoio, uma Dakota da Crysler e Gionatta, nosso segundo “guia” terminava de carregar pneus, ferramentas e nosso “catering”. Jonh chamou a todos e fez um briefing do primeiro trecho que iríamos pilotar, até a fronteira com a Argentina.

Pegamos a estrada às 7 horas e, com as pistas livres, imprimimos um ritmo forte até a primeira parada, já com dia claro, no início da subida para a Cordilheira dos Andes. Café quentinho e brownies já estavam disponíveis com Gionatta no carro de apoio. O grupo comentava esses primeiros 100km sem parar de admirar o cenário das montanhas chilenas.

Todos prontos, seguimos para mais um estágio do dia com as curvas apertadas, pedras na pista que rolavam das montanhas e alguns caminhões para ultrapassarmos. A cada curva na subida a vontade era de parar e fotografar, montanhas imensas cortadas pela pequena estrada nos levaram ao topo da cordilheira. Passamos pelos famosos Los Caracoles, um conjunto de 29 curvas com ângulos de até 150 graus, um verdadeiro balé até o topo. Em seguida, o Túnel Internacional cortando a montanha a mais de 3.800 metros de altitude. Minutos depois, já em solo Argentino, uma parada na entrada do Parque Aconcágua, no cemitério dos alpinistas. Mais café e chocolate para enfrentar os 10 graus e ouvirmos de Jonh a história dos alpinistas que morreram tentando chegar ao cume da montanha e foram enterrados ali mesmo. Detalhes como botas e outros equipamentos ao lado dos túmulos impressionam.

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Seguimos nossa aventura com uma parada, até que rápida, pela Aduana. Em dias de grande fluxo os viajantes chegam a ficar mais de 4 horas na espera para liberação de documentos.

Nosso próximo destino era Uspallata, cidade argentina na base da cordilheira, onde iríamos abastecer e seguir viagem. Aproveitamos para fazer câmbio para pesos argentinos, por indicação de nosso guia, porque a utilização do cartão de crédito ou dólar é muito difícil – o importante era termos “la plata” no bolso.

Seguimos por 5km até um bosque onde Gionatta já estava com nosso almoço pronto. Momento de relaxar e ouvir as dicas de Jonh para o próximo estágio: o temido rípio. Mas antes, vamos almoçar! Para uma aventura nos Andes (estávamos a mais de 2 mil metros) é recomendado o consumo de comidas leves e muito líquido. Gionatta preparou uma sopa e uns pasteis de forno. Ainda bem. Todos estavam ansiosos pelos 44 km até Barreal, onde encerraríamos nosso primeiro dia.

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Seguimos Jonh nos primeiros 5km de asfalto até começar o rípio. A partir daí a concentração era total, as motos fugiam do traçado, a traseira escorregava o tempo todo e a poeira nos dava uma visibilidade de poucos metros. Mais 5km e Jonh parou para dar algumas dicas: desligar o sistema ABS para evitar uma derrapada com a roda dianteira, aumentar a velocidade para equilibrar a moto e distância ainda maior entre as motos. Todos mudos e concentrados. Foi o trecho mais difícil de toda a aventura. Seguimos por quase 40 km a mais de 100km/h, a cada minuto a sensação de controle sobre a motocicleta aumentava. De repente, um trecho de areia fofa e as motos chicoteavam. A instrução era clara, para equilibrar a motocicleta, acelere e nunca use o freio. Passamos pelo teste. Nos últimos 2km já encontramos máquinas trabalhando para asfaltar a “carretera” o que indica que em breve o desafio do rípio para Barreal não mais existirá (uma pena!). Mas como nem tudo é perfeito, um de nossos amigos deu uma escorregada com sua BMW GS 800 a poucos metros do asfalto. Apenas um susto e um manete quebrado.

Seguimos para a pousada Los Patos. Um visual deslumbrante e o aconchego de uma hospedaria argentina. Fomos recebidos pelos proprietários e encaminhados aos belíssimos chalés. Da varanda a imponência da Cordilheira com seus picos ainda com neve.

Devidamente instalados, chegou a hora da “resenha” com o grupo na grande sala, bebendo umas cervejas Quilmes e contando a experiência de cada um no primeiro dia. Seguimos para a varanda para admirar o final da tarde e o pôr do sol. Passei pela cozinha para conhecer nosso cardápio para o jantar e não poderia ser diferente: uma parrilla com os maravilhosos cortes argentinos como bife de chorizo. O jantar foi regado por um poderoso malbec, vinho da região. Todos para as camas cedo porque no dia seguinte enfrentaríamos mais de 400km.

Day 2 – Barreal/AR – Villa Union – La Rioja/AR – 465km

Acordamos cedo e as 7h30 todos estavam “listos” para um rápido café. A noite foi fria com temperatura em torno de 5 graus e as motos precisavam aquecer uns minutos antes da partida. Carregamos o carro de apoio e preparamos nossa indumentária para enfrentar um certo frio pela manhã. Uma das coisas que mais nos impressionaram nessa aventura foi a amplitude térmica da região. A noite a temperatura caía para quase 5 graus e durante o dia enfrentamos mais de 38 graus. Saímos com um ritmo mais lento enfrentando trechos de rípio que se alternavam com o asfalto e com muitas pedras na pista. Depois de 1h, Jonh reuniu o grupo para um novo briefing porque a partir dali entraríamos numa região de muitas curvas, pista estreita e grandes despenhadeiros. Seguimos o curso do Rio San Juan e atravessamos uma brecha na cordilheira. Ah, um detalhe que evitamos contar a todos. Dois dias antes a região foi atingida por um terremoto, de baixa intensidade, mas que para áreas instáveis como a que estávamos atravessando poderiam levar muitas pedras para a estrada. Seguimos com muita atenção, devagar e admirando uma das regiões mais inóspitas do mundo. Paredes com inclinação negativa nos davam a sensação de que a qualquer momento uma rocha gigante despencaria sobre a estrada, pedras rolando montanha abaixo, poucos carros e nenhum ponto de apoio. Vencemos mais uma. Chegamos a uma vila onde um grande lago é utilizado para prática de esportes de vela. Gionatta serviu o almoço: sopa, sempre ela, e empanadas. Muitas fotos e vídeos e seguimos para Villa Union que ficava mais ao norte, já na Ruta 40, famosa estrada que corta a Argentina do norte ao sul, terminando em Ushuaia. Nossa pousada era muito boa, com piscina, bons quartos mas o dia foi pesado. Jantamos na varanda, bebemos bons vinhos (sempre) e nos recolhemos cedo para enfrentar mais um dia.

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Day 3 – Villa Union/AR – San Juan/AR – 498km

Mais um longo dia pela frente. A paisagem é desértica, logo cedo a temperatura chegou rapidamente aos 30 graus. Paramos no parque Ischigualasto para um tour de 40 km de rípio e terra. Os arqueólogos encontraram nessa região fósseis de dinossauros que habitaram o planeta a mais de 200 milhões de anos. Uma região desértica onde o verde foi substituído pelo azul do céu e contrasta com os tons de vermelho da terra e de cinza das rochas. Uma das áreas que mais nos chamou atenção foi o Vale de La Luna. Uma formação argilosa, branca, esculpida pelo tempo e pelo vento. O guia do parque, um arqueólogo, apresenta suas teorias sobre o local. A paisagem impressiona. O calor também, com mais de 35 graus. Demos adeus ao guia do parque e seguimos em nossas motos para completar os 40km. O visual deixou vários motociclistas pelo caminho tirando fotos e filmando. A cada curva descobríamos um novo visual. Estávamos em pleno deserto com nossas BMW’s. Já passava das 13h e precisávamos de um local para montarmos nosso acampamento de almoço. Seguindo a estrada, Gionatta escolheu uma sombra para pararmos. Montamos o acampamento e o cardápio do dia era: Sopa de abóbora! A partir desse trecho da estrada, teríamos grandes retas e a preocupação de abastecimento. Nessa região da Argentina o fornecimento de gasolina não era “tão” seguro e poderíamos ficar sem combustível para chegar a San Juan. Do carro nosso guia Jonh conversava com Gabriela, responsável pela logística da viagem e que ficou em Santiago, que, pelo rádio, informava que foi confirmado o abastecimento num posto em uma vila. Confirmado que um posto que ficava a uns 150km e que recebeu gasolina no dia anterior, seguimos viagem, “dosando” o acelerador para controlar o consumo. Chegamos ao posto e apenas uma bomba funcionando. A fila era grande e ficamos por uma hora até estarmos prontos para seguir. A temperatura era de 37 graus. Ainda faltavam uns 180km até nosso oásis nesse deserto. Foi um trecho difícil, o marcador de temperatura de minha BMW acusava 38,5 graus, o ar que entrava pelo capacete era quente demais e a concentração na estrada estava difícil. Reunimos novamente o grupo para nos hidratarmos. A alegria já não estava estampada nos pilotos. Todos queriam chegar no hotel. Ainda paramos num posto antes da cidade para mais hidratação e seguimos até o hotel. San Juan é uma grande cidade, diferente das vilas onde dormimos nas noites anteriores. O Hotel Del Bono tinha um SPA e Casino. Chegamos no final da tarde, paramos as motos no estacionamento e subimos para descansar. Um dos pilotos teve uma crise de insolação com tremores pelo corpo e febre. O nosso guia Jonh também reclamou de sua garganta e se recolheu. Uma boa noite de sono resolveria tudo. Mas todos estava famintos e Gionatta nos levou a um autêntico assado argentino para comermos um precioso bife de chorizo. O dono do restaurante veio nos atender e recomendou um corte de 500 grs para cada um, acompanhado de salada verde e papas fritas. Encaramos o desafio e não sobrou nada nos pratos. A noite foi regada de vinhos Malbec e Chardonnay. Caminhamos duas quadras até nosso hotel e desabamos nas camas.

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Day 4 – San Juan/AR – Mendoza/AR – 180km

O menor trecho de nossa aventura. Combinamos na noite anterior que iríamos dispensar o catering para o almoço e seguiríamos para Mendoza direto para almoçarmos em uma Bodega. Tomamos nosso café às 7h30 e estávamos prontos para sair as 8h. Jonh, ainda desgastado e reclamando da garganta continuou no carro de apoio e Gionatta nos liderou na estrada. Gabriela estava tentando a reserva para o almoço mas era feriado na Argentina e a maioria das vinícolas estava lotada. A viagem foi tranquila e rápida. O que mais víamos eram as parreiras e as centenas de produtores e marcas dos famosos vinhos de Mendoza. Dia claro, céu azul, embora a previsão fosse de chuva, pegamos apenas uma pista úmida na chegada. Nosso hotel era no centro da cidade, o Sheraton, charmoso e suntuoso. Chegamos antes do horário e os quartos não estavam disponíveis. Trocamos de roupa, deixamos a bagagem e fomos conhecer o centro de Mendoza. Gabriela conseguiu uma reserva na principal bodega da cidade para almoçarmos as 13h45. Passeamos pelo centro, bebemos umas cervejas e nos encontramos com Jonh e Gionatta no hotel onde uma van nos aguardava para seguirmos até a Bodega. Um belo almoço que terminou depois das 16h foi regado a vinhos maravilhosos e derrubou a turma. Voltamos ao hotel e seguimos para o SPA com uma piscina aquecida com jacuzzi para relaxar.

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Day 5 – Mendoza/AR – Santiago/CH – 385km

Acordamos cedo, ansiosos por retornar a Santiago. Saímos nos primeiros raios de sol e passamos por diversas bodegas na ruta 7 até começarmos a subir a cordilheira em direção a Uspallata, a mesma cidade que passamos e abastecemos no primeiro dia. Uma estrada deliciosa, com muitas curvas e com Jonh novamente no comando do grupo pilotando sua GS 1200. Após a primeira parada para um café e chocolate, Jonh liberou todos para fotografarem à vontade até o posto de abastecimento. O grupo de dividiu e seguimos admirando a paisagem. No posto, mais uma surpresa: uma fila enorme de carros e ônibus para abastecer. Mais uma hora de espera. Seguimos pela mesma estrada que entramos na Argentina só que agora com o sol favorável para as fotos. Até o Parque Aconcágua nos revezamos como ultimo da fila – muitas fotos. No estacionamento do parque nos prepararmos para a Aduana, separando documentos. Fomos até um ponto de fotos que ficava a uns 300 metros em subida. A sensação de cansaço é incrível quando estamos a mais de 3 mil metros! Seguimos para a Aduana e enfrentamos filas e mais 1h30 para estarmos livres para regressar ao Chile. Na descida, novamente os Les Caracoles e um dos pilotos descobriu um medo quase incontrolável de fazer as curvas fechadas com penhascos. Descemos 3 motos, lado a lado, criando uma barreira visual para ele. Deu certo. Já na base da cordilheira, nosso ultimo almoço da aventura. E não foi sopa! Jonh reservou um restaurante para comemorarmos nossa aventura. Seguimos para a sede da Samt em Santiago para devolver “nossas” companheiras e nos despedirmos de nossos guias.

Resumo da viagem: 9 amigos que sonhavam em fazer uma aventura com suas motocicletas encontraram entre o Chile e a Argentina o lugar ideal para realizarem esse sonho. Agora é curtir as fotos, os vídeos e as imagens gravadas em nossas mentes. E a próxima, onde será?

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Maurício Castro,
Mora em Salvador e pilota uma BMW GS 800
Publicitário, 47 anos, casado com Lulli e pai de Gabriel (16) e Camila (08)

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