Durante 28 dias, percorri 10.000 km de estradas de cinco países com a minha Yamaha XT 660R , onde tive a oportunidade de visitar lugares fantásticos, como a Cuesta del Lipan, Deserto do Atacama, Nazca, Machu Picchu, Canion Colca, Lago Titicaca e Ruta de la Muerte.
Resolvi compartilhar o relato dessa viagem, abaixo, esperando que ele desperte o seu interesse por esse roteiro e por viagens de moto.
Mais detalhes dos locais de abastecimentos, hotéis, equipamentos, manutenções e fotos desta viagem e de outras pelo Brasil e América Latina podem ser vistos no blog www.robinsonviagensdemoto.blogspot.com.br
1º dia – 31/03/2012
Curitiba (PR) – Puerto Iguazu (AR): 654 km
Após despedir-me de minha mulher às 8 horas em ponto, saí de Curitiba com temperatura de 16º C. Como em todas as viagens, os primeiros quilômetros são tensos (pelo menos para mim), pois são meses de preparação e muitos desafios a serem enfrentados, desde longas distâncias, locais e estradas desconhecidos a culturas diferentes. É claro que estes ingredientes acrescidos de belas paisagens a serem visitadas é que me motivam a viajar.
Nesta primeira etapa da viagem, circulei por uma estrada já conhecida, a BR-277 que corta todo o Paraná de leste a oeste. Ela é pedagiada, motos pagam e, por sinal, pagam muito. Arrisco a dizer que é o pedágio mais caro do Brasil e pior que os R$ 30,70 desembolsados são as inúmeras paradas – é de perder a paciência. Quando estou de carro não percebo, pois tenho instalado o Sem Parar, que por sinal já tentei instalar na moto, mas a empresa diz que não é possível. De todo o percurso percorrido somente os primeiros 60 e os últimos 80 quilômetros são duplicados, o restante é pista simples. A pista é um tapete e existem várias terceiras faixas que permitem ultrapassagens sem maiores problemas.
Além das paradas do pedágio, parei mais três vezes, uma em Prudentópolis para abastecer e lubrificar a corrente, outra em Guaraniaçu para abastecer a moto e eu (comi pão com bife) e a última em Foz do Iguaçu, onde além de abastecer, liguei pela última vez do meu celular para a minha mulher. Deixei o telefone ligado o tempo inteiro e habilitado para uso no exterior, mas como as tarifas são muito caras não o utilizei nenhuma vez.
Rapidamente a migração / aduana brasileira e argentina foram feitas e as 17h10 estava instalado no Hostel Inn já na saída de Puerto Iguazu.
Coloquei uma bermuda e um chinelo e fui dar uma geral na corrente da XT pois alguns elos estavam travados. Apliquei desengripante, embora não seja recomendado. Além disso, abri a tampa do pinhão para limpá-lo, pois estava com muita graxa e varias vedações da corrente presas nela. Apesar da minha certeza de que ela aguentaria uns 4000 quilômetros, como citei anteriormente, confesso que fiquei preocupado.
Terminada a geral na moto, minutos depois eu estava tomando um belo banho de piscina, pois a temperatura estava 34,5ºC.
No quarto do albergue estavam um mato-grossense e outros dois “moradores” que não cheguei a conhecer, pois as 21 horas já estava dormindo e eles ainda não haviam chegado e, na manhã seguinte, sai antes deles acordarem.
2º dia – 01/04/2012
Puerto Iguazu (AR) – Pampa Del Infierno (AR): 904 km
Como fui dormir cedo, acordei as 6 horas, antes mesmo do despertador tocar. Arrumei-me, coloquei as coisas na moto e fui para a recepção fazer o check out. Após uma confusão do pessoal do hostel, na qual eles afirmaram que eu havia pago no ato do check in o calção de 50 pesos e o valor da diária de 80 pesos. Na realidade só havia pago o calção. Insisti e disseram que não, pois estava anotado no sistema como pago e devolveram-me os 50 pesos do calção. Resumindo, a minha hospedagem foi gratuita.
Em função desta confusão, sai as 6h50 com céu azul e temperatura de 14,5ºC.
A ruta 12 é pedagiada (moto não paga) e é perfeita. Nos primeiros 200 km o terreno é mais acidentado e a estrada tem “tercera troucha” em vários pontos. A paisagem é muito bonita com muitas florestas e rios, mas infelizmente em alguns trechos a mata nativa foi substituída por reflorestamentos.
Nos dois primeiros abastecimentos não tive problemas, entretanto em Ita Ibate, o primeiro posto, a beira da estrada, não tinha gasolina. Fui ao outro posto da cidade, no centro, e lá não tive problemas. Após abastecer e almoçar (lanchar) fui à beira do Rio Paraná para tirar fotos e curtir a paisagem. A temperatura à sombra estava 41,9 graus.
Pelas minhas pesquisas, este era o dia de maior risco de ter problemas com a policia por ser considerada muito corrupta. E a todo o momento eu ficava apreensivo, pois ela estava por todos os lados. A cada 50 ou 100 quilômetros havia uma viatura à beira da estrada, mas felizmente nenhuma me parou.
Em uma parada que fiz para beber água encontrei um casal de Chapecó que voltava de San Pedro de Atacama em uma Transalp. Conversamos rapidamente e me deram a dica para em Corrientes usar a Coletora (o que chamamos de marginais aqui no Brasil) para não ter problema com os guardas.
Quando parei em um posto já próximo de Corrientes encontrei dois motociclistas de Santo André, um deles de GS e outro de Gold Wing. Eles estavam preocupados pois o grupo era composto por 8 motociclistas, porém se perderam e só estavam somente os dois.
Em Corrientes, segui as dicas e fui pela coletora até a beira do rio para tirar fotos do rio e da ponte. Enquanto tirava fotos os motociclistas (Francisco e o outro que infelizmente não recordo o nome) de Santo André chegaram. Conversamos um pouco e como estavam sem GPS fui com eles até o hotel que haviam programado de dormir, na esperança dos colegas de viagem já estarem lá.
De volta ao meu caminho, entrei na via principal (esqueci de seguir a dica do casal catarinense) e dito e feito, os guardas me pararam. Segundo eles, eu estava descumprindo uma regra de trânsito, a qual diz que motos não podem circular nas vias principais, somente nas coletoras. Segundo eles, a multa para esta infração é de 1200 pesos. Argumentei que não tinha este valor, pois estava viajando usando tarjetas (cartões) de crédito e débito. Na negociação dei tudo que eu tinha na carteira, ou seja, o equivalente a 140 reais de propina (100 pesos, 20 dólares e 50 reais). Felizmente sempre ando com pouco dinheiro à vista, sempre deixo-o distribuído em vários lugares: o suficiente para meio dia de viagem na carteira, para o outro meio-dia na própria carteira devidamente escondido, um tanto junto aos documentos (passaporte, carteira de motorista internacional, carteira de vacinação, etc.) e o restante no alforje.
Depois deste perrengue, atravessei a ponte para Resistência e rumei em direção Roque Saenz Peña onde pretendia pernoitar. Mas como o ritmo estava bom e ainda era cedo, parei em Pampa Del Infierno, 83 quilômetros à frente. Este trecho a estrada não tem buracos, entretanto está bem irregular.
Fora a propina e o calor sufocante a viagem foi tranquila.
Hospedei-me no Hotel Bioceanico, na avenida principal bem na entrada da cidade. Muito bom, com “cochera”, ducha de primeira e ar condicionado.
Jantei no restaurante ao lado do hotel, onde optei por um prato que veio muito bem servido a um custo de 38 pesos – costela de cerdo (porco) com batatas fritas. Enquanto esperava o prato assistia, de cabelos em pé, o transitar frenético de motos e motonetas com 1, 2, 3, 4 e até 5 ocupantes, sendo que alguns até com crianças de colo. Todos, ou quase todos, de chinelos e sem capacetes.
3º dia – 02/04/2012
Pampa Del Infierno (AR) – Salta (AR): 587 km
Acordei às 6 horas e às 6h28 estava saindo do hotel conforme programado. Como durante a noite choveu muito, a estrada estava molhada, mas não atrapalhou, só serviu para melecar a moto e a minha calça.
A RN-16 de Pampa Del Infierno em diante não é boa, é uma reta só, com muita irregularidade, trechos com buracos, sem sinalização e muitos animais soltos. Graças a Deus passei quase ileso, digo quase porque atropelei um passarinho que fez um belo estrago na bolha. Fixei o que sobrou com vários extensores de forma que ficou relativamente firme e na posição original, cumprindo bem a função de proteção aerodinâmica até o fim da viagem.
Neste dia, a temperatura ficou bem agradável, entre os 23 e 25 graus, com o céu parcialmente nublado, que em minha opinião são as melhores condições para viajar de moto.
No entroncamento com a RN-9, virei à direita na direção norte. Esta ruta é toda “troucharizada” e já começa a pegar algum relevo irregular, são poucas subidas / descidas e curvas, mas perto da RN-16 já é muito.
Cheguei a Salta as 13h30 e fui a caça de um hotel. Infelizmente, os hotéis que pesquisei estavam mais caros do que eu imaginava e resolvi procurar algo mais em conta. Quase uma hora depois desisti e acabei ficando em um dos que estavam na minha lista, o Hotel Continental.
Fiz um city tour rápido a pé pelo centrinho, pois já havia percorrido praticamente toda a cidade de moto em busca de um hotel e depois subi o Cerro San Bernardo por meio de um teleférico. O passeio é muito legal e no meu ponto de vista é parada obrigatória para todo turista que vai a Salta.
Ao retornar ao hotel, encontrei um casal do Rio de Janeiro em uma XT660Z Ténéré. Conversamos um pouco e descobri que também foram extorquidos pelos guardas de Corrientes. Pagaram o equivalente a 600 pesos.
A corrente continua apresentando problemas e, neste dia, o meu estômago não estava lá essas coisas. Somando os dois fatos, fiquei na dúvida se seguia viagem ou dava um tempo em Salta, ficando mais um dia para melhorar do mal estar e levar a moto a uma oficina para trocar a transmissão. No cair da noite já estava melhor e fui fazer uma avaliação mais criteriosa da corrente. Cheguei à conclusão que ela aguentaria conforme eu havia estimado ainda em Curitiba. Sendo assim, arrumei as malas e deixei tudo pronto para seguir viagem no dia seguinte.
4º dia – 03/04/2012
Salta (AR) – SPA (CH): 603 km
Choveu a noite inteira e quando sai as 6h45, o asfalto ainda estava molhado, por isso coloquei todos os apetrechos para chuva (como já relatei em outras viagens no blog, mesmo com a roupa de cordura sendo a prova d’água, quando vejo que a chuva será mais intensa coloco capas plásticas da marca Alba sobre a roupa de cordura).
Assim que acessei a estrada a chuva voltou. O trecho de General Guedes estava bem movimentado e com chuva muito intensa, inclusive vários trechos da estrada estavam alagados, o que deixava o transito mais complicado ainda.
Parei para abastecer em San Salvador de Jujuy e fiquei impressionado com o tamanho da cidade, pelo menos pelo que vi no anel viário que contorna a cidade, ela é grande. Tomei café da manhã no posto e revisei / lubrifiquei a corrente, principalmente por ela ter sido “lavada” pela chuva e alagamentos.
Ao sair do posto, a chuva já havia parado, a estrada ficou bem mais vazia e começa a subir. Infelizmente o tempo ainda estava muito fechado com uma cerração densa que impossibilitava ver ao longe. Por esse motivo, parei uma única vez para tirar foto do rio que acompanha a estrada.
A próxima parada foi na placa logo na chegada a Purmamarca. Dela já é possível ver o Cerro de las Siete Colores, muito bonito. Neste ponto tirei diversas fotos e tirei as capas de chuva. Não fiquei ali por muito tempo, pois ouvi um guia de uma van dizer que à frente existe um outro ponto à beira da estrada com um visual melhor. Realmente, o outro ponto de parada é melhor. Ali fiquei por uns 30 minutos tirando fotos e curtindo o lugar. Antes de retomar a estrada, resolvi dar uma volta por dentro da cidade de Purmamarca, vale a pena, é bem pitoresca.
Deste trecho em diante da viagem perdi a conta de quantas vezes parei, mas posso afirmar que foram mais de 50 – é tudo muito bonito e gigantesco. Quando cheguei próximo a Cuesta do Lipan comecei a seguir uma van de turismo e onde ela parava eu também parava. Assim, não perdi nenhum ponto importante. Obviamente fiz paradas a mais por conta, onde tirava fotos, curtia o lugar e logo em seguida alcançava a van. Assim foi, até o ponto mais alto do lado argentino. Outra vantagem desta tática é que sempre tinha alguém para tirar fotos minhas (levei dois tripés, mas dá muito trabalho…). Neste trecho, a temperatura deu uma baixada, mas nada que alarmasse, chegou a 9º C.
A partir deste ponto abandonei a van e segui viagem por “conta própria”, parando algumas vezes para tirar fotos das Salinas Grandes ao longe e depois nela, inclusive de moto nela lá no meio, longe do número grande de turistas parados. É muito legal a experiência e ao mesmo tempo tensa pilotar sobre o sal. Não há risco algum, pois é muito plano e firme, mas por algum motivo que não sei explicar fiquei apreensivo. Tirei várias fotos lá no meio e fiz um lanchezinho.
Retornei à estrada e, deste ponto em diante, ela começa a ficar mais vazia e confesso que em alguns momentos dava um medinho, pois a imensidão é gigantesca e o isolamento também. Em alguns momentos chegava a andar mais de 30 km sem subir ou descer mais que 5 metros e em linha reta sem cruzar com nenhum carro. O visual é lindo.
Parei em Susques para abastecer a moto e revisei a corrente (de novo). Comi parte da minha reserva, pois o posto é só uma bomba. Quando cheguei à bomba um cara de moto estava saindo do posto e fez sinal que já voltava. Como não tinha mais ninguém, esperei por 15 minutos até que ele retornasse, afinal o próximo posto só no Paso de Jama 113 quilômetros à frente.
Rodei mais 120 km por lindas paisagens e parei no posto (novíssimo) junto a aduana. Lanchei, novamente, e abasteci a moto. A temperatura despencou para 4 graus e o burro achou que estava bem vestido e não colocou mais roupas.
Fiz a aduana argentina rapidíssimo e segui para o Chile subindo, subindo, subindo até 4800 msnm e uns quebrados. Depois disso rodei quase 100 quilômetros variando entre 4600 msnm e 4800 msnm, até que finalmente parei para colocar mais roupa, burro de novo por ter demorado. Passei frio a toa, pois tinha roupa de sobra. A paisagem cada vez mais bonita agora com muitos picos nevados.
Faltando 55 quilômetros para San Pedro de Atacama começa a descida que também é muito linda e requer muita atenção, pois há algumas retas e na sequência, curvas bem fechadas. Além disso, os caminhões fazem este trecho muito devagar e corre o risco de na saída de uma curva você encher a traseira de um caminhão se estiver muito rápido – portanto, desça devagar e curta a paisagem. Eu não fiquei vigiando, mas acho que não passei dos 70 km/h.
Não tive maiores problemas com a altitude, só um pouco de dor de cabeça após os 4500 msnm, mas suportável. Já a qualquer movimento mais rápido faz o coração disparar, inclusive subir na moto!
Ao chegar na placa de recepção da cidade, parei para tirar foto e um ônibus de turismo me passou e chegou à aduana na minha frente. Por conta disso, fiquei uma hora para fazer todos os trâmites burocráticos. Tirando este tempo perdido, levei exatas 12 horas para fazer o trajeto do dia, não por problemas com a estrada, mas sim pelo número de paradas que fiz para curtir a paisagem e tirar fotos.
O hotel que estava em primeiro lugar na minha lista ninguém sabia informar como chegar e o GPS não achava a rua, embora a cidade seja minúscula. Sendo assim, resolvi dar uma volta pelo vilarejo para ver se encontrava e passei em frente ao hostel Corvatsch que também estava na minha lista. Foi nele que fiquei – muito bom, apesar de ter banheiro coletivo.
Após um bom banho, sai a pé para conhecer melhor o vilarejo, ligar para casa, fazer uma pesquisa nos preços dos passeios e jantar. Após esta “pernada” o vilarejo começou a mostrar o seu charme e encanto. Não sei explicar, mas apesar da cidade ser muito feia, acho que não tem quem não goste dela – eu me encantei.
Para jantar, resolvi seguir a indicação da Lorena (recepcionista do hostel) e comi arroz com bife em uma portinha na mesma rua do hotel. Não sei descrever a “portinha”, por isso pergunte a recepcionista. Extremamente simples, mas muito bom.
Quanto aos passeios, os preços são todos muito parecidos e optei fazê-los com a Corvatsch Turismo, o mesmo do hostel.
5º dia – 04/04/2012
San Pedro de Atacama (Chile)
Neste dia fugi da rotina, pois acordei as 3h40 da manhã para conhecer os Gêiseres Del Tatio. Digo que sai da rotina, não pelo horário, mas sim por não arrumar as malas e ligar a moto.
Pontualmente às 4 horas a van saiu da pousada com 18 turistas (chilenos, alemães, belgas, australianos e dinamarqueses compunham a torre de babel). Os gêiseres estão em atividade durante todo o dia, mas o ápice do fenômeno acontece das 6 às 7 horas da manhã e como eles ficam a 80 quilômetros de San Pedro de Atacama, é necessário madrugar.
A estrada até lá é de terra e está em bom estado, com sinalização em todos os entroncamentos. Portanto, para aqueles que quiserem aventurar de moto (assim como fizeram o Vantuir e o Bonotto) não há maiores problemas, exceto por ser de noite a uma altitude de 4200 msnm e temperatura de -4ºC que, segundo o guia, é um caso raro, pois normalmente beira os -10ºC.
As 5h40 chegamos e o guia Patrício (muito bom) saiu com o grupo e fez várias paradas próximos aos gêiseres para explicar o fenômeno. Às 6h10 estávamos na van novamente, onde o motorista nos aguardava com um café da manhã composto de café, chá de coca, pão com manteiga e queijo, alfajor e ovo cozido. O ovo cozido foi feito em fogareiro, mas até a pouco tempo atrás era cozido nos próprios gêiseres, mas hoje esta prática está proibida por questões ecológicas e de segurança. Fiz o lanche e voltei a passear pelos gêiseres (agora sozinho) apreciando aquele espetáculo único, não somente pelos gêiseres, mas também pelo nascer do sol por entre os picos nevados.
De van, fomos ao maior gêiser de todos que fica no máximo a dois quilômetros de onde estávamos. Apesar do tamanho, ele não tem tanta pressão, a água “só” fica borbulhando num poço a 80ºC. Próximo a ele há uma piscina de pedras na qual a água está a 38ºC e vários turistas tomam banho. Não quis arriscar pegar uma gripe e por isso não encarei, afinal a diferença de temperatura entre a água e fora dela passava de 40ºC mesmo com o sol à mostra.
Às 9 horas saímos em direção ao vilarejo Machuca, que por sinal é uma parada que eu dispensaria do roteiro. No caminho, paramos no rio Putana num cenário encantador. O rio tem águas cristalinas, e ao fundo é possível ver três vulcões (Putana, Colorado e outro que não recordo o nome). Ah, a região possui 180 vulcões, sendo que quase todos estão ativos e o mais majestoso de todos é o Licancabur.
Fizemos mais uma parada para ver alguns cactos gigantes e uma vista geral do Salar Atacama. Depois disso, a van retornou a San Pedro de Atacama chegando as 12h30.
Não retornei à pousada, fui direto a procura de um lugar para almoçar e, após olhar o cardápio de uns 5 restaurantes, optei em voltar ao mesmo que havia jantado na noite anterior. Para selar a minha criatividade, repeti o prato! O próximo passeio que havia programado sairia somente as 16 horas e aproveitei o tempo para bater perna pela cidade.
Mas uma vez, provando que a minha escolha foi certeira, o micro-ônibus saiu pontualmente para o passeio a Laguna Cejar. O guia Eduardo, muito parecido com o Raul Seixas, também era muito bom. Neste tour, estavam um casal de mineiros, alguns peruanos e um chileno. Assim que chegamos, fui direto para a laguna onde é impossível afundar – é uma sensação indescritível. Isso acontece pois a concentração de sal é muito alta.
Ao sair, o guia te lava com água doce usando um pulverizador (igual aqueles que aplicam veneno) e mesmo assim a pele parece que vai rachar. Ao retornar ao ônibus, uma mesa estava montada para o lanche da tarde. Foram servidos batatas fritas, azeitonas, biscoitos, queijo, Coca-Cola e pisco.
Outra atração deste local é o visual das lagunas e do vulcão Licancabur refletido nelas. Recomendo o passeio, mesmo para aqueles que não se animaram em banhar-se na laguna, só a paisagem vale o passeio. Finalizado o passeio, retornamos para SPA onde chegamos as 19h10.
Como estava sem fome para jantar, optei em comprar algumas guloseimas e fiz um lanche na pousada mesmo. Fui dormir super cedo, afinal estava acordado desde as 3h40 da manhã.
6º dia – 05/04/2012
San Pedro de Atacama (Chile)
Hoje, com um pequeno atraso, a van passou para me pegar às 7h10 para irmos visitar as laguna Chaxa, Miscanti e Miniques. A van ainda fez mais algumas paradas para pegar mais alguns passageiros e, finalmente, entrou na estrada.
A primeira parada foi na Laguna Chaxa, que é a morada de dezenas de flamingos. Infelizmente não vi muitos, mas foi o suficiente para ver a beleza deles em seu habitat natural e fotografá-los é claro. A laguna está localizada no ponto mais baixo de todo o Salar do Atacama e está a 2000 msnm.
O visual do lugar, como praticamente todo o Deserto do Atacama, é incrível, ainda mais com o sol aparecendo entre as montanhas e vulcões. Após 45 minutos caminhando e tirando fotos da região, com uma temperatura baixa (não levei o meu termômetro, mas deveria estar perto dos 5ºC), retornei para o centro de recepção do turista do parque. Lá estava o Claudio, o guia, com a mesa posta para o café da manhã. Durante o café ele foi dando uma aula sobre a região, foi muito legal.
As 9h30 saímos do parque e fomos em direção as lagunas Miscanti e Miniques onde chegamos as 10h40. Elas estão localizadas a pouco mais de 100 quilômetros de San Pedro de Atacama e estão a 4200 msnm. Ao chegar fiquei um pouco chateado, pois o tempo estava nublado e atrapalhou um pouco a paisagem. Apesar disso, é de tirar o fôlego. Acho que não tem como descrever, só estando lá (as fotos podem dar uma ideia). As duas lagunas estão praticamente lado a lado, porém a Miscanti é muito mais bonita, pois além de ser 10 vezes maior, está emoldurada por inúmeros vulcões nevados.
Depois desta paisagem chegou a hora de retornar e as 13:00 estávamos em um vilarejo chamado Socaire, onde almoçamos lhama cozida, quinoa, arroz e batata roxa (este não estava incluso no pacote). Depois do almoço seguimos para Tocanao, um vilarejo muito feio e que em minha opinião não vale a parada. Às 15h45 a van me deixou e às 16 horas outra veio me pegar para o outro passeio programado para o dia.
Mais uma vez com pontualidade, a van passou para me pegar, mas ao contrário dos demais passeios, este guia Marcelo não era bom. Falava só o essencial e não se preocupava se os estrangeiros estavam entendendo. A primeira parada foi nas cavernas, já dentro do Parque de La Luna. O caminho não é o dos mais fáceis, principalmente para crianças e idosos e o guia não alertou sobre isso, e pior, há um trecho 100% escuro. Ele não avisou e ainda pediu o celular de um dos turistas para que ele orientasse o caminho – total falta de preparo. Desconsiderando isso o passeio é legal.
Depois, saímos das cavernas, todas formadas em sal, fomos ver as formações rochosas chamadas Três Marias. São legais, mas para quem já esteve em Vila Velha (PR) elas não tem graça alguma. Retornamos e paramos no Alfiteatro, uma montanha rochosa em forma de anfiteatro, muito bonita, mas o guia errou de novo. Ao nos deixar para apreciar a paisagem não informou até onde os turistas poderiam ir. Obviamente, alguns saíram da área permitida e foram advertidos pelos guardas do parque.
Por fim, fomos em direção à Duna Grande onde eu imaginava ver o pôr do sol. Ela é composta por uma areia grossa, misturada com pedras e sal. A Joaquina é mais bonita e acho que maior, mas mesmo assim o visual é demais. Quando me acomodei para ver o pôr do sol, o guia chamou para irmos a um outro lugar melhor, segundo ele. Fomos até a Rocha Couyote e ele realmente acertou, a paisagem é bem mais bonita que a Duna Grande.
Sem dúvida nenhuma, é o melhor visual do Vale de La Luna e Vale de La Muerte. Simplesmente fantástico. Além disso, o guia começou a dar dicas valiosos do que fotografar apagando um pouco a primeira péssima impressão. A dica mais importante dada por ele é para tirar fotos do leste (e não do sol, como todos fazem), principalmente entre as 19h29 e 19h38, pois as montanhas mudam de cor dezenas de vezes. Dito e feito, lindo! Ainda mais com a lua cheia nascendo. Uma pena que a bateria da máquina acabou, fiquei p……
Além desta beleza, fiquei impressionado como a temperatura despenca conforme o sol se põe, facilmente deve baixar uns 5 a 10 graus em minutos. As 19h50 a van deixou-me na pousada.
Peguei a moto e fui abastecer, porém desisti, pois a fila era gigantesca. Devia ter pelo menos umas 15 vans na fila do único posto da cidade. Mesmo sendo combustível diferente usado pelas vans, o frentista disse que eu teria que enfrentar fila, pois ele não achava justo eu passar à frente dos demais (ele não estava errado não). Deixei para fazer este trabalho pela manhã. Comprei um lanche, fui para o hostel arrumar a bagagem e, antes das 22h30, já estava indo dormir.
7º dia – 06/04/2012
San Pedro de Atacama (CH) – Tacna (PE): 787 km
Acordei às 6 horas, às 6h30 estava no posto (agora sem fila) e as 6h45 estava na estrada. Peguei um nascer do sol lindo e um pôr de lua também (se é que existe esta expressão, rsrs). O meu objetivo era chegar a Calama assim que as oficinas abrissem para trocar a transmissão e seguir viagem. Às 8 horas em ponto estava na porta da oficina, porém ela ainda estava fechada. Imaginei então que abriria as 9 horas e fiquei aguardando, até que um funcionário da oficina que estava passando pela frente parou e me informou que não iriam abrir, pois era feriado. Eu estava totalmente perdido no calendário, perguntei se era um feriado local e ele me respondeu que era um feriado comemorado no mundo inteiro. Insisti e perguntei que feriado era. Ele, com uma cara de que não acreditava na minha pergunta respondeu. – Hoje é sexta-feira santa!
Agradeci a informação meio sem graça e nem perguntei se existia outra oficina. Segui viagem lubrificando a corrente direto, praticamente a cada parada.
A paisagem do deserto continua bonita e imponente pelas dimensões, porém com o passar do dia, começou ficar cansativo, com exceção da Cuesta de Chala com uma grande sucessão de curvas subidas e descidas. Após passar Pozo Almond, peguei um trecho com grande distância entre os postos de combustível e fui obrigado a parar no trevo de acesso à cidade de Porto Compras em uma oficina que também é uma “gasolinera”. Ali, coloquei cinco litros de gasolina manualmente, pois pelas minha contas não iria chegar a Arica com o que tinha no tanque.
Passei direto por Arica e fui para as aduanas, onde perdi (nas duas aduanas juntas) 1 hora e 45 minutos em burocracias. Somando a espera para a oficina abrir em Calama (que não aconteceu) com as aduanas, cheguei à conclusão que ir até Moquegua seria cansativo e chegaria à noite. Por isso, optei em ficar em Tacna hospedando-me no hotel Bolívar. Bem novinho, porém não tinha garagem, o que foi resolvido com a permissão para deixar a moto no saguão de entrada do hotel.
Ah, por algum motivo, o GPS não funcionou no Peru, ele informava que não está achando o arquivo, não sei dizer o que houve. A partir deste dia até retornar ao Brasil, o GPS passou a ser somente um altímetro, pois deixei-o nesta função.
Depois de um bom banho, sai para fazer câmbio, um city tour a pé e jantar. Como era sexta-feira santa (agora eu sabia), a cidade estava em festa, com todo mundo nas ruas e com várias procissões – um ambiente muito legal. Além disso, a cidade é muito bonita.
Enquanto jantava uma pizza de alpaca (comi inteira), descobri que o fuso horário do Peru é duas horas a menos que no Brasil.
8º dia – 07/04/2012
Tacna (PE) – Arequipa (PE): 391 km
Acordei às 6h30, o que foi fácil, pois para o meu relógio biológico eram 8h30. Coloquei os alforjes na moto e às 7h05 estava saindo do hotel. Levei 15 minutos para acessar a Panamericana, pois errei o caminho e fiz mais um city tour (sem querer) pela cidade, comprovando que é muito bonita.
A estrada percorrida no dia tem trechos com longas retas em terrenos planos e algumas encostas com muitas curvas e um visual muito bonito, basicamente composto por areia e rochas. Apesar de mudar de nome, não deixa de ser uma continuação do deserto do Atacama. Além da parada em Moquegua para abastecer, parei diversas vezes para fotos e às 12h30 cheguei a Arequipa. A cidade é grande (pouco mais de 900 mil habitantes) e possui um trânsito caótico, principalmente quando se aproxima da Plaza de Armas.
Na mesma proporção que o trânsito vai ficando mais caótico, as igrejas e monumentos vão ficando mais bonitos. Assim que instalei-me no Hostel Casona Blanca a 3 quadras da Plaza de Armas (muito bom) fui a uma lavanderia na mesma quadra do hostel e deixei minhas roupas para lavar. Depois disso, sai para passear pela cidade e até cansei de tirar fotos, rsrs.
Fui a uma “polleria”, um tipo de lanchonete muito comum no Peru, onde comi 1/8 de pollo (frango com fritas e saladas) e depois visitei o Monastério de Santa Catalina. Dispensei a guia (já incluso no ingresso), pois a visita guiada leva 1 hora e 40 minutos e achei que seria muito chato. Peguei o panfleto e segui as indicações. A arquitetura e grandiosidade do lugar impressionam, assim como a tranquilidade e paz do lugar – é muito legal.
No início da noite, na Plaza de Armas, vi mais manifestações religiosas, assim como em Tacna. Não sou católico e, mesmo assim, fiquei muito emocionado, da mesma forma que no monastério.
Durante º dia inteiro fiquei procurando os picos nevados que ficam no horizonte atrás da catedral, mas infelizmente o céu estava nublado. Ao entardecer, o céu abriu um pouco e consegui ver parcialmente os vulcões, mas vou ter que voltar lá para vê-los, rsrs.
9º dia – 08/04/2012
Arequipa (PE) – Nazca (PE): 569 km
Nesta manhã, bati o recorde pois em 20 minutos me arrumei, coloquei os alforjes e sai do hotel. Antes de pegar as avenidas (que estudei no mapa) para sair da cidade, passei pela Plaza de Armas e consegui tirar algumas fotos da catedral com os vulcões Chachani e Misti (6075 e 5822 msnm respectivamente) ao fundo, uma pena que a luz do sol não estava na melhor posição. Tiradas as fotos, fiz o caminho estudado (pois estava sem GPS), consegui sair da cidade sem me perder e às 7h15 estava na estrada.
Nos primeiros quilômetros, a Panamericana segue o padrão do dia anterior, longas retas e algumas “cuestas” com muitas curvas. Depois de 100 quilômetros a estrada muda a direção e vai em direção oeste, num trecho com grandes decidas e muitas curvas. Após chegar ao litoral, ela fica prensada entre a cordilheira e o pacífico. O visual é maravilhoso e “exigiu” muitas paradas para fotos.
Após 80 km margeando o pacífico vi uma placa dizendo “Atenção Zona de Neblina”. E não é que ela apareceu!!!! Achei muito estranho, pois era próximo do meio dia e o céu estava impecável (tipo céu de brigadeiro). Essa neblina seguiu por quase 200km até quando a estrada afasta-se do mar em direção a Nazca.
Além das inúmeras paradas para fotos, parei em Atico para abastecer e em Chala parei para tirar fotos de pelicanos. Esta última é o único balneário desde Camaná (onde a estrada chegou ao litoral) que possui praias com areia, no restante são somente rochas e penhascos.
A estrada é boa e sem buracos, mas tem vários quilômetros sem demarcação, muitos trechos com areia sobre a pista e pedras caídas dos penhascos em algumas curvas. Portanto, apesar da tentação de ficar olhando o tempo todo para o mar, tem que prestar muita atenção na estrada.
Ao chegar a Nazca, às 15 horas, fiquei decepcionado, pois a cidade é muito feia e desorganizada. O único ponto mais ou menos organizado é a praça principal em frente ao Hotel El Mirador onde fiquei. Até então, esta foi a cidade mais feia da viagem e esse título foi sustentado até o fim da viagem, superando inclusive as cidades bolivianas. Ela tinha uma população de 10 mil habitantes em 1990 e hoje são mais de 80.000, crescimento devido a mineração de cobre e ouro. Infelizmente, a infra estrutura da cidade não acompanhou este crescimento frenético e virou uma bagunça.
O hotel não tem garagem e mais uma vez deixei a moto no saguão, porém o meio fio em frente ao hotel é muito alto e com certeza uma moto mais baixa que a XT bateria o fundo. Depois de instalado e tomar um bom banho, fechei os serviços no próprio hotel para o voo sobre as linhas de Nazca, passeios nos Paredores, Geoglifos Telar e os Aquedutos.
Tudo acertado para os passeios, sai para fazer um city tour a pé, durante o qual comprovei que a cidade é realmente uma zona, liguei para minha mulher e jantei no restaurante Costumbres, praticamente ao lado do hotel, onde é possível comer muito bem por 10 soles, vale a pena.
10º dia – 09/04/2012
Nazca (PE): 0 km
Às 7h15 passaram para me pegar no hotel e as 7h30 já estava no aeroporto. Fiz os trâmites burocráticos, inclusive pesagem e às 8h30 eu e uma alemã entramos no pequeno Cesna para um voo de 45 minutos sobre as linhas de Nazca. O passeio foi legal, embora eu tenha passado muito mal, suei frio (muito) por mais da metade do voo para não vomitar. O avião vira para todo o lado, curvas, curvas, curvas e bem fechadas. Ele faz estas manobras para passarmos por todos os geoglifos e também para que os dois passageiros possam ter a visão perfeita da figura. Percebi que não fui só eu que passei mal, a alemã também ficou enjoada. Os dois pilotos só riam, uns sacanas…. Independente disso, é muito legal, vale muito a pena, faria de volta. Mais incrível ainda é acreditar que aquilo tudo foi feito a mais de 2000 anos.
Depois, a agencia de turismo me deixou no hotel para tomar café, que não foi fácil, pois o estômago só voltou ao normal próximo das 15 horas. Às 11 horas voltaram a me pegar para conhecer algumas ruínas Los Paredones, os Geoglifos de Telar (onde pude ver as linhas do chão) e os aquedutos.
As linhas são feitas com a retirada de uma pequena camada da superfície do deserto, no máximo 10 centímetros de profundidade. É algo tão sutil que ao estar ao lado delas praticamente não dá para perceber. Elas foram construídas de forma que os ventos que sopram no fim da tarde varrem a poeira e assim mantendo intactas as linhas até hoje.
Os aquedutos mostram o quanto o povo Nazca entendia de engenharia, pois como viviam no meio do deserto e não tinham água, construíram uma rede de tubulações subterrâneas (algumas com mais de 30 quilômetros de extensão) para trazer a água do degelo dos picos nevados da cordilheira. Para ter acesso fácil à água em alguns pontos, os nazcas construíram espirais que permitiam chegar a 3 metros de profundidade. O mais incrível é que isso funciona até hoje, suprindo toda a cidade de Nazca com água potável.
Neste segundo tour do dia, o guia dirigia de forma bem diferente dos demais peruanos. Perguntei porque e ele disse ter morado 22 anos nos EUA e hoje só consegue dirigir na defensiva. Almocei no mesmo restaurante que jantei na noite anterior e, exatamente no horário marcado, o guia José Manuel da Paramonga Tours (empresa que fiz os passeios) passou no hotel para me levar a uma oficina (uma portinha). Conversando com os mecânicos, cheguei à conclusão que colocar a transmissão sem abrir a corrente seria arriscado, pois eles nunca haviam desmontado a balança de uma moto daquele porte. Sendo assim, optei em colocar uma emenda, mesmo não sendo muito recomendado. O pessoal trabalhou direto e em duas horas ela estava pronta, ou seja, ganhei um dia em relação ao meu cronograma inicial. Cobraram somente 60 soles pelo trabalho.
De volta ao hotel, fui à recepção, onde o wifi funcionava e comecei a rever o meu plano de viagem. Minutos depois de ligar o computador, chegou o guia José e perguntei a ele sobre Paracas, pois alguns turistas que encontrei pelo caminho falaram muito bem deste lugar. Ele me deu uma aula, dicas de onde dormir e de quebra ainda ligou para lá para ver os horários de saída dos barcos para as Islas Ballestas. Antes dele sair dei uma gorjeta por toda ajuda prestada.
Após decidido e tudo estudado para ir a Paracas, saí para jantar. Desta vez optei por um restaurante na esquina oposta ao hotel (infelizmente não anotei o nome). Depois de muitas tentativas de entender o que era Res, resolvi pedir o prato mesmo sem saber o que era. O prato consistia de coração de Res e batatas fritas, muito bom. Assim que cheguei ao hotel acessei a internet para descobrir o que eu havia comido. Segundo o dicionário Res é qualquer animal quadrúpede que se abate para comer, ficou claro que bicho é ?!?
11º dia – 10/04/2012
Nazca (PE) – Paracas (PE): 226 km
Acordei sem despertador as 7h50, fui tomar café sossegado e às 8h45 estava saindo de Nazca. A estrada segue o mesmo padrão dos últimos dias, com exceção que após Ica o transito fica bem mais intenso. Só parei uma vez para esticar as pernas e ver como estava a emenda da corrente. As 11h40 cheguei a Paracas e parei na primeira agência de viagens que vi e perguntei pelo passeio a Isla Ballestos e uma indicação de hotel. Mesmo tendo as indicações do José é sempre bom ter mais sugestões. Instalei-me no hotel Mar Azul e fechei o passeio (por 25 soles) com eles mesmos.
Fui almoçar no restaurante Bahia, simplesmente excelente. A entrada foi uma espécie de grãos de milho torrados, só que gigantes. Já o prato principal foi lula empanada com fritas e, para completar, com uma linda vista do mar. Ao sair do restaurante, dei uma caminhada e retornei para o hotel rapidamente, pois o sol estava pegando. Descansei por uma hora e meia e conversei com a Carla no MSN. Peguei a moto, abasteci-a e fui em direção sul acompanhando a praia até encontrar uma placa de acesso restrito pois era uma área de reprodução de animais silvestres. Embora a estrada de chão continuasse, não houvesse nenhuma cancela e a minha curiosidade ser grande, respeitei a placa e retornei. Neste caminho, passei por muitas casas de veraneio dos ricaços de Lima, imagino eu.
Depois, fui em direção norte, com uma pausa no monumento da cidade, no alto de uma duna. Muito bonito, vale a parada. Para o norte fui pouco, pois estava de bermuda e camiseta e a estrada é a de ligação a Pisco, com muito trânsito, achei prudente voltar.
Deixei a moto no hotel e fui caminhar na orla aguardando o por do sol. Embora já tivesse visto o pacífico em outras vezes essa foi a primeira vez que tinha a oportunidade de ver o pôr do sol. Simplesmente magnífico.
Recolhi a moto para dentro do saguão do hotel conforme combinado. Confesso que deu um certo receio, pois a porta era estreita e de vidro e, para ajudar, dois degraus para subir, isso fora os dois degraus que haviam para subir na calçada que era alta – ainda bem que a XT é alta. Tomei um banho e fui dar uma volta pelo calçadão à beira mar, onde praticamente só andavam gringos de todos os cantos do mundo.
12º dia – 11/04/2012
Paracas (PE) – Puquio (PE): 399 km
Acordei antes do despertador e, ao arrumar a mala, resolvi fazer uma mudança radical. Inverti as peças sobressalentes e ferramentas do bauleto para os alforjes e levei as roupas, material de higiene e laptop para o baú. Essa nova disposição ficou bem melhor, pois ao chegar nos hotéis passei a me instalar carregando tudo de uma só vez. Na mão direita o bauleto, na mão esquerda o capacete e jaqueta e a tira-colo a bolsa de tanque.
Às 7h15 subi para tomar o café da manhã com um visual incrível da baia e as 7h45 estava no saguão aguardando o guia para o passeio às Islas Ballestas. Fomos a pé para o cais e as 8h15 o barco saiu com 39 passageiros, o guia e o comandante. É uma lancha gigante com fileiras de 4 lugares e para impulsionar dois potentes motores de 200 HP. Passamos em frente ao Candelabro, que é uma figura de 30 metros de altura feita na encosta de um morro. Segundo o guia, estudiosos afirmam que não foi feito pelo povo nazca, apesar da semelhança.
Dali, a lancha seguiu em direção as Islas Ballestas, que ficam a 18 quilômetros da costa. O mar estava bem calmo / liso e 30 minutos depois de passarmos pelo Candelabro estávamos nas Islas Ballestas (arcos em espanhol). As ilhas são todas rochosas e possuem inúmeros arcos, cavernas e galerias escavadas pela água do mar. Mas o que mais impressiona é a fauna. O comandante faz diversas manobras durante a volta na ilha de forma que todos podem fotografar muito bem pinguins, gaivotas, gaivotas de bico preto e leões marinhos. Em duas horas estávamos no cais novamente. Vale muito a pena este passeio.
De volta ao hotel, coloquei a bagagem na moto e às 10h50 estava na estrada. Segui direto até Nazca, sem paradas, e as 13h30 estava abastecendo no primeiro posto da cidade. Após 30 minutos parado (abastecer, esticar as pernas e “almoçar”) contornei Nazca e acessei a ruta 26A.
A partir daí, definitivamente, deixei o deserto para trás e comecei a subir a cordilheira novamente, só que desta fez de oeste para leste. A estrada sai de 500 msnm e chega a pouco mais de 4300 msnm em menos de 100 km. Quando estava chegando próximo dos 3600 msnm, entrei em uma nuvem densa que começou a molhar a roupa e dificultando muito a visão. Coloquei mais roupas e a capa de chuva e desta forma não passei frio.
Assim que cheguei ao Parque Nacional Pampas Galeras, a estrada passou a ficar cheia de buracos e foi assim até Puquio. A nuvem densa virou chuva, que junto com a neblina, a quantidade enorme de curvas e muitas pedras na pista e os buracos, tornou a viagem lenta, tanto que cheguei a Púquio somente às 17h15. Mesmo com todos esses ingredientes que deixariam qualquer viagem de moto estressante, eu curti muito, pois o visual é lindo, com grandes penhascos, montanhas e muitas flores roxas na beira da estrada.
Dei uma rápida volta pela cidade e parei no Hostel El Eden. Simples, mas bom e com um pátio fechado do outro lado da rua para guardar a moto.
Diferente de praticamente todas as cidades que havia passado até agora na viagem, Puquio não tem poeira nem barro, pois todas as ruas são calçadas em concreto. Todas estreitas, em ladeira e com um fluxo frenético de tuc-tucs (aqueles triciclos característicos do Peru). Na minha pernada (que sempre faço em minhas viagens nas cidades que chego), não encontrei locutório que fizesse ligação para o Brasil e a internet das lan houses não estavam funcionando. Pela primeira vez, utilizei o celular para falar com a minha mulher, não quero nem ver a conta…..
Puquio (PE) – Cuzco (PE): 515 km
Sai as 7h30 em direção ao centro para comprar luvas, pois apesar das luvas impermeáveis que usei ontem, as minhas luvas de couro umedeceram. Depois de parar em algumas lojas, encontrei um par de luvas de courino revestidas com lã sintética que saíram por 12 soles. Não era nenhuma maravilha, mas com certeza resolveriam.
No retorno ao hostel, parei para tomar café da manhã na lanchonete ao lado do hostel, onde por 2 soles foi servido dois mistos quentes e uma xícara de café. Fiz o check out, coloquei a bagagem na moto, abasteci-a e as 8h40 estava na estrada.
A temperatura estava 6ºC e o céu parcialmente nublado, porém poucos quilômetros depois, começou uma pequena chuva. Como estava preparado, não passei nem frio e nem me molhei. Uns 40 quilômetros de Puquio, comecei a ver algumas pedras de gelo na pista, fiquei intrigado, mas a minha conclusão é que estava nevando mais à frente e estas pedras estavam sobre algum caminhão e foram caindo no caminho. Quando o GPS marcou 4200 msnm tudo ficou branco. Não estava nevando, mas pela quantidade de neve acumulada, imagino que deve ter nevado muito a noite, principalmente na região da cidade de Negromayo. Apesar da neve, não passei frio, exceto no rosto, pois a viseira estava embaçando forçando-me a deixá-la entreaberta.
A estrada continuava com algumas pedras e buracos, agora com pedras de gelo e muito lisa, me obrigando a andar bem devagar. Não preciso nem dizer que fiz inúmeras paradas para tirar fotos.
Em Abancay, abasteci e fiquei surpreso com a quantidade de lama nas ruas da cidade. Ao sair da cidade, comecei a subir novamente e posso dizer que estrada estava um caos. Além de alguns buracos, muita água escorria das encostas e em vários pontos corriam verdadeiros rios sobre a estrada, alguns com mais de 20 centímetros de profundidade. Para completar, havia muitos desmoronamentos e uma película de barro sobre a pista, deixando-a muito lisa. Este cenário me acompanhou por um pouco mais de 40 quilômetros.
A 50 quilômetros de Himatambo, a estrada consegue ficar pior ainda, a ponto de desaparecer por completo, ficando somente saibro e sem avisos. Essa situação foi até Himatambo, depois disso a estrada voltou a ficar boa.
Em Nazca, quando estava revendo o meu planejamento, imaginei dormir em Himatambo por ser mais barato e, no dia seguinte, completar o trajeto chegando junto à Carla em Cuzco, mas a cidade não tem nada. Não sou fresco e durmo em qualquer lugar, mas o mínimo de higiene ter que existir e a única hospedagem da cidade não atendia este requisito básico e por isso resolvi tocar até Cuzco, mesmo sabendo que pegaria uns 20 minutos de estrada a noite, que na prática acabaram sendo 40 minutos. Da mesma forma que no dia anterior, todos os percalços da estrada não tiraram a beleza e prazer da viagem – sem dúvida alguma, percorrer os 683 quilômetros entre Nazca e Cuzco é uma experiência fantástica e, se em algum outro momento eu passar pelo Peru, vou refazer este trajeto.
A minha reserva, aquela feita ainda em Curitiba, era no Los Portales Hoteles e quando cheguei à Plaza de Armas (após quase 1 hora de trânsito caótico), perguntei pelo hotel. Segui as instruções e rapidamente cheguei ao hotel, mas a recepcionista disse que não havia reserva alguma. Fiquei bem preocupado, mas graças a Deus, felizmente, logo tudo ficou esclarecido, eu estava no Los Portales Hotel. A recepcionista me explicou como chegar ao hotel correto a apenas 8 quadras de onde eu estava.
Finalmente às 19h50 cheguei ao hotel, fiz o check in e levei mais 20 minutos para guardar a moto, pois o local que havia combinado no ato da reserva para guardar a moto estava cheio de objetos. Fizemos (eu e mais 5 funcionários do hotel) uma operação de guerra para livrar a porta de acesso e, finalmente, consegui guardar a moto. Instalei-me confortavelmente, tomei um banho e fui a pé até a Plaza de Armas (a 3 quadras do hotel) onde jantei uma deliciosa pizza de peperoni.
14º dia – 13/04/2012
Cuzco (PE): 0 km
A única tarefa obrigatória que tinha para o dia era ir a uma lavanderia e foi o que fiz assim que saí do hotel. Deixadas as roupas para lavar, muito calmamente fiz um city tour a pé pelo centro histórico. Ao todo, visitei as 11 igrejas do centro histórico, muitos monumentos, praças e atrações arqueológicas – a cidade é muito bonita e movimentada. Depois de ler muitos relatos de pessoas elogiando a Plaza de Armas de Cuzco, confesso que esperava mais. Ela é bonita, mas em minha opinião a de Arequipa dá de dez a zero. Na rua onde está localizada a pedra dos doze ângulos, dá para ver claramente a diferença entre uma construção Inca e uma espanhola, os Incas davam um show, os encaixes são simplesmente perfeitos.
Para almoçar, optei pelo restaurante La Estancia El Inca (na Plaza de Armas) onde a comida é muito boa e a música (ao vivo) melhor ainda. O prato escolhido foi alpaca grelhada. Após o almoço, caminhei mais um pouco pela cidade, voltei para o hotel e fiquei aguardando, muito ansioso, a chegada da Carla. Colocamos o papo em dia e fomos à Plaza de Armas para que ela conhecesse e também para jantar no mesmo restaurante que almocei, uma pena que os músicos não apareceram – fiquei muito decepcionado. Depois do jantar, fomos a mais algumas lojinhas e no retorno para o hotel, passei pela lavanderia para pegar as minhas roupas.
15º dia – 14/04/2012
Cuzco (PE): 0 km
Como os passeios pelos sítios arqueológicos estavam marcados para a tarde, descansamos um pouco mais que o habitual. Após o café saímos para caminhar pelo centro histórico e fazer algumas comprinhas. E aí fica a dica, tudo é praticamente a metade do preço no Centro de Artesanato de Cuzco, na calle El sol a cinco quadras da Plaza de Armas. Vale a caminhada.
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Às 12h45 a van passou para nos pegar e fomos visitar os sítios arqueológicos de Cuzco. A primeira parada foi em Sacsayhuanám, onde o tamanho das pedras e a perfeição dos encaixas impressionam. Ele fica no alto de uma montanha praticamente dentro de Cuzco, por isso, a vista da cidade é muito legal. A guia nos acompanhou neste dia, ao contrário de todos que tinha pego até agora, era muito ruim, falava somente o necessário e com mal humor estampado na cara – até mereceu uma reclamação no escrito quando retornei ao hotel.
Ficamos em torno de 40 minutos neste sítio e fomos em direção ao sítio arqueológico Qenqo, uma espécie de espaço religioso. Retornamos à van e fomos para Puca Pucará. Estas ruínas tinham a função de aduanas do império Inca. Não é uma construção muito grande e não chamou muito a minha atenção. Fiquei mais encantado com o visual do vale logo abaixo das ruínas, tanto que tirei mais fotos do vale do que das ruínas.
O último sítio arqueológico visitado fora da cidade de Cuzco foi o Tambomachay (também conhecido como Bano Del Inca). Ele está localizado a 3850 msnm e é uma espécie de fonte. Há uma construção muito bonita e conservada na encosta de um pequeno morro e em alguns pontos há fontes com muita água correndo dela. Neste ponto, a guia comprovou como era ruim, pois virou as costas e deixou parte do grupo para trás – duas senhoras que estavam andando devagar, minha mulher e eu que resolvemos ajudá-las a andar sobre o caminho de pedras. Quando chegamos à van, a guia só faltou nos xingar.
Quando começamos a retornar a Cuzco, o tempo começou a ficar muito fechado e, quando chegamos à Catedral, o céu estava totalmente preto. Entramos na igreja e fizemos uma visita parcial, pois a guia pulou parte dos ambientes abertos à visitação. A igreja é muito bonita, uma pena que não é permitido fotografar. Quando saímos, o mundo estava caindo! Compramos duas capas de chuva de um garoto que estava faturando muito bem, pois todos estavam ávidos por capas. Entramos na van e demoramos quase 40 minutos para chegar ao convento Santo Domingo / sítio arqueológico Qorikancha, a apenas 3 quadras de distância. Esse convento foi a construção espanhola que mais gostei em Cuzco. De todos os passeios do dia, esse foi o que mais me impressionou, principalmente pela perfeição das construções incas, embora tenha restado pouca coisa, pois o convento foi construído sobre as estruturas Incas.
Ao sair, optamos por ir a pé para o hotel, pois ele fica a uma quadra de distância, mesmo com chuva muito intensa e o friozinho da noite (em torno de 12ºC). Não estávamos a fim de ficar presos na van por mais meia hora para dar a volta no quarteirão. Tomamos um banho, jantamos no hotel e fomos arrumar as malas para o dia seguinte.
16º dia – 15/04/2012
Cuzco (PE) – Aguas Caliente (PE) – Macchu Picchu (PE) – Águas Calientes (PE): 0 km
Deixamos as malas e a moto no hotel e com duas mochilas de ataque (uma de 20 litros e outra de 25 litros) com as roupas para dois dias de viagem, fomos em direção a Machu Picchu. Às 7 horas a van nos pegou e levou-nos para a estação de trem. Para minha surpresa, ao invés de pegar o trem pegamos um ônibus e fomos até Ollantaytambo. O caminho repleto de belos vales e picos nevados foi feito em 1 hora e 45 minutos. Já dentro do trem, a euforia começou a tomar conta, afinal estávamos prestes a chegar a Machu Picchu. As 11h30 estávamos em Águas Calientes e, ao chegar, demos uma de juvenil (como se nunca tivéssemos viajado antes).
O guia já nos aguardava na estação de trem e disse que tínhamos que ir direto para o outro ônibus que dá acesso a Machu Picchu. Foi aí que erramos, pois deixamos as malas com os funcionários do hotel que reservamos (eles também nos aguardavam na estação de trem). E assim, seguimos para Machu Picchu sem capa de chuva e comida. Fomos para as ruínas munidos somente de máquinas fotográficas e muita vontade de conhecer uma das 7 maravilhas do mundo. Depois de 25 minutos de zig e zag, chegamos à entrada do sitio arqueológico.
No parque, ficamos 3 horas e meia apreciando boquiabertos aquele lugar magnífico. Fiquei muito impressionado com as ruínas e mais ainda com a localização geográfica em que foi construída – são montanhas simplesmente lindas!!!
Na última meia hora pagamos pelo erro cometido na estação de trem, pois pegamos a maior chuva. Ou seja, estávamos com fome, sede, frio e molhados – uma beleza……
Terminado o passeio guiado, pegamos o ônibus para retorno a Água Calientes e, quando chegamos lá embaixo, fomos direto para o hotel Inkaterra. Diga-se de passagem, sem dúvida alguma, o melhor hotel da cidade. Não que tenhamos escolhido este, mas sim pelo bom trabalho da dona da agência de turismo Cadiz que conseguiu um up grade na nossa reserva, sem custo algum. Depois de um belo banho, nos aquecer, saímos para visitar o centrinho e jantar. Mas antes de abastecer o estômago, tentei comprar o ingresso para subir o Wayna Picchu (aquela montanha que aparece atrás das ruínas em todos os cartões portais), uma pena que o último fora vendido 10 minutos antes – são apenas 400 ingressos por dia.
17º dia – 16/04/2012
Aguas Caliente (PE) – Macchu Picchu (PE) – Águas Calientes – Cuzco (PE): 0 km
As 7h30 fizemos o check out, após termos tomado uma café da manhã de rei e pegamos novamente o ônibus para Machu Picchu. Desta vez fomos sem o guia e pegamos caminhos não tão tradicionais. Desta forma, tivemos a oportunidade de ver as ruínas de outros ângulos além de contemplar o lugar com muito mais calma. Não que o passeio guiado tenha sido ruim, mas por nossa conta foi bem mais legal. Como estávamos dispostos a subir uma montanha e o Wayna Picchu não foi possível, resolvemos subir o Intipunku. Esta montanha tem a mesma altitude do Wayna Picchu, porém a subida é bem menos íngreme e por isso afasta-se um pouco das ruínas. Para compensar, desta montanha é possível ver o rio Urubamba serpenteando entre as montanhas, a cidade de Águas Calientes e as ruínas ao longe.
Depois de 6 horas no sitio arqueológico, retornamos a Águas Calientes. Fizemos algumas comprinhas de souveniers e relaxamos na praça ao lado do rio Águas Calientes até a hora de pegar o trem. Na volta, ele foi até Poroy, numa viagem cansativa de 3,5 horas. Ao descer do trem, uma van já nos aguardava para levar-nos ao hotel. Mais uma vez, estávamos cansados a ponto de não querer sair para jantar, por isso optamos pelo restaurante do hotel.
18º dia – 17/04/2012
Cuzco (PE) – Vale Sagrado (PE) – Cuzco (PE): 0 km
Para o último dia juntos na viagem, programamos um passeio mais light. As 8h30 o micro ônibus nos aguardava para irmos ao Vale Sagrado. Após algumas paradas para “coletar” outros turistas, o ônibus parou em Awana Kancha, uma cooperativa. A princípio achei que seria uma parada inútil, mas já nos primeiros minutos mudei de ideia. Além de ver as diferenças (lado a lado e ao vivo) entre Lhamas, Alpacas, Vicunhas e Guanacos, tivemos a oportunidade de alimentar as Lhamas e as Alpacas. Ainda dentro da cooperativa, vimos como são feitos os tecidos artesanalmente, bem como diversos produtos maravilhosos (caros também). Recomendo este passeio, diria até ser imperdível.
Dali seguimos para a famosa feira de Pisac, onde pode-se encontrar quase todo o tipo de artesanato possível, bem como muita prataria. Praticamente tudo estava mais caro que no Centro de Artesanato de Cuzco e por isso não compramos nada. Seguimos “viagem” e a próxima parada foi para almoçarmos no San Agustin Monasterio de la Recoleta Hotel (já incluso no pacote contratado com a Cadiz Turismo em Curitiba). Se estiver passando por Urubamba, próximo ao horário do almoço, sugiro parar neste restaurante, a comida é muito boa e a música ao vivo também, além de um lindo visual.
À tarde, fomos a Ollantaytambo para conhecer as ruínas de mesmo nome. Segundo o guia, no auge do império inca era maior e estrategicamente mais importante que Machu Picchu, porém como o acesso é muito mais fácil, a destruição promovida pelos espanhóis foi muito maior. Por este motivo e por estar dentro da cidade, ela não tem a mesma magia de Machu Picchu. Para tirar um pouco mais do encanto, a quantidade de turistas era muito grande, chegando a formar “engarrafamentos” nas escadarias.
As 17h30 chegamos ao hotel, arrumamos as malas e jantamos no quarto.
19º dia – 18/04/2012
Cuzco (PE) – Chivay (PE): 411 km
Tomamos o café da manhã calmamente curtindo o momento, pois nos próximos 10 dias estaríamos longe um do outro. As 7h50 a van passou para pegar a Carla e leva-la ao aeroporto. Fiz o check out, coloquei todos os apetrechos na moto e as 8h15 saí do hotel, mas só cheguei na estrada, efetivamente, às 9h10. E olha que só fiz uma parada rápida para abastecer, o restante do tempo perdido foi por conta do trânsito.
Assim que a condução começou a ganhar ritmo, levei um dos maiores sustos da viagem. Ao sair de uma curva, me deparei com um pastor conduzindo calmamente o seu rebanho de ovelhas de um lado para o outro da estrada. Modéstia à parte, mandei bem e com a ajuda de Deus consegui evitar a colisão. Consegui parar a moto controlando os freios (freando e soltando-os fazendo o papel do ABS) principalmente para que a moto não saísse de traseira. Não deu nem 10 minutos que me recuperei do susto fui obrigado a parar para vestir a capa de chuva e, deste ponto em diante, peguei garoa, pancadas muito fortes de chuva e até neve até chegar ao destino do dia.
Segui o percurso que havia planejado e fiquei surpreso, pois na minha preparação seriam 341 km de Cuzco a Chivay. Entretanto, rodei 401 km, o que não chega a ser um problema. O que pegou foram os 145 km em estrada de chão que, com a chuva, estava uma verdadeira papa (e o meu mapa dizia que era de asfalto?????). Praticamente todo este trecho está entre os 4200 e 4700 msnm, sempre subindo e descendo. Em um dos momentos, quando passei os 4750 msnm. Nevou durante uns 10 minutos (embora já tivesse visto por diversas vezes glaciares e neve, esta foi a primeira vez que a vejo caindo). Apesar desta adversidade toda, felizmente não caí nenhuma vez e também não passei frio – e nem cheguei a usar os forros da jaqueta e da calça de cordura.
Ainda sob muita chuva, cheguei a Chivay as 18h30 com a moto imunda, bem como a minha capa de chuva. Hospedei-me no hostel El Caminante. Limpo, com chuveiro bem quente e chochera. Após o banho (onde aproveitei para lavar a capa de chuva), agendei o passeio ao Cânion Colca e fui jantar. Antes de retornar para o hotel, passei em uma lan house para mandar notícias para a Carla e meus pais.
Nos meus preparativos, vi relatos muito legais sobre o Cânion Colca e por isso estava ansioso para conhecê-lo, entretanto, diante de um dia inteira de chuva, estava preocupado em não poder apreciar a paisagem.
20º dia – 19/04/2012
Chivay (PE) – Puno (PE): 333 km
As 6h45 fui para a frente do hostel e, para a minha surpresa, o céu estava limpinho – meu sorriso foi de orelha a orelha. Aguardei 5 minutos e a van apareceu praticamente cheia, com somente um banco livre. Praticamente todos haviam saído de Arequipa as 4 horas da manhã e estavam com caras de cansado. Até chegar ao cânion propriamente dito, a van fez duas paradas. A primeira no vilarejo de Yanko que achei muito sem graça, pois tudo que estavam mostrando na praça principal já havia visto – lhamas, vestimentas, etc. A segunda parada foi para ver o vale Colca, essa sim, valeu a pena pois o visual é simplesmente um show.
Depois de uma hora e meia de curvas, chegamos ao parque e a guia perguntou se queríamos ir pela trilha. Parte do grupo disse que sim e outro foi até a Cruz Del Condor de van. Optei pela trilha de 45 minutos com um visual incrível. A referência de dimensões que conhecemos deixa de existir, pois o rio Colca está a 3600 metros abaixo dos turistas que podem caminhar na beira dos penhascos da margem esquerda. A outra margem está a 3800 metros do rio que está a 300 msnm.
Os mirantes no final da trilha (para aonde a van foi direto) estavam abarrotados de gente. Na primeira passada dos condores, consegui uma foto legal e nos 40 minutos seguintes fiquei sentado curtindo o visual e fotografando os condores sem compromisso pois já havia feito um bom registro deles.
No retorno, a van parou mais duas vezes, uma para ver aonde começa o Cânion Colca e onde termina o Vale Colca – mais uma vez um visual de tirar o fôlego. A outra parada foi em Maca somente para compras (também não vale a pena). As 12h15 chegamos a Chivay.
Sem dúvida nenhum, a beleza do lugar vale os 145 km de terra do dia anterior, faria tudo de novo se fosse necessário.
Arrumei as malas, abasteci a moto e dei uma boa revisada na “valente”. Foi aí que descobri algumas avarias causadas pela estrada de chão, foram elas: os dois faróis auxiliares quebrados e um vazamento no retentor da bengala esquerda. Às 13 horas deixei o posto com a meta de ir até Juliaca, dividindo o caminho entre Chivay e La Paz.
A saída de Chivay merece ser feita com muita calma, pois tão grande quanto a beleza do visual são os precipícios à beira da estrada e quantidade de curvas muito fechadas. Sempre em subida, a estrada me levou ao “topo da viagem” (4886 msnm). Para ajudar, muitas crateras e desmoronamentos. Depois do Mirador dos Volcanos, a 84 quilômetros de Chivay, a estrada passa a ser um tapete plano e com longas retas a 4200 msnm e com poucas curvas, o que permitiu um excelente rendimento (totalmente diferente se comparado ao dia anterior). Só precisei parar uma vez para pôr mais uma luva quando começou a chover pedra, chuva esta que me apedrejou por pouco mais de 15 quilômetros.
Na entrada de Juliaca, parei para abastecer e pude observar que a cidade é muito feia e o trânsito também. Como era cedo, optei em seguir viagem até Puno, onde cheguei as 17h40. Para achar um hotel, levei quase 1 hora, pois todos em que parava ou eram muitos simples ou sujos ou sem garagem. O único meia boca que achei fiquei, porém paguei caro.
Depois de instalado e com banho tomado, sai para conhecer a cidade que é bem movimentada. Nela há um calçadão cheio de restaurantes, casas de cambio, lojas de souvenires e, obviamente, muitos turistas. Fui conhecer o mercado popular deles (uma espécie de mercado municipal) e depois passei em um hipermercado, o primeiro desde o começo da viagem, onde comprei Habas Saladas (uma espécie de castanha, muito bom).
21º dia – 20/04/2012
Puno (PE) – La Paz (BO): 272 km
Acordei sem pressa, pois tinha poucos quilômetros para serem vencidos no dia e fui tomar café. Durante uma mordida e outra procurei mapas da Bolívia para o GPS, porém vão. Com tudo na moto, saí as 9h45 do hotel e ainda dentro da cidade, fui parado pela polícia de trânsito. Solicitaram a documentação da moto, as minhas, o registro da aduana e o SOAT. Entreguei tudo, exceto o SOAT, pois não havia comprado. O guarda disse que não poderia liberar-me sem este documento e, durante a conversa, argumentei que havia percorrido meio Peru e havia sido parado várias vezes pela polícia (mentira) e que em nenhum momento haviam me pedido o tal seguro. O guarda saiu com os meus documentos na mão e alguns segundos depois voltou mandando seguir viagem meio contrariado.
Assim que saí do caos da cidade, pude curtir o visual do lago Titicaca, simplesmente magnífico. Fui contornando-o até chegar a Desaguadero, onde fiz a aduana / migração Peruana em 10 minutos e a boliviana em 20. Na segunda, as fotocópias dos documentos (passaporte, carteira de motorista e documento da moto) foram solicitadas e como havia pego dicas na internet, estava com todas a postos. Segundo relatos, se não entregar as cópias para o fiscal não entra na Bolívia e procurar algum lugar para fazer isso ali deve ser um caos, pois a cidade é muito mais tumultuada e feia que Ciudad Del Leste no Paraguai. Após resolvida a documentação para a entrada da moto no país, é necessário preencher uma ficha na migração e rapidamente aparece um facilitador (com caneta na mão). Como eu tinha a caneta e o documento é extremamente simples de se preencher, recusei o serviço.
Assim que cheguei à estrada, parei para abastecer e paguei em soles pois ainda não tinha nenhum boliviano em mãos. Falando em cambio, optei em fazê-lo somente em La Paz, pois Desaguadeiro não inspirou confiança.
As estradas bolivianas, percorridas neste dia, são um pouco deformadas pelos caminhões (afundadas) e com alguns buracos. A pintura do asfalto praticamente já não existe mais e as placas são relativamente velhas. Há poucos carros e caminhões, porem muitas vans caindo aos pedaços. Para compensar o pouco transito na estrada, o trânsito em El Alto é um caos, principalmente no acesso à autopista que leva até La Paz.
Como havia decorado o mapa no dia anterior, por conta do problema com o GPS, cheguei à região que queria ficar em La Paz sem problemas, com exceção do trânsito. Levei quase 1 hora para chegar ao hotel (cheguei as 17 horas no horário boliviano, uma hora a menos que no Brasil). Fiquei no hotel Continental, uma espécie de albergue da juventude, com quartos e banheiros individuais, bom e com um movimento intenso de turistas do mundo inteiro. O local para guardar a moto é seguro, só que das 5h30 as 12 horas não é permitido sair, pois há uma feira que fecha a rua todos os dias.
Dei uma volta a pé, parando em diversas lojas de equipamentos para alpinismo / montanhismo (me controlei e não comprei nada). Também fui conhecer o Mercado de las Brujas e fiz cambio dos soles que tinha. Retornei ao hotel, onde jantei e arrumei as malas para sair bem cedinho para percorrer a Estrada dos Yungas, mais conhecida como Ruta de La Muerte.
22º dia – 21/04/2012
La Paz (BO) – Coroico (BO) – La Paz (BO): 210 km
Sai às 5h25 para não ter problemas com a feira e, ainda escuro, fiz toda a subida para sair de La Paz até chegar aos 4680 msnm (ponto mais alto do dia). O trânsito estava bem tranquilo, até parecia cidade de interior.
Quando comecei a descer, o dia clareou e algumas nuvens começaram a surgir e, aos poucos, foram tomando conta, até que começou a chover. A estrada nova que leva até Coroico já vale o passeio, é cheia de curvas em uma descida íngreme e constante, com muitos viadutos e pontes e montanhas muito altas com muita vegetação. Uma pena que em alguns trechos alguns desmoronamentos a danificaram. As 8h10 estava em Coroico e, para meu desespero, o único posto de combustíveis não tinha gasolina. Fiz e refiz a contas diversas vezes e cheguei à conclusão que retornando a La Paz pela Ruta de La Muerte chegaria com menos de um litro no tanque. Sendo assim, resolvi ir em frente, mesmo sendo um pouco arriscado – eu não iria desistir estando ali.
Foram 24 km muito íngremes com precipícios gigantes, porém eu não conseguia ver o fundo do vale por conta das nuvens. A chuva já havia parado, mas o tempo ainda estava muito fechado. Quase deixei a buzina da moto rouca, pois em todas as curvas eu buzinava, afinal a estrada é muito estreita, as curvas são fechadas e na grande maioria sem visibilidade. Em um certo momento encontrei um ônibus descendo e como quem sobe deve ficar a esquerda (mão inglesa) do lado do barranco, fui para o canto. Como observei que não daria espaço para os dois, entrei na valetinha existente bem no cantinho e encostei o guidão no barranco. O ônibus passou com as rodas do lado esquerdo praticamente no precipício e lambendo o guidão. Na hora de sair, a roda traseira afundou inteira na lama até a balança. Foi um sufoco tirá-la, mas felizmente consegui. Depois desse encontro, tive outros mais tranquilos, foram três carros e umas 30 bicicletas.
A estrada, para quem nunca ouviu falar, era a única ligação entre La Paz e Coroico até a alguns anos atrás e em 64 quilômetros, que eram todos de terra, o viajante sai de 1100 msnm para 4680 msnm (no sentido Coroico – La Paz). A largura dela em quase toda a sua extensão, varia entre os 4 e 6 metros, que nos tempos “áureos” era usada por carros, ônibus e caminhões que se espremiam entre o barranco e os precipícios de até 800 metros de profundidade. Hoje só restaram 24 quilômetros do traçado original e virou ponto turístico. A grande maioria dos visitantes a faz descendo de bicicleta em pacotes comprados nas agências de turismo em La Paz, no qual é fornecida van para suporte, roupas e a própria bicicleta. O trecho restante da estrada é o mais íngreme, com os precipícios mais profundos, com a menor largura, com 2 rios que cruzam a estrada (por cima dela) e com diversas cachoeiras com mais de 10 metros de altura que caem das montanhas sobre a estrada obrigando os motoristas a passar sob as quedas d’água (muito legal tomar banho de cachoeira de moto e tudo).
Acabados os 24 km, entrei na mesma estrada da ida e, 40 km antes de La Paz, havia um posto com gasolina – fim do sufoco, bom pelo menos desse sufoco. Isso porque na chegada a La Paz tudo ia muito bem até que peguei uma obra no caminho que havia estudado e fui obrigado a fazer um simples desvio, pronto, me perdi…. Por conta disso e do trânsito, dei uma boa volta na cidade e perdi um pouco mais de uma hora e meia para chegar ao hotel. O lado bom da coisa é que circulei por praticamente todo o lado norte e leste da cidade, somando com o que percorri na chegada, lado oeste e sul, posso dizer que conheci bem La Paz.
Finalmente, próximo das 13h30, larguei a moto no hotel, tomei um bom banho e fui almoçar no La Casona Restaurante Café na Avenida Marechal Santa Cruz, um restaurante chique e muito bom. Depois “camelei” para valer, devo ter andado uns 10 quilômetros conhecendo todo o centro.
Antes de retornar ao hotel, passei em diversas agências de turismo para agendar o passeio do dia seguinte. Mas infelizmente não foi possível, por dois motivos. Primeiro não havia grupos fechados e depois fui informado que a nevasca prevista para o dia seguinte no topo do Chalcataya (5410 msnm) impediria o passeio. Não foi dessa vez que ultrapassei os 5000 msnm.
Apesar do trânsito horrível, da zona que são as calçadas e das ruas estreitas, gostei de La Paz, um dia voltarei e para subir o Chacaltaya!
23º dia – 22/04/2012
La Paz (BO) – Cochabamba(BO): 397 km
Para minha felicidade, descobri que a feira não funciona aos domingos, portanto não precisaria madrugar para sair do hotel e as 8h31 liguei a moto. Imaginei que as ruas não estariam muito cheias, mas infelizmente a avenida Santa Cruz, que dá acesso a autopista, bem como ela, estavam fechadas para uma maratona. Peguei informações com um guarda e segui para El Alto. Não errei o caminho, mas o trânsito estava bem complicado e levei uma hora para chegar à avenida que se transforma na estrada para Oruro / Cochabamba. Todo este tempo para percorrer apenas 17 quilômetros e num domingo.
Nesta avenida, em El Alto, parei em três postos que não tinham gasolina, um quarto tinha mas o frentista disse que não poderia vender para estrangeiros. Argumentei que gostaria de conhecer a Bolívia, mas desse jeito seria difícil. O frentista disse que era ordem do chefe, não argumentei mais pois ele estava só cumprindo ordens. Outros dois também não tinham gasolina e finalmente no sétimo posto consegui abastecer, mas paguei praticamente o triplo do valor registrado na bomba. Na tabela para estrangeiros o valor era de 9,25 bolivianos o litro, sendo que para os bolivianos o valor era de 3,14. Neste momento, cheguei a pegar o meu planejamento para ver os planos B, C que havia preparado. Pensei um pouco e resolvi seguir viagem, não seria este problema que me impediria de conhecer a Bolívia – estava determinado.
Finalmente, 2 horas e 45 minutos depois de sair do hotel, iniciei a viagem efetivamente. Mas não rendeu muito, pois no máximo 10 minutos depois fui parado pela polícia. Felizmente só pediram os documentos, anotaram em um caderno caindo aos pedaços um monte de informações e me liberaram.
Em função do problema de abastecimento, resolvi parar em todos os postos que encontrasse à beira da estrada e o primeiro foi em Patacamaya (a 81 quilômetros de El Alto). Ali consegui abastecer pagando um pouco mais que o dobro marcado na bomba. Rodei mais 115 quilômetros e parei em Caracollo para abastecer, mas infelizmente não vendiam gasolina para estrangeiros. Ao subir na moto, observei que o pneu traseiro estava um pouco murcho. Perguntei no posto por uma borracharia (pancharia) e fui informado que um quilômetro atrás havia uma. Enchi o pneu no posto mesmo e retornei. Na borracharia o garoto que trabalhava lá disse que faria o conserto, entretanto não desmontaria a roda. Desmontei a roda, o borracheiro fez o remendo e eu montei a roda novamente. Enquanto montava, observei que as pastilhas estavam bem gastas e que o sistema estava travado por conta do barro (provavelmente de quando encalhei na Ruta de La Muerte). Limpei o que deu.
Com o pneu consertado, voltei para a estrada e parei no outro posto da cidade uns 15 km à frente. Neste, o frentista abasteceu a moto sem criar problemas e pelo mesmo preço dos bolivianos. O frentista foi camarada, pois a tabela da YPFB colada na bomba mandava cobrar os mesmos 9,25 que me cobraram em El Alto.
Finalmente consegui rodar bem por 180 quilômetros e, ao chegar em Cochabamba as 16h50, fiquei muito surpreso (positivamente) com a cidade. Muito organizada e com belas avenidas. A cidade é plana e emoldurada por muitas montanhas. O hotel que fiquei não possui garagem, mas o gerente (acho que o dono) foi super atencioso e ofereceu a sua casa para guardar a moto (na realidade uma mansão que faz fundos com o hotel). Ao retornamos para o hotel, contei os problemas enfrentados com a falta de combustível e ele disse que iria conseguir dois galões de 5 litros para que eu pudesse viajar mais tranquilo.
O atendimento do último frentista e a postura do gerente do hotel fizeram com que eu esquecesse os problemas de abastecimento do país.
Tomei banho, fui jantar e caminhar pela cidade. Antes de retornar para o hotel, passei em uma lan house e atualizei os meus e-mails.
24º dia – 23/04/2012
Cochabamba(BO) – Santa Cruz de La Sierra: 483 km
Às 7h40, sai do hotel e já no posto meu ânimo com a Bolívia foi por água abaixo de novo, pois levei pelo menos 20 minutos para convencer a gerente do posto a abastecer a moto. Depois da “briga” consegui encher o tanque e os dois galões, obviamente pagando o preço de tabela para estrangeiros. Fiz a revisão básica e peguei estrada às 8h30.
Após 90 quilômetros rodados, fui parado pelo exército. Olharam o passaporte e pediram para abrir um alforje, sendo liberado na sequência. Os próximos 50 quilômetros a partir deste ponto, a estrada está péssima, com muitas crateras e trechos totalmente sem asfalto. De tempos em tempos aparece uma placa onde está escrito “Zona Geologicamente Inestable”. Esteja preparado, pois ela está exatamente onde o asfalto acaba e inicia um trecho de terra com muitos buracos e pedras soltas – uma beleza….
Após o término da descida da cordilheira, a estrada volta a ficar boa e, às suas margens, surgem inúmeras cidades / vilarejos, por isso, muita atenção. O calor toma conta, assim como uma quantidade enorme de motos de pequena cilindrada entrando e saindo da estrada sem dar muita atenção para quem esta viajando.
Parei em alguns bares / restaurantes à beira da estrada para lanchar alguma coisa e sempre desistia, pois são todos nojentos. Recorri ao meu estoque de segurança e “almocei” bolacha água e sal e torrones.
Como não estava a fim de me estressar para conseguir abastecer, optei por utilizar os galões reservas e fiz o trajeto todo sem parar em postos de gasolina. Como é bom ter uma grande autonomia, no caso eu estava com suprimento de 23 litros (15 no tanque e mais 4 litros em cada galão).
Cheguei a Santa Cruz de La Sierra as 16h10 e, quando acessei a avenida principal, parei para pedir informação de como chegar a concessionária Yamaha. O fato irônico é que pedi informações na concessionária Honda. Segui as indicações, fiz mais algumas perguntas no caminho e cheguei na concessionária Vicar as 16h40. Infelizmente eles não tinham o reparo da bengala e nem pastilha de freio, mas mesmo assim deixei-a na oficina. Pedi para revisarem o sistema de freio e revestir a pastilha.
Segui a indicação do mecânico e hospedei-me no hotel Elisa, no mesmo quarteirão da concessionária. Tomei um bom banho, vesti bermuda e chinelo (a primeira vez desde que saí de Paracas) e saí para conhecer a cidade. Jantei em frente ao parque central da cidade, onde comi um prato típico da região, o Picado. Nada mais é que um bife a milanesa cortado em pequenos pedaços que vem acompanhado de arroz e batatas fritas – uma delícia.
No retorno ao hotel, tentei falar com a Carla, mas não consegui. Assim que cheguei ao quarto, liguei o ar condicionado e fiquei na internet até pegar no sono.
25º dia – 24/04/2012
Santa Cruz de La Sierra (BO) – Roboré (BO): 429 km
Assim que acordei, fui à oficina, peguei a moto e voltei para o hotel para fechar a conta. Às 10 horas, estava saindo e, antes de me perder, perguntei a um soldado que estava de moto o caminho correto e ele disse para segui-lo. Só tenho a agradecer a Deus, pois em toda a viagem ele colocou pessoas boas em meu caminho.
Após acessar a avenida que vai direto à estrada, parei em dois postos, ambos não tinham gasolina e somente no terceiro consegui abastecer a moto e os galões. O frentista perguntou o meu nome e número do documento, como de praxe, para emitir a nota para estrangeiros, mas na hora de pagar cobrou como se eu fosse boliviano.
Andei 21 km e fui parado pelo exército, que pediu documentos e me liberou. Logo na sequência, peguei a direita em direção a Puerto Suarez. A estrada é novinha em folha, uma beleza. De tão boa, até esqueci que tem um trecho ainda de terra. São 50 quilômetros, mas que só percorri 42, os outros 8 entrei na pista em obras, estavam faltando somente as pinturas. O trecho que percorri é composto por trechos com grandes pedras e erosões e outros cobertos por uma camada de pó bem fino, até parece talco – uma beleza para cair (imagino com chuva). Para completar, a temperatura estava em 38,8 graus, que somado a baixa velocidade, fez com que a ventoinha do radiador ficasse ligada todo o trajeto de terra.
Assim que acaba a terra, tem um boteco, onde pedi uma Coca-Cola, mas só tinha de 2 litros, mandei ver mais de 1 litro! Depois de refeito, retomei a estrada, agora de asfalto e, 30 quilômetros depois, eu estava no acesso a São Jose de Chiquitos. Parei no posto e não quiseram abastecer, apesar da minha choradeira. O frentista, querendo se livrar de mim, disse que havia um posto 4 km à frente e que este vendia combustível para estrangeiros. Coloquei o capacete muito indignado e segui, o pior é que não existia outro posto!
Fiz as contas e segui até Roboré usando os galões reservas. Neste trecho, não passei dos 90 km/h para economizar combustível e não correr o risco de ter uma pane seca. De uma certa forma, andar devagar neste trecho foi providencial, pois as montanhas com seu topos planos são muito bonitas neste trecho entre São Jose de Chiquitos e Roboré e assim pude curtir bem o visual.
Às 16 horas cheguei ao posto de Roboré, se é que dá para chamar aquilo de posto. É um tanque de uns 10.000 litros apoiado sobre cavaletes de madeira e quem controla o posto é o exército. O soldado abasteceu a moto e os galões sem questionar e a preço para boliviano. Pelo marcador analógico da “bomba” (o abastecimento é por gravidade) o tanque da moto tinha somente 100 ml e os galões estavam vazios, mas acho que não estava correto, imagino estar com pelo menos 1 litro no tanque.
Instalei-me no hotel La Plaza, na praça principal da cidade. Simples, mas bom e com lugar seguro para guardar a moto. Saí para dar uma volta, como sempre, e voltei rapidinho para o hotel, a cidade não me transmitiu segurança alguma.
26º dia – 25/04/2012
Roboré (BO) – Campo Grande (MS): 697 km
Sai às 7h20, depois de limpar e lubrificar bem a corrente para tirar o “talco” acumulado no trecho de terra, e as 9h40 estava na fronteira. A estrada continuava um tapete, novinha em folha. O único evento inusitado foi uma boiada sendo tocada bem no meio da estrada, o que me obrigou e a alguns caminhoneiros circular pelo acostamento em meio aos bois.
Como não estava a fim de esquentar a cabeça para abastecer e zerar os bolivianos que tinha, fui direto para a fila da aduana boliviana. Porém, quando percebi, já estava atravessando a fronteira sem passar pela migração, também não fiz questão de voltar, pois vi o tamanho da fila. Quando os soldados me pararam alguns metros à frente, eu gelei por ter passado direto, mas nem documentos pediram, só fizeram perguntas sobre a moto e a viagem. Como fui educado e respondi com atenção, às primeiras perguntas aparecerem mais soldados e, quando me dei conta, já haviam oito deles me enchendo de perguntas
Depois de 10 minutos de conversa, segui para o lado brasileiro, onde pude passar direto, nem sequer me olharam. Fui a um posto no centro de Corumbá para aproveitar e dar uma volta pela cidade (fiz um city tour express). Abasteci a moto e os galões e tentei fazer o câmbio dos 50 bolivianos que tinha, porém não consegui. Entrei na loja de conveniência e fiz um lanche delicioso com direito a ar condicionado – fazia tempo que não via isso em um posto!
De volta à estrada, comecei a cruzar o Pantanal por uma estrada com longas retas e em bom estado de conservação, com exceção dos 30 quilômetros após a ponte sobre o rio Paraguai, que estava com vários buracos. Nesta travessia, vi alguns tucanos e tuiuiús voando, algumas araras paradas em uma espécie de palmeira e duas seriemas, uma cotia e um tatu no acostamento.
Assim que cheguei próximo Campo Grande, transferi a gasolina do último galão para o tanque e joguei-os fora, pois sabia que dali em diante não teria mais problemas com a autonomia da moto. Coloquei o endereço da casa dos tios da minha mulher no GPS e fui direto, chegando às 15h30. Tomei um banho e coloquei o papo em dia com a família. Como é bom se sentir bem acolhido com se estivesse em casa.
27º dia – 26/04/2012
Campo Grande (MS) – Londrina (PR): 631 km
Tomei o café em família e sai as 8h30, junto com eles que estavam indo trabalhar. Ainda dentro da cidade, parei para abastecer e após rodar 55 km, já na estrada, a emenda da corrente soltou. Quando dei uma acelerada um pouco mais forte para ultrapassar ouvi um ruído e parei, só havia soltado a trava e uma placa. Como estava bem preparado e tinha uma emenda reserva, fiz o trabalho no acostamento em 35 minutos, acho que pelos menos 20 minutos foram só para limpar as mãos.
A estrada de Campo Grande até a divisa com São Paulo está impecável, porém, com grande fluxo de caminhões, mas nada que atrapalhasse o rendimento da viagem. Assim que parei para abastecer em Bataguaçú, começou a chover (muito forte) e só parou quando cheguei a Londrina. A estrada entre Presidente Epitácio e Presidente Prudente esta boa, embora com alguns trechos com ondulações (na longitudinal) que acumulavam muita água. Já entre Presidente Prudente e Porecatu, a SP-483, está péssima. Muitos buracos, ondulações, sem acostamento e muito mato no acostamento (quando este existe). A PR-170 que conclui o caminho até Londrina não está diferente.
Seguindo a sugestão de um motociclista que encontrei em Porecatu, peguei à esquerda ao passar por Florestópolis em direção Bela Vista do Paraíso e depois a Londrina. Opção acertada, pois a estrada, apesar de ser estreita e sem acostamento, está um tapete e não aumenta a distância, além de não ter o trafego de caminhões.
Às 18h35 estava instalado em um hotel simples, mas bom e bem barato, próximo à rodoviária de Londrina. Lembrando que perdi uma hora no fuso horário, 35 minutos para arrumar a corrente e muita chuva durante 230 quilômetros.
Para jantar, optei por ir a um hipermercado a uma quadra do hotel, onde fiz um lanche na praça de alimentação e depois comprei algumas guloseimas para ficar petiscando enquanto assistia televisão (em português!)
28º dia – 27/04/2012
Londrina (PR) – Curitiba: 385 km
Embora tivesse poucos quilômetros a percorrer, resolvi sair cedo, pois a saudade estava grande, queria almoçar em casa (comida bem brasileira: arroz, feijão e bife) e como me conheço, se tivesse algum problema na estrada e não cumprisse o programado iria ficar frustrado. Às 6h30 entrei na estrada e de Londrina até a Mauá da Serra peguei um friozinho razoável (7 graus). Depois que comecei a descer a serra, a temperatura ficou em torno de 15 graus e o seu parcialmente nublado e foi assim até Curitiba, onde cheguei as 11h25. A estrada em toda a sua extensão está boa, porém o pedágio é absurdamente caro.
Finalmente em casa são e salvo!!!!
Só tenho a agradecer a Deus por me proteger em toda esta jornada e ter permitido que mais um sonho tenha se realizado. A minha mulher também merece um agradecimento especial, pois me apoiou desde o dia em que comecei a sonhar com a viagem – obrigado meu amor.
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