Viagem de Moto na Patagônia

Todo motociclista deseja viajar e conhecer alguns lugares. Meu nome é Marcos Netto. Sou motociclista há mais de 30 anos e comigo não poderia ser diferente. Sempre tive o sonho de conhecer a Patagônia e os Andes. Apesar de já ter viajado algumas vezes para a Argentina e Chile, nunca havia tido a oportunidade de ir para aqueles lados.

Isto se deu devido a minha atividade profissional. Na condição de gestor de uma empresa de alimentos e bebidas na região metropolitana de Porto Alegre, nosso pico de negócios e trabalho ocorre nos meses de verão, justamente no mesmo período em que as viagens de moto para a Patagônia e sul da Argentina são mais favoráveis devido ao clima. Nesta época é difícil ausentar-me do trabalho por cerca de 3 semanas, tempo mínimo necessário para fazer uma boa viagem de moto e aproveitar bem a região.

Para chegar até lá são necessários vários dias para ir e vários dias para retornar, mesmo pilotando de forma muito rápida. E correr de moto não é o meu estilo. Gosto muito mais de pilotar de forma calma e tranquila, aproveitando para fotografar as paisagens e também o que o trajeto oferece de melhor em termos de cultura e gastronomia.

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Porém, no início de 2019 durante uma conversa com um casal de amigos moradores de Bahia Blanca no sul da Argentina, eles comentaram que um familiar deles, piloto de motocicletas e que já havia inclusive competido no Rallye Dakkar em suas edições na America do Sul, havia iniciado uma operação de locação de motos em Villa La Angostura, cidade vizinha a San Carlos de Bariloche na região dos Sete Lagos na Patagônia Argentina. Na hora eu não dei muita atenção; mas depois eu comecei a pensar se não seria a oportunidade que eu tanto esperava para pilotar pelos Andes…

E a oportunidade chegou em dezembro do mesmo ano! Para minha surpresa descobri que a Aerolineas Argentinas tinha uma rota entre Porto Alegre e Bariloche com um voo que parte da capital gaúcha às 8h da manhã; e com apenas uma conexão de menos de duas horas em Buenos Aires sem nem precisar trocar de aeroporto, chega em Bariloche as 14h30. E com mais um pequeno trecho de van eu já estaria em Villa La Angostura, local de partida dos tours e sede da Moto Rent Patagonia, empresa que faz a locação das motos. E assim fui eu, saindo de Porto Alegre num domingo pela manhã e chegando a Bariloche logo no início da tarde, conforme o programado.

O trajeto de Bariloche para La Angostura é feito numa van cujo bilhete pode ser adquirido pela Internet ou num guichê no próprio aeroporto. Os 80 quilômetros que separam as duas cidades são percorridos em aproximadamente 1 hora, atravessando paisagens lindíssimas entre montanhas e lagos. Recomenda-se reservar este bilhete antecipadamente, tanto na ida quanto na volta.

Viagem de moto patagonia 002 Moto Rent Patagonia

Ao chegar a Villa La Angostura fui diretamente para o hotel sugerido pela Moto Rent Patagonia (MRP), que fica muito próximo à estação rodoviária e na mesma rua onde a empresa está localizada. Após fazer o check in, fui para a loja da MRP para uma reunião com o proprietário e piloto Juan Suarez Zapata, para receber as informações e briefing sobre o tour que eu iniciaria no dia seguinte.

Suarez primeiramente me falou sobre a Moto Rent Patagonia. A empresa foi fundada por ele, motociclista há mais de 25 anos, logo após a última edição do Rallye Dakkar na America do Sul, quando ele havia competido pela Equipe Kawasaki. Na época Suarez percebeu que havia um grande interesse em fazer moto turismo pela região, principalmente por Europeus, mas que poucos conseguiam trazer suas motos para a Argentina devido aos custos de transporte e à burocracia alfandegaria. Assim, percebendo um nicho aberto, ele fundou a empresa que faz locação de motos durante o verão e no período de inverno aluga esquis e snowboards para os turistas.

Juan (a esta altura eu já o chamava pelo primeiro nome) comentou que a temporada de motociclismo na Patagônia vai de outubro a maio. Apesar de ser possível pilotar no inverno, as constantes nevascas e o frio extremo desaconselham os passeios de moto pela região de junho a setembro. Contudo mesmo durante o verão a região conhecida pela neve não decepciona em sua beleza, pois o verde das florestas e a coloração das plantas nativas fazem a moldura perfeita para os picos nevados dos vulcões que existem nesse local.

Viagem de moto patagonia 003 Juan Suarez Zapata

A MRP coloca à disposição de seus clientes uma boa frota de motos, com modelos que vão desde a pequena Yamaha XTZ250, a conhecida “Tenerezinha”, até modelos mais robustos para off road como a Kawasaki KLR650. Mesmo sendo piloto de BMW R1200GS há quase 10 anos, minha escolha foi por uma Tenere 250. Os motivos principais foram dois: primeiro, eu nunca tinha pilotado no ripio (cascalho) da Patagônia. Segundo, caso eu “comprasse terreno nos Andes” (levasse um tombo), queria ter certeza de que eu seria capaz de levantar a moto sozinho, pois estaria pilotando “solito no más” por todo o trajeto.

Não só não levei qualquer tombo como também desfrutei de uma economia bárbara com a Yamaha XTX250. A moto não decepcionou em momento algum, com força e potência suficientes para rodar tanto no ripio quanto no asfalto; sem falar que era uma delícia ao final do dia encher o tanque de combustível e não gastar quase nada, pois além de muito econômica, a gasolina no sul da Argentina é muito mais barata que no Brasil!

Viagem de moto patagonia 001 Yamaha XTZ250

Juan me apresentou o roteiro do tour que eu iria fazer. Ele denominou o trajeto de “Doble Cruce de Los Andes”. O nome é uma referência as duas passagens de fronteira que são feitas durante a viagem: uma entre Argentina e Chile na cidade de Icalma, e outra do Chile para a Argentina em Lanin. (Existem cerca de 18 passagens entre os dois países na região…) O tour é dividido em etapas que compreendem aproximadamente 200 quilômetros por dia. Pode parecer pouco; mas é perfeito para quem gosta de pilotar apreciando a paisagem e por estradas de chão batido. Ao final de cada dia eu chegaria em uma determinada cidade onde já estaria reservado um hotel ou pousada para o pernoite.

Junto com o aluguel da motocicleta que me foi entregue com o tanque cheio, eu recebi um pequeno kit com ferramentas, lubrificante para corrente e uma câmara de ar de reserva. Juan solicitou que ao final de cada dia a corrente fosse lubrificada e nada mais. A moto também tinha pequenos alforjes e top case da marca Givi e junto com a locação eu recebi o capacete, obrigatório para todos os motociclistas na Argentina e Chile. A Moto Rent Patagonia também providencia toda a documentação para entrar e sair da Argentina com o veículo de aluguel, o que foi um baita conforto. Ao chegar nos “pasos de frontera” entre os dois países, bastou apenas apresentar o passaporte e os documentos fornecidos pela MRP e a liberação foi feita rapidamente.

Juan ofereceu-me como cortesia um GPS para colocar na moto. Eu educadamente agradeci e perguntei se ele não tinha um mapa impresso, pois eu gostaria de viajar “como homem de verdade” (risos). Ele então me entregou duas folhas de papel A4 impressas a partir do Google Maps onde eu tracei uma linha com o trajeto que faria. Pilotei como “motociclista de verdade” e também consegui me perder da mesma forma… (risos).

Viagem de moto patagonia 002A O Mapa

Devidamente brifado e preparado, aproveitei o restante do domingo para conhecer a cidade de Villa La Angostura. O local é um conhecido destino turístico do estado de Neuquén na Patagônia Argentina. A cidade é parte da região dos Sete Lagos, um roteiro turístico natural espetacular tanto no inverno quanto no verão. A região possui uma cadeia de montanhas e vulcões que são entrecortados por lagos e rios de águas límpidas e geladas. O destino é muito procurado por turistas argentinos no verão e por estrangeiros no inverno; brasileiros em sua maioria, que acorrem ao local em busca do turismo do frio e da neve para os esportes de inverno. La Angostura tem muitas lojas de artesanato e restaurantes com comidas típicas da região. Destaque para a famosa “parrilla” que é o churrasco no estilo Argentino, regada a excelentes cervejas artesanais e aos vinhos Malbec produzidos na vizinha região de Mendoza.

Mas vamos ao que importa: El Doble Cruce de los Andes!

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