Na madrugada os sintomas da altitude se agravaram e sentia dificuldade para andar, desorientação e sangramento no nariz. Pela manhã eu continuei sentindo mal. Conversei com a recepcionista do hotel na hora do café e ela me deu um comprimido chamado Dramamine 50mg.
Comecei a melhorar aos poucos.
Alguns hóspedes foram embora e ela me ofereceu um apartamento que vagou, mas preferi esperar para ver se melhorava para poder pilotar a moto e voltar, já havia decidido que seria imprudente continuar e arriscar um AVC ou coisa assim ali no meio do nada e sozinho. O sangramento no nariz me deixou apavorado, não é uma coisa comum para mim.
Pedi a ela se poderia estender a estada e dormir mais um pouquinho lá no beliche para me recuperar e ela prontamente concordou. Por volta das 11 horas da manhã me senti um pouco melhor, subi na moto, manobrei dentro do galpão e achei que estava melhor. Não pensei duas vezes, fechei a conta no hotel, subi na moto e parti para a baixa altitude. Tudo o que queria naquele momento era chegar a Pumamarca, mas ainda teria que passar pelo trecho com 4.170 m na volta.
O dia estava quente, muito quente, e saí com um colete, uma camisa de lã e sem a jaqueta. Não andei muito e tive que parar para me agasalhar melhor, porque apesar de fazer calor quando parado, andando o vento era gelado e atingia meus ossos.
Andei mais um pouco e avistei o salar novamente. Não poderia sair dali sem parar e caminhar naquela paisagem incrível, uma recordação para a vida. Antes de parar já vinha cantando “Gracias a la vida que me ha dado tanto” e o capacete mais uma vez ficou emocionado.
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Parei, filmei, fiz algumas fotos, comprei uma miniatura de lhama de sal e parti contente por ter podido parar ali, mesmo sentindo ainda a respiração ofegante e as pernas trêmulas. Passei pelo trecho com 4.170 m sem parar, já havia feito fotos ali e não queira arriscar uma recaída em minhas condições físicas. Quando já se tem 63 anos não dá para vacilar e eu já andava no limite do vacilo.
Filmei a descida com uma câmera tipo GoPro que tenho acoplada ao guidão, e que por sorte não estava na moto quando me acidentei em Monte Quemado. Cada vez que assisto aos vídeos me transporto para lá e curto muito o caminho e as recordações da viagem, dá vontade de voltar. Quem sabe um dia, com uma turma boa e um planejamento melhor?
Quando passei por Pumamarca, nem me dei conta que já estava sem os sintomas do mal da altitude e peguei a RN 9 em direção a Salta. Parei antes de Jujuy para colocar minha roupa Pantaneiro porque começou a chover muito e assim seguiu até próximo a Salta.
Pensei em pousar em Salta para conhecer a cidade porque a havia cortado do roteiro na vinda e tinha agora oportunidade de fazê-lo. Usei as informações do pessoal do relato que eu tinha no bolso e procurei pelo Hotel Continental, no início da zona central de Salta. Um bom hotel e acertei um preço razoável para a hospedagem em um bom apartamento, com jantar, café da manhã e estacionamento, além do usual wi-fi, por 450 pesos, que paguei no cartão. Logo que a transação foi completada, recebi um SMS do Banco do Brasil informando que eu havia gasto 134 reais no estabelecimento tal – e aí pensei, “foi um bom negócio”.
Sobre envio e recebimento de SMS, descobri (porque ignorava) que o chip Vivo permite enviar e receber mensagens em território argentino. Paga-se apenas o envio e aí é salgado – parece que R$ 2,99 por mensagem. O recebimento é gratuito. Então, a cada mensagem para casa eu escrevia uma carta. É caro, mas é uma vantagem, você pode estar em qualquer lugar que tenha cobertura Movistar, que é toda a Argentina, e, mesmo sem wi-fi, comunicar-se com o Brasil.
Salta é uma cidade muito linda, o centro da cidade é também um cenário de cinema. Caminhei pelo centro à noite e as ruas estavam cheias de pessoas passeando, turistas e locais pelas lojas, bares e galerias do centro. Era noite de final de campeonato argentino e Boca e River faziam uma partida. Apesar de eu achar o Boca um time guerreiro, tenho mais simpatia pelo River e quando este venceu a partida, fiquei contente, mesmo sem torcer fervorosamente como o pessoal nas ruas. Cada vitrine ou ponto com TV tinha uma aglomeração aflita a assistir à partida, bonito de ver também.
Comprei algumas lembrancinhas para levar para casa e retornei ao hotel de táxi, dirigido por uma mulher que esteve em Florianópolis no verão passado. É impressionante descobrir que a Argentina esteve ou pretende vir a Florianópolis. Nem precisava falar, a placa da moto já entregava e alguns até falavam “Floripa”, numa intimidade de quem já esteve na cidade algumas vezes ou ficou certo tempo. Embora a maioria não conheça a praia onde moro, no sul da ilha, não me importei com isso, confesso que até gostei de constatar que estamos um pouco preservados.
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