3º dia – de São Miguel das Missões a Concepcion Del Uruguai

Refeitos com o descanso da noite, levantamos aí pelas 6h, como planejamos fazer sempre, e apesar das previsões de chuva para o dia, o tempo estava claro e não parecia que ia chover. Tomamos um bom e farto café da manhã e pé na estrada.

Aproximadamente 1 hora de viagem depois, tivemos uma tenebrosa visão. Parecia que o céu estava ligado à terra por uma parede, de tão escura e densa que estavam as nuvens à nossa frente. Tivemos que parar e colocar nossas eficientes capinhas de chuva de motoboy para nos proteger. Assim, entramos na tormenta. E foi chuva pra valer. Forte e constante, com raros momentos de moderação.

Passamos sobre uma ponte antiga e enorme sobre o Rio Ibicuí, mas de mão única. Tinha um semáforo na entrada e tivemos que esperar um tempo para podermos seguir.

Quando chegamos a Uruguaiana a chuva estava intensa. Estava com muito trânsito, pois era sábado, por volta das 12h30. Achamos um restaurante self-service no estilo bom e barato, mas para descer das motos tivemos que andar dentro de um rio, no qual a rua se transformou.

Entramos no restaurante todos molhados por fora, tiramos as capas e estávamos todos secos por dentro. Almoçamos muito bem e pegamos uma dica com o sócio do restaurante, sobre onde fazer o câmbio de dinheiro do outro lado da fronteira. Eita, a fronteira! Nem me lembre.

A chuva caia com força e entramos em uma cobertura onde fomos orientados a nos dirigir a um pátio com o passaporte e o documento da moto nas mãos. Nessa hora, todo satisfeito, abri o bauleto, peguei o pacote ande estavam todos os meus documentos, saquei o passaporte e…, cadê o documento da moto? Não achei. Gelei a espinha. Procurei no restante do bauleto, nos meus bolsos, pensei em ligar para o hotel em São Miguel das Missões, para ver se não ficou esquecido lá, etc. Falei com o Rogério e o Geraldinho. Decidi tentar entrar sem o documento mesmo. No guichê da imigração apresentei o passaporte e foi solicitado o documento da moto. E agora? Disse que não tinha achado o documento. Para minha surpresa, o agente só me perguntou o número da placa, eu informei e ele me autorizou a passar. Foi um alívio para poder seguir, mas fiquei preocupado com o que viria pela frente.

Seguimos para o ponto de fazer o câmbio, mas já estava fechado, devido ao horário adiantado do sábado. Como estávamos sem pesos argentinos para continuar a viagem, tivemos que fazer o câmbio com os cambistas nas barraquinhas da rua mesmo. Trocamos bastante dinheiro, quase que para a viagem toda. Senti uma certa malícia do cambista dizendo que minha contagem dos reais estava faltando R$50,00, Ele contou de jeito muito rápido, que não dava para eu acompanhar e deu R$50,00 a menos. Eu tinha certeza que estava certo. Peguei o dinheiro da mão dele e contei novamente, dando o valor correto, e ele concordou com minha contagem.

Feita a troca, pegamos a estrada novamente debaixo de chuva.

Entramos rapidamente na Ruta 14. Ótima rodovia. Pista dupla, lisa, pouco trânsito, e muito plana. Aí a viajem começou a render mais, quando a chuva deixava. Estava intrigado, pois não via mais morro, e a região estava ficando desértica.

Atrasamos, mas chegamos a Concepcion Del Uruguay, já no finalzinho da tarde. Na entrada da cidade procuramos um hotel, pedimos um quarto para três e uma diária, até o dia seguinte. O recepcionista informou que alugaria para no mínimo 2 diárias. Perguntamos porquê e ele disse que a cidade era turística e que era feriado nacional prolongado. Fomos nos outros hotéis e vimos que a cidade estava lotada. Tivemos muita dificuldade para alugar uma casa para passar a noite. Já era umas 23h quando entramos na casa. Cabia-nos com tranquilidade, tinha internet e garagem para as motos, mas parece que eles tinham dedetizado a casa e tinha tanta barata morta, cambaleando e andando que nem animamos a tomar banho. A banheira estava cheia delas.

Como estávamos muito cansados, isso nem fez diferença, mas uma coisa me deixou muito feliz. Ao preparar para dormir, fui tirar algumas coisas da bolsinha de tanque e o que eu achei lá? O danado do documento da moto. Estava lá o tempo todo. Foi aí que eu lembrei que tinha colocado lá para facilitar, se fosse necessário usar. Falei para os meus companheiros, e eles também ficaram aliviados. Já estávamos imaginando quais desculpas iríamos dar se fôssemos abordados.

Rodamos 732 km nesse dia, quase tudo debaixo de muita chuva, mas as nossas capinhas nos protegeram muito bem, e agora era hora de comer e descansar, pois esse foi um dia muito duro.


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