Viagem de moto de Portugal aos Balcãs

Viagem de moto de Portugal aos Balcãs

Somos um grupo de amigos denominados “Os Mandingas” que viajamos todos os anos de moto, fazemos viagens por paixão às motos, às viagens, mas sobretudo, como ode à amizade e à partilha de aventuras.

Temos uma forma peculiar de viajar e algumas imagens de marca, como a foto que tiramos deitados no pavimento em cada viagem, os batismos dos novos membros nas fontes públicas, ou as belas garrafas de tinto que animam os fins de tarde, que servem como marca dos portugueses no mundo e contrabalançam o peso das bagagens.

Este ano, mais uma vez, estamos a organizar uma grande aventura, desta feita, aos Balcãs. Depois de algumas discussões optamos pelo Balcãs, por vários motivos. Desde logo porque se trata de uma parte do sudoeste da Europa ainda pouco conhecida, pouco relatada, mas sobretudo, com muito por descobrir. Depois, porque todos nós temos no nosso imaginário aquele lugar que tantas e tantas vezes foi noticiado nos anos 90 pelas piores razões. A malfadada guerra da Bósnia que nos entrou pelos televisores adentro e que demonstrou o que de mais cruel há na raça humana, e logo ali, na Europa civilizada.

A Viagem que vamos fazer tem diversas premissas, desde logo, uma forte componente histórica. Não vamos aos Balcãs apenas para olhar as suas maravilhosas paisagens, somos apaixonados pela história e, considerando que estamos naquela que é provavelmente um dos locais mais importantes da história recente, queremos, naturalmente, visitar locais cuja componente histórica, cultural e natural tem mais peso, deixamos alguns exemplos:

Depois de atravessar o Mediterrâneo fazendo a ligação Barcelona / Civitavecchia de ferry e, após uma breve visita a Roma, da qual não esperamos visitar o Papa, porque já levamos as motos abençoadas de Fátima, pretendemos rumar a Ancona e fazer a travessia do Adriático de ferry para Zadar.

Aí começa a verdadeira aventura. Hoje que tanto se fala em veículos elétricos, é bom relembrar que Nicola Tesla nasceu em Smiljan, ali perto de Zadar.

Depois descemos para Split, junto ao mar Adriático. Split é um museu a céu aberto. Trata-se de uma cidade com uma relação direta com o Adriático e com uma história cultural e bélica extraordinária. A título de curiosidade, em 1992, em plena guerra da Jugoslávia, Split foi bombardeada pelo contratorpedeiro Jugoslavo que se chamava precisamente Split (coisa estranha).

De Split seguimos para Tjentiste, uma região da República Srpska (a Bosnia Herzegovina está dividida em duas, a Republica Sérvia e a Federação da Bósnia e Herzegovina), que celebra o falhanço da operação “Fall Schwarz”, durante a segunda guerra mundial, com a derrota dos invasores alemães, mas com uma vastidão de perdas humanas, mais de 7500 mortos.

Depois de uma breve paragem, pretendemos rumar a Mostar, aí, naturalmente, pretendemos visitar a ponte de Mostar, que dispensa apresentações e marca brutalmente a violência da guerra dos Balcãs.

Se houver tempo e forças neste dia, a caminho de Sarajevo, tentaremos passar em Konjic, onde se encontra o abrigo nuclear de Tito, que dispensa apresentações.

Sarajevo também dispensa apresentações, é a capital da República Federal da Bósnia Herzegovina, único país do mundo com três chefes de estado ao mesmo tempo, um Bósnio, um Sérvio e um Croata, cada um governa durante oito meses, (deve ser para não abusar muito).

De salientar que a zona dos Balcãs tem também na sua essência três religiões que serviram também de base aos conflitos, os muçulmanos, sobretudo croatas do Kosovo, católicos romanos, sobretudo sérvios e croatas e os sérvios de Leste que são majoritariamente católicos ortodoxos. Nós, para chatear, levamos um buda gordo na mala e um zé do pipo.

Ficaremos um dia inteiro sem andar de moto, só a visitar a cidade, sem esquecer de visitar a ponte latina, onde se deu o atentado de Francisco Fernando (império Austro-húngaro) e com isso o início da escalada para a primeira guerra mundial. Visitaremos os lugares ícones da guerra dos Balcãs, nomeadamente, o túnel de acesso à cidade durante o cerco, mas também, algumas curiosidades, como a famosa ICAR Beef Canned Monument, o sarcástico agradecimento à UN pelas rações dadas à população durante o cerco e que, segundo os testemunhos, “nem os cães as comiam” (dizem que é pior que as latas de atum que levamos nas malas).

Depois de Sarajevo, rumamos a Srebrenica, visitaremos o local onde jazem os 8373 bósnios muçulmanos massacrados durante a guerra dos Balcãs às mãos do cão de guerra o General MRatko Mladic que se auto intitulava o “Deus da Sérvia”.

Seguimos então rumo a Piteşti, já na Roménia, onde começa a famosa Transfagarasan, conhecida como a estrada do louco e uma das estradas mais bonitas do mundo. A Tranfagarasam foi mandada construir em 1974 por Ceausescu e é considerada uma das obras mais loucas da Roménia. Resultou do pânico de Ceausescu pela invasão da Checoslováquia pela União Soviética. Tem passagens de montanha acima dos 2000 metros numa das regiões mais bonitas e montanhosas dos Alpes Cárpatos.

A Transfagarasan termina em Sibiu, zona da Transilvânia, onde não esperamos encontrar vampiras.

Rumamos então para Tmisoara, local cheio de história e onde se deu o início da revolução Romena em 1989 que acabou com o regime comunista de Nicolae Ceauşescu.

De Timisoara rumamos a Liubliana, capital da Eslovénia, cidade com fortes inspirações Austríacas onde ficaremos um dia sem andar de moto para visitar as suas belas… beldades… O Trump que o diga…

Da Eslovênia iniciamos o regresso para casa, voltando a Itália, desta feita a Norte, e rumamos ao Sul da França, onde atravessaremos os Alpes Mediterrâneos na famosa costa azul, Côte d’Azur.

De Nice rumamos a Saragoza e seguimos para Lisboa.

Trata-se de uma aventura carregada de história. Atravessaremos 9 Países em 12 dias, cerca de 7 mil quilômetros.

Atravessamos também a região com mais minas terrestres da Europa, daí haver necessidade de um cuidado redobrado nos famosos off-road que já fazem parte da praxe (isto se não nos apetecer um off-road de estrondo), atravessaremos também uma das zonas da Europa que, tal como recentemente na Espanha, ainda tem fortes movimentos separatistas, nomeadamente o Kosovo, país ainda não reconhecido totalmente e que a Sérvia reclama plenos direitos, com diversas tensões politicas recentes.

Pedro Lourenço (Ducati Enduro)
José Runa (BMW 650 GS)
Samuel Nabiça (Suzuki 1000 V Strom)
Michael Ferreira (Kawasaki GTR 1400)
Pedro Marques (Honda Cross Tourer 1200)
Luís Torres (Honda Varadero 1000)

Viagem de moto

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *