Viagem de moto pelos Estados Unidos

O início de tudo

Ultimo fim de semana de abril, café da manhã de sábado na Harley da Barra, revejo velhos e novos amigos, mas não consigo evitar a preocupação com o funcionamento da “bomba”. Afinal, sem fazer nenhum dos vários e periódicos exames que minha maravilhosa cardiologista solicitou, resolvi partir para a gringolandia em abril de 2012, apenas 40 dias após fazer um terceiro cateterismo, para viver, ainda que fosse pela última vez, as tais “Aventuras Geriátricas”.

Valeu a pena, e como. Mas a verdade é que relaxei e jamais fiz os tais exames. Sei que viver é perigoso, mas deixar a vida passar sem saber o que é uma defesa de mão trocada, a matada no peito arrematada pela acrobática “bicicleta”, o cheiro de grama misturada com gasolina nas manhãs enevoadas no Aero Clube de Nova Iguaçu, o toque de silencio na Base Aérea do Galeão, quando a juventude nos parecia eterna, a primeira e gaguejada declaração de amor que jurava jamais fazer, o saber-se dominando uma motocicleta com mais de 400 Kg aos 70 anos de idade e em especial olhar para trás e ver que valeu a pena, nos estimulando a seguir em frente até quando as forças permitirem. Embora eu saiba e concorde com tudo isto a preocupação persistia.

Este ano, convidado pelo Cyro para voltar à gringolandia, resolvi fazer pelo menos o mais importante dos exames: uma tal de tomografia computadorizada das veias pulmonares para ver se havia algum processo de estenose. O resultado sairia no dia 7 de maio e até lá só me restava aguardar para embarcar para os Estados Unidos no final do mês. Acontece que no dia 1 de maio (feriado), navegando na Craigs List, vi o anuncio de uma Road King Police 2001 em uma cidade a cerca de 120 milhas de Charlottesville e aquilo mexeu comigo, aliás mexeu muito comigo. Escrevi para o cara que se mostrou extremamente paciente com meu inglês e o fato é que fechamos negócio (eu em Cabo Frio, ele em Fairfax – O que é a globalização !). Tentei organizar minha vida o mais rápido possível – alguns credores devem ter ficado de fora – e consegui uma passagem para o dia 7 de maio, o mesmo dia em que ficaria pronto o resultado do exame que, a propósito, nem quis mais saber dele. As prioridades passaram a ser outras. Meus filhos que cuidassem desse departamento (grandes garotos).

Cheguei a Charlottesville no dia 8, antes do Cyro, que só chegaria no dia 11. No dia 9 o cara que me vendeu a moto veio a Charlottesville de carro, paguei a ele, fomos ao DMV (Depto de Transito da Virginia) e em 30 minutos a moto estava em meu nome e a placa na minha mão. Seguimos para Fairfax, a cidade do Drew (quem me vendeu a moto) onde fui buscar a minha policial. Confesso que quase cai para trás quando ví o estado da moto. Ela está praticamente nova.

Apesar de ser uma 2001, está com apenas 36.000 milhas, pois o Drew era milico e serviu no Iraque, Arábia e outros países por alguns anos, tendo a moto ficado na garagem a maior parte do tempo. Ele a vendeu por ter comprado uma Road Glide (mais confortável para levar a esposa).

Antes vir embora, o Drew deu-me todas as peças sobressalentes e vários acessórios, além de uma caixa de ferramentas, culminando por levar-me para almoçar. Acabamos nos tornando amigos e fui convidado para rodar com o grupo dele, composto de ex-policiais e ex-milicos.

Na viagem de volta, como tenho o hábito da dar nomes às minhas motos, vim pensando no nome mais adequado para ela. O comportamento da máquina era excelente, o baita para-brisas e o enorme banco sobre coxim de ar regulável, além das suspensões (dianteira e traseira) com amortecedores a ar tornavam-na gostosíssima de pilotar. Neste momento pensei : “- Linda, gostosa e policial? Bingo, só pode ser a Helö !”. Aquela policial gostosa que a gostosa da Giovanna Antonelli interpretava em uma novela. E assim, meus amigos, a Helô entrou com tudo em minha vida……

Ah….o resultado do exame ? Meu filho escaneou e mandou por e-mail: SEM estenose, apenas o átrio esquerdo dilatado. Fazer o quê? Minhas mulheres e ex-mulheres dizem que tenho todos os defeitos possíveis e imaginários, mas que tenho um grande coração, hehehehehehe.

Viagem de moto

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