Meus amigos, ontem levei a Helô para uma manutenção básica. Enquanto esperava, vi um prospecto sobre uma promoção do “dealer”: quem fosse até o topo da Pikes Peak Mount pela Highway de mesmo nome, ganharia uma t-shirt comemorativa ao trazer uma foto comprovando o fato.
Prorroguei o hotel, acordei mais cedo, banho caprichado, barba feita com o cavanhaque cuidadosamente aparado, uma conversinha de pé de ouvido com a Helô, onde confessei a ela que tinha dúvidas apenas em relação a mim, afinal, são 14.200 pés, mas se eu sentisse que iria complicar, voltaria imediatamente.
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Desjejum na base de frutas e muito líquido, um calor brabíssimo e na entrada da estrada o pedágio em obras formava um engarrafamento de uns 40 minutos. Um alívio quando passei o pedágio, que teve a vantagem de soltar carros e motos a conta-gotas, já que é impossível ultrapassar: velocidade máxima baixa, curvas o tempo todo e os Rangers dando dura nos engraçadinhos (vi 2 levando o talãozinho).
A estrada tem uma vista espetacular, mas requer um cuidado muito grande. Quem tem cagaço de altura, como eu, não deve olhar para baixo, é florida !
Coloquei o GPS na modalidade em que ia controlando a altura e quando cheguei aos 4.000 metros, parei para colocar o casaco de couro, a temperatura caiu de 38 para 12 graus. Mas valeu a pena, a vista, o ar rarefeito, a friagem, as nuvens nos envolvendo em muitos momentos, a Helô firme e forte, sem sentir os efeitos do ar rarefeito (bendita injeção com módulo eletrônico) e principalmente a sensação de estarmos mais próximos do Criador e daqueles que nos antecederam junto a ELE.
Essa estrela solitária e suas histórias
Eu estava tentando tirar uma foto para levar no dealer da Harley e pegar a tal camisa, mas tinha um bando de turistas que vem na porra de um trenzinho e que despeja aquele bando para tirar foto junto ao marco dos 14.115 pés. Como não acabava aquela ida e vinda, eu apelei, usei a pose do ano passado em Niagara Falls. Foi tiro e queda. Saiu todo mundo de perto achando que era mais um motoqueiro malvadão, cheio de “maga rosa” na cabeça. Só quando desfraldei o glorioso pavilhão é que uma família se aproximou e me perguntou de onde eu era. Pronto, pensei, mais um grupo de gringos será cativado pela palavra mágica: “- Brasileiro”. E não foi só isso, quiseram saber de toda minha aventura e o que tinha me trazido até alí. Quando falei que eu tinha uma estrela, solitária, mas uma belíssima estrela, e que essa estrela sempre me indicava o caminho eles não acreditaram.
“-É essa estrela que está no pavilhão ? ” perguntaram.
Respondi afirmativamente.
“- E esse pavilhão é abençoado ? “, insitiram.
Claro que sim, respondi. E eles de novo:
” – Pelo Papa ?”.
Dei a volta por cima e mandei:
“- Muito melhor, pelos onze apóstolos”.
E os caras não desistiam:
“- Mas não eram doze ?”.
Nesse ponto, já de saco cheio dei a cartada final:
“- Eram doze, mas um era traidor e mandamos embora e ficaram Jefferson, Lucas, Bolivar, Doria, Julio Cesar, Marcelo Mattos, Gabriel, Lodeiro, Rafael Marques, Elias e Seedorf, sendo que este último opera milagres quartas e domingos e, vez por outra, a título de penitência, carrega os outros dez nas costas !”.
Depois disso, eles ficaram impressionados e pediram para segurar o Glorioso e abençoado pavilhão. Não tive como recusar, ainda mais que me ofereceram o lugar de honra na foto, entre a mãe e a filha.
Coisas de motociclistas, coisas de botafoguenses !
O ciclista me sacaneou
Dei uma paradinha, a 4.000 metros de altitude, sentei para beber água e apreciar a estrada, quando ouço uma voz atrás de mim perguntando se preciso de ajuda. Tomei um susto, pois não ouvi barulho de motor e quando olho é um ciclista. O aloprado, depois descobri que são vários, vinha subindo aquela goiaba no pedal ! Falei que estava tudo bem e quando falei que era brasileiro, como invariavelmente acontece, a conversa tornou-se muito mais amistosa, pois a verdade é que os gringos adoram o nosso país.
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O cara pedala há 50 anos e nunca ficou um período maior do que 30 dias sem pedalar. O cara tem 63 anos e eu, que estava me achando, fiquei com inveja daquela disposição. Uma inveja boa, daquelas que nos levam a tentar procurar fazer igual ou, pelo menos, chegar perto. E como sempre ocorre, nestes encontros nas estradas da vida, certamente jamais nos veremos, mas ficará para sempre o momento da mais pura e desinteressada fraternidade. Talvez por que estivéssemos tão alto. Talvez por que ELE estivesse nos olhando.
Mais um desafio vencido: três cateterismos a 4.300 metros de altitude !
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