Moto Aventura Norte Sul – Parte VIII

Seis mil e tantos quilômetros e dezessete dias depois, nada mais seria como antes. Como toda viagem, quanto mais tempo se passa nos lugares exóticos, mais bagagem adquire-se, contribuindo para a escultura da nossa história de vida. Também depois que voltamos, a experiência tem que ser confrontada com a nossa rotina para ganhar dimensões diferentes. Por isso uma viagem continua mudando mesmo depois que acaba, pois enquanto alguns fatos vão se dissolvendo e perdendo importância, outros vão ganhando brilho e tornando-se legendários.

É claro que cada um daqueles que protagonizaram a história tem ponto de vista exclusivo, fixando detalhes diferentes, filtrando as cores de acordo com sua paleta pessoal. Essa viagem porém, pode ser exposta ao tempo e às opiniões daqueles que como eu tiveram o orgulho de vivê-la e ainda assim, continuará especial dada sua riqueza.

Para nós, Marcia e eu, a cruzada que planejamos depois de quase dois anos sem viajar era um grito de independência, um atestado de que podíamos aventurar-nos por qualquer estrada, em qualquer lugar com nossos recursos e equipamentos. Teríamos mesmo tal capacidade ? Sim ! Confirmou-se e isso foi muito importante. Mas esse desafio foi apenas um dos atrativos da viagem.

Estávamos curiosos por conhecer aqueles lugares e pessoas tão especiais que víamos nas fotos e das quais ouvíamos tanto falar nos quase dois anos desde que fomos “invadidos” pelo povo do norte. E este quesito ficou muito além das nossas expectativas.

As estradas que trilhamos eram muito melhores do que o esperado. As dificuldades pelas quais passamos, muito menores. Não sentimos tanto cansaço, não tivemos dificuldades com saúde, pousadas, com comidas, com costumes, com a lei local. Nada foi difícil ou assustador como imaginávamos.

Descobrimos que o Norte é lugar de grandes coisas, grandes espaços, grandes empreendimentos. As distâncias que lá são corriqueiras, aqui seriam enormes. O tempo tem outro sentido e tudo demora um pouco mais a acontecer. Então vive-se com mais calma e menos stress, dedicando-se mais tempo aos caminhos e aos meios

Os lugares eram mais bonitos, as aventuras mais emocionantes, as paisagens mais exuberantes. Marabá tem praia ! E boa !!!

O Tocantins, nosso desconhecido total até então, mostrou-nos riquezas e produtividade. Trilhar a Coluna Prestes decendo para Goiás fez-me lembrar das imagens que vi da Rota 66 e da solidão e aridez de suas paisagens que nessa estrada brasileira encontram seus correspondentes. As cidades também surpreendiam. Não havia miséria nem maldade, apenas simplicidade. Vimos muita solidariedade e amizade nos rostos de pessoas com as quais nunca tivéramos contato, como o João, a Preta, Neto Bala, Anjo Negro e outros amigos cuja presença rápida me impede de lembrar os nomes.

Tudo isso foi muito importante e bastaria para fazer desta viagem uma experiência inesquecível, mas houve algo mais, muito mais importante.

O encontro com os amigos Monaski e Maumau e a empatia surgida desde o primeiro momento. Fefe já era nosso conhecido de outras datas e sabíamos ter nele um amigo fraterno, leal e confiável, mas embora todo o contato havido pelo fórum, conhecer pessoalmente Monaski e Maumau era motivo de apreensão que depois confirmei ser recíproca. Mas a apreensão era infundada e bastaram alguns poucos minutos para que se ratificasse uma amizade que parecia ter muitos anos. Nos divertíamos o tempo todo, rindo e fazendo troça uns dos outros, porém sempre atentos às dificuldades e necessidades de cada um. Na estrada, sentia-me membro de uma tropa treinada quando via as quatro motos fazendo ultrapassagens precisas e seguras, quando os sinais eram rápida e perfeitamente interpretados, quando as paradas eram respeitadas com tempo de descanso, mas sem exageros que pudessem comprometer a eficiência da viagem. Foi um prazer e uma honra ser recebido com tanto carinho e atenção, com tanta franqueza e despojamento por todos esses amigos, incluindo sem reservas a Pâmilla, nossa anfitriã em Marabá e companheira de viagem dali por diante. Impossível esquecer do sorriso maroto do malvadinho Otávio, menino educado, alegre e esperto que nos encantou com sua fala solta e com o carinho que demonstrava por nós o tempo todo.

Algo mudou nas nossas vidas sim e agradecemos muito pois agora temos saudades de mais estes queridos amigos todos os dias, porque agora fazemos planos de revê-los em novas aventuras, porque agora temos uma família lá no norte, cujo coração quente e vibrante sentimos bater em comunhão com o nosso.


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