Moto Aventura Norte Sul – Parte VI

Logo as motos estavam prontas e fiquei contente de ver que eram pontuais, ou quase, pois eram 10h30 e já estávamos rodando.

Dentro do Distrito Federal o ritmo era lento, graças às dezenas de câmeras de radar espalhadas, mas logo pegamos a autoestrada e a coisa começou a mudar. Na primeira parada informei aos novos amigos que não esperava que eles me aguardassem e que estava disposto a acompanhar sua velocidade de cruzeiro sem problemas. Eles, parecendo entender a mensagem, começaram a aumentar a velocidade e em pouco tempo rodávamos tranquilamente dentro dos 120 a 130 km/h. As ultrapassagens eram firmes e seguras e eu ia me sentindo cada vez melhor em pilotar com eles.

Na parada de almoço fizemos uma farra boa, como se nossa amizade viesse de muito tempo. Trocamos telefone e endereços de e-mail e já fomos programando a parada em que eu me separaria deles, Patos de Minas, e pegaria a BR-358 que nos levaria a Campo Belo. Eles rapidamente se prontificaram a deixar-nos “dentro” da estrada. E assim foi. Os quilômetros seguiram-se rápido e logo estávamos despedindo-nos deles, muito agradecidos pela ajuda que nos deram. Pouco adiante paramos na pamonharia recomendada pelo Thrasio e fizemos um farto lanche. Então pegamos a estrada totalmente desconhecida, sozinhos mesmo. Eram 15h30 e a tarde estava quente.

O asfalto ia piorando à medida que avançávamos, mas nem isso impedia o sono que me assolava. A Marcia já a muito cochilava, batendo o capacete contra o meu. Conseguíamos manter o cruzeiro dentro dos 120 km/h tentando desesperadamente rodar o máximo durante o dia. Ainda especulávamos sobre a possibilidade de pernoitar em Campo Belo ou em alguma cidadezinha pelo caminho. De repente a Marcia solta um grito de pânico !

” A Máquina fotográfica caiu !!!”

Cento e vinte por hora ! Eu quase desisti de voltar para pegá-la, mas, em função do cartão de memória onde estavam TODAS as fotos do passeio, retornei procurando os cacos da máquina. A Marcia avistou-a no acostamento e contornei novamente a pista para resgatá-la, incrivelmente inteira, ainda que toda arranhada. Meio temerosa a Marcia ligou nossa máquina para constatar que ela estava perfeitamente funcional !

O bom disso foi que ficamos alertas novamente, seguindo para o próximo abastecimento, numa alça da BR-262 que retorna para a BR-358. Já estava anoitecendo e questionei a Marcia sobre a conveniência de pernoitarmos na primeira pousada que encontrássemos na estrada. Ela refutou a ideia, crendo firmemente que chegaríamos a Campo Belo, mesmo que fosse à noite… que logo envolveu-nos.

O asfalto seguia piorando, o que agora era ainda agravado pela escuridão total da estrada absolutamente erma. Não havia mais como mudar os planos, pois não havia onde pernoitar. A contagem regressiva dos quilômetros no GPS começou a ser acompanhada também pela Marcia. Os buracos e falhas da estrada faziam diminuir dramaticamente nossa velocidade. Além disso, cruzávamos com pesados caminhões que nos atingiam com verdadeiro canhões de luz, cegando-me perigosamente. Não bastasse tudo isso, de repente começaram a aparecer trechos de estrada reformada, porém sem qualquer sinalização que pudesse orientar quanto às margens e o centro da pista. Quando um veículo ou curvas se aproximavam era extremamente tenso, pois não tínhamos referências e sabíamos que o motorista oposto estava em condição semelhante. O indispensável uso das lanternas auxiliares da Electra dava a impressão de que estávamos usando farol de milha e isso causava irritação nos motoristas, embora nada pudéssemos fazer, senão lampejar o farol alto. Os quilômetros iam esgotando-se apesar da tensão. Mas… como nada é tão ruim que não possa piorar, de repente um degrau na pista jogou-nos para um trecho absolutamente sem asfalto. Apenas pedrisco solto e buracos dos quais devíamos desviar tanto quanto possível. Não dava para frear, sob risco de derrapagem. Diminuir a velocidade era uma alternativa, embora retardasse ainda mais o nosso sofrimento. Foram quilômetros terríveis, cansativos e tensos até que apareceram placas informando a aproximação de Campo Belo. Dadas as reformas da pista, a entrada da cidade não aparecia perfeitamente no GPS e apenas com muita atenção conseguimos entrar.


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