Savannah (GA) – Lugoff (SC) – 5 de junho de 2014
A grande vantagem do GPS é, além de estabelecer uma rota entre dois pontos fornecendo todas as informações sobre a mesma em tempo real, permitir que você defina alguns parâmetros que serão considerados na escolha da rota. Tenho por hábito fugir das Highways, geralmente longas e monótonas retas com tráfego intenso.
Hoje, fugi da 95 e vim pela 21 para, ao final, pegar a 601. São estradas que cortam pequenas cidades que parecem ter parado no tempo. Embora algumas vezes com pista simples, quase sempre com pouco transito, seu traçado não tem compromisso com horários e altas velocidades. Seu único objetivo é ligar pequenas cidades, sem violentar a topografia da região resultando em muitas curvas que contornam obstáculos sem precisar transforma-los em tuneis ou viadutos. Além disso, e dependendo da região em que você esteja, atravessa eco-sistemas onde flora e fauna são rigorosamente preservadas proporcionando visuais incríveis.
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Tendo em vista essas características, considero as Highways apenas como uma alternativa para deslocamentos rápidos entre dois pontos. Já as estradas secundárias são ideais para quem gosta de se saber pilotando uma motocicleta: seja levando a companheira a bailar nas curvas desconhecidas; seja se integrando à paisagem ou mesmo parando em um local que nossa sensibilidade determine. Simplesmente para desligar a moto e ficar ouvindo o estalar do motor quente misturado com os batimentos do coração, acelerados pela adrenalina das curvas infantilmente feitas próximas ao limite.
E, assim, sem que eu force ou perceba, vai se formando o clima da viagem.
Eu ia absorto nos meus pensamentos, curtindo o dia maravilhoso e a paisagem que envolvia a estrada quando vejo um ponto vermelho no meio de umas arvores. Parei a moto e pude ver um antigo carro de bombeiros, lindo, com todos seus equipamentos e acessórios. Como se não bastasse um Ford F600 com motor V8.
Pronto, os olhos marejaram pois imaginei, pendurados nos seus estribos “correndo” para um incêndio, como eles falavam, papai, tio Adjalme e tio Bebeto.
Os três irmãos músicos, que antes de entrarem para a banda de música do Corpo de Bombeiros tiveram que prestar serviço por dois anos correndo para incêndios. Histórias saborosas vieram à mente:
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- O tio Bebeto, que tinha uma agilidade incrível, em um incêndio à noite estava no alto de uma parede jogando água no telhado das casas ao lado e, protegido pela escuridão, aproveitava para jogar pedras nos oficiais que circulavam embaixo.
- Meu pai, que tinha medo de altura, em um treinamento se recusava a saltar de uma sacada numa lona que os colegas seguravam. O capitão instrutor subiu até a sacada e, chegando por trás, fez cócegas no seu suvaco e ele desabou como um saco de batatas, quase batendo com a cabeça no aro de ferro.
- O tio Adjalme, maestro, músico e compositor, vivia tentando quebrar todos os cassinos do litoral fluminense, esporte no qual não foi bem sucedido.
- Fora outras que o horário e o local não me permitem faze-lo.
O fato é que fiquei emocionadíssimo, graças a um velho e abandonado carro de bombeiros.
Após rodar umas 150 milhas comecei a notar umas nuvens escuras à minha esquerda. De acordo com meus cálculos, baseados em trigonometria metafísica, estimei a velocidade do vento em 8 a 10 milhas / hora e como eu estava andando a 60 milhas eu deixaria as nuvens à esquerda e para trás.
Rodei assim mais algum tempo e parei para almoçar.
Um parênteses, o restaurante tem um serviço prá lá de razoável, incluindo salada e sobremesa. E você come até explodir a 6 dólares. Fecha parênteses. O fato é que enquanto almoçava um dos garçons veio falar comigo que eu iria me molhar pois começava a chover. Ao lado do restaurante havia um hotel, mas eu fiquei na dúvida entre prosseguir ou não e o garçom ficando cada vez mais insistente, falando num tal de “hail”.
Quando vi no google o que era “hail” (granizo) decidi ficar no hotel e guardar a Helô bem guardadinha. Amanhã a jornada continua.
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