280 Milhas finais da Blue Ridge Parkway

Galax (VA) – Bryson (NC) – 17 de agosto

Foi muito mais tranquilo do que eu imaginava. Em geral o trânsito na Blue Ridge aos domingos é intenso, principalmente de motos. Não que o trânsito chegue a atrapalhar, longe disso, acontece que isso leva os “cops” a apertarem a fiscalização.

Talvez eu tenha saído muito cedo (7 horas), mas o fato é que a estrada estava quase vazia, a temperatura bem baixa (na casa dos 18 graus) e o sol nem sinal de vida.

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Adiantei ao máximo essa primeira etapa, com um certo abuso na velocidade já que hoje eu teria de fazer 280 milhas. Pode parecer pouco, e realmente não é nenhum absurdo, mas para um “coxinha” que está desde o dia 2 de junho na estrada, quase que sem parar, a margem de tempo que me sobra é mínima. Afinal tenho que fazer pagamentos (infelizmente tenho o péssimo hábito de pagar minhas contas. Mania de pobre !), ligar para meus filhos, escrever alguma coisa inteligível para aqueles que se dão ao trabalho de ler meus posts, baixar fotos, seleciona-las, lavar roupa, carregar baterias (celular, câmara, notebook), manutenção da Helô, consultar meteorologia, reservar hotel e um monte de outros detalhes que aparecem no dia a dia.

Viagem de moto pelos Estados Unidos

Assim enrosquei um pouco o acelerador para ter alguma coisa antes de começar as paradas para fotos. Impossível não fazê-las. Estou tentando fazê-las enquanto piloto, mas a qualidade, em 90% dos casos, é péssima além de ser um tanto arriscado.

Uma coisa que me chamou a atenção, e olha que conheço a estrada desde 2011, é que não existe nenhuma “defensa” (guard-rail) metálica, todas são de pedra ou de madeira bem como as cercas que delimitam pastagens que, às vezes, confrontam com a estrada

Os túneis, pontes e viadutos, sempre que possível, têm sua fachada com acabamento em pedra, o que torna sua integração com o meio ambiente onde estão inseridos muito mais suave.

Viagem de moto pelos Estados Unidos

Outra coisa que me deixou espantando foi um conserto na estrada logo após entrar em North Carolina. Lembrem-se de que era um domingo e não havia ninguém trabalhando no local. A estrada estava com meia pista apenas, numa extensão de uns 2 km cheia de curvas. Não havia nenhum guarda, fiscal ou quem quer que seja controlando o transito. Apenas dois sinais, um numa ponta e outro na outra, com placas de advertencia e informando que a multa por violar o sinal vermelho poderia chegar a 5.000 dólares ! Um pequeno gerador fornecia energia para o sinal e para um display que informava o tempo que restava para trocar a luz de vermelha para verde. A espera poderia chegar no máximo a 10 minutos, com isso você desligava o motor da moto, colocava-a no descanso e quando faltassem 20 segundos tornava a liga-la. Inacreditável ! Me deu uma inveja braba.

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Consegui chegar a Cherokee ainda cedo e surpreendi-me com o que ví. A última vez que entrei em Cherokee foi em 2011 e a cidade mudou muito nesse tempo. Era uma cidadezinha muquirana, mas os danados dos índios estão investindo muito e, já no ano passado, notei uma grande mudança com um comércio bonito e muito mais forte, parques bem cuidados, sinalização perfeita e um tipo de turista bem diferente dos motoqueiros e mochileiros do meu tempo. Os sacanas dos Cherokees decidiram investir pesado no jogo e construíram um complexo de Cassino, hotel e mall de 14 andares, bem ao estilo Las Vegas.

10

De Cherokee rumei para Bryson City onde tinha conseguido um hotel (na bacia das almas) de 129 doletas por 50. Mal desci da moto um grupo se aproxima de mim e pergunta: “Brasileño”. Si, respondi e então iniciamos um papo animadíssimo em espanhol, inglês e português. Eles são de Porto Rico e moram na Virginia, amigos que viajam sempre nas suas Goldwings e adoram, como eu, a Blue Ridge.

Após me convidarem para jantar e fazer questão de tirar uma foto comigo, perguntaram por que eu todo ano voltava àquela região. Pensei bem antes de cada palavra e acho que conseguí me fazer entender falando mais ou menos o seguinte: “Viajar pela Blue Ridge Parkway é o mesmo que entrar no paraíso sem ter a rídicula obrigação de morrer antes !”

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