A História do Sino Guardião

Alguns dizem que o “Sino Guardião” é um protetor sobrenatural contra espíritos malignos que assombram as estradas à procura de motociclistas para prejudicá-los durante suas viagens – outros dizem que é simplesmente uma amistosa tradição entre os pilotos para demonstrar apreço e amizade.

Conhecido por Guardian Bell, Biker Bell, Gremlin Bell, Spirit Bell ou Ride Bell, o Sino Guardião tem uma história cercada de lendas e superstições. São uma espécie de amuleto da sorte para motociclistas do mundo inteiro, semelhante aos pingentes ou imagens de São Cristóvão, o santo padroeiro dos viajantes, que são frequentemente transportados em veículos para proteger seus ocupantes durante as viagens.

A lenda diz que existem espíritos nocivos que espreitam as estradas, sempre à procura de motocicletas para se agarrar e causar danos. Você já deve ter ouvido falar de problemas incomuns e difíceis de diagnosticar que ocorrem nas máquinas (na maioria das vezes na parte elétrica) sendo chamados de “gremlins” e, supostamente, são esses mesmos espíritos imprevisíveis e prejudiciais que causam problemas para motocicletas e seus motociclistas.

O Sino Guardião é uma maneira de afastar esses espíritos. Dizem que o seu trabalho é capturá-los na parte oca e enlouquecê-los com o toque constante do badalo, até se soltarem, retornando à estrada para encontrar outro motociclista desavisado sem um sino para protegê-lo.

As regras do sino

No entanto, existem algumas “regras” para o Sino Guardião funcionar:

  • Não deve ser comprado pelo usuário – para funcionar, deve ser dado a um motociclista por uma pessoa querida. De acordo com a lenda, um sino é “ativado” pelo gesto de boa vontade quando alguém, especialmente outro motociclista, o dá como presente. Junto com o Sino Guardião vai parte do espírito, da historia e da lenda daquele motociclista que, com coragem e determinação, iniciou essa tradição.
  • Deve ser anexado à parte mais baixa do quadro – como os gremlins se escondem nas estradas e “agarram” nas motos enquanto elas passam, o sino baixo deve ser a primeira coisa com a qual eles entram em contato, para que sejam imediatamente capturados. Ele deve ser preso com segurança e um anel de chaveiro é geralmente o método preferido.
  • Quando uma moto com um sino é vendida, ele deve ser removido – o Sino Guardião é um gesto de gentileza para com um motociclista de alguém que se preocupa com ele, então ele deve ser mantido pelo destinatário pretendido e pode ser transferido para outra moto. Mas se alguém vende uma moto com um sino e quer que o novo piloto a tenha, ele deve removê-lo e entregá-lo ao novo proprietário. Um sino que não é dado com boa vontade intencional perde o seu princípio de combate ao espírito maligno.
  • Se alguém roubar um Sino Guardião, os gremlins vão com ele – e o sino não mais os afastará. A chave para o poder do sino é a boa vontade. Se for roubado, perde o efeito positivo e o ladrão será amaldiçoado com todos os espíritos malignos que o sino aprisionou.

A origem do sino

Como muitas lendas antigas, não há uma resposta clara de onde vem a tradição ou superstição do Sino Guardião. Várias explicações vão desde as histórias de que “havia uma vez um velho motociclista andando de noite” até ter sido iniciado por veteranos da Segunda Guerra Mundial que tinham sinos de boa sorte em suas aeronaves e levaram a tradição para suas motos depois da guerra.

Uma versão muito repetida remonta a tempos mais antigos, quando os Estados Unidos ainda eram terra dominada pelos índios. Sempre que iam caçar, eles amarravam ossos em seus pés para pedir proteção aos deuses dos locais inde iam e para que os maus espíritos não se aproximassem. Mas um aviso sempre era dado: ”Não ande mais rápido que seu protetor possa”. Quando o europeu chegou para colonizar a região, várias carruagens foram assaltadas e queimadas por índios Sioux e Navajos, mas uma em especial sempre passava, e andava em todos os territórios indígenas sem ser molestada. Um dos cocheiros desta carruagem era filho de índios e sempre que era necessário fazer grandes travessias, pendurava ossos secos em um lugar alto, para que o som se propagasse. Com o passar dos anos, estes ossos foram substituídos pelos sinos metálicos, com a intenção de propagar mais rapidamente este “recado” aos deuses.

No motociclismo, a lenda começou com os grandes aventureiros e suas longas viagens pelas montanhas e travessias em longos percursos. Vários acidentes e mortes ocorriam e eram divulgados durante os encontros. Até que um dia, um motociclista resolveu fazer uma longa viagem pelas montanhas de Salt Lake, região perigosa, desértica, onde todos os riscos eram acentuados e onde muitos motociclistas tinham perdido a vida. Recebeu de presente um pequeno sino, parecido com os usados nas carruagens, e o pendurou em sua motocicleta antes da partida. E assim ele seguiu pelas montanhas, numa viagem histórica, retornando em perfeita segurança, sem que nada lhe tivesse acontecido. Ressaltou que o som do sino jamais o deixava sentir-se sozinho e ele acreditava que pelo som, o seu protetor se mantinha junto dele o tempo todo, e isso lhe propiciara tranquilidade na ótima viagem que fizera.

A lenda mais mística sobre o sino, conta a história de um motociclista que estava voltando do México com os alforjes carregados de presentes para crianças. No meio do caminho, foi surpreendido por criaturas místicas (ou talvez ele tenha experimentado peiote demais no México) que fizeram com que ele perdesse o controle e caísse da moto, ficando preso debaixo dela. Para espantar as criaturas, ele começou a atirar os presentes das crianças nas criaturas. E ao pegar um sino entre os presentes, o tilintar fez com que outros motociclistas ouvissem o som, se aproximassem para ajudar, e expulsaram as criaturas. Em gratidão, ele amarrou os sinos nas motos dos motociclistas que o ajudaram, e isso virou uma tradição.

Uma das explicações mais lógicas, no entanto, é que o sino foi usado nas décadas de 1950 e 1960 como uma espécie de “sistema de alarme de baixo orçamento”, para alertar o motociclista se a moto estivesse sendo movida no meio da noite – uma solução barata que se transformou em uma tradição ao longo do tempo.

Hoje, os sinos têm muitas formas, decorações e acabamentos , com relevos que vão desde uma moto até caveiras, anjos e formas geométricas, mas o simbolismo reside no som emitido por ele. Independentemente de qual seja a “verdadeira” história por trás do Sino guardião, é uma tradição divertida que continua entre os motociclistas.

Se você realmente acredita na superstição dos “gremlins da estrada” ou não, o Sino Guardião é uma maneira de dar as boas-vindas a um novo piloto na comunidade, batizar uma nova motocicleta ou apenas para dizer a um motociclista amigo que você se importa com ele. Como se costuma dizer, o piloto que possui um sino tem a mais poderosa bênção de todos – o amor e a boa vontade de um amigo de verdade.

E nunca se esqueça da máxima criada em torno dessa bela lenda: “Never ride faster than your angel can fly” (Nunca pilote mais rápido do que seu anjo da guarda possa voar).


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