147° dia – 20/09/13 – 6a. feira – Rio Gallegos/ Caleta Olivia (Argentina) 703km.
Acordo cedo, umas 6 horas, mas fico colocando os relatos em dia até umas 9 h. O desayuno pra variar simples, mas este estava com mais capricho.
Abasteço a moto e pego estrada sem antes brigar com GPS que me enviava para outro caminho.
Estrada boa sem buracos me convida à reflexões. Minha velocidade é em torno de 100/110 km/h e faço uma comparação com barcos. Uma viagem longa assim não permite altas velocidades. Tem que ser compatível com o caminho a ser percorrido. Se é curto, pode ser veloz como uma lancha, mas essa viagem longa assim percebo como se a moto fosse um veleiro que faz longos percursos de maneira calma e tranquila. Aliás o vento é fator importante. Sinto-o e constato sua direção quando há bandeiras ou panos agarrados nas cercas. Se está contra evito acelerar muito pois desgasta equipamento e consome mais combustível. Se está a favor, é hora de aproveitar e dar mais velocidade. Os laterais são incômodos quando vem da esquerda porque provocam impacto muito forte e desagradável quando os caminhões, principalmente os de frente chata, passam em sentido contrário.
Hoje o vento estava a favor e pude fazer minha introspecção. Coloco minha velocidade de cruzeiro e apesar de ver e ter atenção a tudo que se passa (a cada metro de asfalto cuido da frente, de trás, dos lados, de baixo e também do que está acima) os quilômetros passam a uma velocidade incrível. Os pensamentos voam com o ronco do motor e as lembranças se tornam mais vivas. Entro em sintonia com o momento e a paisagem ao redor. Tudo conspira para uma paz interior. Penso que pode ser algo parecido com o que os andarilhos do caminho de Santiago sentem. Vou levando e sendo levado… Não quero parar, não quero chegar… Quero ficar naquele estado o dia todo… Mas tenho que cuidar das distâncias, do consumo e saber das cidades próximas para abastecer e dormir antes que chegue a noite.
Abasteço em Puerto San Julián onde pernoitei na ida achando que não havia posto mais à frente. Entro na cidade, espero numa fila de carros no posto e perco uns bons 30 minutos com isso… Mas quando pego novamente a estrada havia um posto logo adiante só que tinha passado um temporal lá. Sou um sujeito de sorte, me livrei desse toró por pouco. Segui pegando asfalto molhado mas nenhum pingo de chuva, nem spray porque não tinha carro à frente e nem o dos caminhões em sentido contrário porque o vento estava lateral e nada me molhava. Mais à frente outra nuvem, essa enorme, negra e com um chuveirão já caindo… Pensei que essa não teria jeito… Vai me pegar em cheio… Milagrosamente a estrada foi contornando, contornando aquela massa negra e não peguei nada de chuva! Aliás essas nuvens aqui são muito estranhas e diferentes. São baixas e qualquer uma, por menor que seja pode carregar chuva. Mas o mais interessante é que a chuva fica embaixo da nuvem por horas e cai até poucos metros do chão e pára. Parece que some antes de chegar ao solo… Tinha várias que pareciam umas caravelas (como águas-vivas do mar) flutuando no ar com seus tentáculos de água.
Quase chego à cidade programada que era Comodoro Rivadávia e fico em Galeta Olivia, pequena e de orla marítima. Procuro vários hosteis e fico num razoável, mas que me cambiam a $8 pesos por dólar, o que esta até bom pra região.
Dentro do hostel tem restaurante e o prato da casa estava bom. Fico até madrugada colocando os relatos em dia e relendo as mensagens de força e parabéns recebidas. Aliás, não me canso de ler e reler… São fantásticas e merecem um capítulo à parte.
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