Uma visita ao insólito

Gêiseres Del Tatio

Às três e meia da manhã o celular despertou com precisão suíça… Felizmente, porque se dependesse do irresponsável plantonista da recepção, nosso tão aguardado passeio tinha ido “prás cucuias”,
pois às quatro horas em ponto a van estava buzinando defronte a pousada, já quase lotada de sonolentos turistas. Apesar de dormirmos muito tarde na noite anterior, vinte minutos foram suficientes para estarmos a postos na frente da pousada; isso ainda depois de acordarmos o plantonista, que deveria ter nos chamado meia hora atrás!

A tranqüila San Pedro da noite anterior estava irreconhecível, o movimento de vans e micro-ônibus pelas suas ruelas poeirentas parecia irreal. A dimensão exata daquele agito pudemos constatar logo na saída do povoado, onde algumas dezenas desses veículos juntarem-se no acesso ao destino comum, Gêiseres del Tatio, distante cerca de 90 quilômetros de San Pedro do Atacama. O pequeno trecho de asfalto foi vencido facilmente, apesar da verdadeira corrida maluca, com uma infinidade de perigosas ultrapassagens numa região de serra, onde a intensa neblina só nos permitia ver a dança dos faróis e nada mais. Fim da civilização, o precário asfalto agora dava lugar a uma estradinha tão estreita quanto esburacada, cruzando alguns raros riachos e crateras, num emaranhado de cruzamentos, que prá quem não conhece a região estaria perdido, com certeza. O aquecimento do veículo mais o calor humano não permitiam aos ocupantes, sequer imaginar o frio que estava lá fora, a não ser desconfiar pelo intenso embaçamento dos vidros. O motorista até então nada falante, agora anuncia que já havíamos passado dos 4.000 metros de altitude e lá fora um breu… Dava para perceber muito sutilmente o delineado das montanhas contra o céu, ainda só definido pelo brilho das estrelas.

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Finalmente chegamos ao famoso campo geotérmico, ali a movimentação era de uma quermesse, centenas de turistas, uma grande maioria lotando a sede da administração em busca das instalações sanitárias, cujas filas já pareciam intermináveis. Foi naquele burburinho que ocorreu um fato interessante, como a fila do WC feminino era a mais concorrida, uma jovem e desesperada turista americana acabou entrando no WC masculino pedindo, por favor, pela prioridade no uso, sem se importar com os assustados cavalheiros, alguns inclusive em pleno uso daquelas instalações! Resultado, ela acabou cortando a fila escolhida e bem na minha frente. Mais tarde nos perguntávamos se o desespero dela seria mesmo real ou se aquela jovem era uma tremenda cara-de-pau!

Cafe-da-manha no campo geotermico

Após rápida passagem pelos painéis de informação, retornamos ao veículo e nos dirigimos ao campo de gêiseres, numa área que ocupa cerca de 5.000 m². O frio ainda era intenso, cerca de -10° C, amenizado um pouco mais tarde com o nascer do sol e mesmo assim ainda na escala negativa, algo em torno de – 3ºC, lembrando que estávamos em pleno verão!

Proximo aos Geiseres del Tatio

El Tatio situa-se na cordilheira andina a 4.200 metros de altitude, é o maior campo de gêiseres do hemisfério sul e o terceiro do mundo, só perdendo para o de Yellowstone, nos Estados Unidos e Dolina Gierov na Rússia. O campo geotérmico tem catalogados cerca de 100 gêiseres, porém com pouco mais de 80 ativos. Pudemos observar no centro do campo, uma estrutura metálica abandonada e fomos informados pelo guia, que se tratava de destroços de um antigo projeto do governo chileno para aproveitamento da energia geotérmica, que felizmente havia dado errado, pois comprometeria aquela que é uma das principais atrações turísticas da região. A visita do campo ao amanhecer sempre é recomendada, pois além do horário de maior ocorrência das fumarolas, o choque térmico do vapor expelido ao se condensar com o ar frio da manhã, permite uma melhor visualização dessas colunas que se elevam. Apesar da aparência, por vezes inofensivas, há uma distância mínima demarcada com pedras, em torno dos principais gêiseres, pois já ocorreram acidentes, um deles fatal, com um turista francês, que teria sofrido queimaduras por todo o corpo, conforme relato do nosso guia. A visita dura cerca de 3 horas e pode ser encerrada com um banho numa piscina natural alimentada por gêiseres, algo muito relaxante segundo os corajosos, que se arriscaram a tirar a roupa naquela temperatura.

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