Combinamos de levantar às cinco da manhã e iniciar nossa viagem de moto o mais cedo possível para tentar pegar um trânsito mais tranquilo, mas foi em vão. Na hora que saímos as carretas já estavam na estrada. Os caminhoneiros tiveram a mesma ideia.
Eu saí na frente e deixei os colegas para trás. Não havia como parar para esperar, tinha que avançar sempre.
Num determinado momento me vi na situação de ter que ultrapassar 5 carretas em fila. Estava fácil, pois não vinha nenhuma em sentido contrário, mas quando comecei a ultrapassagem da última entrei em uma poaca gigante. Estava levando bem, já tinha terminado de passar pela carreta quando apareceu embaixo da poaca uma vala, um trilho feito pelos pneus das carretas. A moto dançou de um lado para o outro e não teve jeito, comprei terreno novamente. Mais um tombo feio. Mas graças a Deus e aos equipamentos de proteção, nada de grave aconteceu comigo, mas dessa vez eu caí e a moto prendeu minha perna. Não conseguia sair de baixo. O motorista da carreta teve que parar bruscamente para não passar em cima de mim. Ligou a pisca alerta, desceu e me ajudou a levantar a moto. Agradeci, montei e segui viagem.
Uma hora mais tarde cheguei a um trecho asfaltado da BR-163 e parei para esperar a turma. Não demorou muito e eles chegaram. Não sei quem estava mais impressionado com aquilo. Dificuldade extrema. Mas foi para isso que viemos até aqui, não é verdade?
Seguimos pela estrada, agora asfaltada, até Novo Progresso, onde paramos para tomar um café da manhã. Lá fomos muito bem recepcionados pelo Antony, um sujeito muito bacana, motociclista também.
Seguimos num ritmo muito bom, já que a estrada era asfaltada. Quando chegamos à Serra do Cachimbo paramos para tomar um banho na cachoeira do rio Curuá. Um espetáculo a região. Ficamos pelo menos uma hora ali. Tiramos muitas fotos e descansamos bem.
Quando acabou a poeira, apareceu a fumaça das queimadas. Essa iria nos acompanhar o dia todo, por uns 500 quilômetros. A região estava toda queimando. Chegamos ao estado do Mato Grosso e na cidade de Matupá, saímos da BR-163 e seguimos pela MT-322 rumo à reserva indígena do Xingu. A fumaça das queimadas ainda nos acompanhava.
Planejamos acampar no final do dia às margens do Rio Xingu. Tocamos em um ritmo bom, em asfalto por uns 60 km quando começou novamente a estrada de chão. Seguimos até um povoado onde abastecemos as motos e lá fomos informados que não seria possível acampar na margem do rio, pois era reserva indígena e os índios eram meio arredios com estranhos. Que teríamos que acampar 40 km antes, que era o início da reserva, onde tinha um pequeno comércio.
Logo apareceram as poacas, grandes e profundas, cheias de valas. Não demorou e vi pelo retrovisor da minha moto o Amerizon indo para o chão. Isso me tirou a atenção e como estava meio rápido, entrei numa poaca e caí também. Mais um tombo feio. Dessa vez quebrei o manete da embreagem. Por sorte o Adriano tinha um reserva. Troquei e prosseguimos a viagem, dessa vez com mais cuidado.
Logo anoiteceu e tivemos que prosseguir no escuro naquela estrada irregular e cheia de poacas. Mais um terreno adquirido pelo Amerizon. Parei a moto e corri para ver se ele estava bem, pois não tinha se levantado. A moto tinha caído sobre sua perna e ele ficou preso.
Depois desse segundo tombo ele foi andando arrastando os dois pés no chão por uns 30 km até quando chegamos ao bar.
Quando paramos as motos em frente à varanda e os faróis clarearam o chão no interior do bar, vimos uma cobra lá dentro. Foi aquela correria, a filha do proprietário pulou em cima do balcão e um cliente que subiu numa cadeira. Quando constatamos que a cobra não era venenosa, o Adriano, com um cabo de vassoura, levou-a até o mato do outro lado da rodovia.
Refeitos do susto, abrimos uma skol e relaxamos, depois do dia mais difícil e perigoso, em minha opinião. Tomamos um merecido banho, nos serviram uma refeição muito boa, jogamos umas partidas de bilhar e ficamos conversando com os caminhoneiros que iam parando para passar a noite ali.
Durante uma conversa com um caminhoneiro, ele falou assim: – “rapaz, mas vocês andam muito mesmo em?” Perguntei por que e ele me falou que tinha me visto de manhã, cerca de 500 quilômetros para trás, deitado no meio da estrada. A sua carreta era a segunda daquela fila que eu estava tentando ultrapassar quando caí. Muita coincidência.
Na hora de dormir eu armei minha rede em uma arvore, o Adriano armou a dele na varanda do bar e o Amerizon dormiu na barraca com medo de aparecer outra cobra.
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