8º dia – Humaitá – Manaus

Programei errado meu despertador e ele despertou às quatro da manhã. Levantei e fui arrumar a bagagem na moto. Saímos cedo e fomos a um posto para abastecer, onde batemos um papo com uns integrantes da PM amazonense (nosso amigo Divino Jr. que ia gostar, ele é vidrado em militares).

Para completar, o Adriano foi fazer uma graça na hora de sair do posto e foi para o chão lá mesmo. Os policiais tiveram que ajudá-lo a levantar a moto. Naquele dia iríamos começar o segundo objetivo da viagem, a rodovia BR-319, também conhecida como Rodovia Fantasma.

Essa rodovia é uma incógnita, me parece que teve alguns trechos asfaltados. Só que o asfalto nos lugares onde ainda existia estava em péssimas condições, com crateras que cabiam a moto dentro. Que o diga o Amerizon, que caiu dentro de um desses. Um cara em um carro parou para ajudar ele a levantar a moto.

Em outros trechos viam-se pedaços do que um dia foi asfalto, mas a grande parte estava na terra bruta mesmo e em péssimo estado de conservação.

Minha confiança já estava restabelecida e eu já pilotava forte novamente. Pelo menos as poacas eram raras ali. Em alguns trechos haviam máquinas trabalhando na reconstrução da via. Em outros a pista já estava pronta. Apesar de ser em terra, estava tão bom que conseguíamos andar bem rápido.

Após cerca de 50 quilômetros, chegamos a um pequeno vilarejo chamado Realidade, onde tinha o último posto de gasolina antes dos 500 km da Rodovia Fantasma. Abastecemos o galão reserva, tomamos um café da manhã e adentramos a mata.

Entre estrada ruim, estrada boa e estrada péssima, chegamos à balsa do rio Iguapó-Açu por volta de três e meia da tarde. Inicialmente nosso objetivo do dia. Mas como ainda era muito cedo, resolvemos prosseguir. Esperamos a balsa por uns 20 minutos, atravessamos e rio e seguimos rumo a Manaus.

Usamos a gasolina reserva e íamos monitorando o consumo. Minha preocupação maior era a XRE, que apesar de mais econômica que a Teneré, tinha um tanque 4 litros menor.
Pouco antes de chegar a Manaus e já no limite da XRE, chegamos à cidade de Careiro, onde encontramos um posto de gasolina. Foram 500 km sem um posto de combustível. Chegamos no limite.

A noite chegou e nos pegou na estrada. Na medida em que escurecia, diminuíamos a velocidade. Com isso, parecia que não íamos chegar nunca. Some-se a isso o cansaço extremo. Fizemos um trecho absurdo em um dia. Normalmente este trecho é feito em dois dias.

O cansaço era tanto que eu fiquei com medo de cochilar enquanto pilotava. Meu farol estava desregulado devido ao peso da bagagem, eu não conseguia enxergar direito e os motoristas que vinham no sentido contrário reclamavam do farol e com isso não abaixavam o deles. Foi duro chegar até a balsa, mas graças a Deus chegamos a tempo de pegar a última travessia. Essa sim uma balsa gigantesca.

Os caminhões e carros tinham que entrar de marcha ré para poderem sair de frente. Teve um caminhão que estava com a ré estragada e teve que entrar no embalo de ré. O sujeito dirigia muito, mas foi um momento tenso. Nisso nos distraímos e minha moto tombou, derrubou a moto do Amerizon que caiu sobre o capô de um carro. Por sorte não estragou. Acho que não. Estava muito escuro para ver. O proprietário do carro não ficou nem um pouco feliz, mas não reclamou muito. Mas reclamar com três motoqueiros sujos e mal-encarados como nós, acho que teria que ter muita coragem.

Finalmente chegamos ao nosso destino, Manaus. Cidade grande, às margens do Rio Negro. Depois de andar muito à moda antiga (informações boca a boca) chegamos a um hotelzinho próximo ao porto. Nos hospedamos e fomos dormir. Não quis saber de sair este dia. Estava exausto. Realmente no limite.

Neste dia rodamos quase 700 km, sendo a maior parte em estradas de terra. Limite extremo, pelo menos para mim.


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