Combinamos de tomar o café da manhã, que era servido a partir das seis e voltar para a estrada. Só que eu perdi a hora, coisa rara de acontecer. Isso atrasou um pouco nossa saída, mas como frisou o Amerizon, estamos em férias.
Tomamos um café reforçado e voltamos à BR-153 com destino a… onde mesmo? Era para ser Marabá, já no estado do Pará. Estávamos 100 km adiantados em nosso roteiro, então deixamos de lado a programação original e resolvemos que iríamos tocar até onde desse.
Um pouco antes de Xambioá, parei para tirar umas fotos e os caras sumiram na minha frente. Por mais que eu acelerasse não conseguia alcança-los. Chegando a Xambioá fui até a Balsa para atravessar o rio Araguaia. Nada de encontrar os dois. Perguntei na balsa se tinham passado por lá e me informaram que não. Esperei um pouco ali e nada deles aparecerem. Resolvi dar uma volta pela cidade. Parei em um hotel onde me deram a senha do wifi e tentei me comunicar com eles pelo WhatsApp, mas não responderam. Liguei várias vezes e nada. Sentei em uma cadeira e esperei um bom tempo até que enfim chegaram. Nessa brincadeira perdemos umas duas horas. Mas tudo bem. Estamos em férias.
Entramos na Balsa, que cobrava uns 25 reais pela travessia de motos. Lá conhecemos um senhor que já tinha morado em Goiânia e nos indicou almoçar em uma barraca na beira do rio Tocantins, depois de Marabá.
Chegamos a Marabá perto de meio dia e entramos na cidade pra eu sacar dinheiro para a viagem. Me surpreendeu o tamanho da cidade. Em minha ignorância, o estado do Pará só tinha uma grande cidade, que era Belém.
De Marabá fomos para Itupiranga, que foi o local que nos foi indicado pra almoçar. Uma cidadezinha às margens do Rio Tocantins, com uma orla bacana, cheia de barracas, onde se vendia almoço, cerveja e peixe frito. Ficamos com o peixe frito inteiro, acompanhado de arroz e salada. Bom demais.
Depois de um breve descanso, retornamos para a Transamazônica. É isso mesmo. Já estávamos em nosso primeiro objetivo da viagem. A famosa Rodovia Transamazônica. Ela era asfaltada no trecho até Itupiranga. Depois começou um trecho de 100 km de terra que estava em obras. E como não estava chovendo, só tinha poeira. Muita poeira. Neste momento começamos a usar os óculos de proteção junto com uma bandana para tentar filtrar um pouco do ar que respirávamos. Estes dois equipamentos iriam nos acompanhar por muito tempo ainda.
Logo que entramos na estrada sem asfalto o primeiro susto. Entramos tracionando muito e a terra tinha sido molhada por um caminhão pipa, o que fez um pouco de barro sobre o chão recentemente compactado. Estava um quiabo. A moto saiu de traseira e quando tentei consertar ela derrapou com a roda da frente. Quase comprei terreno pela primeira vez na Transamazônica. Quando eu comentei com o Adriano ele disse que tinha acontecido o mesmo com ele. Bom para ficar esperto com o barro.
Mesmo na estrada de chão, que estava em boas condições, estávamos andando forte. Em um trecho com muita poeira passei raspando em uma mula que estava no meio da estrada. Como estava na frente dei meia volta para alertar os colegas. Perigoso demais a situação. Passamos então a andar um pouco mais devagar. Logo chegamos à cidade de Novo Repartimento, onde nos hospedamos no hotel Monte das Oliveiras, que realmente ficava em cima de um morro na beira da rodovia.
Aconteceu uma coisa engraçada ali. Quando parei a moto e coloquei os pés no chão, ela começou a andar de ré devido à inclinação. Apertei o freio da roda da frente que travou, mas mesmo assim ela não parou e a descida era bem grande. O Amerizon teve que vir correndo para segurar a moto, que depois de muito esforço, resolveu parar. Quaaaase…
Depois de nos instalar, cada um em um quarto, tomar um merecido banho e tirar na medida do possível a poeira, descemos para o saguão onde encontramos um outro moto aventureiro que estava no sentido contrário. Estava viajando só. Infelizmente não me lembro o nome dele. Ele nos alertou sobre as poacas que iríamos encontrar pela frente. Poaca é uma aglomeração de uma poeira bem fina, que assenta em um trecho da estrada. Pode ser rasa ou funda, às vezes com até meio metro de profundidade. Quando a moto entra na poaca perde-se o controle quase que totalmente, exigindo do piloto uma técnica apurada para não cair. E o pior é que ela esconde buracos, pedras, pau e qualquer outra coisa. Não dá para saber o que tem embaixo. É quase uma pilotagem às cegas.
Saímos para comer e nos intrigou o motivo da cidade se chamar Novo Repartimento. Levantamos várias teorias, mas nenhuma parecia muito aceitável. O Adriano resolveu voltar para o hotel e eu e o Amerizon ficamos tomando umas. Nisso conhecemos um simpático morador da cidade que se sentou conosco e foi nos contar a respeito da região e dos costumes do povo paraense e aproveitou para nos informar a respeito do nome da cidade. Existia ali uma cidade com o nome de Repartimento. Quando se formou o lago da hidrelétrica de Tucuruí, a cidade foi inundada. Todos os cidadãos foram deslocados para uma nova cidade, que foi chamada de Novo Repartimento. Infelizmente não fomos conhecer a Hidrelétrica de Tucuruí. Para mim que sou engenheiro eletricista, foi lastimável, porque provavelmente não passarei mais por ali.
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