São João da Pesqueira – Miranda do Douro

Depois do dia de ontem, o que será que ainda iria me impressionar?. Pobre de mim, eu estava fazendo uma viagem de moto pela Europa, mais precisamente em Portugal, onde estradas aguardam motociclistas dispostos a percorre-las, porém sem deixar de ler e sentir suas histórias, aromas e sabores. Não é pouco, não é pouco, podem ter certeza.

Em uma pequena aldeia você encontra ruínas do Império Romano. Na saída daquela curva onde você está vibrando com o contra-esterço perfeito e a moto na inclinação correta, você se surpreende com o muro de pedra da era medieval. Ao sair do café, onde parou para tirar a “água do joelho”, se espanta com uma igreja do século X, não vista na chegada pela premência do aflitivo momento.

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Esta região do Douro é onde se concentram vinícolas e quintas. O rio Douro corre, melhor seria dizer passeia, numa espécie de vale formado por montanhas onde se plantam videiras a perder de vista, formando desenhos que acompanham as dobras das encostas. A estrada fica numa posição mais alta, o que permite apreciar cenários que, ao mesmo tempo lindos, podem se tornar perigosos caso o gajo se distraia. Recomendo parar, fazer as fotos e orar agradecendo o privilégio do momento.

Miranda do Douro, a última cidade antes de entrar na Espanha é belíssima, com pedaços de história que não podem ser ignorados.

Logo na chegada vi, ao longe, uma igreja e um grande muro de pedra. O frentista do posto de gasolina disse que era a Catedral e o Castelo. Pronto, foi o suficiente. Precisava de um dia de folga para descansar e colocar a escrita em dia. Acabei ficando mais um dia e estou terminando de relatar estes últimos 3 ou 4 dias.

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Hoje fui visitar o tal castelo, na realidade não era bem isso, mas sim coisa muito melhor. Peguei a moto e fui seguindo as torres da Catedral e cheguei ao local. Meus amigos, uma cidade medieval inteira me esperava cercada por uma muralha de pedra e incrivelmente conservada com ajuda da Comunidade Europeia. O melhor de tudo é a possibilidade de entrar carros e motos em seu interior, pois o calçamento foi refeito, nos padrões próximos ao original e, em alguns locais, só moto passa devido à largura das vielas, que foram mantidas as originais.

A Catedral, do século XVI, foi construída sobre os alicerces de uma igreja do século XIII que ruiu e isso criou um fato que chama a atenção. Como a igreja antiga servia como cemitério, costume muito comum na época, o piso da Catedral é todo de lajes móveis sob as quais estão sepultadas inúmeras pessoas. Algumas com inscrições originais gravadas nas pedras.

O reconquista cristã do vale do Douro ao Islã, durante os séculos IX a XI, deveu-se à implantação de castelos como base de fortificação territorial. Três séculos depois, em 1286, foi incorporada uma estrutura militar ao castelo gótico, construída por Don Diniz no século XIII, que por ficar no alto de uma elevação dominava o istmo entre os rios Douro e Fresno. No final do século XV, com a invenção da pólvora, foi preciso reforçar as defesas e colocar bocas de fogo. Alguns bispos moraram ali até ficar pronto o palácio episcopal.

Em 1710 a cidade foi tomada à traição (dizem que um sargento-mor Pimentel a entregou aos espanhóis que penetraram pela chamada “porta da traição” que ainda hoje pode ser vista.

Em 1762 foi parcialmente demolido pela explosão do paiol de pólvora, quando a cidade foi tomada por Carlos III da Espanha, na guerra dos 7 anos.

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Jamais me atreverei a julgar fatos históricos e acho engraçadíssimo quando vejo alguém tentando fazê-lo. Penso que julgamentos devem ser feitos por pessoas que detenham todo o aparato, técnico e emocional para a tarefa. Por exemplo, conhecer leis, costumes e hábitos de uma época. Além disso, ter acesso a todas as informações relativas ao evento, vale dizer: o ambiente em que se deu, as motivações, provas, contra-provas e tudo o mais que faria parte de um processo. Não basta um historiador deitar falação para aquilo ser considerado uma prova válida. Por fim, o mais importante, fundamental até no julgamento de um ladrão de galinhas. O amplo direito à defesa que, no caso, fica prejudicado pois é um julgamento onde existem apenas “juízes” e “promotores”, na sua maioria já com a sentença debaixo do braço.

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