Lugo – Santiago de Compostela

O hotel em que fiquei, além das ótimas instalações, incluído garagem coberta, oferece um desjejum a 3,50 euros onde o destaque é um “le croissant” que deve ser saboreado pensando-se, no máximo, na mulher amada. Maravilhoso…

Arrumando a tralha na moto, o gerente, sempre muito atencioso, fez questão de vir se despedir e perguntar se necessitava de algo. Acabamos por trocar cartões de visita e fazer uma foto para registrar o momento. Realmente foi uma ótima opção o Los Olmos.

Coloquei apenas a cidade de Santiago de Compostela no GPS, já que ele não aceitava o endereço do hotel. “Vai ver que é viadagem do Tomtom Macoute só porque acabou de acordar. Mais tarde voltarei a tentar”, pensei eu.

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Como sempre, ele me mandou para a estrada principal, sem muito trânsito, mas com uma temperatura baixíssima para meus padrões. Lamento o tempo todo ter esquecido minha “pescoceira” e minha luva de frio, além de ter claustrofobia quando uso capacete integral. O lance é que a 120-130 km/h, o vento gelado batendo nas mãos, pescoço e nas fuças vai me desgastando, o que acaba influenciando negativamente na pilotagem que, a bem da verdade da disciplina e da moral, já não é lá essas coisas. Antes que congelasse algumas importantes partes de minha anatomia, resolvi pegar uma estrada da série B (a exemplo do Botafogo) onde foi possível estacionar, enrolar o cachecol do Barça em volta do pescoço, cobrindo boca, nariz e orelhas e, depois de uma luta incrível, atarrachar o capacete por cima desse arranjo. O fato é que melhorou, mas desconfio que isto foi graças à estrada pois, agora sim, eu estava no meu elemento: curvas de todos os tipos, vegetação com a cor adequada, flores silvestres enfeitando as margens e fazendo moldura para pequenas árvores amarelas. Pronto, o cenário estava criado. A mim só restava não destoar. Esqueci frio, luvas, capacete e as faturas dos cartões de credito (vencidas e a vencer). Concentrei-me no bailado que iríamos fazer.

Conversei baixinho com a Brigitte, combinamos alguns truques e entramos em cena. Curvas feitas com técnica e aprumo. Algumas com uma certa presepada confesso (afinal não se é um Rodrigues Silva impunemente). Outras com garra e determinação. Reflexos que eu julgava para sempre adormecidos deram o ar de sua graça, enchendo-me de esperança em outros departamentos naturalmente (se é que a senhorita me entende !).

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Sair de uma curva em aclive à esquerda, o contra-esterço inclinando elegantemente a moto para a próxima curva à direita, os pneus mordendo o ponto de tangência junto ao barranco que esconde o adivinhado ponto de saída, as rotações do motor no patamar exigido pelos desafios às leis da física e da gravidade, o olhar buscando alcançar o “ponto futuro” da moto, as mãos suavemente apoiadas nas manoplas, tudo isso dava-me a certeza de que, para um velho, não estava de todo mau o desempenho.

E foi assim, uma pilotagem maneira aqui, um frio ali, um cachorro perdido acolá que acabei chegando na belíssima cidade de Santiago de Compostela. O Tomtom continuou ignorando o endereço que passei. Só mais tarde descobri que se você colocar “Calle” ele não sabe do que se trata, tem que colocar “Rue” pois só fala francês o desinfeliz. Que nem meu amigo Peixoto.

A Hospederia Via Lucis é um capítulo à parte. Quando cheguei ao endereço não acreditei. “Mas isto aqui é um Convento, Seminário ou algo do gênero”. Sim era algo do gênero, uma “Casa Diocesana para Ejercicios Espirituales”. Eles tem 54 pequenos quartos com banheiro chamados de células construido em 1943 e impecavelmente mantido por uma ordem religiosa. Recebe peregrinos de todas as partes do mundo que utlizam todos os meios de locomoção: a pé, ônibus, bicicletas, automóveis e, acreditem, até mesmo uma moto! Servem café da manhã, almoço e janta pagos à parte. As instalações são espartanas, mas limpas e agradáveis. No centro do prédio há um jardim muito bem cuidado onde as pessoas se aquecem ao sol enquanto leem ou colocam a correspondência em dia usando o wi-fi.

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Gostei tanto da cidade e da Casa Diocesana que fiquei mais dois dias. Valeu a pena, a energia que as envolve é singular. Marcou-me para sempre.

Eu sabia que Santiago de Compostela era um dos 3 grandes destinos mundial de peregrinação cristã junto com Vaticano e Jerusalém, porém nada muito mais do que isso. Embora existam inúmeras versões para a origem de Santiago de Compostela, tento resumir a que mais me agradou: no século IX a Espanha, tal como é hoje, não existia. Haviam feudos e burgos autônomos governados por seus senhores em permanente luta para manter e ampliar seus domínios, seja através de alianças políticas, casamentos ou, mais frequentemente, pela força das armas. O rei Afonso II das Astúrias, além da luta com os muçulmanos, estava às voltas com rebeliões internas estimulando uma secessão que enfraquecia seu poder perante os outros potentados, quando tomou conhecimento de uma notícia que se espalhava como um rastilho de pólvora pelo continente: a descoberta do túmulo de Santiago Maior, um dos apóstolos de Jesus, e seus discípulos Teodoro e Atánasio. Segundo a lenda, uma estrela (stellae) indicou a Paio, o Eremita, um campo (campus), onde estariam os corpos e isto atribuiu uma importância religiosa enorme ao local, estimulada que foi pelo bispo Teodomiro. Afonso II aproveitou-se dessa oportunidade e declarou-se o único e genuíno representante da tradição em matéria de religião e leis, para com isso assegurar a unicidade do poder. Fez uma peregrinação ao local tornando-se, segundo a tradição, o primeiro peregrino de Santiago. Mandou construir, às suas expensas, uma igreja a quem concedeu privilégios e fundou uma povoação à sua volta. Com isso, Afonso II conseguiu encontrar um padroeiro para sua causa contra os mulçumanos.

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O nome Compostela tem várias versões, seria até mesmo o nome de uma mulher que teria acompanhado Santiago Zebedeu mas prefiro, por cavalheirismo, ficar com o vindo do latim: “campus” + “stellae” = Compostela.

Apenas para encerrar, Santiago de Compostela tem cerca de 100.000 habitantes dos quais 30.000 alunos da conceituada Universidade de Santiago de Compostela, que abrange 19 Faculdades, fundada em 1495 e PÚBLICA. Antes de sermos oficialmente descobertos eles já fundavam universidades públicas. Talvez isso explique alguma coisa.

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