Gurmençon – Covarrubias

Hoje, quando acordei, olhei pela janela do quarto e me deparei com uma área interna do hotel onde a moçada faz o desjejum e meu astral começou a melhorar, depois das idas e vindas de ontem. Acho que entrei e sai de Espanha e França umas 30 vezes.

A beleza da área me fez esquecer todos os contratempos. Só a Brigitte é que ainda estava ressabiada e juro que ouvi-a dizer baixinho: “- Hoje levo esse velho maluco para a Espanha ou passo a me chamar Jean Willys”. O fato concreto é que ela tomou o freio nos dentes e passou a comandar as ações. Previdentemente, dei uma estudada no mapa na noite anterior, claro que aberto sobre a mesa do restaurante do hotel e eu, de pé, como deve estar um general de alto gabarito, estrategista emérito e piloto de moto coxa-master. Uma pena o restaurante estar vazio naquele momento histórico. O que seria de Patton, Romel ou mesmo um Eisenhower sem plateia? Provavelmente mais um velho desmiolado como o locutor que vos fala….

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Seguindo o roteiro adrede traçado (eita nós !), fugindo dos mortais “Peages”, acabamos entrando na Espanha, através do país Basco e antigo Reyno de Navarra.

Parei para abastecer a Brigitte perguntei ao dono do posto pela boina, ele sorriu e respondeu-me: “No dejarnos usarla, pero La tengo em my casa para cualquer eventualidad”. Caramba, essa briga vem lá da idade média…

Bem, na Espanha eu já estava, agora só restava atingir o ponto culminante dos Pirineus e desce-lo na direção de Roncesvalle. O mais interessante é que o viadaço do GPS informava que a velocidade máxima da estrada era 90 km, para mim ele está tentando me matar. Curvas em cotovelo, umas atrás das outras, manter 90 km nem o Valentino Rossi perseguido pelo fisco brasileiro consegue.

Ignorando o GPS, chego ao ponto culminante. Claro que a parada é automática. Tem uma pequena capela, faz um friozinho legal, mas a vista é simplesmente espetacular. Parei numa boa posição para fotos, comecei a faze-las.

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De repente chegam dois casais falando aquele maravilhoso idioma que a gente tanto brinca mas adora…..”-Hermanos”, pensei. Na mosca. Eram argentinos. A emoção foi grande, abraços, risadas e aquele papo em “portunhol” que termina sempre em “mendocino” e “caipirinha” ! Foi ótimo, todos fizemos fotos de todos. Um momento da mais pura confraternização e emoção e, como se fosse pouco, eram de Cañuelas, cidade argentina que adoro.

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Depois de deixar os “Hermanos” para trás, comecei a descer e cheguei a Roncesvalles. Uma beleza de lugar e o bar, restaurante e hotel é ponto de parada de romeiros, mochileiros e motoqueiros de toda a parte do mundo. O dono, um senhor muito simpático, nos dá todas as informações e me chamava direto pelo nome (tinha visto no meu crachá) demonstrando uma preocupação espontânea e legítima por todos que chegavam ao restaurante.

Bem próximo há uma igreja de Santiago do século XIV e, ao lado, um Silo de Carlomagno do século XII, a edificação mais antiga de Roncesvalle.

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A região, para variar, é encantadora. Aldeias, povoados, burgos e vilas que já existiam quando de nosso “descobrimento” são preservados. Novas construções, que se façam necessárias, acompanham o conjunto sem tirar a beleza e o charme do local.

Talvez isso explique porque famosos do mundo inteiro se refugiem nesses lugares simples e históricos e mais do que tudo, seus habitantes tenham orgulho à altura de seu comprometimento com sua cidade, seja ela do tamanho que for.

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Dalí para frente, resolvi dar uma “peajada” ou seja, pegar uma estrada com o tal de “Peage” já que segui os conselhos do meu sobrinho Rodrigo e entupi meus bolsos de moeda. Peguei o ticket na entrada e depois foi só manter os 120 km/h para acompanhar o fluxo. Na hora de pagar a goiaba, seguindo outro expert, o Erikson, procurei as cabines das extremidades, mas antes disso vi uma placa com 4 desenhos: um trator, um cavalo, um cara a pé e uma motocicleta e a indicação para pegar uma via paralela ao “Peage”. “Ôba”, pensei “isso é que é país, moto não paga peage”. Bem, vocês já adivinharam, né… tio Hélio fez mais uma asneira. O desenho não era moto era uma bicicleta. Mais um país atrás de mim agora. Céus! A continuar dessa forma minha folha corrida me colocará, automaticamente, candidato a algum cargo no governo da República Descacetada do Bananão.

A bem da verdade devo dizer que dali prá frente consegui “peajar” numa boa. Nos pedágios da Espanha as maquininhas aceitam dinheiro (notas de 5; 10; 20 ou 50 euros ou moedas), cartão de crédito ou alguém vem lhe ajudar.

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A hora avançada, 17 horas, recomendava iniciar a etapa de procurar hotel. Essa é uma estratégia que uso muito, procurar hotéis ao apagar das luzes pois é o momento em que podem surgir ofertas irrecusáveis, principalmente no meio da semana. Afinal é melhor baixar a tarifa do que ficar com um quarto fechado. Verdade que já passei por alguns poucos sufocos, mas até mesmo a adrenalina do risco de dormir na rua é emocionante. Sempre penso numa delegacia como última alternativa, por bem ou por mal. Nunca aconteceu.

Dessa vez, utilizando o Hotels.com, descobri um simpático hotelzinho chamado “Doña Sancha” em Covasrrubias, a 30 km de Burgos. Preço normal 60 euros, estava por 35 + 4 com café da manhã. Parti para lá e na estradinha que leva à cidade, um céu cenográfico e nuvens incríveis me levaram a fazer esta foto:

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A entrada da cidade já valeu a viagem, a imagem de El Cid “El Campeador”. Só não fiz mais fotos por falta de baterias carregadas na câmera.

O hotel foi um achado, um dos melhores e mais charmosos em que fiquei nas minhas viagens. Novo, limpíssimo, cheiroso e, acima de tudo, um atendimento difícil de encontrar igual. O café da manhã é um almoço, com aqueles queijos e frios da região, suco natural de laranja, pão caseiro, croissant e o ponto alto: torrada de croissant com geleia de cereja caseira. Hoje não almoço.

Vou tirar o dia para explorar o vilarejo que, para variar, tem dezenas de atrações históricas. Além disso, tenho que escrever para os filhos, pessoal da Yamaha, carregar baterias de câmeras, baixar fotos, lavar roupas, telefonar para operadoras de 3 dos 4 cartões de crédito que cismam de bloquea-los (aqui prá nós, acho até que eles têm razão. Nem eu mesmo acredito que esteja na Zoropa).


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