Ontem à noite Fiscal, um pequeno burgo que vira estação de esqui no inverno e agora no verão acolhe montanhistas, mochileiros e motards, começou a se despedir de mim com um belíssimo pôr de sol. Mais tarde despencou um pé d’água que durou toda a noite, me deixando preocupado para o dia de hoje. Acordei cedo, sem chuva, mas com nuvens baixas e preparei-me para o que viesse e desse.
A primeira tarefa: brigar com o GPS. Ele insiste em me mandar para uma estrada que dará uma volta de uns 500 km, enquanto estou a 240 km de Andorra pela 260. O remédio foi ir “setando” o viadinho para a próxima cidade, a cada uma que eu passava.
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A saída de Fiscal, pela 260, inicia a subida de uma serrinha em uma estrada asfaltada (bom o piso) porém estreita. Mal passam dois automóveis e é comum encontrar tratores e caminhões. Pilotagem cuidadosa, muita atenção no que vem pela frente, sem descuidar dos retrovisores e sem jamais esquecer que você está na Cataluña, onde os caras bebem vinho no café da manhã!
A viagem ia transcorrendo muito bem, algumas paradas para fotos, belas paisagens nos envolvendo e muitas, mas muitas motos aparecendo junto com o sol que veio nos espiar pelas beiradas das nuvens, que iniciaram uma retirada lenta e gradual. O “maçarico” estava sendo ligado e isso recomendava uma parada, extração de “água joelhal”, além de tirar toda aquela indumentária que nos deixa com cheiro de xulé.
Parei à sombra de umas árvores ao lado de um pequeno bistrô. Duas motos chegaram e, ao invés de parar perto de mim na sombra, fizeram questão de parar distante e no sol. Tirei foto para aqueles que acham que é exagero. Engraçado isso, os motards daqui, embora mais formais que os brasileiros, sempre nos cumprimentam quando cruzamos ou nos ultrapassam (tirando o pé direito da plataforma e dando uma pedalada à La Valentino Rossi quando nos ultrapassam). Mas tem uma turminha, por coincidência a maioria com a mesma marca de moto, que simplesmente se recusa a fazê-lo. Penso que devem ser motos de difícil condução e eles não conseguem tirar a mão da manete.
Parei bastante para tirar fotos de conjuntos de construções medievais que foram reaproveitados, restaurados e integrados às pequenas vilas e burgos.
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Quando a 260 ficou mais larga e as curvas menos acentuadas, a velocidade máxima subiu para 90 km/h, mas era desrespeitada por todos, se falarmos em 110 – 120 km/h estaremos mais próximos da realidade. E, claro, eu me mantive no mesmo ritmo dos demais para não atrapalhar. Foi quando passei por um grande susto. Estava numa curva para a direita e vi uma placa indicando o limite de 70 km/h, um túnel em curva, sem faixas no chão e eu tentei usar um truque do Emerson, quando entrava no túnel de Mônaco: antes da entrada mantinha uma vista fechada e logo que entrasse abria essa vista, que não estava sob efeito da intensa claridade do sol. Só que ele a fechava alguns bons 100 ou 200 metros antes da entrada e isso, como toda a técnica, exige treinamento para ser executada de forma automática. Resumindo, foi uma cagada só… a curva era para a direita (a mais perigosa, pois se você errar você vai para a esquerda – e a esquerda é sempre prenúncio de catástrofe), quando dei por mim estava na contra-mão e em direção à parede do túnel. Consegui manter a calma (não me perguntem como), contra-esterçar com vontade e voltar à faixa de rolamento da direita. Por sorte não vinha nenhum veículo em sentido contrário. Devo essa a todos vocês que torcem por mim, acredito na energia positiva que isso gera, me envolvendo. Obrigado e prometo não repetir a “técnica”.
Como ensinamento: jamais execute um procedimento para o qual você não está habilitado a fazê-lo. Leia sobre o assunto, treine em velocidades mais baixas até dominar a técnica antes de incorpora-la à sua “caixa de ferramentas de pilotagem”.
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Daí para a frente redobrei os cuidados até chegar a Andorra La Vella, no principado de Andorra. Meus amigos, a cidade tem muitas edificações antigas reformadas, abrigando os mais famosos nomes mundiais nas áreas de joalheria, modas, diamantes e relojoarias, além de ser um dos maiores centros produtores de perfumes do mundo. As ruas estreitas, o trânsito meio louco, a quantidade de motonetas, os guardas que assistem a tudo impassíveis não inibem a circulação de Aston Martins, Ferraris, Jaguares, Porsches e outros sem o mesmo pedigree. Mini Cooper e Alfa Romeo eram como nossos Fiats Uno. Com tudo isso, consegui um hotel, no meio da “furduncio”, por 35 euros com café da manhã que, confesso, comi como se fora um camelo se preparando para cruzar o Saara ocidental. O roubo é no estacionamento 15 euros para automóveis e 6 para a Brigitte. Por ser quem ela é deveriam cobrar 60 euros. Burros!
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