Colmar – Paris

Reservei um hotel em Saint-Ouen-l’Aumône, a 40 km do centro de Paris, porém a 1 km da Yamaha Motor France. Afinal tinha de pensar na minha caminhada de volta depois de entregar a moto, hehehe. A viagem até Paris foi excelente. Havia uma ameaça de chuva, mas percebi que elas ocorrem sempre a partir das 13 horas, por isso saímos cedo e fomos desfrutando os últimos quilômetros de nossa parceria.

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O tempo estava nublado, o que poderia contribuir para um certo clima de melancolia para a nossa despedida, mas isso não ocorreu, fomos lembrando os momentos maravilhosos de uma viagem de sonho: as encostas cobertas de parreiras da região do Douro no fraterno Portugal; as edificações medievais, gálicas e romanas enfeitando nosso trajeto; as curvas radicais dos Pass e Cols dos Pirineus e dos Alpes; os abismos incríveis domados pelo homem no Furka Pass; a fúria do vento no alto do Col de La Bonette; a força da fé e da esperança impulsionando peregrinos para Santiago de Compostella; Fátima, presença constante em minha vida; as estradas roubadas à rocha no Canyon Du Verdon; o azul incrível do Adriático e mais, muito mais, porém nada que chegue perto daquilo que mais me emocionou em toda a viagem: o ser humano. Nada se lhe compara. Nesta viagem descobri que todos temos muito mais amigos do que imaginamos. Pessoas que jamais voltarão a vê-lo, e sem motivo aparente, são capazes de anônimos gestos de grandeza. O carabinieri Stefan; o meu amigo Lupo; as enfermeiras e médicas do hospital de Silandro; o ciclista que me socorreu com seu inglês pior do que o meu porém com uma dedicação enorme; o dono do hotel em Silandro; Rosi, uma verdadeira mãe para mim; pessoas de quem nem sei o nome, mas que me encorajavam com um “buon giorno” e um sorriso ao me verem andando. Foi maravilhoso sentir uma cidade torcendo por mim. No dia em que cheguei trazendo a moto da oficina pude ver a alegria estampada na face das pessoas. Parecia que estavam orgulhosos de mim e dizendo: “- Vá em frente motoqueiro, são apenas 1.000 km até Paris, você consegue seu velho coxinha !”.

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E conseguimos mesmo. Hoje (22 de julho de 2015), depois que o pessoal da Yamaha saiu do galpão deixando-nos a sós, me despedi da Brigitte com um afago no tanque e um “obrigado querida”. Em seguida, sem olhar para trás, sai mancando qual um pato aleijado em direção ao hotel, numa caminhada que durou o tempo necessário.

Bem, a lona foi enrolada, o picadeiro desfeito, a bailarina e o palhaço se despedem e esperam ter transmitido um pouco da alegria que os embalou durante esses 70 dias.

Até qualquer hora… e muito obrigado.


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