Braga – Porto

Agora outra viagem de moto, bem curta, mas que me levaria à foz do Douro, ao caís do Adeus, onde muitos de nossos antepassados se despediram de pessoas amadas e fitaram seus rostos pela última vez, antes de embarcar numa aventura que só os que amam a estrada podem entender. Talvez por isso, a visão do Farol da Barra em Salvador lembre tanto o do Porto. Nossos patrícios construíram uma cópia do último cenário visto enquanto as naus desapareciam na curva do horizonte.

Além de tudo o que a cidade do Porto nos oferece em termos de história, igrejas, monumentos, cafés, livrarias, restaurantes e padarias que nos fazem mandar todos os regimes para os quintos dos infernos, eu tinha dois compromissos: o primeiro seria encontrar meu irmão Nando, o primeiro “analfabeatle” a perder uma carteira no Porto e que estava passando férias na Europa. O outro compromisso era com o Jorge Meirelles e o pessoal do Motoclube do Porto.

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Uma das curiosidades que eu tinha era a razão para os naturais do Porto serem chamados de “tripeiros”. Acabei descobrindo e me emocionado, afinal é a história da solidariedade de uma cidade com seus filhos que iam para a guerra. Isso ocorreu quando a Armada se preparava para a batalha com Castela. A população decidiu doar toda a carne da cidade para abastecer os depósitos de víveres das naus e ela, a população, ficaria com as tripas. O que acabou por dar origem à famosa “dobradinha com feijão branco”.

O encontro com o Nando e a Lena foi uma festa, relembramos nossa viagem a Ushuaia em 2007, ele numa Super Ténère 750 e eu nuam Dodge M37 dando apoio às 5 motos. Aproveitamos e fizemos um circuito turístico naqueles ônibus sem teto que nos levou a sítios que certamente não iríamos por desconhecimento. Valeu a pena.

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O encontro com o pessoal do Motoclube do Porto foi sensacional, uma sede linda e uma gente motociclista de verdade. Gente que gosta da estrada, gente que nos acolhe como se irmão fôssemos e que nos faz mudar o roteiro com argumentos inquestionáveis e explico porque. Meu projeto original era ir à Fatima e depois Sevilha, Madrid, Andorra, etc.. Bem, foi isso que expliquei para o Jorge Meirelles e ele me respondeu espantado: “- Mas esse caminho é obvio!” e só então me dei conta disso, estava errado, aliás erradíssimo. Nenhum motociclista utiliza caminhos óbvios, além de demonstrar falta de imaginação pode ser extremamente perigoso. Conheço alguns que voltaram casados! Concordei com ele que, para meu espanto e alegria, abriu um enorme mapa sobre a mesa, tomou de uma folha de papel e uma caneta, uma talagada em um enorme copo de caipirinha (sim, caipirinha legítima feita com “51” ) e falou com a seriedade que o momento exigia: “- Vou traçar-lhe uma rota”. Meus amigos, se Dom Henrique de Coimbra fosse vivo, não faria melhor. Ali estava, bem na minha cara, a prova viva do sucesso da Escola de Sagres. E eu teria a honra de comandar a nau Brigitte na rota adredemente preparada por Dom Jorge Meireles, seja lá para onde fosse. O amigo pode perguntar se eu não temia essa nova rota e respondo com sinceridade: inicialmente sim, mas após ouvir os nomes das cidades que cruzaria, todo meu temor desapareceu. Eram nomes maravilhosos, que só um idioma como o nosso consegue dar o ritmo e o balanço que eles merecem. Ouçam-nos e imaginem pronunciados corretamente, sem nosso sotaque brasileiro:

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Peso da Régua – Pinhão – São João da Pesqueira – Vila Nova Foz Côa – Barca D’Alva – Freixo de Espada à Cinta – Mogadouro – Miranda do Douro.

Isto me levaria pela região do Douro até a fronteira com a Espanha, que ele também completou até Andorra, mas agora com cidades de nomes desprovidos de personalidade.

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