Viajar de moto pela França, passando pelos principais pontos turísticos, saboreando a gastronomia local, tomando bons vinhos e, de quebra, conhecendo um pouco dos países vizinhos… Parece sonho para qualquer motociclista, né? Pois foi exatamente assim que começou a aventura de dois brasileiros: Rômulo Provetti e Vanildo Siller. A única diferença é que, para eles, o sonho virou realidade em agosto de 2010.
Rômulo já acumulava no currículo várias viagens de moto pelo Brasil e uma grande aventura pela América Latina até o deserto do Atacama, no Chile. Vanildo, por outro lado, tinha apenas a vontade — e quase nenhuma experiência sobre duas rodas. Sua “bagagem” era limitada a alguns quilômetros rodados anos antes, apenas para tirar a carteira de habilitação. Os dois se conheceram em Belo Horizonte, onde trabalharam juntos por três anos. Quando Vanildo decidiu fazer doutorado na França, a oportunidade parecia perfeita para planejarem uma nova aventura, desta vez pelo velho continente. O que começou como uma brincadeira de amigos, meses depois se concretizava sobre o asfalto europeu.
Neste artigo, vamos compartilhar um resumo dessa jornada de 5.400 km, principalmente pela França, mas também atravessando a Suíça, Alemanha, Luxemburgo, Espanha, Mônaco e Itália. Vamos contar as experiências, curiosidades e passar dicas valiosas para quem também sonha em se aventurar de moto pela Europa.
Planejamento da Viagem
Mesmo sem muita certeza se o plano sairia do papel, começamos a pesquisar o preço do aluguel das motos, criar roteiros e calcular os custos. Descobrimos que alugar uma moto de grande cilindrada (mínimo 650cc) para 20 dias não sairia por menos de 2.000 euros. É caro, mas inclui moto nova, seguros e suporte técnico em caso de problema — o que é essencial para a segurança.
Mas como gostamos de um pouco mais de aventura (e queríamos economizar), decidimos comprar as motos em vez de alugar. Acabamos rodando com uma Yamaha Ténéré 650cc, ano 1991 (1200 euros) e uma Honda Transalp 650cc, ano 2000 (2400 euros). Depois da viagem, vendemos a Transalp. Mesmo com a depreciação e os custos de transferência e seguro, ainda saiu muito mais barato que o aluguel.
Batizamos nossa viagem de Tour de France em homenagem à famosa competição ciclística que atravessa toda a França e alguns países vizinhos — exatamente como era nossa intenção.
O planejamento inicial foi feito com base em informações da internet e dicas pessoais. Usamos o Google Maps para calcular trajetos, quilometragem e o tempo de viagem por dia. A ideia era ter uma referência, mas deixar espaço para improviso. No fim, surpreendentemente, seguimos o plano original quase à risca, alterando apenas pequenos detalhes. Foi essencial focar na França, pois tentar “abraçar” tudo seria cansativo e pouco proveitoso. Nossa média diária foi de 256 km e três cidades visitadas por dia.
A Viagem
A França é um país impressionante pela diversidade de cenários: praias no Atlântico e Mediterrâneo, Alpes e Pirineus desafiadores, regiões vinícolas como Bordeaux e Alsácia, e o majestoso Vale do Loire com seus castelos de conto de fadas. Durante a viagem, visitamos dezenas de cidades — difícil até contar!
Paris merece destaque especial. Não dá para conhecer a Cidade Luz de moto: o trânsito é complicado e o metrô é muito mais prático. Mas é claro que dedicamos um dia para fazer aquele tour fotográfico em frente aos cartões-postais, com as motos, antes de guardá-las e explorar a cidade a pé, de metrô ou barco.
Dicas e Conselhos
Estradas – No verão, o movimento é intenso, porque toda a Europa está de férias. Preferimos as estradas regionais (D), mais tranquilas e cheias de charme, mas quando precisávamos ganhar tempo, apelávamos para as autoestradas (A) ou nacionais (N). As rodovias europeias são seguras, bem sinalizadas e em ótimo estado.
Autoestradas – Na Alemanha, as Autobahns são um espetáculo: sem pedágio e sem limite de velocidade em alguns trechos! Já na Suíça, rodar nas autoestradas exige um selo anual de 40 euros. Em cidades litorâneas no verão, prepare-se para congestionamentos.
GPS – Fundamental! Mesmo com boa sinalização, o GPS salvou muito na hora de achar hotéis, atrações e postos de gasolina. Usamos um Garmin com suporte impermeável e alimentação direta na bateria da moto.
Hotéis – Buscávamos hospedagens econômicas (média de 50 euros por quarto duplo) pelo Booking.com, sempre reservando na véspera. B&B, Campanile e Première Classe foram nossos preferidos.
Alimentação – A gastronomia francesa é um espetáculo à parte. Mesmo que às vezes apelássemos para um sanduíche rápido, nunca perdíamos a chance de experimentar os pratos regionais, sempre acompanhados de um bom vinho local.
Segurança – Europa é muito mais segura que o Brasil, mas cadeados para motos e capacetes foram essenciais. Em cidades maiores como Paris e Marselha, redobramos a atenção.
Vestuário – Apesar do verão ser quente, levamos jaquetas e calças de proteção ventiladas, além de roupas térmicas para as noites frias e capas de chuva — indispensáveis.
Hábitos – Na França, é permitido estacionar motos nas calçadas, desde que não atrapalhe pedestres. O famoso cumprimento entre motociclistas — um aceno com a mão ou pé esquerdo — faz parte da cultura local e dá um sentimento de irmandade.
Línguas – Falar um pouco de francês abre portas! Um esforço mínimo já muda a forma como somos recebidos. Nas outras regiões, o inglês é suficiente.
Fotos e Vídeos – Um tripé foi nosso aliado para boas fotos. Também usamos uma GoPro no capacete para registrar vídeos incríveis das estradas. Ah, e dica de ouro: caso apague fotos sem querer, existem programas gratuitos que conseguem recuperá-las!
Documentação – Além do passaporte, leve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a Permissão Internacional para Dirigir (PID). Para a moto, é necessário ter o documento de propriedade e o seguro obrigatório. Durante a viagem, fomos parados apenas uma vez, e a abordagem foi bem tranquila.
| Números da viagem (com moto) | |
|---|---|
| Distância total | 5.367 km |
| Duração | 21 dias |
| Média diária percorrida | 256 km |
| Consumo total (gasolina) | 248 litros |
| Desempenho médio da moto | 19 km / litro |
| Cidades visitadas | 64 |
| Países visitados | 7 |
| Valores gastos por cada motociclista | Euros | Reais – R$ |
|---|---|---|
| Hospedagem | 492,34 | 1.171,78 |
| Alimentação | 645,11 | 1.535,36 |
| Gasolina | 329,73 | 1.058,73 |
| Pedágios | 96,90 | 230,62 |
| Seguro Pessoal para a Europa | 332,50 | |
| Total * | 4.656,86 |
* Não incluem passagens aéreas, aluguel ou compra e seguro da moto
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Rômulo Provetti
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