O sexto dia de nossa jornada rumo ao Deserto do Atacama foi marcado por uma mistura de desafios na estrada e cenários deslumbrantes que nos aproximaram ainda mais da grandiosidade da natureza e da riqueza cultural das regiões que percorremos.
Com apenas 300 km pela frente, decidimos iniciar o dia mais tarde, aproveitando para descansar um pouco mais e nos preparar para as surpresas que viriam. Partimos de Tafí del Valle às 9h50, após um café da manhã muito bom na hosteria onde estávamos hospedados. A temperatura estava em 19ºC.
Seguimos pela Ruta Provincial 307, uma subida íngreme com curvas fechadas que nos levaram até a Abra de El Infiernillo, a 3042 metros de altitude. Quanto mais subíamos, mais escassa ficava a vegetação e mais a temperatura caia, chegando aos 14ºC. A paisagem montanhosa, salpicada por vegetação escassa e rebanhos de lhamas e ovelhas, era um espetáculo. Algumas montanhas cobertas pelas nuvens tinham apenas seus picos mais elevados aparecendo. Queríamos parar a todo momento para tirar fotos das paisagens.
No entanto, as irregularidades e alguns buracos no asfalto exigiam toda a nossa atenção, principalmente nas ultrapassagens. Algumas vezes, após contornar uma curva, nos deparávamos com água em grande quantidade passando sobre a pista para depois descer a encosta da montanha.
Depois de passar pela Abra de El Infiernillo, a estrada desceu a montanha e nos levou a um vale a 1800 metros de altitude, com terreno arenoso, repleto de arbustos secos e retorcidos. Montanhas cobertas por nuvens cercavam o vale plano por todos os lados.
Chegamos à famosa Ruta Nacional, que 40 nos conduziu por caminhos desafiadores, asfalto irregular e até mesmo sem pavimentação, riachos atravessando a estrada e testando nossa habilidade na pilotagem das motos. Em determinado trecho da estrada, o asfalto inexistia e no seu lugar havia areia, lama e um riacho sobre a pista. Os carros passavam com água cobrindo metade da roda. Escolhemos um lugar que parecia melhor e passamos com extremo cuidado. Mais à frente, outro riacho cobrindo vários metros da estrada. Outros trechos similares vieram em seguida. A areia fofa misturada com argila e água tornavam o piso escorregadio e inseguro. Mas seguimos viagem sem incidentes.
A região do entorno da cidade de Cafayate é marcada pelas extensas plantações de uva, evidenciando a importância vitivinícola da região.
Paramos para abastecer as motos em um posto de combustível naquela cidade, mas a gasolina tinha acabado pouco antes. Fomos a outro posto e estavam abastecendo os últimos veículos, porque a gasolina também tinha acabado. Mas um caminhão tanque tinha chegado pouco antes com o combustível e estava esperando para encher os reservatórios do posto. Nos disseram que dentro de 50 minutos reabririam. Deixamos as motos estacionadas lá e fomos lanchar e trocar moedas. Quando voltamos, a frentista do posto disse que teríamos que ir para o final da fila. Explicamos que fomos os primeiros a chegar depois que a gasolina acabou e não havia fila naquele momento. Insistimos até que ela cedeu e abasteceu as motos.
Cidade | Litros | Valor em moeda local | Valor – R$ | Distância | km / l | R$ / l |
Cafayate | 5,2915 | 4720 | 26,32 | 132,8 | 25,097 | 4,97 |
Logo seguimos nosso caminho pela Ruta 40, rodeados por montanhas coloridas que pareciam pintadas à mão. Eram vários tons de vermelho, verde, alaranjado, bege e marrom. Milhares de formações rochosas esculpidas pelo tempo que fizeram nossa imaginação voar e nos deixaram maravilhados a cada curva.
Poucos dias antes da nossa chegada, chuvas intensas atingiram a região, carreando grande quantidade de terra para a estrada. O departamento de estradas da província já havia retirado a maior parte do material, mas ainda havia muita poeira sobre o asfalto, que era levantada em nuvens quando os veículos passavam. Um trecho dessa estrada estava interrompido e máquinas trabalhavam para retirar montes de terra que deslizaram sobre a pista. Tivemos sorte porque rapidamente liberaram nossa passagem.
O destaque do dia foi a passagem pelo Anfiteatro Natural, uma obra-prima da natureza esculpida ao longo de milhares de anos, que nos proporcionou momentos únicos de contemplação e reflexão. Na entrada, um músico tocava músicas suaves com um instrumento de sopro andino, que reverberavam nas paredes do Anfiteatro. Li comentários na internet que a acústica no interior do desfiladeiro é perfeita. Havia algumas bancas expondo artesanato para os muitos turistas que estavam no local apreciando a atração natural. Ficamos esperando uma oportunidade para tirar fotos no melhor lugar, sem que algum turista atrapalhasse.
Chegamos a Salta por volta das 17h. Conhecida como “La Linda” e localizada em um belíssimo vale aos pés da Cordilheira dos Andes, Salta é famosa por sua arquitetura colonial espanhola, belas igrejas e pela atmosfera rica em história e cultura andina. Um exuberante patrimônio histórico da Argentina, que nos recebeu com sua beleza e simpatia.
Passamos por algumas pousadas que eu tinha mapeado antes de iniciar a viagem, mas não tinham quartos disponíveis. Após alguns percalços na busca por acomodação, encontramos um local simples para descansar e guardar nossas motocicletas com um pouco de dificuldade ao passar por um corredor estreito. O preço era baixo, mas a acomodação também não era confortável.
Descansamos um pouco e depois saímos a pé para passear pela região central de Salta e comprar alguma coisa para o lanche e café da manhã.
Mais tarde, exploramos a região e nos deliciamos com um ótimo jantar em um restaurante local, onde pudemos saborear a culinária regional e brindar com cerveja artesanal, celebrando mais um dia de aventuras, descobertas e experiências vividas durante nossa aventura sobre duas rodas.
Cada quilômetro percorrido torna nossa jornada mais enriquecedora, repleta de paisagens deslumbrantes e encontros memoráveis. Estamos ansiosos pelo que o próximo dia nos reserva nessa incrível viagem.
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