Para quem acredita numa mão, ou melhor, num braço protetor superior

Sábado à tardinha, dia 27 de janeiro, em casa “à toa” apenas molhando os jardins, recebo uma ligação de um grande amigo, ex-chefe no trabalho, numa ligação ruim com algumas falhas, já que ele estava falando de sua fazenda próximo a Pedro Leopoldo – MG que não tem o sinal de celular legal, nos convidando, eu e minha esposa para irmos até lá passar o restante do sábado e retornarmos no domingo, 28/01/18.

Na hora pensei – um belo motivo para colocar a bianca (minha Triumph Explorer) na estrada e ainda com direito a uma terrinha, além disso o convite caiu do céu, pois não havíamos feito planos para a noite de sábado nem, tampouco, para o domingão.

Entretanto, minha esposa, que eu costumo também chamar de “minha dona”, não estava em casa no momento da ligação para fecharmos o convite. Então, disse ao meu amigo que retornaria a ligação mais tarde quando ela chegasse para confirmarmos “se eu ia querer ir” (rsrsr).

Ocorreu que minha esposa chegou em casa por volta das nove horas da noite, e como havia mais de quinze anos da última vez que estive na fazenda dele e não me lembrava com segurança da estrada para pegar após Pedro Leopoldo, resolvemos ligar para o amigo e com jeitinho “sugerir” nossa ida no domingo cedo.

Ligação feita, convite aceito e fechado e com uma orientação da estrada após Pedro Leopoldo e a referência da fazenda estar nas proximidades do Clube Nuclear, resolvi abastecer a moto ainda no sábado à noite, calibrar os pneus e preparar uma pequena mochila, pois decidi não colocar o top case, com uma sunga, bermuda e sandália para mim. Minha “dona” ajuntou também suas coisas, além, como sabe quem viaja de moto com as madames, outros pequenos objetos, mas pelo menos desta vez sem o secador de cabelo, para passarmos o domingo lá na fazenda. Preparei também o GPS com a localização do tal clube.

Nós que viajamos de moto, por mais perto que seja, sabemos da ansiedade que gera e, por isso, particularmente costumo não dormir muito e acordar bem cedo para sair.

No domingo cedo, após preparar um pequeno café e tirar minha esposa da cama, conseguimos sair por volta de oito horas, calculando a chegada até as 10:00, mas sempre ouvindo minha esposa reclamar dizendo que iríamos acordar o pessoal lá da fazenda. E não é que não deu outra? Às 9h30 estava no pórtico que dá acesso à bela fazenda. Realmente minha esposa tinha razão quando disse que iríamos acordá-los. Mas justifiquei dizendo que a culpa foi da estrada que estava muito vazia, além da mão que teimava em dar umas torcidas no punho direito. Além disso, a parte de terra que conhecia havia sido asfaltada, tornado uma estrada plana e deliciosa, com pequenas curvas entre árvores que formavam grandes sombras.

Do pórtico da fazenda fiz uma ligação para meu amigo que foi até lá para destrancar o cadeado. Após os cumprimentos, seguimos até a sede da fazenda e fomos recebidos com um belo café.

Depois fomos para a beira da piscina para colocarmos os papos em dia e, no meu caso, tomar uma cervejinha de leve, já que não gosto de beber quando estou de moto, mas me permiti, uma vez que ainda iriamos almoçar e teríamos um tempo antes de retornarmos.

O papo com este casal de amigos, seus filhos, sobrinhos e uma cunhada, como sempre é muito agradável e rendeu boas recordações e discussões acerca do país. Daí, passamos então para a mesa para almoçarmos, já quase as 5h da tarde – e que belo almoço!

Esticamos mais um pouco o papo e resolvemos nos despedir com o dia ainda claro e com o sol forte.

Mochila presa no lugar do top, tomamos a direção de BH, aproveitando umas boas esticadas entre os radares e me livrando do fluxo de carros que começava a formar.

Na Avenida Cristiano Machado, na altura do shopping Estação e a poucos quilômetros do centro de BH, subitamente a bianca começou a perder velocidade, no meio do trânsito e na pista do centro da avenida. Imaginei o pior – problema no eixo cardã, ou, menos mal, uma gasolina contaminada. Com cuidado e habilidade, colocava as marchas para baixo e o giro subia, mas a velocidade insistia em cair. Consegui jogar tudo para a pista dos ônibus na direita até a moto parar sozinha, completamente travada, no entroncamento de uma rua que dá saída da Avenida Cristiano Machado, um local com trânsito rápido, escuro e perigoso. Liguei o pisco alerta, descemos da moto, tiramos luvas capacetes e tentei empurrar um pouco mais para frente, mas sem êxito. Abro o casaco a procura do celular e ligo para a Seguradora, expliquei a pane e me informaram que em até 1 hora chegaria o reboque. Dispensei o taxi que ofereceram, já que iríamos com a moto no caminhão até em casa para, no dia seguinte, ligar para a concessionaria e ver como resolver.

Fazendo um check up mais apurado, decidi verificar o controle do ABS. Desliguei e tentei arrancar com a moto, alterei também o controle de tração, experimentando todas as posições e, novamente nada da moto andar, o motor gritava e a frente abaixava. Foi então que percebi que pinça dois discos da frente estavam travadas. Neste instante pararam, quase que simultaneamente, dois carros um com adesivo redondo na porta com os dizeres – Anjos do Asfalto e uma moto desenhada no centro. O motorista me perguntou se estava tudo bem e ofereceu ajuda. Agradeci e disse que havia chamado a seguradora. Logo depois outro carro, que o motorista também ofereceu ajuda e disse que era motociclista. Agradeci novamente e continuei na minha tentativa de resolver o problema. Abri o assento da garupa e retirei uma chave de fenda do jogo que vem na moto. Fui até as piças de freio na tentativa de voltar as pastilhas/cilindro, entretanto como estava escuro e a chave era curta não consegui nada. Resolvi dar umas pancadinhas nas pinças e nada mudou. Vi então que a solução era esperar o reboque imaginando como subir os 250 kg na rampa do caminhão com a roda da frente travada igual a um freio carneiro.

Passado um tempo resolvi ligar a moto novamente e tentar arrancar. Surpresa, estava solta como uma azeitona na boca de um banguela. Liguei para a seguradora para dispensar o reboque, explicando que o problema parecia estar sanado e que iria seguir para minha casa, já que estava perto e que ligaria se ocorresse novamente. Com cuidado e devagar, toquei mais uns dois quilômetros, sem usar o freio dianteiro. De repente, a moto começou a frear e abaixar a frente. Novamente tomei a pista da direita e parei em cima do passeio, na frente da concessionária Renault, na Av. Cristiano Machado. Agora pelo menos num lugar mais seguro do trânsito, mas não de assaltos, e mais claro.

Antes de ligar para a seguradora, lembrei do Rodney, chefe da oficina Triumph em BH. Falei para minha mulher que iria ligar para ele, o que ela foi contra ligar no particular num domingo à noite. Insisti e conversei com o Rodney que foi muito atencioso sugerindo que poderia ser o protetor de mão esbarrando no manete do freio da frente. Agradeci, desliguei o celular e com a lanterna dele fiz uma inspeção e não percebi contato da proteção com o manete. Verificando com mais cuidado vi meu crucifixo, que está na moto desde a última vez que fui a Aparecida do Norte (SP) e que fica enrolado na base da haste do retrovisor direito, estrategicamente, próximo ao acelerador, com a cruz caída junto ao pequeno cilindro do manete que aciona o fluido de freio para as pinças. Com algum esforço, usando a ponta da chave da ignição, desatolei a cruz que estava pressionando o pequeno cilindro. Imediatamente a roda soltou novamente, pois já havia esfriado as pastilhas.

Hoje pela manhã, montei na bianca e fui até a concessionaria explicar todo o ocorrido e tentar entender o travamento. Como o freio estava ligeiramente acionado pela cruz, após rodar um pouco e mesmo sem usar o manete, as pastilhas em contato com os discos esquentam dilatando e causando o travamento. Pedi para verificarem se o braço da cruz pudesse estar ainda por lá e se havia algum dano nos componentes do freio, pastilhas, disco cilindro e etc.. Felizmente nenhuma avaria.

Fazendo um retorno aos fatos, antes de descobrir o problema, lembro que minha esposa ficou nervosa e começou a xingar a moto e a dizer: “como é que você quer ir para o Atacama? E se acontecer isso no meio do nada e etc. e etc…? Não dá não é! ” Quando chegamos em casa resolvi respondê-la fazendo a pergunta: sabe por que aconteceu isso? Foi a mão de Deus, ou melhor, o braço Dele que nos fez parar e nos livrar de algum perigo ou coisa mais séria à frente. Nada nesta vida acontece por acaso.

Portanto, amigo motociclista, podemos tirar pelo menos uma conclusão, claro para quem tem fé e acredita em proteções de um ser superior:

Nunca viajar sem seu protetor espiritual, mas cuide para colocá-lo num lugar que ele possa intervir sem lhe causar nenhum dano.


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