No início de 2021, planejei uma longa viagem de moto pelo Brasil. Essa jornada contemplou a passagem pelas regiões sudeste, centro oeste, norte e nordeste do país. Dentre os vários obstáculos superados nestes quase doze mil quilômetros, o mais difícil deles, certamente, foi a passagem pelo interior da selva amazônica, onde pilotei pela BR 230 (Rodovia Transamazônica) e pela BR 319 (Rodovia Fantasma), sobretudo considerando que fiz a viagem sozinho.
Muitos foram os aprendizados adquiridos nessa viagem. Trago comigo um acontecimento bem peculiar, que, exatamente por ser incomum, levou-me a refletir sobre a linha tênue que separa a prática da solidariedade espontânea da ânsia pelo ganho próprio.
Eis o acontecido:
Quando dos preparativos para a viagem, inúmeras pessoas se dedicaram a compartilhar experiências, passar dicas, sugerir cuidados e alertar sobre armadilhas e obstáculos do caminho, entre outros. Inúmeras foram as pessoas que agiram de forma colaborativa, torcendo pelo sucesso da viagem. Porém, apenas em um momento isso se deu de forma contrária. O episódio aconteceu no dia em que fui buscar orientações sobre a alimentação ideal para ser consumida no calor escaldante e úmido da selva amazônica, percurso esse que se estendeu por três dias. Quando perguntado, um amigo respondeu que poderia me orientar, mas somente se eu efetuasse o pagamento de um determinado valor em dinheiro.
Confesso que, no início, não havia compreendido direito, sobretudo pelo valor demasiado caro que foi exigido. Somente após alguns segundos, entendi que, para receber as dicas e orientações, seria necessário pagar aquele alto valor em dinheiro.
Um pouco mais tarde, já mais tranquilo e pensativo, acabei compreendendo o objetivo desse amigo, mormente por saber que ele labora na área da nutrição. Entretanto, por decisão própria, não aceitei a proposta. Agradeci e segui em frente. O melhor de tudo é que acabei dando sorte, porque, dois dias depois, encontrei outra pessoa que orientou-me sobre o tema e ajudou-me, gratuitamente, a atravessar de moto os caminhos impiedosos e selvagens da Amazônia.
A vida sobre duas rodas é assim: vários são os obstáculos que se colocam à nossa frente, assim como várias são as alternativas que nos são dadas para experimentar o doce sabor da superação; várias são as pessoas que se põem a ajudar, assim como vários são os momentos em que nossa resiliência é colocada à prova.
O que se espera de um bom motociclista é que ele jamais desista de seus objetivos, que não se apegue às adversidades que surgem pelo caminho e, por fim, que compreenda que é preciso sempre seguir em frente.
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