Porque viajar de moto

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Certa ocasião eu fiz um passeio de moto com um grupo de amigos, e o trajeto incluía a estrada entre Mariana e Catas Altas, cidades históricas de Minas Gerais. Em determinado trecho dessa estrada havia uma subida íngreme que era vencida ao contornar diversas curvas à direita e à esquerda, do jeito que todo motociclista gosta.

Após a última curva se abriu no horizonte um vale esverdeado, emoldurado ao fundo pela Serra do Caraça. O sol se punha e, apesar das evidentes marcas deixadas pelas mineradoras no solo e na Serra, a visão que tivemos naquele momento era de puro esplendor.A sensação era um misto de ofuscamento e deslumbramento como poucas vezes se tem a oportunidade de sentir ao longo de uma vida. Me fez pensar se não era assim que os cavaleiros de outrora sentiam quando, em busca de suas conquistas, cavalgavam em seus cavalos em direção a terras distantes e vislumbravam ao longe o seu destino. O medo e a emoção devem fazer parte de alguns momentos para que as percepções e os sentidos estejam vivos e sensíveis para apreciar a paisagem de uma maneira muito mais especial.

Ainda assim tem gente que me pergunta porque eu viajo de moto. Como nenhum outro veículo, em minha  moto eu me conecto com a estrada de uma maneira única. Com ela meus sentidos ficam aguçados, tanto devido à ansiedade quanto pela necessidade de ser consciente e responsável por tudo que ocorre à minha volta. Em minha moto eu percebo as coisas de um modo como nunca percebi estando em um carro. Só com ela é possível se sentir parte da paisagem e saber que o destino está em minhas mãos.

Não há distrações, sem chance de verificar e-mails no smartphone, sem janelas para abafar o barulho e, certamente, nenhum ar condicionado para tornar a temperatura do corpo mais agradável. Tudo o que preciso é focar na estrada e na viagem.

Dependendo de onde estou, com minha moto tenho acesso às estreitas estradas secundárias, ao reduzido espaço entre os carros e, em alguns lugares, até mesmo sobre calçadas. Sou mais ágil e capaz de me esgueirar até o meu destino através dos piores engarrafamentos. Na pior das hipóteses, se não der para seguir em frente, posso simplesmente levar a minha moto para uma localidade próxima e procurar algum restaurante ou atração turística, ou simplesmente parar, sentar de lado sobre ela e esperar que um problema se resolva enquanto aprecio a paisagem. Em minha moto eu tenho a consciência de que estou na estrada para tornar a viagem agradável.

Quanto mais eu viajo de moto, mais difícil fica retomar as emoções que tive no passado, em outras situações de minha vida. Isto porque as viagens de moto me tornaram mais exigente com minhas próprias emoções. Motos evocam em mim um sentimento de nostalgia.

Quando estou em minha moto sinto as pessoas mais próximas e não há barreiras para o mundo exterior. Eu e a minha moto somos o mundo.


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