Vai viajar? Cuidado com os objetos!!!

Essa afirmação que faço tem seu fundo de razão, pois baseia-se em experiências pelas quais já passei nas várias viagens que fiz com motocicletas estrada afora.

As mais estranhas experiências ocorreram numa mesma viagem, acontecendo o primeiro caso ainda no Rio de Janeiro e o segundo no interior da Bahia, ambos por perda de objetos, e foi assim:

Eu e o garupa Fernando saímos do Rio de Janeiro para uma longa viagem, mas por estar o tempo muito quente (era verão), vestíamos apenas camisa manga curta sem gola. Nossos blusões de couro os colocamos estendidos no banco inteiriço da moto, com o Fernando sentado em cima deles.

Quando já estávamos em outro município, mas ainda no Rio, o Fernando chama minha atenção dizendo que os blusões haviam caído pela estrada, mas não sabia onde isso acontecera.

Imediatamente retorno com a moto pelo mesmo caminho, ficando combinado que cada um olharia para um dos lados da estrada, que na época tinha como divisória (mão/contramão) apenas o meio-fio.

Voltamos por cerca de 10km até que avistamos os blusões na pista em sentido contrário,no acostamento. Ali mesmo fiz o retorno e apanhamos os blusões, sujos de terra mas intactos.

Foi muita sorte ninguém tê-los visto nem apanhado porque eram indispensáveis para nós. Mas felizmente até azarão tem seu dia de sorte grande.

O segundo caso foi mais impressionante e perigoso, não só por ter ocorrido à noite no meio do sertão baiano, num local totalmente ermo e abandonado, como das conseqüências que teríamos pela perda dos valiosos e indispensáveis objetos.

Esse caso aconteceu após decorridos muitos dias de viagem e, como relatei anteriormente, no interior da Bahia.

Aconteceu que viajávamos diariamente por estradas de terra com povoados muito distantes uns dos outros. Até postos de combustíveis ou demais serviços eram raramente vistos nas estradas por ficarem também muito distantes. Sem falar dos problemas que sempre surgiam devido aos buracos e outros empecilhos causados pelas intempéries e animais soltos na estrada.

Então, numa certa ocasião, por termos nos enganado com a distância de um local para outro, ficamos à noite numa estrada totalmente erma e escura, praticamente perdidos. E para piorar mais a situação, a moto estava sem luz por ter o dínamo pifado.

Procurando um local para descansar e passarmos a noite, graças à indicação de moradores de uma choupana que avistamos no meio do mato ao lado da estrada, encontramos mais adiante uma pousada que estava se instalando e nela passamos a noite. Bom sono e um excelente descanso. Maravilha!

Pela manhã cedinho, sem tomarmos qualquer refeição matinal (o local estava desarrumado e sujo devido à recente mudança para lá) tratei de pagar a estadia. Mas quando fui pegar minha carteira no bolso de trás da calça jeans para pagar a estadia, não a encontrei. Simplesmente, sumira! E era exatamente nela que guardava todo dinheiro, meus documentos e os da moto.

Incrível, aquele momento!

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Atordoados com aquilo ficamos imaginando o que poderia ter acontecido e imediatamente pensei de um possível furto no nosso quarto à noite enquanto dormíamos. Mas logo vi ser isso impossível porque eu dormira vestido, excetuando-se o blusão de couro. Então era quase que impossível alguém entrar no quarto, tirar minha carteira do meu bolso sem que eu percebesse.

Ainda mais num lugar estranho onde sempre se fica com “um olho no padre e outro na missa”. Então, para poder resolver a situação disse ao proprietário que eu e o Fernando iríamos com a moto procurar a carteira e que ele ficasse com nossas maletas e os blusões de couro que valiam muitas dormidas.

Saímos com a manhã ainda fria e o dia raiando e fomos vagarosamente olhando bem o caminho, detalhe por detalhe. Mais adiante, após andarmos um bom pedaço de chão, notamos fora da estrada e do lado esquerdo, um objeto de couro na cor marrom. Sem pestanejar fomos direto para ele.

Ledo engano. Era apenas pedaços de couro do arreio de algum cavalo. Chateados, encostamo-nos numa das árvores da caatinga que margeava a estrada, quando de repente sentimos algo que violentamente sobrevoava nossas cabeças, ameaçando atacar-nos. Era um gavião! O Fernando, que era nordestino, disse que se tratava de um carcará. Ave bastante difundida naquele sertão.

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Não sabendo o por quê de estarmos sendo atacados por essa ave, que em vôos rasantes próximos às nossas cabeças soltava graves trinados de guerra e abria suas asas e garras para atacar-nos, tratamos de arranjar uma fuga sem prejudicá-la. Procurando ver como sair daquela situação, falei para o Fernando ficar ali agitando seu boné a fim de atrair o gavião, enquanto eu ia até à moto, na estrada, para ligá-la e cairmos fora. O que foi feito. Liguei-a, o Fernando veio correndo enquanto eu já ia saindo, pulou para a garupa e saímos em disparada, deixando o gavião estressado para trás com o mau humor dele.

Não bastava nossa preocupação com a perda da carteira e ainda aparece mais essa. Lembra até aquele famoso ditado popular “urubu em dia de azar, até o que está embaixo borra no de cima”.

Bem, continuando então, seguimos novamente vasculhando com os olhos avidamente a estrada, olhando tudo que achávamos parecido, até que o Fernando tendo uma brilhante lembrança, diz: “João, não terá a sua carteira caído naquela queda da moto, quando à noite procurávamos lugar para dormir? Lembra da ocasião em que peguei caminho pelo mato para ir até ao casebre fora da estrada? Ficou me esperando na estrada e quando eu estava voltando você escorregou o pé e a moto caiu? Isso aconteceu exatamente no momento em que cheguei e até ajudei-o a levantá-la. Não terá ela por acaso caído do seu bolso naquela hora? Pode até ter acontecido, mas por estar escuro e termos pressa em arranjar local para ficarmos, não reparamos.

Mal acabou de falar acelerei em direção ao local.

Quase chegando, ambos já víamos algo que parecia ser a carteira e próximo dela algumas cabras pastavam. Fui em direção a elas, assustando-as porque, se fosse a carteira, as cabras até poderiam comê-la. E aí, sem documentos e sem dinheiro, nem era possível imaginar como sair dessa. E como poderia provar através das bolinhas evacuadas pelas cabras que ali estavam, dinheiro e documentos?

Mas felizmente era a bendita carteira, e intacta!

Estava na beira da estrada, junto a uns capins secos, ao lado do caminho que ia para o tal casebre no meio do mato. Olhando mais detalhadamente, notamos que ao lado da carteira havia pegadas de pés descalços. Mas como já fora encontrada e estava intacta, não precisávamos conjeturar mais nada.

O negócio era curtir aquele momento de grande sorte e felicidade.

Satisfeitos, voltamos à estalagem a fim de pagar a estadia e apanhar nossas coisas para prosseguirmos viagem.

No caminho de volta, o Fernando observando tranquilamente a paisagem, avistou o gavião e mostrou-me estar ele no ninho. Então descobrimos que o problema da ave quando nos atacou era a proteção do ninho. Talvez tenha achado que iríamos mexer nele.

Por fim, ficou tudo solucionado e seguimos em frente até que novo problema aparecesse …

*João Cruz é autor do livro Motociclistas Invencíveis


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