Um Tombo Inusitado e Hilário

Outro dia fiz comentário sobre a utilidade dos tombos e isso fez-me lembrar de um bem inusitado e hilário que eu e o garupa levamos no estado da Bahia. 

Quando o fato aconteceu estávamos no ano de 1960, embaixo de chuva, trafegando por estrada de terra enlameada e voltávamos de Campina Grande-PB para Rio de Janeiro, e como poderão ver “após termos passeado tranquilamente pelo paraíso durante 41 dias”.

O acidente aconteceu assim:

Maracanã/Milagres, BA, 20 de março de 1960

36º Dia.

Havíamos saído da cidadezinha de Maracanã/Milagres pela manhã e por falta de dinheiro ainda não tínhamos tomado nenhum tipo de café, fosse o da manhã ou uma tapeação qualquer.

Depois do acontecido na ponte destruída pelas chuvas e para piorar ainda mais nossa situação, eis que logo após ter subido um morro e começar a descê-lo, me deparo com vários sulcos enviesados no barro, provocados pelo escorrimento das insistentes águas da chuva. Tentei safar-me da situação, mas não consegui. Então, ao entrar a roda da frente num daqueles sulcos, fomos imediatamente arremessados ao chão. E devido à velocidade que vínhamos, embora não fosse muita, ao cairmos deslizamos do alto do morro até quase chegarmos ao fim da descida, onde ao lado passava um pequeno rio. Enquanto descíamos escorregando e sem termos qualquer controle dos nossos corpos, pois não havia como pararmos, íamos lentamente girando… E descendo, descendo… E girando, acontecendo de num momento ver o Fernando, também escorregando e girando, como da mesma forma ele me via. Depois era a vez de ver o outro lado da estrada, que era um despenhadeiro. E assim fomos escorregando e girando impotentes e a mercê do destino, até finalmente pararmos quase no final da descida. Ainda bem que não escorregamos para o lado do despenhadeiro.

Refeitos do susto, deduzimos que a Norton ao tombar deslizou pouco porque suas ferragens frearam-na, ficando assim pouco abaixo do topo do morro. Não acontecendo o mesmo conosco pelo fato de não haver o que nos prendesse ao chão.

Verificamos não termos sofrido nada demais, pois o Fernando só arranhou a perna, e eu fiquei com dor no joelho, o tal que já estava machucado. Realmente nada grave aconteceu conosco. Felizmente.

Por estar o piso escorregadio subimos com muita dificuldade, levantamos a moto do chão e notamos que o “quique” havia empenado um pouco e o farol tivera um pequeno amassado no lado, mas como não funcionava mesmo, não era problema.

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Curiosos, procuramos a razão de termos deslizado tanto e descobrimos que o solo era extremamente duro e que sobre ele havia uma camada fina de lama, escorregadia como vaselina. Comparando, diria que era um tobogã com vaselina derramada na pista de descida.

Nota: Anos mais tarde foi possível saber que no trecho em que caímos, o solo contém minério de ferro, razão da sua dureza. E o barro fino que o cobria fazendo parecer vaselina, era consequência da chuva que o fazia escorrer da parte superior da barreira existente em um dos lados da estrada.

Com cuidado descemos a Norton, paramos no leito do rio e aí fomos tratar de nós.

Molhados que já estávamos e sujos de barro dos pés à cabeça, tiramos as calças para podermos limpá-las no rio e ficamos apenas de cueca (molhada pela chuva) e o blusão. O frio era intenso e não havia ninguém a quilômetros de distância.

João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br


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