Pelo Cemitério… Não!!!

Oriundos do Rio de Janeiro a fim de vermos o carnaval em Recife, o que realmente aconteceu, eu e o garupa estamos agora em Campina Grande-PB, especialmente para cumprir promessa que fizemos a duas moças em Ibimirim-PE, quando por lá pasamos e com elas tivemos delicioso romance.

Estavam elas há vários anos na casa da madrinha de ambas, em Ibimirim, e agora queriam voltar para suas mães. Mas temerosas que estavam por irem direto às casas de suas repectivas mães e não serem por elas aceitas, não teriam mais onde ficar por não poderem mais voltar para a casa da madrinha. E para piorar a situação, antigamente a comunicação era muito difícil, principalmente no interior.

Continuando então a narrativa, apresento:

Desde que aqui chegamos estamos sendo ciceroneados pelos integrantes do Moto Clube local, que nos levam para conhecer pessoas, clubes e tudo mais, ofertando-nos, inclusive, um belo jantar num famoso restaurante.

Terminado esse grande jantar, ao sairmos do restaurante apresentamos uma desculpa dizendo que íamos dar umas voltas a pé (a moto estava na oficina fazendo reajustes, por conta do Moto Clube) para conhecer melhor as pessoas, as casas, o comércio e principalmente a vida noturna.

Compreendendo, nos deixaram, mas avisaram que no dia seguinte iriam procurar-nos no hotel logo pela manhã.

Pedindo informações a algumas pessoas mais adiante, pegamos uma condução e fomos para as casas das mães da Gabriela e Mariazinha, que ficavam exatamente na direção que nossos cicerones haviam indicado no dia anterior.

Por estar chovendo tivemos dificuldade para pegar a condução mais adequada e acabamos saltando num lugar ermo e distante da casa delas. Solicitando uma orientação às pessoas que passavam apressadas devido à chuvinha que caía, conseguimos saber que, para encurtar caminho, não termos de subir ladeiras e sairmos exatamente onde queríamos, era ir por dentro do cemitério porque, se assim não fizéssemos, teríamos de dar uma volta muito grande. E com chuva, já viu o transtorno que nos causaria esse outro caminho.

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O Fernando por sua vez achou melhor andarmos mais, porém não concordei porque a chuva incomodava muito e quanto mais rápido chegássemos à casa das mães das garotas, mais cedo estaríamos livres para irmos embora. Então falei que iríamos mesmo era pelo Cemitério. Ao ouvir isso, quase que ele cai para trás!

Se eu tivesse adivinhado o que iria acontecer lá dentro, não teria ido pelo cemitério.

O cemitério era grande mas o muro era baixo e fácil de escalar, não sendo por isso problema para nós. E para não perdermos a direção de para onde íamos, teríamos de ter referências a fim de sairmos exatamente no local onde nos indicaram.

Para o Fernando pular o muro foi um custo, pelo fato de colocar uma porção de dificuldades, tendo em vista o medo que expressava através da fisionomia. Já lá dentro dizia estar vendo alguém e que esse alguém poderia ser o vigia. Eu dizia para ele que então ficasse calado, pois assim o vigia não nos ouviria, e que andasse depressa por causa da chuva. Não satisfeito, me chamou porque viu uma luzinha sobre uma sepultura, depois disse que à noite cemitério pode até ter fantasma, etc.etc. Por estar cheio dessas lamúrias dele, apressei o passo para que me acompanhasse com dificuldade e assim esquecesse aquelas bobagens.

Após caminhar durante algum tempo, realmente não mais escutei suas lamentações. Achando estranho ter-se calado tão rápido e demoradamente, parei, olhei para trás, e não vi o Fernando. Mas pude ver mais acima, porém embaixo de uma pequena marquise que ornava uma sepultura, linda e enorme coruja cinza e branca (devia ter uns 40/50cm de altura) que ali estava protegendo-se da chuva. Completamente imóvel, olhava para mim com seus olhos claros e enormes, parecendo até que queria me “paquerar” pelo fato de vez por outra piscar aqueles grandes olhos. Mas preocupado que estava com o Fernando, observei-a somente um pouco. Olhando em volta e não o vendo pelas imediações, pensei: Será que por estar apavorado, voltou?

Mais concentrado, porém, escuto um som abafado que vinha de dentro do cemitério, mas bem difícil de ser localizado. Continuando a escutar aquele som estranho, fui voltando com bastante atenção para saber do que se tratava. Ao me aproximar e por isso o som estar mais alto, consegui finalmente localizá-lo. Vinha de dentro de uma cova bem profunda, aberta talvez naquele dia e adivinhem quem estava lá dentro? Perfeitamente. O Fernando!

Aconteceu que, com medo e olhando para onde não devia, bobeou e caiu na cova. Naquele momento estava tão assustado que quase não podia falar.

Não estava conseguindo subir porque, tentando segurar nas bordas com seus 1,60m de altura, elas desmanchavam por estarem moles devido às chuvas. E nas várias tentativas que havia feito, a terra molhada caía forte por cima dele. Apavorando-se cada vez mais devido às tentativas frustradas e já achando que iria enterrar-se ali mesmo, então começou a gritar me chamando.

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Vendo aquela situação me abaixei, segurei seu pulso direito com minha mão direita e ele fez o mesmo (as mangas dos blusões estavam escorregando). Puxei-o, ele colocou a mão esquerda fora da cova, ajudou no impulso e saiu. Saiu, sim, mas todo sujo de lama da cabeça aos pés. Do seu rosto só se via os olhos, e arregalados.

Após isto, seguimos caminhando rápido. Ele segurando meu blusão de couro e eu dizendo para não me sujar de lama porque teria de falar com as mães das garotas. Falei também que, quando eu estivesse falando com elas ele nem chegasse perto porque, sujo de lama como ele estava e não sabendo elas o que havia acontecido, poderiam até se assustar pensando ter havido briga, ou era ele um maluco fugido do hospício. E como nós tínhamos a missão de entregar-lhes sem falta os bilhetes, que ficasse afastado na hora.

Tomei o cuidado de passar bem longe de onde estava a coruja porque, se ele a visse após o trauma pelo qual havia passado, sem dúvida teria de carregá-lo desmaiado cemitério afora.

Depois disso não deu nem mais um pio e logo então pulamos o muro do cemitério para a rua. Após andarmos um pouco, pedi que se afastasse de mim para que eu pudesse perguntar a algum passante que por acaso encontrasse, onde ficava a rua. E ele estando junto de mim ninguém pararia, pelo contrário, sairia correndo. Não demorou muito e consegui a informação, localizando rapidamente as casas. Como chovia fino, falei para ele se proteger da chuva e que me esperasse afastado, embaixo de alguma proteção.

Fui primeiro à casa da mãe da Gabriela e por sorte as duas mães estavam juntas, pelo fato de se visitarem devido à proximidade das moradias. Tirei os envelopes do bolso, entreguei-lhes e pedi que juntas os lessem com bastante atenção, porque foram carinhosamente escritas pelas filhas, que estavam com muitas saudades delas.

Sem querer fazer ou receber qualquer comentário, tratei de me despedir e saí deixando-as à vontade para lerem as cartas. Finalmente… Missão cumprida!!!

Passando onde o Fernando estava e dizendo-lhe estar tudo resolvido satisfatoriamente, chamei-o para irmos embora. Nisso, mais que depressa me diz:

Mas pelo Cemitério, não! Por lá eu não vou!

Procurando como iríamos voltar, fiquei pensando no tombo do Fernando lá dentro do cemitério e aliei-o a um acidente em Teresópolis e aquele que quase aconteceu na estrada, quando dexando-o pilotar apenas alguns segundos, por “barbeiragem” quase nos joga despenhadeiro abaixo.

Juntando esses fatos, cheguei à conclusão que ele não deveria enxergar muito bem.

Esse fato aconteceu no dia 12/03, 29º dia de viagem de ida.

Já na volta para o Rio, quando estávamos no dia 18/03 e no 33º dia de viagem, ao passarmos por Ibimirim e querendo saber o que aconteceu com as garotas, Gabriela e Mariazinha, mas receosos de qualquer problema devido à noite em que fomos surpreendidos e tivemos de fugir “pelados” pela varanda do quarto delas, encontramos na pracinha um rapaz que as conhecia (em povoado pequeno todos se conhecem). Conversa vai, conversa vem, perguntamos se ele conhecía a Gabriela e a Mariazinha e se poderia chamá-las, pois tínhamos um recado para elas. Imediatamente nos diz que as conhecia, porém não poderia chamá-las porque não tem muito tempo vieram buscá-las, e pelo que comentaram foram para a Paraíba.

Satisfeitos com o que ouvimos, agradecemos a informação do rapaz e seguimos viagem. Mas não antes de ouvir o Fernando dizer: “bom, pelo menos valeu a pena ter caído naquela cova enlameada”.

João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br

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