Fator Emocional

Conforme estabelecido em lei, somente através de curso feitos em Moto escolas e posterior aprovação no órgão competente, será possível obter-se carteira (carta) de habilitação.

Acontece porém que essas Moto escolas em razão do rigoroso cumprimento da lei, ministram aos seus alunos apenas a parte prática e teórica na condução das motocicletas.

Considero importante o trabalho das Moto escolas na formação dos futuros motociclistas, mas para que este curso seja realmente completo e eficiente, afirmo ser necessário (além da fiscalização) a inclusão de importante matéria que trataria da parte emocional, principal responsável pelas ações e reações dos seus alunos quando após habilitados estiverem utilizando as motos no trânsito.

Seria um pequeno suplemento ao curso, mas com extrema importância por conscientizar os alunos da responsabilidade que terão ao sentarem-se no banco da moto e movimentá-la pelas ruas, avenidas e estradas do país e até do mundo (aí estão os estradeiros).

Sem dúvida será necessário um adendo na lei, criando dispositivo, para que Moto escolas além de ensinar as partes práticas e teóricas, passem a ministrar também e principalmente o fator emocional a fim de mostrar, através dele, as graves e até nefastas conseqüências pela negligência ou imprudência ao pilotar motos. E para ilustrar, em síntese apresento:

  • motociclista profissional. Se um aluno pretende ser um profissional deve ser-lhe mostrado, com clareza, as consequências que uma paralisação temporária ou até definitiva por acidente lhe causará. Não somente a ele mas também à sua família e dependentes. E que, além de não poder trabalhar para ganhar o sustento, terá de gastar com seu tratamento e a recuperação da moto, sem falar nas contas pendentes que ficarão aguardando pagamento;
  • motociclista amador. Se pretende ser amador, deixar claro que amadorismo é lazer, entretenimento, felicidade. E não cama de hospital, cadeira de rodas ou cemitério. Muito importante será fazê-lo sentir que motociclismo é prazer e despendimento. E para isso ter será necessário manter-se sempre atento, oportunidade essa que aproveito para invocar o sábio brocardo popular: “Prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. Valendo outrossim lembrar, que ruas e estradas não são pistas de corrida. Para isso existem locais específicos, equipamentos necessários e competidores à altura, que correrão no mesmo diapasão e técnica;
  • motoqueiro. Que lhe seja mostrado a diferença entre ser motociclista ou simplesmente um motoqueiro bagunceiro e desreipeitoso para com tudo e com todos, que assim agindo denigre a imagem do bom e tradicional motociclismo que muito sacrifício os veteranos tiveram para deixá-lo assim. E que esforços sejam feitos para eliminar esse termo pejorativo do motociclismo;
  • por fim, explicar ao aluno que para sua própria segurança e feliz continuidade no motociclismo, não ser aconselhável que inicialmente trafegue por rodovias ou avenidas de grande movimento. Deverá, sim, primeiramente, fazer pequenos percursos pelas redondezas. Dessa forma estará praticando numa realidade maior e perdendo com isso possíveis receios que somente iriam prejudicar-lhe neste início. Após esse estágio, quando então finalmente sairá para enfrentar o trânsito na sua total realidade, os incômodos e perigosos receios já se dissiparam, e nesse meio-tempo conseguiu maior experiência e confiança.

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Por haver citado confiança, mudando agora de um pólo ao outro, acredite se quiser, mas afirmo que moto pode ser comparável com animal. E para exemplo escolheria o cavalo: se você é daqueles que não sabe montar, saiba que o animal imediatamente isso perceberá e então fará poucas e boas para lhe enfernizar, podendo até jogá-lo no chão;

Com a moto é a mesma coisa. Sentindo seu medo e insegurança em pilotá-la, em contrapartida ela lhe fará poucas e boas, podendo até causar-lhe sérios ferimentos caso insista nessa inconsequência. Vou até mais além, sustentando que assim como os animais, máquinas também têm instintos e até sentimentos. Haja vista que se você tratar bem do seu animal, ele estará sempre apto e interessado em lhe servir e até ajudá-lo ou protegê-lo. Com sua sua moto será a mesma coisa. Se lhe der a necessária assistência e fazê-la sentir sua garra em pilotá-la, haverá tão forte empatia entre ambos que ela se tornará sua fiel companheira e até o protegerá.

Apenas a título de curiosidade, apresento dados estatísticos levantados pelo DENATRAN, FEBABRAM e ABRACICLO, onde mostram que em 2008 a frota brasileira de motos ultrapassou 11 milhões de unidades. Desse total, 86% dos motociclistas têm menos de 40 anos. E 85% das motos envolvidas em acidentes têm menos de 125cc.

Fica bem claro, portanto, que os profissionais de motos, tais como: motoboys, mototáxis e outros que utilizam motos com 125cc têm necessidade por serem mais e melhor orientados, iniciando-se pelo curso para sua habilitação.

Razão de lembrar minha opinião acima para que seja enfatizado, primordialmente nas Moto escolas, o fator emocional.

A título de exemplo para tirar qualquer dúvida, cito aqui o cinto de segurança. Peça considerada abominável e inútil pouco tempo atrás, mas num trabalho que envolveu a emoção das pessoas para compreenderem sua necessidade, hoje é utilizado conscientemente por estar comprovada sua utilidade/necessidade.

No Rio de Janeiro foi iniciado o uso do bafômetro e de imediato seus resultados positivos já foram logo sentidos através da sensível redução dos acidentes e mortes no trânsito. Pessoas passaram a conscientizar-se que o não uso de bebida alcoólica ao dirigir ou pilotar é fundamental para segurança do próximo e à sua própria também.

Isso é fator emocional pelo fato de induzir pessoas a adquirirem plena consciência do que é correto e o que não deve ser feito. Que redunda em paz e segurança.

Partindo dessa premissa, certamente o mesmo acontecerá com motociclistas na conscientização do erro após ensinamentos dos fatores emocionais que terão nas Moto escolas, pelo fato de ficarem sabendo que além dos necessários reflexos, as emoções e sentimentos têm relevante influência na condução das motos.

Aproveito para lembrar que meu livro “Motociclistas Invencíveis” já está no prelo e brevemente será publicado. Assim que acontecer, sem dúvida avisarei.

João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br

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