Texto sobre viagem de moto

Causa e efeito – As leis da Natureza

O que vem ocorrendo na região serrana do meu Rio de Janeiro, assim como em São Paulo, Minas Gerais e estados do sul, lamento dizer, mas “já vi esse filme”.

Na narrativa do livro “Motociclistas Invencíveis”, descrevo igual tragédia no transcurso da viagem na volta do nordeste para o Rio de Janeiro no ano de 1960. Não na sua total intensidade e repercussão, porque o livro é de aventuras e não de tragédias. Mas foi tão intensa e dramática, que o presidente à época, Dr. Juscelino Kubitschek mandou jogar víveres de paraquedas aos sobreviventes das enchentes que ficaram isolados tanto nas estradas quanto em outros locais. Isso porque, estando sem alimentos e água potável, estes sitiados em busca da sobrevivência invadiam propriedades que não foram esfaceladas pelas forças da intempérie, saqueando então tudo o que encontravam para beber e comer, inclusive animais que abatiam para depois comerem.

Desse dilúvio que presenciei, o aguerrido povo nordestino poucos anos precisou para conseguir superar e transformar em modernidade os escombros que restaram. E por ter suas forças multiplicadas transformou o que era só sertão em grandes metrópoles, aldeias em cidades. E áreas antes abandonadas, tornaram-se amplamente cultiváveis. Sem falar nas modernas indústrias que também surgiram posteriormente.

Esse abominável filme que antes vi e a reprise que ora vejo refletida no drama dos atuais atingidos aqui no estado do Rio, por conhecimento de causa afirmo convicto que eles multiplicarão forças para saírem dessa imensa tragédia causada pelas incontroláveis forças da natureza. O brasileiro pode não saber da força que tem, mas quando dela necessita utiliza-a e supera o intransponível. Sei muito bem porque isso vivenciei. Quem nesse caos está esquece de tudo porque o momento é de ajudar e ser ajudado, mesmo sob risco da própria vida. E os que agora estão desabrigados, mas apoiados pela notória solidariedade dos brasileiros, brevemente estarão todos recuperados e renovados em suas forças físicas e espirituais.

Motociclistas, Clubes e Revistas especializadas fizeram sua natural obrigação, congregando-se urgentemente para coleta de mantimentos e medicamentos, levando-os de imediato aos necessitados. Expressei “natural obrigação”, porque o motociclista por índole é naturalmente amigo e solidário. Principalmente o estradeiro que, se não o é de nascença, aprende com a experiência adquirida nas suas calejadas andanças pelas estradas.

Mas nas agruras provenientes dessas catástrofes que arranham profundamente a alma de qualquer ser humano, vejo existir também seu lado positivo devido à experiência e solidariedade que transmitem, não somente aos atingidos mas também àqueles que lá estão prestando auxílio, inclusive aos demais que ajudam e se preocupam. Estejam eles próximos ou mesmo distantes.

Pelo lado negativo, o das autoridades que por dolosa inépcia ou corrupção causaram ou simplesmente colaboraram para essa tragédia, ao verem os malefícios resultantes destes seus crimes, devem repensar seus atos e respectivas consequências. Saibam eles que para os humanos existe a virtual e imutável “Lei do Retorno”, que além de atingir a matéria é mais abrangente por alcançar a alma. E por assim ser, seus efeitos se farão sentir tanto agora como ficarão latentes durante toda uma eternidade. Até que um dia esta Lei se manifestará, tendo em vista que até eternidade tem um fim!

Estes cataclismas não aconteciam no Brasil com tanta veemência. Ocorriam em outros países. Mas como há muito tempo a natureza vem sendo agredida em toda extensão do planeta, seus efeitos de intolerância vêm sendo por ela periodicamente manifestados de forma contundente, deixando bem claras reais demonstrações de causa e efeito. E o mais lamentável é que o ser humano ainda não levou isto a sério.

Mas como ‘Deus é brasileiro’, aqui, mal ou bem, ainda poderemos ser o “celeiro do mundo” quanto à alimentação e água. Pois temos extenso território com imensas florestas; notáveis rios; invejável fauna; e um povo produtivo que é reconhecidamente amigo, simpático, acolhedor.

Com grande pesar venho percebendo que tais eventos vêm acontecendo de forma constante e acentuada, inclusive em locais onde dantes isso nunca ocorrera. É possível que sejam avisos para mostrar as consequências pelas agressões ao meio ambiente e até tentar, talvez e ao mesmo tempo, despertar maior aproximação e o necessário sentimento de humanidade entre seres humanos. Não fosse assim, penso, este planeta não mais seria local para se viver.

Mas como Deus e a natureza sabem o que fazem, coloco citação muito conhecida e bem apropriada para o momento, sendo inclusive uma forma de consolação: “Deus escreve certo por linhas tortas”.

João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br


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