Feira de Santana (BA)

Estando em Feira de Santana e por despertarem cedo, passearam pela cidade a fim de conhecerem o local e saber das novidades. Dentre o que viram e muito lhes despertou atenção foi imensa feira que funcionava permanentemente a céu aberto, com dezenas e dezenas de barracas e centenas de pessoas andando, falando muito, comprando de tudo e até fazendo refeições no próprio local, com as iguarias preparadas ali mesmo por baianas vestidas “a caráter”.

Mediante tais atrativos, variedade de comida e o gostoso cheiro que elas exalavam, trataram de almoçar a fim de aproveitarem essa saborosa oportunidade.

Terminado o almoço saíram da feira e seguiram procurando uma oficina para fazerem os consertos que a moto precisava. Não demorou muito e logo encontraram uma oficina “especializada em Lambretas”, mas que consertava também Vespas, motos e o que mais houvesse. E pelo visto consertariam até avião.

Chegando ao local, apresentaram-se ao pessoal da oficina e explicaram a situação. O mecânico entendeu o problema e gentilmente cedeu os aparelhos de solda elétrica e também de oxigênio ao Fernando, que então deu um pingo de solda elétrica no quique (após soldado não mais apresentou problema), soldou o suporte do bagageiro e, na mesa inferior do telescópio, aplicou solda elétrica perfurante. Isso foi o que ele falou. O pessoal da oficina cedeu aparelhagem porque o piloto havia contado as habilidades do Fernando.

Terminado o serviço, nada lhes foi cobrado pelo pessoal da oficina por considerarem ter sido uma simples cortesia que fizeram e porque quem fez o serviço foi um grande profissional.

Os dois então agradeceram a gentileza e voltaram ao hotelzinho para pagar as despesas, colocar as “tralhas” na moto e partirem logo rumo a Salvador, porque o dia estava maravilhoso.

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Eram 15h e a temperatura estava tão alta. Até parecia estar o sol bem zangado naquele dia, mas mesmo assim foram à luta, tirando os blusões de couro e ficando somente de camiseta, por ser esse o hábito deles quando o calor estava muito forte. Sentaram sobre os blusões de couro, mas por terem eles caído certa vez na estrada logo na saída do Rio de Janeiro e tê-los dado tremendo susto, sempre que neles sentavam redobravam os cuidados para que não caíssem novamente, pois não poderiam ficar sem eles.

Pegaram uma estrada que os levaria direto a Salvador, num percurso de mais ou menos 120 km, com excelente asfalto e boa sinalização. E por estarem com saudade do gostoso asfalto, deliciaram-se nesse momento. A moto, serena, sem as terríveis costelas, pedras, trancos e derrapagens costumeiras que vinha enfrentando nas péssimas estradas de chão, parecia que também aproveitava aquele raro momento paradisíaco.

Em ambos os lados da estrada viam imensos canaviais balouçando ao sabor do vento, tais quais marolas brincando num imenso mar esverdeado. Nunca havia visto canavial com essas proporções, disse o piloto. E ali estavam dezenas de quilômetros desse mar de verdes folhagens balouçando nos dois lados da estrada. A vista era espetacular!

Após terem percorrido cerca de 1/3 do trajeto, novamente tiveram problema com sujeira na vela do pistão esquerdo. Pararam para limpá-la e, com isso, perderam algum tempo. A partir daí, felizmente, não tiveram mais problemas e chegaram a Salvador às 17h com o dia ainda bem claro e quente.

Como de hábito, circularam por algumas ruas da cidade, indo até a igreja do Nosso Senhor do Bonfim, onde na escadaria havia vendedores de fitinhas bentas e outros “souvenires”. Por fim, entraram na igreja, que por mera coincidência eram 18h em ponto, conforme anunciado pelo badalar dos sinos.

Depois foram à Feira Água de Menino e aproveitaram para visitar também o Mercado Modelo, ambos na cidade baixa e próximos ao Elevador Lacerda, o qual pegaram para irem até a cidade alta, deixando a moto estacionada numa loja na cidade baixa.

Foi o elevador mais largo que já havia andado, comentou o piloto.

Terminado o passeio a pé, voltaram à cidade baixa para apanharem a moto e com ela retornarem à cidade alta.

Estavam andando na contramão sem sabe. Um lambretista que passava alertou-os da “barbeiragem” e então pararam para conversar. Informando ao lambretista que iriam procurar hotel, este pediu que o aguardassem porque iria procurar para eles.

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Após alguma demora voltou dizendo ter arranjado acomodações perto do Centro da cidade, entre a Baixa do Sapateiro e a Praça da Sé.

Era um hotelzinho razoável, construção antiga e que tinha um elevador modesto, provido com porta pantográfica. Pediu-lhes desculpas por não poder arranjar nada melhor e explicou que devido à proximidade do carnaval os hotéis estavam todos lotados de turistas.

Havia conseguido um quarto com três camas, sendo que uma delas já estava ocupada por alguém. Mas como isso para eles não importava, aceitaram e agradeceram o trabalho do lambretista.

Nesse hotel surgiu um fato bem curioso e hilário que será contado bem mais adiante, mostrando que o ditado popular “mentira tem pernas curtas” é verdadeiro.

Então, depois de devidamente instalados resolveram dar mais umas voltas de moto pela cidade, desta vez visitando o Farol da Barra e praias das proximidades. Na volta jantaram no Mercado Sete Portas, próximo à Baixa do Sapateiro esticando depois até ao Largo da Sé e a Praça onde está o Elevador Lacerda.

Satisfeitos com o que haviam apreciado, voltaram para o hotel a fim de descansarem.

Ao chegarem ao quarto já bem tarde da noite, notaram uma pessoa deitada na tal terceira cama e que por sinal roncava um pouco. Apesar do pequeno barulho que faziam para trocarem as roupas, a cada movimento parecia que o outro ocupante acordava porque parava de roncar. E isso aconteceu por várias vezes. Por fim, após se despirem, deitaram e dormiram direto até ao dia seguinte.

Acordaram cedo pela manhã e perceberam que o outro ocupante já estava vestido e pronto para sair. Notaram que ele parecia tenso e preocupado, mas não ligaram para isso. Cumprimentaram-se e trocaram algumas palavras sobre as razões de estarem por lá:

Eles dois falaram sobre o “raid” que estavam fazendo pelo nordeste; e o outro, com sotaque espanhol, disse estar voltando para sua terra, “a mui querida Argentina”.

Atentem para esse detalhe porque algo bem adiante acontecerá e este momento será lembrado. Vejam que os dois estavam em Salvador indo nordeste acima; o outro estava descendo do nordeste para o Sul, para a sua “mui querida Argentina”.

Após essa rápida troca de palavras, despediu-se dos dois e partiu, mas sempre demonstrando desconfiança e preocupação.

Motociclistas Invencíveis

Semanalmente vamos publicar, aqui no Viagem de Moto, capítulos do livro Motociclistas Invencíveis, romance extraído de uma viagem com moto ocorrida em 1960.

Conduzindo na garupa da moto um amigo, piloto sai do Rio de Janeiro por estradas de terra a fim de encontrar sua linda namorada, que saindo de Itabuna (BA) para morar no Rio de Janeiro, de repente, da noite para o dia, desaparece sem deixar rastros. Chegando a Itabuna, piloto descobre que ela fugia de assassinos (contratados para matá-la), pelo fato dela ser testemunha do assassinato de seu pai, ex-cacaueiro na região.

Por acontecerem muitas aventuras e novos amores pelo caminho, foram até a Paraíba.

Enfrentaram sol, poeira, chuva e lama. Ajudaram, foram ajudados, acontecendo inclusive que, por levarem uma garota (estava num leito de morte) entre eles dois até ao hospital, salvaram sua vida. Em si, a história mostra como eram os motociclistas Nos Deliciosos Anos Dourados.


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