Bahia

Nova Conquista (BA) – Estavam agora em território baiano, na cidade de Nova Conquista, bem mais perto de achar a linda “deusa”. Muito embora o Fernando a conhecesse da Quinta da Boa Vista, o piloto nada lhe falara sobre esse seu interesse de encontrá-la. Disso ele somente saberá quando ela for encontrada, se isso acontecer!

Arranjaram acomodação e tiveram um pernoite que os fizeram descobrir ser uma cidade bem friorenta. Não só à noite como de dia, porque a manhã do dia seguinte também estava fria.

Agora irão rever os planos da viagem e ver os preparativos para poderem partir.

9h, tempo bom, preparados para partir e…, surpresa! O pneu dianteiro, muito embora em excelente estado, esvaziou. Descobriram ter ocorrido algum problema na válvula, que deixando o ar escapar lentamente, arriou-o durante a noite. Após ajeitarem-na, encheram o pneu com a bomba de pé e partiram cheios de fé e coragem, a fim de alcançarem Vitória da Conquista, que já estava perto.

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O trajeto estava sendo tranquilo e, conforme já declarado, tinham como plano de, em lá chegando, pegariam estrada secundária em direção ao litoral a fim de alcançarem Itabuna.

Finalmente chegaram à tarde a Vitória da Conquista, onde almoçaram e verificaram a moto, trocando o óleo do cárter e partindo em direção ao litoral, já pela tal estrada secundária.

E olha que havia alguém muito nervoso para chegar a Itabuna.

Nesse novo caminho, perigoso por ser também de terra, ter muitas descidas com curvas bem acentuadas, costelas e buracos enormes, eis que de repente, numa curva mais fechada, veem no alto de uma barreira uma estátua, mas não foi possível saber de quem poderia ser. Aconteceu que, com o piloto ainda olhando para trás a fim de poder ver bem a estátua e talvez identificá-la, ao virar-se para frente viu um jabuti atravessando calmamente a estrada. Para não passar por cima dele deu uma guinada para a direita e com isso passou enviesado em uma pedra solta na estrada, caindo então ele e o Fernando, junto com a moto.

O jabuti, por sua vez, não estava nem aí. Continuou no passinho dele e nem para trás olhou. Ainda bem que a estrada não tinha movimento, o que lhe permitiu chegar ileso ao outro lado da estrada, meia hora depois (brincadeira!).

Apesar de ninguém ter se machucado, o que era fundamental, para desgosto deles, Fernando mostrou a maquina fotográfica, que estando na sua mão para tirar foto da estátua, no tombo ela bateu em uma das pedras da estrada e quebrou a lente. O que houve então fora apenas pequeno prejuízo material.

Havia nessa estrada trechos em que eles, por dezenas de quilômetros, ficavam completamente isolados do mundo por não ter viva alma ao redor. Havia somente vegetais secos, algumas aves e répteis que por ali ainda conseguiam sobreviver heroicamente.

A alça da pasta que havia sido substituída por arame, partiu outra vez e tiveram de ajeitá-la. Notaram que isso estava acontecendo devido ao excesso de peso provocado pelas ferramentas, bomba de ar e até a “rebenguela da parafuseta” que carregavam dentro da pasta. Sem falar nos trancos por causa dos buracos e costelas da estrada. Podendo também o tombo ter concorrido para a quebra do arame.

Esse, francamente, não estava sendo um bom dia, um dia tranquilo para eles.

Após os inconvenientes citados, eis que a moto começa a perder força. O que será? Preocupação…!!! Ela não poderia deixá-los ali, naquela estrada secundária. Se na principal um socorro não era fácil, ali, sob um sol escaldante, típico daquele cáustico sertão onde só se via vegetação amarronzada castigada pela implacável seca e cactos que são plantas próprias do deserto, o que seria? E a moto? Muito útil até ali, mas se enguiçasse seria um sério estorvo para eles. O lugar era tão quente, tão abrasador, que se cuspissem, antes do cuspe chegar ao solo o calor do sol já o teria secado. Acreditou? Brincadeira de motociclista…!

Verificando qual seria o problema, descobriram se tratar apenas de uma vela suja, a do pistão no lado esquerdo. Após fazerem rápida limpeza, deram umas batidinhas no borne do eletrodo para calibrá-la no “olhômetro” e tudo voltou à normalidade. E foram em frente!

Descendo a estrada que dá acesso ao povoado de Itambé, veem mais adiante galos e galinhas ciscando o chão e perto deles um jegue solto na rua, fuçando alguns poucos capins que por ali havia. Ao se aproximarem, galos e galinhas saíram correndo assustadas, batendo asas e cocoricando aos berros, certamente pedindo socorro devido ao barulho da descarga da moto. O jegue, que pastava na maior tranquilidade, assustado que também ficou, quando a moto chegou bem próximo dele, ele movimenta as orelhas, zurra várias vezes e solta diversos coices no ar (alguns coices foram tão próximos das orelhas dos dois que até escutaram o sibilar do vento). Caso um coice os tivesse acertado, as consequências teriam sido bem graves por terem passado na altura da cabeça deles.

Chegando ao povoado pararam bem longe do jegue e mais adiante encontraram borracheiro para trocar a molinha da válvula da câmara de ar do pneu dianteiro. Ajeitaram novamente a alça de uma das malas e após tudo pronto continuaram em frente.

Como já anoitecia e estavam bem cansados, pararam em Itapetinga, que também era outro povoado e ali pernoitaram.

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Itapetinga (BA) – Pela manhã, como sempre acontecia, tomaram o desjejum e partiram às 9h30 com objetivo de alcançarem Itabuna e almoçarem na cidade. E quem sabe se até aconteceria de alguém ficar por lá feliz para sempre e acompanhado de sua “deusa”?

A estrada estava em péssimas condições para transitar e não adiantava fugir de um buraco porque fatalmente cairia em outro ainda maior. Havia também inúmeras subidas e descidas, pedras de vários formatos e tamanhos, soltas na estrada, causando derrapagens.

Sol terrível, muita poeira e uma solidão atroz. O silêncio era tão forte que eles pensavam ouvir desesperados gritos dele. Vez por outra tinham a visão de um ou outro animal magro pastando na vegetação seca, mas era observado do alto por urubus que voavam em círculos para ver se viam algum resto de carcaça, a fim de comerem ou talvez estivessem pacientemente aguardando pudesse ser o animal pastando uma provável refeição.

Observaram também um falcão voando rápido (Fernando disse serem carcarás) à procura de alguma presa, que poderiam ser camaleões, lagartos, cobras ou qualquer caça que visse naquele fim de mundo.

Aldeias muito distantes umas das outras; vegetação coberta por espessa poeira barrenta, implorando chuva; ninguém circulando pela estrada; local terrível! Até calango (lagarto), para ter sombra, andava com guarda-sol aberto. (brincadeira!!!)

Passaram pelas cidadezinhas de Rio do Meio, Santa Cruz da Vitória e Ibicaraí, que por milagre dos milagres havia pequeno trecho de estrada asfaltada, chegando finalmente a Itabuna às 14h30.

Ter abandonado a estrada principal, que era o trajeto mais curto para chegarem a Recife (PE), pegar caminho maior e pior para irem ao litoral conhecer Itabuna tinha um motivo muito especial. E bota especial nisso porque ainda será pouco. Vejam as razões:

Anos antes saíra dali uma linda “deusa” viva que fora para o Rio de Janeiro tentar a sorte, mesmo sem conhecer alguém ou a cidade.

Após ter chegado ao Rio de Janeiro, que na época era Distrito Federal, instalou-se num confortável apartamento na zona sul da cidade.

Certo dia, em conversa com vizinhos, estes lhe informaram que a Quinta da Boa Vista era um lugar maravilhoso para um passeio. Disseram, também que lá poderia visitar o Museu Nacional, passear nos gramados, no lago, e até no parque de diversões, denominado “Parque Xangai” que oferecia muitos brinquedos, tais como autopista; trem fantasma; roda gigante; montanha russa; bicho da seda e muitos outros. Era, portanto, um ótimo lugar para ela conhecer, divertir-se e até conseguir namorado…, disseram os vizinhos!

Então, num bonito dia de domingo, intrépida como era, mesmo desconhecendo a cidade, saiu de casa (morava na Zona Sul) para ir a esse local paradisíaco localizado em São Cristóvão (Zona Norte) a fim de desfrutar das tais maravilhas lá oferecidas.

Tradicionalmente aos domingos à tarde, piloto e companheiros motociclistas, que também patinavam, inclusive o Fernando, iam todos à Quinta da Boa Vista para patinarem no rinque de cimento ali existente. E à noite, por não haver iluminação no rinque, paravam de patinar e andavam em alguns brinquedos do Parque Xangai, que ficava bem ao lado do rinque.

Num desses domingos, andando na roda gigante, aconteceu do piloto ver uma linda mulher, verdadeira “deusa”, que sentando-se ao seu lado, sem mais nem menos passaram a gostar um do outro. E olha que segundo afirmação do próprio piloto, ele nem estava nos seus melhores dias… (brincadeira).

Foi aí então que aconteceu o feliz e mágico momento dele conhecer a Terezinha e iniciarem o relacionamento. Ela demonstrava ser uma pessoa amiga, solidária, grande companheira e que além de bonita tinha muita personalidade.

Motociclistas Invencíveis

Semanalmente vamos publicar, aqui no Viagem de Moto, capítulos do livro Motociclistas Invencíveis, romance extraído de uma viagem com moto ocorrida em 1960.

Conduzindo na garupa da moto um amigo, piloto sai do Rio de Janeiro por estradas de terra a fim de encontrar sua linda namorada, que saindo de Itabuna (BA) para morar no Rio de Janeiro, de repente, da noite para o dia, desaparece sem deixar rastros. Chegando a Itabuna, piloto descobre que ela fugia de assassinos (contratados para matá-la), pelo fato dela ser testemunha do assassinato de seu pai, ex-cacaueiro na região.

Por acontecerem muitas aventuras e novos amores pelo caminho, foram até a Paraíba.

Enfrentaram sol, poeira, chuva e lama. Ajudaram, foram ajudados, acontecendo inclusive que, por levarem uma garota (estava num leito de morte) entre eles dois até ao hospital, salvaram sua vida. Em si, a história mostra como eram os motociclistas Nos Deliciosos Anos Dourados.


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Um brasileiro e uma moto no Himalaia indiano